Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

EXCESSOS DE LUZ

$
0
0


Luís Costa



EPÍGRAFE

Ajoelhou-se e com o dedo indicador
escreveu na areia:

a minha boca é um fruto enegrecido
pela redondez cruel dos vocábulos.


SONHAM na incerteza feroz
sob o excesso da luz
enquanto uma obscura humidade
sobe pelas paredes das casas

– em busca das vísceras


CAMINHO pelos campos

respiro a intimidade
dos dialectos verdes

sob o excesso da luz


BEBEM a brevidade do infinito 
na secura do momento que lhes 
arde entre os lábios

e todos os nomes são 
uma efémera conspiração 
nas tábuas do silêncio


OBSCURECIDApelo excesso de luz
que nos enleia, vens até mim
e soletro-te na gíria das gárgulas
nos frutos que pendem
à procura da redondez da queda
ah estes cheiros que emanas!
que elevam o ar
e embriagam as minhas narinas
como o desejo do sangue perpétuo
na retina do animal feroz


A CHAVE E A FECHADURA

Um sol nocturno no centro das mãos 
e nos espelhos quebrados ( no fundo do tanque )
contempla-se em busca do seu outro rosto
um rosto diferente que o possa completar

pois só o que é diferente se pode completar
assim como a chave e a fechadura.

















O ANIMAL branco como uma súplica
com o homem agarrado às suas crinas
o homem à procura do princípio da luz
nas trevas do animal branco
o animal branco
                       / incandescente /
na luz estilhaçada do silêncio do barro

o homem invocando essa luz
com a danação dos instrumentos antigos


UM NOME murmura
ainda vazio
nas vísceras

lento
sobe
arde

derrama-se
pela noite das gárgulas

até atingir
o nó

nos lábios


MOMENTO DO ROSTO

Um rosto, um rosto
emerge do limbo dos cardos
e ainda marcado pelas navalhas obscuras
ilumina o mundo

com o lume da sua presença


ELECTROLIRICO



 „ Wörter, die entlegenstem
Spezialistentum entstammen,
werden lyrisch elektrisiert. „


10: 30 da manhã.
o sol é uma turbina diante da janela.

com os olhos entranhados na substâncias
hibridas   escrevo:

amo os grandes dínamos nocturnos:
a eletricidade do silêncio fervilhando-me nas veias.

*

Nomeio-te.

acendo o teu nome com a electricidade
dos grande dínamos nocturnos. 













Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548