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Ultrapassando as fronteiras do real, em A perpetuação da espécie, de Fernando Andrade - por Alexandra Vieira de Almeida

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Ultrapassando as fronteiras do real, em A perpetuação da espécie, de Fernando Andrade

Alexandra Vieira de Almeida 
Escritora e Doutora em Literatura Comparada (UERJ)

O novo livro de poemas de Fernando Andrade, A perpetuação da espécie (Penalux, 2018), nos vem falar de uma ultrapassagem (dos gêneros, do tempo, da circunscrição à nossa própria espécie). Avançar sobre as margens que nos toldam enquanto humanos parece ser a máxima de sua obra excepcional. Digam-se, as margens com que fomos fabricados pelo senso comum, pela esqualidez de um sistema fechado em binarismo e algarismos perfeitos. Fernando Andrade utiliza uma linguagem experimental infensa aos ditames de uma lógica ocidental. Sua lógica é outra, não caótica, mas criativa e inaugural a espantar os fantasmas de uma gramática perfeita e engessada.
Este livro fabrica auroras e ocasos, luzes entremescladas de afetos e lembranças que se movem em liberdade. A liberdade de criação pulsa neste poeta magistral que utiliza a língua a favor de uma revolução estilística. O autor carrega uma marca toda própria. Não imita padrões e subverte a língua num propósito que alia som e imagem. As fortes aliterações produzem imagens dilacerantes a cortar a carne do mundo. Expõe com fluidez nossa dose de humanidade além dela própria a perpetuar espécies além do tempo, das memórias e dos gêneros, toda uma indumentária que é criada por uma sociedade falida em receitar doses narcóticas de empobrecimento em nossas identidades. A identidade aqui não é regida pelos padrões do bom comportamento. Temos identidades várias que brincam com o tempo mortal dos sentidos.
“Sejamos breves, homens//Mas sejamos intensos, inteiros”, diz um dos poemas do livro. Apesar do tempo que nos corrói e nos mata, a ultrapassagem dele é feita pela intensidade de nossos anseios, de nossos desejos que não nos sucumbem, mas nos faz nos elevar através dos instantes mais passageiros. Pois é a partir do desejo que nós nos perpetuamos, que nos criamos ao longo dos tempos. As páginas da escrita se enchem de versos sonoros a amortizarem nosso vazio e descompasso. Quanta sonoridade em seus textos, que trazem os voos plenos de vida e beleza. Sua obra fala de vastidões apesar do tom cotidiano de seus versos. É um sublime desacostumado com as horas do mundo. Um sublime que aponta sua lança para o alto, para além das fronteiras terrestres e físicas.
Com fina ironia, riqueza de linguagem e estilo próprio, o autor por ora aqui apresentado nos leva a outros rumos, diferentes da malha com a qual nos acostumamos no real. Sua poesia frutifica, arrebenta os alicerces no qual fabricamos nossos mundos em miniatura. Seu mundo é vasto, do tamanho de todo o universo. Deleita-se com os sonhos acalentadores dos desejos. O amor para além da banalidade do real nos impulsiona para adiante e nos faz desbravadores de projetos inimagináveis.
 A imaginação pulsante de Fernando Andrade nos leva para o terreno dos mitos também, que não se prendem ao conteúdo desgastante do nosso cosmos circundante. Portanto, nessa obra inventiva de Fernando Andrade, temos um autor que ultrapassa as fronteiras do que acreditamos ser mais sólido no nosso mundo, trazendo a vida aberta aos vários sentidos do real. Sua voz polissêmica e plural é o gatilho para novos sentidos e deslumbramentos. Sua poesia nos conduz a percepções várias, fragmentando a realidade em tons maiores. Seu livro vai deixar marcas perceptíveis em várias gerações, perpetuando linguagens ricas e diversas, alterando sentidos e trazendo a novidade e o frescor de uma poética verdadeira.


Leituras de um brasileiro - 'A poesia de Djami Sezostre', por Antonio Vicente Seraphim Pietroforte

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Acervo pessoal

Leituras de um brasileiro - 'A poesia de Djami Sezostre'

Djami Sezostre, por meio da poesia sonora, complexifica a temática brasileira, encaminhando novas performances poéticas.

No dia 17 de abril de 2018, pude participar do lançamento do livro de poemas “O pênis do Espírito Santo”, do poeta mineiro Djami Sezostre. O livro foi lançado no Bar Patuscada, que fica na cidade de São Paulo – Rua Luís Murat 70 –; o bar está articulado com a editora alternativa Patuá, do editor Eduardo Lacerda.

Em 2015, recebi pelo correio o livro de poemas “Onze mil virgens”, do Wilmar Silva de Andrade. O livro havia sido editado em 2014 pela editora 7Letras – também alternativa –, da cidade do Rio de Janeiro; por meio do Facebook, entrei em contato com ele para elogiar os poemas. Nas mensagens, comentava que sua poesia tematizava o sertão sem exotismo, pois, infelizmente, apesar de toda a força das literaturas de Jorge Amado e Graciliano Ramos, boa parte do sertão brasileiro é banalizado pela indústria cultural. Estes são os versos do poema “Amarílis”: “entardecer de volta ao sertão / é o mesmo que não sentir enfaro / ouvir os pássaros e amavios // é o mesmo que colher amarílis / ornar teu corpo e teus quadris / sob a água imitá-los // entardecer a teu lado / à margem do rio paranaíba / é mais do que alvorecer”. 

Além do “Onze mil virgens”, na mesma correspondência, ganhei também “Estilhaços no Lago de Púrpura”, do poeta Joaquim Palmeira, heterônimo do Wilmar Silva. Este é um dos poemas do livro: “íris, retinas, olhos meus olham íris, retinas // olhos que cerram íris, retinas, olhos de vênus // quem é esta vênus lunar que sequer conheço // e sei que perdi uma pantera, uma draga de lagos, // uma patativa, um sol aceso em noite plena/ eu // agora o que fago com íris, retinas, olhos: // hei de cerrar as pálpebras e inventar íris, // retinas, olhos que sejam íris, retinas, olhos// você com suas íris, retinas, você com olhos // que me olhem e descubram íris, retinas, // olhos e mais que olhos, sou todo lascívia”.

Quando procurei por seu nome no Google, encontrei suas performances no YouTube, em que ele faz poesia biossonora: https://www.youtube.com/watch?v=v5EsprKqLnM e https://www.youtube.com/watch?v=-8qvuWV6bPc.Embora a poesia visual seja bem divulgada no Brasil, a poesia sonora não recebeu a mesma atenção; em linhas gerais, trata-se da poesia sem significados conceituais, feita a partir da musicalidade das vogais e consoantes.
Alguns anos depois, ele me disse que havia trocado de nome; chamava-se agora Djami Sezostre. O que chama atenção na poesia do Djami? Como poucos, ele consegue conciliar poesia experimental com poesia comprometida com a nacionalidade brasileira. Em geral, a arte nacionalista é bastante tosca porque, justamente em nome da nacionalidade, a arte torna-se folclórica e provinciana; falsos regionalismos, carregados de valores conservadores, são forjados com os objetivos de fechar a cultura do país sobre si mesma, impedindo-a de dialogar com outros pontos de vista. Quando, porém, temas e figuras do imaginário brasileiro são expressas em linguagens experimentais, a dicotomia nacional vs. estrangeiro pode ser superada, gerando trabalhos geniais, entre eles, a concepção de bateria e percussão de Edson Machado, Airto Moreira ou Zé Eduardo Nazário, a história em quadrinhos do Luiz Gê, a poesia do Djami Sezostre.

Para dar exemplos disso, escolhi dois poemas d“O pênis do Espírito Santo”, “O Sertanista” e “O Bicho Abaporu”, que, pelas menções feitas à cultura brasileira logo nos títulos, poderiam facilmente desandar em lamúrias ou exaltações provincianas. Djami Sezostre, porém, por meio da poesia sonora, complexifica a temática brasileira, encaminhado novas performances poéticas. 

Estes são os versos d“O Sertanista”: “A cal!sgrafia a exxtranha / Cães ligrafia de meu pai que nascia e visvia / E naonascia e naovisvia o meu pai e seu / L'pis do camminnhar atravês vés a / Caligrafia aestranharme aentranharme / Caligrafiafira de um sertanista um dia / Um sertanista e ele o meu pai / Aiodfadsfdsajhfjsdafsdafsdafusdfsda / E não quero mais escrever xxzxx / Uma vaca é uma vaca é uma vaca / E uma rosa então é uma rosa então é uma rosa / Mas a vaca não é uma vaca e a rosa não é uma rosa / Afinal, quem vai entender o que é para entender, / Emtemda, extrume, excrementos // A mão extramha a fala extramha o falo extramho”

Estes são os versos d“O Bicho Abaporu”: “Nhambu o índio falou que a índia / Estava grávida do sol, Nhambu falou / Que o índio deveria falar que a índia / Estava grávida não apenas do sol mas / Também a índia estava grávida da lua / E das estrelas mas quando o índio / Falou que a índia estava grávida do / Sol e da lua e das estrelas a natureza / Bradou que a índia não estava grávida / Mas a mulher virgem ou vermelha / Nascia e vivia em estado de mãe e eu // Falei Mãe o que eu faço com o meu p / Ênis esse bicho, Abaporu”.

O livro “O pênis do Espírito Santo”, para quem vive na cidade de São Paulo, pode ser encontrado no Bar Patuscada – Rua Luís Murat 70 –, ou no site da editora Patuá: www.editorapatua.com.br

Antonio Vicente Seraphim Pietroforte
(Professor do Departamento de Linguística da FFLCH-USP)

Ana cria corvos - conto de Fernando Andrade

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Fonte: Mayhem & Muse


Ana cria corvos

Sim, ao soprar um balão e enchê-lo de ar. Ana  estava não só brincando, como criando arte.

Estava ela, conteúdo politizando um espaço. Na sua ingênua brincadeira de fazer uma bexiga criar vida transformando-a num balão que poderia alçar voos, se a sua imaginação, assim, o quisesse.

Ana mora num albergue com, apenas, seu avô, e uma cozinheira. Passa a maior parte do dia caçando eventos buliçosos para lhe apetecer a mente e o desejo de não se prostrar.

Ela não lê. Tem horror à leitura. Acha uma abominação perder tempo com fantasias desmedidas num livro que não cria potencialidades.

 Sua delicadeza está em ativar sua própria ação em prol de adventos holísticos. Como agora há pouco que foi flagrada soprando uma bexiga até a ponto da dita cuja ficar cheia de ar.

 Ela iria à escola, se não fosse a escola um asilo de loucos.

Uma casa de repouso onde os homens e mulheres discutem ou se confrontam em pedigrees pedagógicos. Sim, ela tem horror à definições escolares. Esta criança está bem nutrida? Que criança prodígio você tem!

Ana prefere o surto de uma linha (qualquer). Uma coisa criada e depois extinguida não por sua vontade, mas sim, porque a resistência desta coisa foi pelos ares. 

Ana diz para sua cozinheira que a arte é uma frigideira. Tem que afligir. E que o colégio é uma geladeira, congela crises.

Relações térmicas. 

Ela agora busca um pouco antes do almoço seu aquário H20.

Não poder injetar o espírito em coisas misturadas; tentar não diluir o que é composto. A estranha simetria que vê quando um médico tentar encher a cavidade de um moribundo de ar, devolver-lhe algo que lhe foi tomado, pensa nos peixinhos que habitam seu aquário H20.

_____________
Fernando Andrade, 49 anos, é jornalista e poeta. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel e do coletivo Clube de leitura onde tem um conto Quadris no coletânea volume 3 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia com Entrevistas com escritores e resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e meio. Lacan Por Câmeras Cinematográficas Poemoemetria e acabou de lançar Enclave (poemas) pela Editora Patuá. 

Instantes, poemas de Luciano Lopes

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Instantes

de Luciano Lopes


amadurecer, desconfio
é aceitar as incompletudes
desconfio ainda
que a paz interna
vamos ter
que negociar
com um sobrenatural
cada qual
com o seu


*

abandonaram-me
as bruxas e as fadas
e condenado a realidade
fui ver se ainda entendia
os desenhos das nuvens
e não surpreso
meus olhos
não suportaram
nem a claridade


*

me encontro
no momento
em que 
meus olhos
se perdem


*

quando 
o que resta 
é o silêncio 
foi feito 
o que deveria
ter sido 
desde o início

*

desconheço todas
as partes de mim
passo os dias
em encontros e desencontros
é a solidão do existir
a solidão tem braços 
que não têm a mecânica de abraçar

*

a hora 
de começar 
o grito
dói mais 
que o grito

*

lá no fundo do coração
nunca mais visitei





Luciano Lopes (Brasília/DF). Poeta e servidor público. Tem poemas publicados em alguns blogues, na Germina– Revista de Literatura e Arte e edita o Quando você me olha, eu existo tanto!. Publicou  Trabalho de Carpintaria, com o pseudônimo de Lupi Lobo (produção independente).






poemas de Johniere Alves Ribeiro – do livro inédito “com todo corpo”

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Série "Bodyscape", de Carl Warner
















________________
Johniere Alves Ribeiro nasceu em Campina Grande, Paraíba, em1981. Formado em Licenciatura em Letras pela UFCG. Mestre em Literatura e Interculturalidade pela UEPB. Doutorando em Literatura e Interculturalidade pela UEPB. Professor de Literatura e Produção Textual. Lecionou em especializações e graduações em IES em Campina Grande, na Paraíba e em Pernambuco. Ganhador do 1º Concurso de Poesia e Conto do SESC/Centro - primeiro lugar na categoria poesia- evento realizado em Campina Grande – PB,no ano de 2000. Terceiro lugar no Concurso de poesia promovido pela POEBRAS – Secção Campina Grande, no ano de 2003. Publicou em 2016 os livros de poesia “Página para versos”, Editora Ideia, João Pessoa; e “ Fogueira de espelhos ou A alquimia do cais”, Editora Penalux, Guaratinguetá. Antes de publicar em livros, teve seus poemas em antologias, como também em revistas e suplementos literários: PB Letras (extinta); Revista Sebastiana (UEPB- PB); Revista Escrita (PUC – RJ); Revista Travessias (UNIOSTE –PR); Germina Letras (Revista Virtual); Blecaute (Revista Virtual); Correio das Artes/Jornal União (João Pessoa– PB); e participou da antologia “Inventário lírico da Rainha da Borborema: 150 anos de poesia”, livro impresso pela editora A União, João Pessoa.

"meu nome agora é uma cidade devastada" - sete poemas de Ithalo Furtado

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"Every Atom In Me", de Ascending-Storm
partícula
há algo sepultado nos móveis
prova disso é o pó – alma de ontens
como adereço máximo das superfícies
sumo sótão céu | de mãos descuidadas

meu nome agora é uma cidade devastada
império de nadas exército de nãos
abriram covas pelo mogno | uma pá de silêncios
eu sou | enterrado na mobília | tantos outros

casa sepultura mundo-nada
veio a derrocada de uma grande nação
nenhuma guerra nos será sagrada |, mas ainda
sou soldado | sou cruz sobre tantos | senãos 

febre a estante me parece | febre
qualquer veneno se merece a qualquer cura
ouço um coração | cravado | na mesinha de centro
sob exemplares de jornais adoecidos | dentro | fundo

volta o imolado coveiro ao árduo ofício
de abrir tumbas sem fundo da sala ao nunca
não mexa nos quadros | disse | há coisas que pulsam
por favor só cuide | disse | das coisas que sangram

ainda busco o que | sagram | impossível
tatear o infinito na flor de plástico | encontrar uma buceta no ventilador de teto | naufragar em rios de detergente
fechar portas para crentes | abrir janelas para Deus

arar louças como quem se santifica
sumir semanas cultivar | uma saudade nos móveis
tantos são estes | móveis empoeirados no peito | muros devastados pelo medo de sermos refúgio


Arte de Eugenia Loli
reunião de condomínio
certo dia o prédio inteiro veio reclamar do meu silêncio
o padre o assassino os adúlteros
os que não se cobrem quando esfria
e os que se repelem como imãs
monstros disfarçados de crianças
escritores fracassados
deuses ateus fiéis e demônios low-profile
estranhos estrangeiros
neonazistas cristãos | carmas e caminhos
amantes latinos amores de boteco
bitucas de um poeta que morreu por seu poema
um sapateiro da paris do anos 30
dolores | os remédios | as cartas
o silêncio invadia cada abrigo
pelo sexo das sombras na platibanda do nunca
quase fiz da vida vento e vela
pulei do décimo andar de mim | plena alma
e por temer a própria dúvida | ausente fera
o caos da letargia | essa pergunta ora presa
todos morreram no jantar | embriagados de pressa
engasgados de certezas

"Surrealism", de Cheneymac
transe

escrevo pra gente sozinha
pra quem crava-se, revólver
sem a menor culpa ou
esperança

escrevo pro idoso deixado para trás
pela família afundada em dívidas
e pra garota que se corta no banheiro
após ter sua buceta devorada no almoço

escrevo pro homem à beira da ponte
do prédio da corda amarrada nos galhos
pra estudante machucada pelo assassino
que um dia já pensou ser cúmplice

escrevo pro zelador que planeja matar
o patrão toda maldita manhã
e pra aeromoça que conversa com as nuvens
sobre as dores que a aguardam no chão

escrevo pro professor que odeia
os alunos que seguem carreira felizes
e pros frentistas que passam o natal
com ódio das nossas viagens

escrevo pra gente fodida
pra quem delira e é caos no mundo
minha caneta não goza no papel
o sangue dos que sentem pouco

"Spain", de Salvador Dalí
..._ _ _...

silêncio desajuste
móveis empoeirados no peito

e a antessala do senso mofou
o assoalho com a chuva de ontem me veio
um psicopata da guiné dizer que
há esperança do outro lado do mundo mas eu
preciso resolver o binômio de newton o empréstimo
do jardineiro o câncer de um jovem cubano pra sentir
que tenho força e profusão eu preciso sanar o
que me é caro e grita

silêncio
desajuste
móveis empoeirados no peito

nada de novo sob o solo de cítara refaço
cordéis e palavrões com maestria me parece
que os jovens que se perdiam pelo mundo agora
fumam seus sonhos sem motivo nada mais triste
que a revolta pela revolta nada mais triste que
não sentir revolta ao ver o mofo tomar conta
da antessala do almoxarifado do quarto de hóspedes espano os vasos chineses e alguns cristais sobre a
mesa de centro ainda há muito pó ainda há

silêncio desajuste
móveis empoeirados no peito

eu busco a distopia punks na missa das
seis entoam louvores ao caos selvagens em busca
de abrigo jardins de merda culto ao corpo
apenas e tão somente o corpo e as mensagens
do inimigo sincero breu nada de novo uma dolores em cada por enquanto acabaram os remédios sonho já não há eu tenho sede e a água infinita não me beija os pés preciso voltar pra casa mas o mofo tomou conta da calçada lá dentro meus fantasmas trincam taças e
pronunciam meu nome ao nada o pó funda seu reino e tudo o que me sobra é

Arte de Mihai Criste
mas

queria ser como vocês
que nunca falham
ou pedem emprestado
que entendem do mundo
e nunca atrasam
que buscam, soberanos
a exatidão de tudo
como eu
queria ser como vocês
que jamais se enganam
que bebem fugas e arrotam razões
na cara de gente farta como eu
na cara de gente estranha como eu
queria ser como vocês
que andam por aí com suas
medalhas no peito com seus
ternos bem passados com seus
troféus em riste
e sangram
como ninguém
como eu
queria ser como vocês
que dão conselhos
que chegam no horário
que olham de cima
e que nunca
nunca atrasam

"Dopamine", de Stephen Gibb
sou uma infância sem mistérios espalhados pela sala
sou uma infância sem mistérios espalhados pela sala
não ousaria ser mais pobre ou menos, muitos
devo-me este passado
que ignoro e denuncio
às paredes que amortecem-me o mundo

o que me abala é a fuga
baratas do inseticídio estudantes da comuna
estrelas do vazio luzes em cima do muro
nenhum medo nos será mais absurdo
viveremos muito bem com nossas faltas

mãe, do que se trata essa palavra mansa
que nos separa em línguas? quem a pronuncia
enquanto a terra beija as palmas do mármore
e diz adeus aos que preparam-se, estrelas, que velo
nada mais, tantos, poucos, lágrimas vermes
socos & améns - dizem que párias nunca morrem

tudo é tão distante, calo enquanto posso
sou a aridez nas palavras dos juízes
brinca comigo enquanto a bala se aloja
tira essas palmas de terra e, pequeno, finge
que não somos
acidentes geográficos no vale um do outro

Arte de Deevad
fome
ausente às coisas todas
e à sobriedade do mundo
entre o duro e o hostil
quando o serrote em contato com a madeira
e o beijo do amigo distante
não parecem em desacordo
por essas noites turvas que inventam sentidos
para as frases perdidas da manhã
que de tão clara, já não causa espanto
e de tão muda, não nos resulta em verbo
o sonho - em sua forma sonsa e estúpida
como barros avulsos sobre a mesa do artesão
é o que de fato pulsa - apesar da fome
que não se curva diante das miragens a emparedar
os olhos em tolas plenitudes
e árvores breves

o sonho - árido denso bobo e febril
é o que brilha na bagunça da última gaveta do peito
entre toda sorte de entulho:
assuntos mal resolvidos
velhos diplomas
malas desfeitas
planos ridículos
e espera

sonhar - em vasto pecado
como mendigos quando moedas tilintam
em seus colos feridos
ou como a criança que nunca conheceu
a pesada armadura da razão
é o que liga a tv quando não há força suficiente
para levantar e encarar seus botões
e faz da masmorra uma nuvem para o pobre condenado

durmam, senhores
durmam a crueldade nos instantes de febre



___________
Ithalo Furtado possui três livros publicados de forma independente ‒ Uma pedra em cada por enquanto, Dolores (e os remédios pra dormir) e Móveis empoeirados no peito, o mais recente.

sete poemas de Leo Lobos – tradução de Enrique Carretero

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Arte de Thomas Barbèy
Buscando luzes na cidade luz


Busca que busca
a luz da palavra atravessando
rios e lagos
mares e montanhas se internando em
cidades labirintos atuais bosques
submersos de Santiago a Boston de
Nova Iorque a Paris, Paris, Paris e neste
bosque branco que, outra coisa, a mesma coisa
a vejo detida ali na rua
pensando quiçá no eco
das águas entre a multidão e os carros velozes
buscando a luz, as luzes de uma pele
que ninguém poderá ferir
enquanto perdidos pedestres
lhe perguntam por onde
por qual caminho por qual lugar se entra
se sai do espelho
onde por momentos conseguem escutar um triste Lewis Carrol
chorar por uma menina chamada
Alice presa por ele numa
história
paradoxal

A Paz Carvajal e à tão necessária paz
para este mundo e o outro

"Cheshire", de Heidi Taillefer
Três mulheres, um piano, um gato e uma tormenta

É difícil ser um pássaro
e voar contra a tormenta sobre
a cicatriz da Terra
melhor é como um gato estar
sempre atento às brasas
perto da chaminé
e escutar sempre atento escutar
três línguas diferentes falar
um idioma ao mesmo tempo fascinante
ao mesmo tempo misterioso e conhecido
ouvir e ir na sua música
nas suas luzes e próprias
e universais sombras
fotografar por apenas um segundo
fotografar com o olhar seus perfis
fosse possível
flutuar dentro da sala
como um pássaro na tormenta

A Alexandra Keim

"Central Park South", de Jason Gluskin
Picnic no Parque Central


Observo a bela reserva d’água da
cidade de Nova Iorque no Parque Central e
me emociona pensar quão longe estou da pessoa que fui,
plantamos nossa bandeira atrás da estátua do rei da
Polônia e enxergamos claramente dali os patos
selvagens que nadam perto da beira do lago onde crianças
jogam farelos de pão, os esquilos nos rodeiam com timidez,
enquanto brilha o horizonte de espelhados edifícios
iluminados pelo sol da tarde.

O trem subterrâneo nos leva de volta ao centro
da cidade Times Square é uma festa e nos somamos
felizes a uma multidão multirracial.


A Levana Saxon,
Frederick Law Olmsted e Calvert Vaux


Arte de Jorge Novaes
Una secreta forma


As palavras como o rio na areia
se enterram na areia
Roberto Matta


O automóvel está possuído pela força
dos animais que o habitam
como uma carruagem puxada por cavalos
sobre pedras úmidas de um passado verão
Rio de Janeiro aparece de repente como
a secreta forma que o Atlântico
deixa entrever pelos seus morros de açúcar:
baleias à distância algo
comunicam a nossa humanidade surda
e enceguecidas pelo sol preparam seu próximo voo
caem elas então mais uma vez como
o fazem há séculos
caem e crescem nas profundidades
caem e crescem no seu líquido amniótico.

Pinterest
A partir



Sou sírio. O que te surpreende, estrangeiro, se
o mundo é a pátria em que vivemos todos, partidos pelo caos?
Meleagro de Gádara, 100 a.C.


a partir dos lugares criar

aos superficiais
aos sem coração não dar ouvidos
e a partir dos lugares criar
pelos contornos do globo
mover-se cauteloso
atento aos sinais
ao instinto

em pé ao pé terrestre ao mar
um trem noturno

ser

um aéreo modelado pelo tempo


Arte de Tim O'Brien
Um dia é hoje


Eu gostaria de te contar, Brasil, muitas coisas caladas,
carregadas nestes anos entre a pele e a alma,
sangue, dores, triunfos, o que deve ser dito
entre os poetas e o povo: será uma outra vez, um dia
Pablo Neruda

Se tivesse madeira e ilusões
Faria um barco e pensaria o arco-íris
Hilda Hilst


Um dia é preciso parar de sonhar
e de algum modo partir
partir de ti, de mim também
e escrever
escrever lentamente
falar
falar de algo
algo ver
desenhar
sob a chuva de estes dias pintar
raios
minhas letras
sobre
uma tela ardente

Ao viajante incansável Amir Klink

"Tabacaria", de Debret
Debret pinta os mais extensos reinos

um fotógrafo não nascido em dias para isso
um fotógrafo sem máquinas pinta
isto é desenha
pergunta e pinta
pelo seu filho morto tão jovem

onde a luz irei tua voz buscar?

agora que só a dor o ata a Paris parte
parte com suas lembranças ao mais extenso dos reinos
para ensinar arte ar para respirar sob o sol de 1816

Brasil é um gigante deitado
e a baia da Guanabara o recebe dormindo

você pinta e faz tudo
tudo é necessário guardar para nós:

a família real, um galho de café, suas flores, seus frutos,
carnaval, proprietários de pessoas, a princesa Leopoldina,
tabaco em flor, o imperador e sua coroação,
desfiles de meio dia, vendedores negros,
escravos sangrando na praça.

A primeira exposição pública de arte no Brasil
é o tropical 1829
33
82
115
números de ilusão
sombras tempo luz gravada
sob a lente imaginária
de um pincel

À memória do pintor francês Jean Baptiste Debret (1768 – 1848)
Ao pintor chileno Alex Chellew



______________
Leo Lobos (Santiago de Chile, 1966). Poeta, ensaísta, tradutor e artista visual. Recebeu o premio UNESCO-Aschberg de Literatura em 2002. Publicou entre outros livros: Cartas de más abajo (1992), +Poesía (1995), Perdidos en La Habana y otros poemas (1996), Ángeles eléctricos (1997), Camino a Copa de Oro (1998), Turbosílabas, Poesía Reunida 1986-2003 (2003), Un sin nombre (2005), Nieve (2006), Vía Regia (2007), No permitas que el paisaje esté triste (2007) e a compilação de poemas NIEVE apresentado na Feira Internacional do Libro de Santiago, junto à Mago Editora, em 2013. Sua obra vem sendo traduzida ao português, búlgaro, inglês, italiano, árabe, francês e holandês. Atualmente trabalha como gestor, administrador e coordenador do espaço cultural Taller Siglo XX Yolanda Hurtado e como secretário executivo da Fundação Hoppmann-Hurtado na cidade de Santiago, onde reside.

Enrique Carretero, nascido em Santiago do Chile, é poeta e tradutor. Formado em Letras Português/Grego, na USP, publicou seu primeiro livro de poemas, Travessias, pela editora Patuá em 2014.

Solange Firmino resenhando Borboleta - a menina que lia poesia, de Chris Herrmann

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Tentando desvelar os tons...
Por Solange Firmino


“Borboleta - a menina que lia poesia”, romance de estreia de Chris Herrmann, que resolveu se aventurar pelo campo fértil do gênero, é lúcido e elegante. E Maria Rosa, a borboleta-poeta, pseudônimo e alter ego da autora, é bastante empenhada em utilizar as palavras. Talvez por que as mãos que deram vida à personagem tenham sido as de uma experiente poeta e haicaísta.

A autora não quis fazer uma interpretação crua da vida, mas mostrou sua personagem como uma borboleta nascida na Floresta Amazônica, cujos pais morreram e que descobriu sua doença em uma casa para crianças sem lar. Enquanto a família se desfez na miséria, Maria Rosa se alimentou de ‘sonhos e letras’.

Para a pergunta “com quantos tons se retoca a vida de uma borboleta?” a autora respondeu dividindo o livro em oito capítulos coloridos, nomeados tanto de acordo com a metamorfose de uma borboleta biológica, como de acordo com virtudes e valores humanos. Então temos como exemplos, “Do ovo à luz”, “O amor”, “A gentileza”. Quem puder ter o livro em mãos, vai poder conferir as fotos das borboletas coloridas nos capítulos, o sumário, a capa, tudo lindo.

Sabe aquele pensamento, “quando os olhos olham com amor, o pigmeu é gigante”?; pois é, a borboleta-poeta acha isso, que “o belo pode existir no feio quando captado pelo olhar da poesia”. E afirma a importância da poesia para o sentido da vida. Gosta não apenas da poesia escrita, e sim de toda a poesia que chega até ela, como a pintura, a escultura, a dança, a música, etc. Sua realidade ficaria mais pobre sem poesia. Assim, ela vê poesia nos cabelos que caem, no cuidado das enfermeiras, no médico...

"Humildade,
um pequeno gesto imenso
de humanidade
encanta até as borboletas."

É sabido que a personagem está doente. No seu “casulo maior” chamado hospital, ela escreve os próprios poemas, e lê outros para melhorar os seus, enquanto está internada, fazendo lembrar o poeta Manuel Bandeira, tuberculoso e sempre em observação, mas a vida toda poeta. Internada, a borboleta começa a sentir a poesia/adeus dentro de si.

"Talvez haja um adeus que mora dentro da gente aqui no casulo maior, mas ele não se pronuncia, não se explica. É um nada que se engasga na garganta da gente e que é, ao mesmo tempo, necessário..."



Como a poesia serve para elaborar nossas incompletudes? Como se estivesse lendo a obra “O último poema”, de Manuel Bandeira, (Assim eu quereria o meu último poema./Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais./Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas...). A tendência à melancolia foi fundamental em todo o trabalho do poeta, que sempre achou que ia morrer cedo de tuberculose, mas acabou morrendo aos 82 anos. O poeta descreveu o “mau destino” no poema “Epígrafe” (Sou bem-nascido./ Menino,/Fui, como os demais, feliz./Depois, veio o mau destino/E fez de mim o que quis...)

O mau destino de Maria Rosa foi a metamorfose. Assim como nem todos estão preparados para morrer, ela não estava preparada para a revolução que a metamorfose provocaria em seu corpo:

"Metamorfose
a revolução anônima
que ninguém me perguntou
se eu estava preparada
nem se eu a desejava"

No caso, assim como o poeta Manuel Bandeira, a borboleta-poeta também sofre de uma doença crônica e compõe versos, digamos, de forma terapêutica. A jornada (espiritual) do poeta é criar, e nunca está pronto para partir. Como compreender que a alma é delicada, senão com a borboleta?

"O espírito
poderá voar para onde
nossos olhos
nunca alcançaram.
mas não se esqueça
de deixar os pesos para trás.
só as coisas pequenas
cabem na leveza da alma."

O poema abaixo enaltece o aparentemente trivial, e capta o instante do universo exterior em que a borboleta-poeta encontra-se, muitas vezes, desejosa de uma delicadeza. Mas dessa relação social, ao apurarmos a percepção da necessidade de transformar a si mesma e o outro, surge o estímulo que emana Luz como instrumento de reforma interpessoal. E as pesquisas indicam que a gentileza faz bem à saúde!

"Gentileza.
Semente que se planta
dentro e fora da gente,
mas que todos colhem,
tão discreta e suave
acalentando momentos...
Que na sua grandiosidade
não passe despercebida."

É uma leitura nada inocente por trás da ilusória fragilidade dos versos. A borboleta-poeta reverencia uma linguagem enxuta, da poesia extraída das circunstâncias, do mundo que a cerca. Trata-se de um momento reflexivo, para colocar em ordem os pensamentos e para escutar a poesia e o ciclo da natureza:

"A poesia de outono
Começa na folha que cai,
mas não para por aí.
Ela continua na folha
que ainda está para cair."

Como uma criança que acabou de dominar as palavras, a borboleta brinca, vê que pode mexer com as sílabas, faz delas traquinagens. As borboletas têm licença poética para tal...
Há um jogo de linguagens em toda a obra. O poema “Democracia” (mais abaixo), brinca com as palavras plural e singular.
Aqui, as palavras pesar/leveza, com o equilíbrio da asa da borboleta, e pesar da melancolia pela sua doença:

"O equilíbrio
da borboleta
não se mede
pelo tamanho
de suas asas,
mas pela leveza
que elas carregam,
a pesar de tudo
Então:
duas levezas
e uma medida."



O filósofo Jean-Jacques Rousseau acreditava que o homem tinha duas vontades: uma enquanto indivíduo, outra enquanto membro de um grupo social. Como indivíduo, é tentado a querer o interesse individual; como homem social, procura o interesse geral. Só se pode falar em Vontade geral quando, apesar das divergências entre os componentes do corpo social e das discussões que se devem travar entre eles, exista um ou vários elementos comuns capazes de movê-los na mesma direção. Um dos grandes problemas de vários países é não entender essas diferenças. Aqui, a borboleta-poeta certamente não falava da Vontade de Rousseau, mas a liberdade com que ela se desprendeu da realidade nos três últimos versos foi tão grande que me fez lembrar imediatamente de Rousseau:

"A prática
não depende da teoria,
mas da vontade.
Hoje pratiquei a pequenez
Das coisas sem tempo
e suas intensidades."

Outro filósofo de quem lembrei foi Epicteto, uma das vozes mais influentes da Antiguidade, que viveu nos primórdios da Era Cristã, de 40 a 125; para quem o básico da vida feliz é aceitar as coisas como elas são. Revoltar-se contra os fatos não os altera, e ainda traz uma dose desnecessária de tormento. Pois a borboleta-poeta era meio filósofa nesse ponto, ela sabia que:

"Não podemos estar sempre alegres ou tristes. Não há uma só felicidade, nem um só tormendo. Há uma vida."

"Sei que não viverei muito tempo, mas o tempo que ainda me resta, gostaria de sentir mais a essência da vida e menos a fragilidade do corpo. Meu corpo não acompanha a vida que canta, viaja, sonha, dança rock e bumba meu boi na minha mente."
Todos sabem que temos o tempo contado de vida, a borboleta principalmente, mas não aceitava tão facilmente. As pessoas que estão em tratamento aproveitam mais a essência da vida e o presente, quando passam por experiências relacionadas às doenças crônicas. Em seu tormento, a ‘borboleta-filósofa’ aderiu também ao carpe diem, frase em latim de um poema de Horácio (poeta romano da Antiguidade), popularmente traduzida como“aproveite o momento”. Horácio já trazia uma filosofia mais epicurista em seus poemas, mas o tema do carpe diem, brevidade da vida e busca da tranquilidade ficaram marcados até hoje.

"Pouco tempo?
Abaixo o tempo cronológico!
viva o tempo das intensidades!"

Já que estamos falando de Filosofia, continuamos com um conceito aristotélico, que pode explicar o sentido do poema abaixo. Segundo Aristóteles, o ser humano é um animal político. No caso, temos a alegoria das borboletas. O que importa aqui é o caráter comunitário dessa filosofia, o cultivo de determinadas virtudes ético-políticas presentes nessa convivência, como justiça e amizade, essenciais para a comunidade da pólis (no caso, do jardim singular).

"Democracia
- é preciso sair do casulo,
pois que há uma porção
de outras borboletas
de todas as cores
que ao se descobrirem plurais
tornam-se fortes no jardim singular."

Mas a comunidade da pólis não é apenas formada por muitos homens/ou por muitas borboletas, mas também pela diversidade que eles apresentam. A diversidade cultural, o multiculturalismo, a identidade negra, as relações raciais ou que nomes tenham, são totalmente ocultadas pelo espaço escolar. Esses temas somente são trabalhados na semana do dia 20 de novembro, nas comemorações da chamada “Consciência Negra”.

O ser humano vive enclausurado em si mesmo, a diversidade que vai ao encontro do amor e nos transforma, reflete no olhar, não no espelho. Quando a maioria só conhece o que é espelho, o conhecimento surge como um artifício para sair do estado de ingenuidade. Para a borboleta-poeta, aprender com os erros era fundamental. Ela então ensinou às crianças preconceituosas que a beleza estava na diversidade, então contou o mito de Narciso quando houve um caso de desrespeito.

"Despreconceito
É a compreensão do outro na gente."

"Tolerância
são nossos pés pesados
marcando por caminhos
desconhecidos de nós.
São nossas mãos
criando trilhas e
encurtando espaços
em direção ao outro."

A borboleta, mesmo doente e cansada, fez viagens, passeou pelas tradições humanas sem sentido, viu crianças que não brincavam com outras no recreio porque estavam com seus celulares. Nos seus voos diários, visitou cidades como a Cuiabá de Manoel de Barros; Recife de João Cabral e Manuel Bandeira; Maranhão de Ferreira Gullar; Paraíba de Augusto dos Anjos e dezenas de outras.

Reconhecer-se perdida está longe de implicar a submissão ao medo, então, a borboleta-poeta se camufla na própria linguagem, fazendo dela um lugar onde se manifesta. Camufla-se quando se manifesta, mas ao mesmo tempo se revela no ato de se esconder, desvelando um dos mais belos poemas do livro:

"O medo e as asas
O medo é um ser invisível,
feito de um material pesado
e olhos cabisbaixos.
as asas, visíveis ou não,
são tão leves
que abraçam um céu
com olhos de plumas
que apontam rumos."


Falando em rumos, o homem não pode viver sem procurar pelos seus próprios caminhos, ou seja, em algum momento, a maioria busca pelo significado do sagrado. Como disse Ferreira Gullar “a vida só consome/o que a alimenta”.  A borboleta-poeta também alcançou sua experiência metafísica, e entendeu que os contrários se coincidem, a vida devora, mas também presenteia:

"Então, fiquei pensando que, para mim, só existe uma forma de presente: o hoje e agora, regalo que nem sempre enxergamos."

E quando sua experiência muda para algo totalmente significativo, no meu entendimento, para algo de valor para a borboleta também, ela entende tudo. Mesmo com pouco tempo, ela compreendeu o quanto ele foi suficiente, pelas amizades que fizera, por tudo o que conquistara. É quase um elemento na estrutura da consciência humana, um modo de ser no mundo. Essa é a borboleta-poeta mais sábia que existiu. Desconfio que era filósofa.

"O presente
chegou embrulhado de pouco tempo,
mas sua consistência era suficiente
para surpreender a borboleta
com luzes e cores
de todos os prismas"

Deparamo-nos finalmente com a poeta-borboleta, digo primeiramente poeta, depois borboleta, que sente a mutação da vida pulsando, a transformação em processo, buscando saber cada vez mais e melhor, argumentadora da sua expressão poética e da capacidade de concentrar o máximo da vida nos mínimos instantes de poesia. E não há palavras que possam exprimir esse sentimento:

"Aprendizado,
aprendi que nunca terminei
de apreender a vida.
Que ela seja intensa
enquanto viva."



~
Solange Firminoé carioca, professora do Ensino Fundamental
e de Língua Portuguesa, cronista e poeta. Publicou livros de poemas
e tem participação em diversas coletâneas de poesia brasileira.


In girum imus nocte et consumimur igni, poema de Jorge Lucio de Campos

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[a Guy Debord]



1

Todos nós tecendo
à linha d’água

camisas brancas
de beldades cruas

onde o tempo enruga
a furta-cor ondula

2

Não buscar nos lábios
nem nos olhos

vermelhos, o mais
fundo que supõe

a tarde

3

Não falar da língua:
a mais linda

Persistir no ouro
da ferida, cristal

tenso, flor rasteira
forasteira

Manhã de astros
turvos curvos

mortos em tudo
vagos cegos

no silêncio

4

Eis o preço da noite
derretida, do vapor

que ruma ao mais
ardente comovente

da floresta


In: Através (Bookess, 2018).

HOJE, NO RIO DE JANEIRO, LANÇAMENTO DE "BIGORNAS", LIVRO DE YASMIN NIGRI

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A Livraria da Travessa (Botafogo) e a Editora 34 convidam para o lançamento de "Bigornas", livro de estreia de Yasmin Nigri. 

No evento, as convidadas Carolina Turboli, Liv Lagerblad, Camila de Moura e Laura Vaz farão a leitura de poemas do livro.


Oficina: A CONSTRUÇÃO DO ENSAIO, de Gustavo Silveira Ribeiro (UFMG)

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Acervo pessoal

Às segundas e quartas pela manhã, das 11:00 às 12:30, o professor Gustavo Silveira Ribeiro coordena uma oficina de escrita criativa na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) dedicada ao ensaio.

O modus operandi é a formação do repertório - leitura intensiva de ensaios e narrativas híbridas, próximas do ensaísmo - combinada aos exercícios de escrita e escuta textual.

Inscrições abertas e livres: gutosr1@hotmail.com



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Gustavo Silveira Ribeiroé doutor em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor da Faculdade de Letras da UFMG.  Publicou, entre outros, os livros "Abertura entre as nuvens: uma interpretação de Infância, de Graciliano Ramos" (2012) e "O drama ético na obra de Graciliano Ramos". Coorganizou as obras "Por uma literatura pensante: ensaios de filosofia e literatura" (2012), "Toda a orfandade do mundo: escritos sobre Roberto Bolaño" (2016) e "Poesia contemporânea: reconfigurações do sensível" (2018).

Oficina: "poeira, bichos, afetos: jeitos de ler-fazer o poema", de Rafael Zacca

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"A virtude do vagão", de Paul Klee (editado)


< poeira, bichos, afetos: jeitos de ler-fazer o poema >
Mediador: Rafael Zacca

RESUMO DO CURSO

É uma oficina de leitura e é uma oficina de escrita. A poesia contemporânea é uma poesia da brutalidade. A materialidade das coisas invade o seu imaginário e repertório. A paisagem não é límpida, sujou-se com a poeira das coisas da rua, do mangue, da lama, do outro. Bichos e pessoas misturam-se com violência ou delicadeza. E há dias que os afetos são o soco mais brutal. Vamos ler poetas vivxs e escrever a partir dessas chaves, juntxs.

MÓDULO 1 – Introdução
> Apresentação e metodologia do curso: leitura e escrita

MÓDULO 2 – Poeira
> Das Impurezas do Branco ao Poema sujo
> Impurezas e poemas sujos contemporâneos
MÓDULO 3 – Bicho
> Zoopoética ou zoopolítica?
> Animalidade hoje

MÓDULO 4 – Afetos
> Uma coca cola com você e A teus pés
> Amizade, paixão e ódio no poema correspondência
> Eros e linguagem
> Eros e imagem

Inscrições de 30/07 a 30/08: https://bit.ly/2KdfifU
Investimento (taxa única semestral): Comunidade externa- R$200,00 (duzentos reais)/Comunidade interna (alunos, servidores e professores da rede pública)-R$160,00 (cento e sessenta reais)
Dia / Horário: Quinta-feira / 15h-17h
UERJ – COART – 2018.2
Início das aulas: 16/08
Mais informações sobre os cursos oferecidos pela Coart UERJ: https://www.facebook.com/coartuerj/

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Rafael Zacca é poeta e crítico. Formou-se em História pela UFF, onde também cursou o mestrado em Filosofia. É doutorando em Filosofia pela PUC-RJ. “Tarda” e “Relógio normal” foram publicados no primeiro livro, “Rafael Zacca | Coleção Kraft” (Cozinha Experimental, 2015). O terceiro é inédito. Rafael Zacca integra o laboratório de investigação e produção da Oficina Experimental de Poesia, no Rio de Janeiro.

Ser Brasileira, Ser Mulher Forte, por Alexandra Magalhães Zeiner

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foto: culturafm.cmais.com.br


Ser Brasileira, Ser Mulher Forte
Alexandra Magalhães Zeiner




Ser Brasileira
(1)

Ser Brasileira
é ser mulher forte
sonhadora
amadora e guerreira
cruzando fronteiras
mergulhando na solidão
do ato da criação
Ser Brasileira
é abraçar uma estranha dentro de si
desbravadora Amazona
do novo e velho mundo
conhecendo o preconceito
que escraviza o planeta
Ser Brasileira
é ter herança poderosa
do amor entre as raças índia, negra e branca
representante especial
da liberdade multicultural
Ser Brasileira
é transformar sentimentos,
buscando a paz
que nos traz esperança
cor das nossas matas
Nossa Pátria, Mãe Gentil
agora e sempre
Brasil


*


Aviso
(1)

Te avisei...
Fui ouvida?
Entendida?
Te amei... I
Palavras ao vento...
O tempo passou
sentimento arquivado,
esquecido. .
Para que o perdão?
Aprendi a lição!
O amor presenteado
foi transformado,
virou amor próprio! 


 *


Deusa Lua
(1)

Na madrugada prateada
cavalgamos Teu território
mares de Paz
serenidade e tranquilidade
tormentas e crises
cruzados valentemente
por Tuas filhas
Guerreiras Amazonas
protegidas pela luz
do Teu manto celestial
repetindo Teus nomes
repelidos pelos patriarcas
invocados por Tuas seguidoras
Musa Divina
NANA, SELENE, LUNA, CHANDRA,
MARAE, ISIS, RAINHA DA NOITE.
Te agradecemos em reverência
hoje e para todo sempre.
Que assim seja!


*



Visões de Paz
(2)

Nossos corações são grandes demais para falhar
muralhas não nos salvarão
ou nos protegerão
tão pouco nos dividirão
o amor nos salvará
um compromisso de paz nos elevará
juntas construiremos
redes de resistência coletiva
sistemas de suporte mútuo
no presente, aqui e agora
almas resilientes
somos apenas viajantes na Terra

 
*

Estrelas da minha rua
(3)


Na minha rua tinha estrelas
as mais brilhantes de toda Via Láctea
num céu de veludo azul
onde brilhavam como diamantes
e quando a Deusa Lua aparecia
os vagalumes faziam a festa...
Iluminando as encantadoras castanholas
transformadas em árvores de natal!
O que seria da infância sem a rua das estrelas?
Foi lá que as fantasias da menina rebelde
Despontaram para correr pelo o mundo...






(1) poemas publicados no poemário trilíngue Sobrevivente
(2) poema publicado no primeiro projeto internacional das Mulheres pela Paz e Mulherio das Letras do Brasil
(3) poema publicado na segunda antologia de poemas Mulherio das Letras do Brasil








Alexandra Magalhães Zeineré mãe, aprendiz das letras, curadora, tradutora, professora, e acima de tudo sonhadora.  Residiu em vários países trabalhando como pesquisadora e em 2012 foi adotada pela Alemanha. Tem cinco livros publicados, todos em dois ou três idiomas. Em 2017 fundou a ONG Mulheres pela Paz – Frauen für Friedenem Augsburg, cidade da paz na Baviera, onde coordena o Sarau da Paz desde 2015.

PORREMAS [antologia] - LANÇAMENTO NO RIO 04/08

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Vinte autores e um mote: escreva muito bêbado, edite de ressaca. Organizada por Rafael Maieiro, Diego Barboza e Manuela Oiticica, “Porremas” é uma antologia poética que reúne autores de diversas origens, alguns experientes e outros mais jovens. Como lembram os organizadores na apresentação: “beber para escrever é tão velho quanto a escrita. Na maioria dos casos dá ruim, mas às vezes dá um bom danado. Igualzinho com os sóbrios, só que eles ficam com dor de cabeça sempre. Nós, ainda bem, só no dia seguinte.”

PARA ADQUIRIR CLIQUE AQUI

Autores desta antologia:

Aldir Blanc, Alexandre Guarnieri, André Rodrigues, Bruno Borja, Daniel Brazil, Diego Barboza, Fabrício Gonçalves, Flora Tarumin, Jhone Carlos, Karine Teles, Katyuscia Carvalho, Léo Haua, Luiz Guilherme Santos, Manuela Oiticica, Mariana Blanc, Rafael Maieiro, Roberto Dutra Jr., Sandro Félix, Vinícius “Maru” Pitangui, Zeh Gustavo.





ODE AO ENGOV, por Alexandre Guarnieri

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Ode ao engOv*

para João Cabral de Melo Neto,
in memoriam,
pela sua devoção à aspirina


certamente: o mais gastresofágico
e prático comprimido – com hidróxido
de alumínio –, elegantemente ingerível
por aqueles que pretendam encher
a cara, bastando administrá-lo em mo-
mentos de certa estratégia no ato do
consumo ( um pré \ outro pós ) do álcool;
esta droga, ao tomá-la, qualquer candidato
egresso da sobriedade e cujo corpo tende
ao exagero no copo, por destilados ou fer-
mentados sempre, terá formada no estô-
mago uma benéfica e antiácida camada.

(  \  )

combinam: além da inequívoca ação do
antihistamínico que aliviará sem engano
alguns dos danos menos drásticos de
qualquer abuso etílico, reunido ainda
ao renomado ácido – o acetilsalicílico –
a beleza estética do recomendado remédio
em dourada embalagem ( meio amarelo /
meio rosado ) e redondinho, um artefato
bicolor curativo, acudindo aqueles que an-
seiam pelo auxílio deste forte aporte, neces-
sário e indispensável à nobre arte dos
homéricos goles & grandessíssimos porres.


*   *   *



*O poema integra a antologia PORREMAS

Vinte autores e um mote: escreva muito bêbado, edite de ressaca. Organizada por Rafael Maieiro, Diego Barboza e Manuela Oiticica, “Porremas” é uma antologia poética que reúne autores de diversas origens, alguns experientes e outros mais jovens. Como lembram os organizadores na apresentação: “beber para escrever é tão velho quanto a escrita. Na maioria dos casos dá ruim, mas às vezes dá um bom danado. Igualzinho com os sóbrios, só que eles ficam com dor de cabeça sempre. Nós, ainda bem, só no dia seguinte.”

PARA ADQUIRIR CLIQUE AQUI


Autores desta antologia:

Aldir Blanc, Alexandre Guarnieri, André Rodrigues, Bruno Borja, Daniel Brazil, Diego Barboza, Fabrício Gonçalves, Flora Tarumin, Jhone Carlos, Karine Teles, Katyuscia Carvalho, Léo Haua, Luiz Guilherme Santos, Manuela Oiticica, Mariana Blanc, Rafael Maieiro, Roberto Dutra Jr., Sandro Félix, Vinícius “Maru” Pitangui, Zeh Gustavo.




*   *   *



Alexandre Guarnieri (carioca de 1974) é poeta e historiador da arte. Integra o corpo editorial da revista eletrônica Mallarmargens. Lançou Casa das Máquinas (Editora da Palavra, 2011) [disponível gratuitamente AQUI], Corpo de Festim [livro ganhador do 57o Jabuti/ 2a Edição pela Penalux/ disponível gratuitamente AQUI] e Gravidade Zero (Penalux, 2016) [disponível gratuitamente AQUI]. Em 2016, publicou pela Patuá a antologia Escriptonita (poemas tematizando super-heróis), do qual foi um dos organizadores.

"Feminino", série de ilustrações de Felipe Stefani - parte 1 de 4

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Felipe Stefanié poeta, fotografo e artista plástico. Nascido em São Paulo, trabalha como ilustrador e professor de desenho livre. Já ilustrou muitos livros de outros escritores e também seus dois livros de poemas já lançados: “O Corpo Possível” (2008), pelo coletivo Dulcinéia Catadora e “Verso Para Outro Sentido” (2010), pela Escrituras Editora.

Lançamento da revista "Palavbras Andantes" no Rio de Janeiro

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No dia 13 de agosto, às 19h, na Casa de Pedra 64 (Rua Redentor, 64, Ipanema - Rio de Janeiro/RJ), ocorrerá o lançamento do primeiro número da revista Palavbras Andantes, com uma antologia bilíngue da poesia brasileira contemporânea. 

O evento terá uma conversa com os editores Érica Casado, Pedro Rocha e Sergio Cohn e leitura dos poetas cariocas presentes na antologia (Guilherme Zarvos, Alberto Pucheu, Bruna Mitrano, Danielle Magalhães, Ana Paula Simonaci, Italo Diblasi).

A revista Palavbras Andantes é uma publicação multinacional de poesia íbero-americana, com editores em 14 países.

Para mais informações: https://www.facebook.com/events/223429931690839/?active_tab=discussion

Cuquinha inaugura exposição inédita em Belo Horizonte

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Cuquinha inaugura exposição inédita em Belo Horizonte
Transição de Fase dialoga com a temática da imigração, a partir do dia 24, sexta, na Funarte MG

A nova exposição do artista Lourival CuquinhaTransição de Fase, será inaugurada na sexta (24/8), às 19h, na Funarte MG, no centro de Belo Horizonte. Exposto pela primeira vez, o conjunto dialoga com a temática da imigração; reúne dezenas de obras e uma instalação sonora, criada em parceria com Mariana Lacerda e Muep; e foi contemplado com o Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais (2016). A entrada é franca.

No processo de criação do trabalho, durante quatro anos, em várias partes do mundo, o pernambucano Cuquinha encontrou-se com vendedores ambulantes, que vivenciavam situações de imigração. A cada um deles, propôs adquirir mercadorias que eles ofertavam, pagando o dobro do valor cobrado. Em troca, pediu um retrato de cada imigrante. Por fim, imprimiu as imagens sobre materiais como cobre, ou cédulas, com um detalhe: as superfícies tinham o mesmo valor do custo dos produtos negociados.

Assim, pode-se conhecer, na mostra, enfileirados ao lado de suas mercadorias, o ambulante jamaicano que vende bandeiras de países em Londres; a boliviana que oferece meias infantis nas ruas de São Paulo, enquanto carrega o próprio filho amarrado ao corpo; e o retirado da Costa do Marfim, que comercializa miniaturas chinesas da Torre Eiffel, em Paris (FR).

Na abertura da exposição, mercadores de diversos países serão convidados a ocupar o espaço expositivo e nele negociar sua mercadoria com o público. Cuquinha explica que “Transição de Fase” é um termo da física, que retrata a mudança do sólido ao líquido, ou do líquido ao gasoso. “Dentro da exposição, porém, abrange mais: é partir de um território familiar e conhecido para um território novo não-doméstico”, diz o artista, que viveu a condição de imigrante no Reino Unido, por cinco anos.

Já a peça sonora, concebida em parceria com os artistas Mariana Lacerda e Muep, é composta por trechos de entrevistas com alguns dos imigrantes retratados na pesquisa. “O registro sonoro foca especialmente em uma imigrante do Congo, Hortense Mbuyi Mwanza, que narra a vivência de refugiada política e cuja história também estará narrada no catálogo”, adianta Cuquinha.

Um programa educativo ligado ao projeto é coordenado por Carolina Santana, também artista visual e educadora, do núcleo criativo Malacaxeta, baseado em Belo Horizonte. Nessa atividade, ao longo do período de exibição das obras, o público será convidado a enviar cartões postais para a África, endereçados a familiares de imigrantes, hoje moradores da capital mineira. A correspondência será respondida. É possível agendar visitas mediadas através do e-mail educativomalacaxeta@gmail.com.

A exposição Transição de Fase chega a Minas Gerais com produção executiva de Marcelo Calheiros. A mostra segue em exibição até o dia 7/10.



O ARTISTA
Lourival Cuquinha nasceu no Recife (PE), em 1975. Já expôs em nações como Indonésia, Alemanha, Inglaterra, Holanda, França, Estados Unidos, Cuba, Bélgica e Espanha, entre outras. Seus trabalhos integram coleções de instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM SP), na capital paulista; a Coleção de Arte da Cidade de São Paulo (CCSP); e o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Recife). Obras suas figuram em coleções privadas em diversos países.

SERVIÇO
Transição de Fase - exposição de Lourival Cuquinha
Entrada franca
Inauguração: 24/8/2018 (sexta-feira), às 19h
Visitação: até 7/10/2018, de quarta a domingo, das 14h às 21h
Classificação etária: livre
Local: Funarte MG (rua Januária, 68, centro, Belo Horizonte)
Agendamentos educativos: educativomalacaxeta@gmail.com.
Mais informações:  tels. (31) 3213 3084 (31) 3213 7112; email: funartemg@funarte.gov.br

Este projeto foi contemplado no Edital Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais (2016).

ENTREVISTAS E IMAGENS
Tatiana Diniz // Assessoria de Imprensa e Gestão de Redes Sociais

Alejandra Pizarnik: lançamento, documentário & bate-papo (RJ)

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A Relicário Edições e o Instituto Cervantes convidam para o lançamento dos livros "Árvore de Diana" e "Os trabalhos e as noites", de Alejandra Pizarnik. 

Na ocasião, será exibido o documentário "Alejandra", dos cineastas argentinos Virna Molina e Ernesto Adito (Argentina, 2013, 102', legendas em port.) seguido de bate-papo entre a escritora Laura Erber o tradutor dos livros Davis Diniz.

Data: 7 de agosto (terça-feira)
Horário: 18h
Local: Instituto Cervantes Rio de Janeiro (Rua Visconde de Ouro Preto, 62, Botafogo)

Sobre o documentário: “Com uma linguagem íntima e sensorial, o filme narra a vida da poeta argentina Alejandra Pizarnik, dos principais conflitos que deixaram uma marca profunda em sua obra e o contexto da ruptura vanguardista dos anos 60 e 70. Seus diários pessoais, suas cartas, seus poemas, a história de seus amigos e familiares são as ferramenta que lançam pistas sobre seu destino. Hoje, após sua morte e depois de ser censurada pela ditadura, foi redescoberta pelas novas gerações e é a poeta mais lida em sua língua."

Sobre o livro "Os trabalhos e as noites": “Promovendo uma inversão no título clássico de Hesíodo, Os trabalhos e os dias, poema épico composto entre o final do século VIII e o começo do século VII a.c., Proust publicou, em 1896, Os prazeres e os dias, uma reunião de contos e poemas de juventude. Outra é a inversão operada no belo título deste livro de Alejandra Pizarnik, Os trabalhos e as noites. É possível que não haja melhor título para um livro de poemas de Pizarnik, ou, talvez, para qualquer livro de poemas. Como indica o verso de Emily Dickinson, “Good morning, Midnight!”, o poeta é trabalhador da noite; seu labor é noturno, prefere o silêncio e a sombra. Noite, silêncio, sombra são palavras-chave no vocabulário da poesia de Pizarnik. Trata-se, aliás, de um vocabulário bastante restrito; os poemas de Pizarnik giram em torno de um catálogo limitado de palavras e imagens: pássaro, cinza, pedra, noite, alba, infância, vento, chuva, sombra, silêncio, lilás… A partir de uma série reduzidíssima de elementos, Pizarnik compõe, como num jogo combinatório, seus poemas quase sempre muito breves, extremamente depurados, de uma terrível limpidez.” Trecho da apresentação de Ana Martins Marques

Sobre o livro "Árvore de Diana": "Publicado em 1962, este quarto livro de Alejandra Pizarnik constitui uma espécie de salto inaugural, já que traz a marca do que será seu estilo dali em diante. Entre 1960 e 64, a autora passou uma temporada em Paris e esses poemas explicitam alguns dos diálogos que ela estabelece na altura, por exemplo com Octavio Paz, que escreve o prefácio do livro, ou Julio Cortázar, que tem um poema dedicado a si. Também ficam evidentes, neste livro, seu interesse pelas artes plásticas e determinados procedimentos estilísticos e temáticos, vários deles herdados do surrealismo francês, que será uma referência constante para ela, tanto em textos críticos e traduções, quanto nos poemas, com menções mais ou menos diretas." Trecho da apresentação de Marília Garcia

Sobre a autora: Alejandra Pizarnik nasceu no dia 26 de abril de 1936, em Avellaneda, cidade da região metropolitana de Buenos Aires. Flora Pizarnik era seu nome de batismo, e seus pais eram imigrantes russos judeus que chegaram à Argentina três anos antes de seu nascimento. Seu primeiro livro de poemas, La tierra más ajena, foi publicado em 1955 e assinado como Flora Alejandra Pizarnik. Em seguida vieram La última inocencia, de 1956, e Las aventuras perdidas, de 1958. Estudou filosofia, letras e jornalismo, porém sem concluir os estudos universitários. Em 1960, mudou-se para Paris, onde viveu durante quatro anos e travou amizades com os escritores Julio Cortázar e Octavio Paz, tendo este último escrito o prólogo de seu livro seguinte, Árbol de Diana, de 1962. Em 1965, após seu retorno à Argentina, publica Los trabajos y las noches. Seus livros seguintes são Extracción de la Piedra de Locura, de 1968, e El Infierno Musical, de 1971. Em 1972, aos 36 anos, Pizarnik morre após ingerir uma quantidade letal de barbitúricos, deixando escrito na lousa de seu apartamento: “Não quero ir/ nada mais/ que até o fundo.”

Curso de Escrita Literária com o professor Paulo Otávio Barreiros Gravina

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Curso de Escrita Literária
Prof. Paulo Otávio Barreiros Gravina
Horário: quintas, de 02/08 a 22/11 das 17h30 às 19h
Local: Rua Araújo Porto Alegre, 70 sala 111 (esquina com Rua México, próximo à estação Cinelândia do Metrô)
Investimento mensal: 120 reais
Descrição: A Oficina de Escrita Literária tem o objetivo de desenvolver a capacidade de escrita de cada aluno através de muita leitura, principalmente de literatura, mas também de teoria literária, e através de exercícios já conhecidos de redação, abrindo possibilidades para que os alunos escrevam seus próprios poemas, contos, roteiros, peças teatrais e romances. Obs.: Aula inaugural de 2 horas e meia, aberta a todos.
Inscrição por email: comunicacao@centrodomvital. com.br ou direto no CDV no dia do curso.
Sócios do CDV e alunos (de qualquer instituição) têm 50% de desconto. Há outras bolsas. Seminaristas têm gratuidade.
Serão emitidos certificados.
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