Luís Costa
EPÍGRAFE
Ajoelhou-se e com o dedo indicador
escreveu na areia:
a minha boca é um fruto enegrecido
pela redondez cruel dos vocábulos.
SONHAM na incerteza feroz
sob o excesso da luz
enquanto uma obscura humidade
sobe pelas paredes das casas
– em busca das vísceras
CAMINHO pelos campos
respiro a intimidade
dos dialectos verdes
sob o excesso da luz
BEBEM a brevidade do infinito
na secura do momento que lhes
arde entre os lábios
e todos os nomes são
uma efémera conspiração
nas tábuas do silêncio
OBSCURECIDApelo excesso de luz
que nos enleia, vens até mim
e soletro-te na gíria das gárgulas
nos frutos que pendem
à procura da redondez da queda
ah estes cheiros que emanas!
que elevam o ar
e embriagam as minhas narinas
como o desejo do sangue perpétuo
na retina do animal feroz
A CHAVE E A FECHADURA
Um sol nocturno no centro das mãos
e nos espelhos quebrados ( no fundo do tanque )
contempla-se em busca do seu outro rosto
um rosto diferente que o possa completar
pois só o que é diferente se pode completar
assim como a chave e a fechadura.
O ANIMAL branco como uma súplica
com o homem agarrado às suas crinas
o homem à procura do princípio da luz
nas trevas do animal branco
o animal branco
/ incandescente /
/ incandescente /
na luz estilhaçada do silêncio do barro
o homem invocando essa luz
com a danação dos instrumentos antigos
UM NOME murmura
ainda vazio
nas vísceras
lento
sobe
arde
derrama-se
pela noite das gárgulas
até atingir
o nó
nos lábios
MOMENTO DO ROSTO
Um rosto, um rosto
emerge do limbo dos cardos
e ainda marcado pelas navalhas obscuras
ilumina o mundo
com o lume da sua presença
ELECTROLIRICO
„ Wörter, die entlegenstem
ELECTROLIRICO
Spezialistentum entstammen,
werden lyrisch elektrisiert. „
10: 30 da manhã.
o sol é uma turbina diante da janela.
com os olhos entranhados na substâncias
hibridas escrevo:
amo os grandes dínamos nocturnos:
a eletricidade do silêncio fervilhando-me nas veias.
*
Nomeio-te.
acendo o teu nome com a electricidade
dos grande dínamos nocturnos.