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MALLARTRANSVERS - Um poema de Gilka Machado vertido para o catalão por Josep Domènech Ponsatí

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Gilka Machado traduzida por Josep Domènech Ponsatí




Lépida e leve

Lépida e leve
em teu labor que, de expressões à míngua,
o verso não descreve...
Lépida e leve,
guardas, ó língua, em seu labor,
gostos de afagos de sabor.


És tão mansa e macia,
que teu nome a ti mesmo acaricia,
que teu nome por ti roça, flexuosamente,
como rítmica serpente,
e se faz menos rudo,
o vocábulo, ao teu contacto de veludo.


Dominadora do desejo humano,
estatuária da palavra,
ódio, paixão, mentira, desengano,
por ti que incêndio no Universo lavra!...
És o réptil que voa,
o divino pecado
que as asas musicais, às vezes, solta, à toa,
e que a Terra povoa e despovoa,
quando é de seu agrado.


Sol dos ouvidos, sabiá do tato,
ó língua-idéia, ó língua-sensação,
em que olvido insensato,
em que tolo recato,
te hão deixado o louvor, a exaltação!


— Tu que irradiar pudeste os mais formosos poemas!
— Tu que orquestrar soubeste as carícias supremas!
Dás corpo ao beijo, dás antera à boca, és um tateio de
alucinação,
és o elástico da alma... Ó minha louca
língua, do meu Amor penetra a boca,
passa-lhe em todo senso tua mão,
enche-o de mim, deixa-me oca...
— Tenho certeza, minha louca,
de lhe dar a morder em ti meu coração!...


Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me vestes quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha...


Língua-lâmina, língua-labareda,
língua-linfa, coleando, em deslizes de seda...
Força inféria e divina
faz com que o bem e o mal resumas,
língua-cáustica, língua-cocaína,
língua de mel, língua de plumas?...


Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à idéia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...






Lleugera i lleu

Lleugera i lleu
que en ta labor, de paraules mancada,
el vers no en fa manlleu.
Lleugera i lleu,
guardes, oh llengua, en ta labor
gustos d’aixeres de sabor.


Ets tan flonja, com pell de daina,
que el teu nom et fa a tu mateix moixaina,
que el teu nom per tu frega, sinuosament,
com rítmica serpent,
i es fa menys incivilitzat,
el mot, al teu contacte vellutat.


Sent mestressa del desig mudadís,
tu que ciselles la paraula,
odi, desfici, engany i desencís,
quin  diàleg de foc per tu s’entaula!  
Ets rèptil que alça el vol,
el divinal pecat
que deixa anar les ales sense dol
i que la Terra en fa, si cal, estol,
així com li ve en grat.


Sol de l’oïda, rossinyol del tacte,
oh llengua-idea, oh llengua-impressió,
en quin oblit refracte,
en quin recel intacte,
t’han deixat la lloança, l’emoció!


Tu que has pogut irradiar els més formosos poemes!
Tu que has sabut orquestrar les carícies supremes!
Dones cos al petó, dones antera a la boca, ets un palpeig d’enganys,
ets l’elàstic de l’ànima... Oh, estimada
llengua, entra dins la boca de l’amada,
passa-hi per tot arreu les teves mans,
omple’l de mi, deixa’m borada...
─De ben segur, estimada,
et deixaré que el cor me’l mosseguis mil tants.


Llengua del meu amor vellosa i dolça,                       
que em proves que soc just un gir,     
m’enrondes tant que m’ets com el respir,                  
igual que si al meu cos de tu em creixés la molsa.
Llengua captivadora, que entrelligues                        
els rampells d’au estranya                                                      
en llargues línies d’invisibles teranyines,                    
de què ets, des de fa temps, manyosa aranya…         


Llengua-làmina, llengua-flamarada,
llengua-limfa, serpeges com seda abandonada…
Força de l’infern i divina
porta bé i mal a aigües somes,
llengua-càustica, llengua-cocaïna,
llengua de mel, llengua de plomes...


T’estimo les propostes glorioses i funestes,
t’estimo com tot el donam
t’estima, oh llengua-llot, oh llengua-resplendor,
és per la carn de so que a les idees prestes
i per les frases mudes, que en fas clam
en els silencis de l’Amor!




Traducció de Josep Domènech Ponsatí



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                                          A AUTORA

Gilka (da Costa de Melo) Machado (Rio de Janeiro, 1893 - idem, 1980), publicou seu primeiro livro de poesia, Cristais Partidos, em 1915, na época, casada com o poeta Rodolfo de Melo Machado. No ano seguinte, ocorreu a publicação de sua conferência A Revelação dos Perfumes, no Rio de Janeiro. Em 1917 saiu publicado Estados de Alma; seguiram-se a essas publicações  Poesias, 1915/1917 (1918); Mulher Nua (1922), O Grande Amor (1928), Meu Glorioso Pecado (1928), Carne e Alma (1931). Em 1932 foi publicada em Cochabamba, na Bolívia, a antologia Sonetos y Poemas de Gilka Machado, prefaciada por Antonio Capdeville. Em 1933, Gilka foi eleita "a maior poetisa do Brasil", por concurso da revista O Malho, do Rio de Janeiro. Foram lançadas, nas décadas seguintes, suas obras poéticas Sublimação (1938), Meu Rosto (1947), Velha Poesia (1968). Suas Poesias Completas foram editadas em 1978, com reedição em 1991. Poeta simbolista, Gilka Machado produziu versos considerados escandalosos no começo do século XX, por seu marcante erotismo.  Para o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919 - 1992), "ela foi a maior figura feminina de nosso Simbolismo, em cuja ortodoxia se encaixa com seus dois livros capitais, Cristais Partidos e Estados de Alma".


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                                    O TRADUTOR



Josep Domènech Ponsatí (Sant Feliu de Guíxols, 1966), poeta e livreiro, publicou até agora Cap un un dic sec, Desdiments e Apropiacions degudes & Cia. Com seu quarto livro de poesia, El Càcol, ganhou o prêmio de poesia Sant Cugat em memória de Gabriel Ferrtaer (2014). Càcol é uma proposta radical em mais de um sentido: por um lado, porque o autor está empenhado em lidar com questões que os poetas costumam deixar de fora de seus versos (aspectos nus e egoístas, aparentemente tão prosaicos quanto pode ser o uso de pornografia); por outro lado, porque cada poema é o resultado do jogo mais respeitoso com a genuinidade das palavras. Assim, El Càcol é ao mesmo tempo um livro requintado e refinado, cheio de poesia de alta voltagem.




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