sem título VII
a iminência de romper
a rotação conjunta
a relação contínua
da putrefação em frevo
na baía de choques
casualmente
incipientes chamas de causas insipientes
criando um nó –
cai sem querer
um pote de
silêncio;
precipita o sopro
para longe
soltando o abraço
natimudo
de afeto que outrora
se viu
em brasa;
vai
ao longe
usando de farol a lua
de Augusto
cuide-nos
toda a relva imaginária
que aquece a angústia
e a torna palatável
assim como o conhaque;
o conhaque que botava Drummond comovido.
Furto uma frase / tropeço sem dançar / caio no chão do esquecimento
era como se desse quatro batidas secas
na porta da Desgraça
Albert Camus
Tropecei, eu que dançava...
furto esta frase dum amigo
poeta capixaba –
me faço reconhecer nessa madrugada
tão dura de viver e
escrever e
sobretudo de
pensar
na dança que se desenhava e
agora abortada pelo
tropeço
de não saber dançar a
dança que se quer dançar e
que se precisa dançar
jogo uma toalha ao carpete
com um bilhete e
digo numa garrafa
que não dá mais pra
despertar
sem ter despertado
na noite anterior
uma rede
nervosa
que sabe-se necessária
à dança e
antes mesmo de dançar
prescinde um motor que
esquente a balança entre
pernas e seios e
tudo o mais que possa ser
quente num corpo
sim num corpo
que ressoa as tardes aflitas
de todo o infinito
num bocejar visceral
de tão ilúcido
no que toca
o que deveria ser
intocável
inviolável
inapelável
pois corta com faca
a amálgama anterior
ao despejar com fervor
numa frígida bacia
tornando então uma
frigideira
de sentimento e sensação
pulsante que antes
sabia-se pueril mas
não se duvidava de certo valor
atribuído as madrugadas
e aos charcos bêbados
que embebedavam lençóis
todos irreconhecíveis
desde o momento em
que desfez-se mar
sem hora
há pesar?
Deixa a palavra escorregar VI
Quando a vigília se tornar
impraticável
fecharei os olhos
ao amanhecer
desfalecendo
da possibilidade de postergar
o amanhã
Deixa a palavra escorregar VII
No canto
da sala
encontro
o espaço
necessário
ao silêncio
que me ignora
e anuncia
com volúpia:
que canto
doce
esse cantar
da sala.
Deixa a palavra escorregar IX
Analisar
o poema
é tirar
do pássaro
as penas
*
Esmiuçar o
eu passarinho
faz cair
a ave
do ninho
*
Pensar demais
torna anêmico
sem sangue
sem cor:
acadêmico
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imagem: Dariusz Klimcza
* * *
Vander Vieira, 23 anos, mineiro, residente em Vitória/ES. Jovem poeta, músico e estudante de Filosofia na Universidade Federal do Espírito Santo, escrevo no tumblr “O Caso é o Ocaso”e contribui com as revistas eletrônicas Desenredos e Samizdate com o programa “Poetas no Espaço – Poesia Coletiva” da Rede Cultura Jovem de Vitória.