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Channel: mallarmargens
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amores e insetos

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A primeira vez que senti algo parecido com o que , mal e porcamente, denominamos paixão, amor, tesão foi num hotel do sul de Minas. ... Essa vontade de estar perto, - de olhar, de tocar, de colar o nariz na pele, de fazer parte da parte de dentro do outro -, me bateu aos oito ou nove anos. Eram duas irmãs gêmeas da mesma idade que eu, idênticas fisicamente, exceto pelos cabelos, uma era ruiva, outra loira.
Da noite pro dia tornei-me um menino catatônico, um zumbi guiado pela vontade exclusiva de estar com elas.

Num final de tarde inesquecível, as duas chamaram-me para pegar besouros no jardim do hotel, havia dezenas deles. urbano até a raiz do cabelo, aqueles bichos me pareciam estranhos e grotescos, mas eu faria tudo que elas quisessem, faria tudo por elas. Passamos horas colecionando uma infinidade de besouros, eu inebriado pela imagem movimento delas. Foi uma tarde dionisíaca para um menino, e uma semana epifânica para meus 5 sentidos. Meu senso para sempre acometido.
O sofrimento que experimentei quando elas se foram do hotel foi tão forte que ainda posso senti-lo quando rememoro a cena das duas meninas caminhando até sumirem impressas para sempre na medula.
Hás os que servem e há os que não servem. Mulheres. Ali eu descobri a minha vocação para servi-las. "Use abuse obtuse, sirva-se que eu me sirvo"
Essa paixão dupla talvez explique também a minha crença inabalável em amores simultâneos.
E amei pra sempre as mulheres e os besouros.




Existem bemóis entre as notas,
besouros no jardim do caos,
reféns das musas de cabelo de fogo.

Existe um besouro-menino,
que desce à cena
e dança em semitom
nas mãos ariscas das meninas.

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