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"o diabólico brilho das uterinas cassiopeias"

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[OUVE EM SILÊNCIO AS BORBOLETAS DO MÚSCULO]

Perpetuas
com a cabeça incendiada deste lado das catástrofes
com a inesperada flamância de uma coroa chamejada de aquáticas estrelas
enjauladas sobre os poros mais latentes
onde as mãos acalentam as fissuras para os líricos flagelos dos outonos
e as orquídeas noturnas se demoram entre os ciclos constelados desta morte

São frágeis as ressurreições de asas 
– sob o rumor de violinos afluídos para as cristalinas sonoridades das cordas
quando sopram em teus veios o segredo dos casulos e as arquejadas
transfigurações do ouro
quando os nervos palpitam nos espéculos a treva fragilmente aciculada
quando os dédalos mais cálidos circulam as alquímicas raízes esticadas
quando as flores escoam sobre os cílios as vociferadas explosões das pétalas

Ouve em silêncio as borboletas do músculo
verticalmente puxadas contra as escarpas das manhãs 
Ouve o diabólico brilho das uterinas cassiopeias – sangradas sobre o sono
das crepusculares feras
Ouve as memórias que flutuam nas ramagens, o venenoso elixir das madrugadas
e as vibráteis ancorações do fogo entre os arcos das luas mais letárgicas
quando

ser eterno é expandir as águas
é sugar uma rosa pela raiz do sangue  



[AMANHECE]


Amanhece puro
quando os teus pátios circulados de estrelas abrirem as portadas de um amórfico silêncio
e os álgidos assopros da tua treva esticarem os poços e as memórias das águas
e quando subirem pela sombra as incontáveis orquídeas
pelas escadas das lunares e vigiladas pétalas e as difíceis articulações dos seus caules
pelas escarpas de um sono larvarmente branco onde as feras levemente dormitavam
lentas sob o peso dos narcóticos
Amanhece,

Pelas ossaturas que estalaram
quando os lábios sugaram o ouro das antigas metamorfoses ardejadas
quando as orquídeas rastrearam sobre a nuca os dédalos indeléveis destes sangues
e os oráculos tiniram sobre os mármores as alquímicas flamâncias dos espéculos

Amanhece pelas plúmbeas sombras que circulam ao redor da minha morte
das suas mãos liricamente abreviadas, dos seus cabelos plácidos
por onde jorram as oscilações dos graves e líricos incêndios e os últimos despojos dos dilúvios
Aperta apenas uma álea de luas
sobre a faraónica cumplicidade das feridas – essas asas que suplicam entre o fogo
as fórmulas circunscritas da memória levitaram equinócios nas paredes do meu sono
– e eu acordei com os olhos segregados de luto
para que despertasses
(também as aves e os peixes e os lobos) 

Que o ouro e o perfume das orquídeas te acutilem sobre as escamas destes pássaros
Que amanheças solarmente sem remorso
com um rosáceo coração desenlutado
e uma corda de seiva tão pura a arvorar-te a extremidade da cabeça
e legiões de aves a inflamarem-te as mãos




*palavra: Luiza Nunes
*seleção: Andréia Carvalho
*imagem: arte digital por Miguel Silva




Luiza Nilo Nunes nasceu em 1989, do outro lado do oceano. Vive atualmente em Portugal. Escreve Poesia e também Ficção. Compartilha seus textos em rede social.









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