A cidade naufragada
Na cidade branca despedem-se as mãos
como velas de linho, alongadas aos
céus, aguardando que alguma ave as
colha de manso; enquanto as manhãs
instilam malsãos os seus odores
putrefactos, nas orlas desabrigadas
em que se bebem até as chuvas;
como velas de linho, alongadas aos
céus, aguardando que alguma ave as
colha de manso; enquanto as manhãs
instilam malsãos os seus odores
putrefactos, nas orlas desabrigadas
em que se bebem até as chuvas;
E uma horda infinita, vergada de
mudezes sombrias, asilando os
olhares inoportunos a parte incerta,
o decoro estudado das interdições;
o peito contraído que naufragam,
nas janelas embaçadas de onde
o mar irrompe solitário; e toda
a cinza que desaguam, das horas
mortas de antecipação, em quanto
dura a confidência lenta da travessia;
mudezes sombrias, asilando os
olhares inoportunos a parte incerta,
o decoro estudado das interdições;
o peito contraído que naufragam,
nas janelas embaçadas de onde
o mar irrompe solitário; e toda
a cinza que desaguam, das horas
mortas de antecipação, em quanto
dura a confidência lenta da travessia;
Clareia o porto e a aflição rotineira, e
os pés acodem acorrentados aos giros
insentidos, e o batel vai amarrando
as ondas ao betumo incólume; correm,
num estoiro a esgotar o corpo, despem
a alma ao bote como um espectro
translúcido de maresias; afastam-se,
num pontilhado uniforme cruzando
as vielas piscívoras, enquanto os céus
húmidos se cerram como punhos;
os pés acodem acorrentados aos giros
insentidos, e o batel vai amarrando
as ondas ao betumo incólume; correm,
num estoiro a esgotar o corpo, despem
a alma ao bote como um espectro
translúcido de maresias; afastam-se,
num pontilhado uniforme cruzando
as vielas piscívoras, enquanto os céus
húmidos se cerram como punhos;
Na cidade branca as mãos despedem-se,
içam ferruginosas, a ancoração de um
sonho, abraçam-se ao rio esperando,
que dócil a corrente as leve; enquanto
as manhãs alheias arpoam de nebrinas,
as orlas esfaimadas, em que se abdicam
os ossos ao vaivém das espumas;
içam ferruginosas, a ancoração de um
sonho, abraçam-se ao rio esperando,
que dócil a corrente as leve; enquanto
as manhãs alheias arpoam de nebrinas,
as orlas esfaimadas, em que se abdicam
os ossos ao vaivém das espumas;
leia outro poema da autora aqui
imagem: Marie Gilot
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Helena Barbagelata nasceu em Lisboa a 6 de Dezembro de 1991. É uma artista multidisciplinar, dedicada às artes plásticas, música e letras. Participa em revistas e antologias literárias em Portugal, Brasil e Itália, tendo sido laureada em diversos concursos internacionais. Foi a mais jovem vencedora do “Prémio Poesia e Ficção de Almada” (Edição de 2012), com a obra “O Mar de Todos os Deuses”, atribuído por unanimidade pela Associação Portuguesa de Escritores, Sociedade de Língua Portuguesa e pela Câmara Municipal de Almada. Tem publicada a obra Soliloquia (Apenas-Livros, 2013).