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Lançamento do livro: "Novena para Pecar em Paz" antologia de contos

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Lançamento do livro de contos  “Novena para pecar em paz” 






Editora Penalux

4/10, 19h – 22h

Bar Beirute – SCLS 109 - Brasília




Aqui se apresenta um vasto catálogo de personagens, e habitam seus corpos, essas mulheres e seus modos de ser e de agir, modos de ver o entorno, modos de escuta do outro, modos de luta. Multiplicam-se em metáforas oceânicas, percorrem com seus olhos prateleiras de supermercados, escolhem vestidos para enterros, tornam-se mães ainda filhas, tornam-se assassinas ainda vítimas, correm pelo asfalto e corpo adentro, refletem sobre o mundo, traduzem, metem-se sob samambaias ou sob as águas geladas dos mares do norte, metem-se em decisões tortuosas, acreditam e desacreditam no amor, seja suprassumo ou inútil entendimento, embrenham-se na simplicidade de derramar moedas ou cheirar cachecóis azuis. " 

 Natalia Borges Polesso

Natalia Borges Polesso Doutora em Teoria da Literatura, escritora e tradutora. 
Foi vencedora do 58º Prêmio Jabuti de 2016 nas categorias Contos e Crônicas
 e Escolha do Leitor, com o livro “Amora”. 





"Novena para pecar em paz"é uma antologia de contos escrita por nove autoras de Brasília. A antologia trata da violência que ronda o universo feminino através de contos densos, realistas e ousados. São nove narrativas sob a perspectiva feminina diante da diversidade de violência que ronda nosso universo:


Luz Negra de Beatriz Leal Craveiro 
Destino de Cinthia Kriemler (org)
Estranha Fruta de Lisa Alves 
Um Caule de Mogno de Lívia Milanez 
As Duas Irmãs de Maria Amélia Elói 
Manual de Mergulho de Mariana Carpanezzi 
Santa Felicidade de Patrícia Colmenero
Mirna de Paulliny Gualberto Tort 
O Bolso do Vestido Azul de Rosângela Vieira Rocha







Acompanhem nosso evento de lançamento pelo facebook : 











"Fluxos de Pensamento" de Marina Moura

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Fotografia | Diane Arbus








A arte é um enxame de cor invadindo meus dedos,
penetrando a minha vida. 
Quantas mulheres se doam para sobreviver, 
isso eu já não tenho dedos para saber contar. 
Tem gente que gosta de brincar de roleta russa,
trancafiando-se em salas escuras de Nova Orleans. 
Mas eu, eu nasci aqui, dentro de mim. 
Meu tigre não tem olhos tristes 
e a merda não permite trocadilhos 
pra dentro da vida privada. 
Escarro poemas nos pés dos que se acham muito santos
e dedilho dilemas como Hendrix. 
Jimi renda-se! Já trocadilhava Tom Zé, 
então eu também posso suar como arroz com suan.

Há cânions a se desbravar em Nova Campina. 
Há frutas divinas escondidas nas meninas mais tímidas.
Hei de chupá-las indecorosamente cítrica. 
Aracaju não deixa deixas para proselitismos.
Cada viagem, um abismo em minha fisionomia afetada e fé. 
Irretorquível, cável. Hábil, ágil. 
Onde a marca da mordida fica a pele desabestraga. 
Mas eu não sou parâmetro para contravenções mais frágeis. 
A minha permissividade com a vida torna a palavra vadia uma pomba de luz. 
E eu, que nasci pra carregar a cruz de desejos que anseiam topos lunares, ha!, 
rodopio ao contrário e acho todo moralismo um verdadeiro pé no saco. 
Pedra no sapato. Repasto pra boi dormir.

Fui ao xilindró mais próximo comprar artigos de luxo, 
mas acabei levando das sedas apenas os bichos. 
Maltrapilho, tratado como lixo, 
choco um pouco mas recomponho-me 
e vestido de besta me exponho. 
A pele incontornável é delineada de espasmos. 
Atire a primeira pedra quem não gosta de ser cobra-cega, 
fazendo-se de sonso para amenizar o peso de entender
e não fazer mais do que olhar. 
Comer. 
Foder. 
A vida como um espetáculo 
e a gente alternando entre plateia e palhaço.

Estrada mexe comigo.
Umbigo arrepia-se em cada curva esquina. 
A pena rima com sina: ma  rina, má rima. 
Não embalo-me, abalo-me. 
Deixo estropiar para depois desaprender o mágico. 
O trágico está no olhar abaulado sobre as coisas
que não nos causam estragos. 
Se estragam, comovem-nos.
Mas então é ocorrência fixa. 
Aquela cicatriz que dialoga com as almas 
de existências que nem nos pertencem mais. 
Sinais de alerta no meu coração: nunca ande com estranhos de si mesmo. 
Nunca cavalgue pangarés que galopam rumo a moinhos imaginários. 
Ou então, lute com eles, Quixote contemporâneo!





Marina Moura é poeta e jornalista de SP, com escala em Minas Gerais, onde deixou um pouco de seu coração. Contempladora contumaz de paisagens, comportamentos e pessoas. Nutre-se da captação de fatos, gosta mesmo é de essências. Costura verbos. Tem como expressão máxima as palavras escritas, tecitura fina de signos. Junto de Amanda Machado, é organizadora da primeira Antologia de poemas Gays Brasileira, a ser lançada em novembro de 2017.





MANDÍBULAS - JANDIRA ZANCHI

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Ilustração; Oleg Oprisco


silenciei - para além da crise - queixumes remansos
espanto no caldo caldeira água fervida
de novos instantes fulgores em abatidas carnes
mandíbulas serpentes serpentinas
confeitos de pérolas nas igrejas e ladrilhos
vasculhados de passos ritmados de ilusões,
umas lágrimas poentes da cidade puída
vertendo-se  amarelas
pela noite de suas mulheres sem sabor

olhos cinzentos, à margem, do vendaval contínuo
custo de dias nulos, ósculos e paladares de saliências
em que reatava recitava meus patamares

retomei do verbo, em sua incoerência, o fio de alma
que alcança nuvens e esperanças
essa bem-aventurança de coexistir com a imagem
ou a idEia ou o abstrato lúdico de permanência
esse além ser que inventamos programamos
para nos nutrir de paralamas taças convites e arbítrios

querências e imaginações fluídas e móveis de ser

maré citadina do espírito alçado em mel e flor furta cor
na matriz bonança do cismar doce e alvéolo
gotejando sua morosa guarda.



JANDIRA ZANCHI (A Janela dos Ventos, singularidade)

Poeteu II - Reinoldo Atem

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O rádio do carro toca
a música preferida.
Troco a marcha, olho a rua,
sigo a vida aborrecida.

***

Fico esperando sentado.
A bela não quer chegar.
Quanto tempo inda será
que ela vai demorar?

***

Já que mais nada há para fazer,
me perco nas ruas insufladas,
como se nem houvesse a perceber
a esquina e sua encruzilhada.




Os pássaros pousados
nos fios dos postes tantos.
O crepúsculo fenece e
cobre o mundo em seus mantos.

***

A beleza que emana
de teu porte feminino
promete ao homem tolo
poder mudar o destino.

***
O desinteresse dos políticos
pelo povo que os elegeu
falsifica a democracia
e agora deu no que deu.

***

Os mais complexos altares
construídos ao deus mercado.
Mas eu, como ateu, confesso:
sigo para outro lado.

***

O trem passa valente
apitando no cruzamento.
Os carros param e aguardam 
apenas por um momento.




Galeria:  Gilad Benari



Reinoldo Atem, declaradamente curitibano, nasceu em 1950, no Piauí, morou em Londrina e em São Paulo. A sua poesia guarda as imagens de uma Curitiba sem os delírios de modernidade. Como consequência, seus melhores poemas não pagam o tributo para o verso curto ou para a modernidade epidérmica. Muito pelo contrário, os seus bons poemas são longos, bem articulados e revelam o domínio da macroestrutura da linguagem.
     Participou e publicou:
     - 4 Poetas - coletânea - Editora Cooperativa de Escritores - Curitiba, 1976.
     - Tempos - coletânea de poemas - Editora Pindaíba, São Paulo, 1976.
     - O Conto da Propaganda - coletânea de contos - Editora Vertente, São Paulo, 1979.
     - Assim Escrevem os Paranaenses - coletânea de contos - Editora Alfa-Ômega, São Paulo, 1977.
     - Sala 17 - coletânea de poemas - Movimento Sala 17, Curitiba, 1978.
     - 1971 - novela - Editora Beija-Flor, Curitiba, 1978. (reeditada pela editora Inverso em 2015).
     Foi um dos fundadores e editores da revista de jornalismo cultural e literatura Outras Palavras (1978) e da revista de criação Zé Blue (1980).



Sentido figurado e outros poemas de Marcos Samuel Costa

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Ilustração: Martin Stranka



Variação nº 01

1

o corpo é acesso dentro da casa
a água de março afoga
não sou mais nenhum

2

o corpo é acesso fora da casa
a água de março não afoga
sou mais nenhum

3

O florescer é elétrico
A carne é lamina cão
Fluímos nos desaforos caninos
  
4

Fluímos nos desaforos caninos
o florescer foi elétrico
a lamina é carne cão
  
5

Judas e Pedro caminham na estrada não
Despedem-se do apreço
Logo estão amando-se de corpo nu

6

Judas e Pedro caminharam na estrada não
Saúdam o apreço
já se amam de corpo nu


Manhã de luto

Nessa manhã não te dei flores,
não te abracei
pois vagava longemente de mim
e tua alma não tão fugaz aqui comigo ficou.

Hoje amante da tua alma,
com ela vagamente
preenchi os espaços do universo,
beijei ela que comigo ficou.

Nessa manhã em que tudo é luto,
é luta, não me vês morrendo?
Não me vês tão alma como tu?
Se deixasses seríamos duas almas amantes.

Não quero mais o ontem,
o ontem encostou nossos corpos,
mas deixou nossas almas tão distante,
uniu-nos pelo prazer,
mas nos afastou por falta do “querer”.


Sentido figurado

Não era toda a verdade,
uma parcela dela eu acho,
um terço dela.
ou na verdade nada dela.

nesse sentido tudo já é figurado
ninguém acredita mais em ninguém

Todas as manhãs na ida ao mercado,
na ida à padaria,

eu e minhas relações
com as pessoas,
tudo parece apenas um pedaço da verdade.

Rápidas trocas de olhares,
olhares quase nunca trocados,
e pessoas passando, e passando,
continuo achando
que a vida é só no seu sentido figurado.



Marcos Samuel Costaé natural de Ponta de Pedras - Ilha de Marajó - Amazônia brasileira. Atualmente cursa Serviço Social na UFPA, e mora em Belém do Pará. Vive perdido no caos da cidade grande e entre livros de poesia. É membro correspondente da Academia de letras do sul e sudeste paraense e da ASPEELPP-DJ. Autor dos livros: Sentimentos de um século 21 (Multifoco Editora, 2014),Titulado amor (editora Literacidade, 2014), em coautoria com dois amigos: Interpoética(Big Times editora 2015), Uma semana de poesia(Editora Penalux 2016) e Lugar algum(eBook 2017, amazona) e no prelo o Não me envolva no seu rolo (livro mínimo). Participou de mais de 20 antologias literá­rias, entre elas I e II Anuário de Poesia Paraense e publicou nas revistasMallarmargens, contemporArtes,Marinatambalo e Gueto, além de fazer parte da equipe editorial do Jornal Crescendo onde assina a página de crônicas infantis e colaborou na 3 ed. da Marinatambalo: Literatura e crítica na banca avaliadora. E mantém o blog, Someplace, onde divulga sua produção e colabora com outros.

5 POEMAS DE JOÃO AUGUSTO

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Canto II

              Para Janaína Caram Vizicato

O ar amadurece as nuvens, os pássaros, os sonhos. A terra amadurece os homens que germinam a dor dos que não sabem sonhar. O século está pobre, Jorge. Onde é que vou buscar arroz e poesia? Pobre o chão em que me pisa a lembrança. O dia de colher a rua e seus novos pobres. Há falta de cisne nos olhos das pessoas. O presente embaciado, mudo, empobreceu a língua e o estômago de minha gente. São pobres as canções de interpretar o mundo. Os cartões de Natal, que já não trocamos. Devo despir-me do que é belo? Nascem cem palavras de dentro de outra palavra. Um amor não nasce. Na fila dos loucos, encontro todas as minhas gerações. Países remotos saltam de barcos para dentro dos nossos quintais. Estendo a cabeça para fora deste poema. A vida publica anuncio à procura de personagens. O Brasil e suas canções de ninar. Entre a pedra e o sono, preparo o meu violão.


A antimáquina

As ruas com seus cabideiros pendurados de almas. Eu recolho nomes que o mundo rejeita. Corpo vivo, acende-se. O cheiro fêmeo das palavras. O real entranhado na carne. A noite não guarda luz porque vive, sobre nós, o mais escuro dos medos. A claridade entorpece os olhos. Uma ciranda de sombras dança sobre o fogo da vida. Ver é admitir o absurdo de existir, como um jardim cultivado às avessas. Guardo um olhar desacostumado à vida. Não é preciso chover maçãs para acreditar em sonhos. Algum tempo deixei fechada, em mim, a caixa de encantamentos. Homens, mulheres, crianças, cabides e maçãs. Cultivo macieiras dentro de garrafas. E lanço-as ao mar. Sou uma máquina lenta entre homens à velocidade da luz. Sou a página vazia, o poema que ainda não nasceu. Sou o último anti-herói.


Canto III

Talvez eu pendesse, um ramo solene, e recuasse meus olhos diante da luz. E então, nesse átimo, em que a vida nos rouba o ar, restaurar o entendimento entre o homem e a vida.  Não havia sequer, na infância das cores, um arbusto em que coubesse um descanso. E como se nascesse, de uma tela vazia, um grito branco, que aos poucos cobrisse um terraço de brancas estrelas, ainda pela manhã. Sonhava-se o verso vivo da utopia. Em que todo o céu descesse seu vestido e, por trás da pele dos seres invisíveis, jorrasse um canto encarnado de amarelo. E toda a secura do campo dos meus olhos guardasse, então, alguma paz. E todas as pontes, antes intocáveis, acendessem teu nome, em minha memória, como o mais desejado dos girassóis. (João Augusto)


Canto XXIII

A minha poesia nasce do que me emudece. E forjaram no homem a própria ferramenta de sangrar. O êxtase não está na presença de deus. Mas na clausura rompida, como uma cela aberta no peito. Nascemos em cárcere privado. Andamos, parimos e padecemos, como anjos soltos, entre grades e paredes, tingidas de carne, ossos e sangue. O suicídio mata sempre a pessoa errada. Amar é correr o risco de ser livre. E forjaram no poeta a triste liberdade de ser só. Não há retornos. Meu girassol canta todas as manhãs os galos mudos de João Cabral. A flor mais lúcida nasce na adversidade. Não plante espelhos para cultivar verdades. A palavra só existe onde o silêncio permite.

A Charles Baudelaire

Marte é menos estranho do que minha pequena biblioteca. Embalo meus livros para que adormeçam e se revelem nos sonhos. A racionalidade como uma escala da fantasia. Minha psicóloga diz que os submarinos não morrem, apenas se escondem melhor. No fundo, mesmo na engenharia que me funda como poeta, somos o extremo do sonho, o concreto da utopia. (Ao final dos meus anos, espero sair com vida. Como uma caixa de música sobre o móvel, há tempos esquecida.) Os homens guardados em retratos me pedem conselhos. Observo quadros urbanos, como um flâneur parisiense. A mulher que passa como uma lanterna, na noite atormentada de sons e olhos mudos, rouba-me a única palavra possível.
*    *    *


Nascido em 4 de julho de 1974, em Bebedouro, SP, desde 1982 João Augusto adotou Ribeirão Preto para morar. Começou a escrever poesia aos 30 anos. É pai da Letícia e do Gabriel. Marido da Elaine. Já publicou Poesia de Telhado (Escrituras) e A Verdade é a mais Bela entre as Falsas Criaturas (Patuá). Jornalista. Já trabalhou com roteiro de cinema e teatro.






"LAIKA", POEMA DE ALEXANDRE GUARNIERI

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Laika ( 1954 - 1957 ) *


tendo idealizado o espaço,
( há odor de fezes na astronave
há uma vira-lata molhada e
sua murrinha ) o cosmonauta se choca
ante a realidade suja: uma desagradável
crise sanitária instala-se, grave,
a anos-luz do seu planeta natal;

sentindo cheiro de pólvora na urina,
o insuportável aroma da amônia
e tudo isso aprisionado às narinas
foi possível senti-lo, inibido, animal cinerado:
estaria mesmo ali o cadáver da mais fiel
das almas entregue ao vácuo ou apenas
o retraído simulacro de um canídeo?

pondera sobre como laika teria ganido,
no limiar entre a vida e a desaparição,
o desespero de não emitir som,
sem osso ou carinho ( o rabo que não abanou )
não houve presença humana apenas
o frio monitoramento telemétrico
de suas tímidas funções vitais;

sem uivo que ecoasse no espaço, não houve
a quem seduzir com o olhar pedinte
da cadela vadia querendo acolhida e abrigo:
à mercê da eutanásia calculada, ( o sacrifício
físico do bicho ainda sanguíneo) afinal
nada disso é possível quando se está prestes
a explodir à bordo do segundo sputnik


* poema publicado em GRAVIDADE ZERO (2016: Gravidade Zero, Guaratinguetá: Penalux)







*   *   *




Alexandre Guarnieri (carioca de 1974) é poeta e historiador da arte. Integra o corpo editorial da revista eletrônica Mallarmargens. Casa das Máquinas (Editora da Palavra, 2011) é seu livro de estreia e está disponível online AQUI (via ISSUU). Seu segundo livro é Corpo de Festim [livro ganhador do 57o Jabuti/ 2a Edição pela Penalux]. Em 2016, publicou pela Patuá a antologia Escriptonita (poemas tematizando super-heróis), do qual foi um dos organizadores. Seu terceiro livro é Gravidade Zero (Penalux, 2016).  

Na ternura das horas - Tere Tavares

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Hoje a lua afaga as nuvens. Os lobos fazem serenatas às sentinelas noturnas.Algo anuncia que o amanhã não amanhecerá. De quando havia música e vasos deslizantes filtrados na saliva dos instrumentos como o silvo das abelhas. A ferrugem das portas que adornam o céu entre a nebulosidade que se desdobra no ar. A consolidação risca o cicio das cigarras e refaz as arestas. A excessividade que se desgarra da memória complementa a surdez das habitações. Tudo se amacia. Como arde saborear a lentidão dos nervura dos minutos da geada sobre a pele. A letargia e o sono que pesa menos que as penas e essas construções de sopros – vergadas de insônia alegria e verdade como alvos coroados que o intervalo sem suspirar deixa como rochas luzindo sob uma mecha apagada e inteira. É esse o vegetal insubmisso que se promulga nesse som pacífico e primordial. Hei de um dia desobstruir os emblemas e saborear as amplitudes. Sem dormir nem sonhar nada que não seja aquecido.



Sobre as orquídeas. Today.I see. So beautiful. Coeur et couleur. Bonjour orchidée.Thanks God. Parce que je peux l’étendre la beauté. End now I see more.Combien vous êtes nature. Em dias tão cáusticos é grandioso poder contemplar a plenitude dessas flores.Maison de Dieu Merci pour tout. O mundo precisa disso. Somos bordaduras.Oráculos perfumados pela beleza.O contrário da aridez. A festa da contemplação. As distâncias nos são próximas. Porque adotamos a ternura e a solicitude. O Alfabeto que soletramos é universal. Nessas grafias impressas e precisas não há limites para sermos. Nem mesmo a adversidade nos afasta dessa rendição que culmina com as estrelas. Somos a possibilidade que se inclina e ascende infinitamente.Merci Pour votre présence et votre prière.Votre amour et votre tendresse. Pour toujours et pour tous les jours de notre floraison. 



Do que o circulo ouve. Elbiah não deixa nunca de finalizar a frase antes que o sono chegue.  Na sincronia do mar, sua alma navega como uma canoa subtraída que talvez pouse numa praia inóspita e resgate uma aurora a descer com sonhos e impaciências no compasso em que dançam as ondas. Como se esperasse acostumada à ausência Elbiah agarra-se no sargaço que escurece a orla suporta maresias e ventos como um carinho gestado impregnando a pele das pedras. No engodo de suspender-se deixa-se ficar com o fervor dos veleiros esquecidos chamados uma mulher de sorte ou desejos ou cavalos de ébano. Não me furtei de ser-te o sonho infuso nem de sonhar-te. Chegarei a tempo de roçar as chuvas e aclarar-me nos teus gestos.


Galeria: Tere Tavares



Tere Tavares, escritora e artista plástica, radicada em Cascavel, PR, Brasil, autora de sete livros publicados Flor Essência (2004), Meus Outros (2007), Entre as Águas (2011), A linguagem dos Pássaros (Editora Patuá 2014), Vozes & Recortes (Editora Penalux 2015), A licitude dos olhos (Editora Penalux 2016), Na ternura das horas (Editora Assoeste 2017). Conta com diversas publicações em antologias no Brasil e Exterior. Possui publicações em várias revistas, jornais e sites literários espalhados pelo Mundo. Integra a Academia Cascavelense de Letras.


 
 

ROBERTO DUTRA JR. RESENHA DANIEL DA ROCHA LEITE

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AGUARRÁS


Aguarrásé o mais recente livro de poemas do escritor amazonense Daniel da Rocha Leite. O autor, com reconhecimento adquirido em diversos prêmios, já conta com dezesseis títulos publicados e espraia versatilidade entre romance, conto e crônica. O novo volume veio à lume pelas Edições do Escriba, do Pará.
            Aguarrás apresenta um conjunto de poemas originados da intensa perturbação do autor com o silêncio que a página simboliza na linguagem. O livro é sua busca em arrancar da brancura a palavra, ou ainda, sua tentativa de vislumbre sobre o momento inicial da significação no que antes era apenas silêncio. A ideia do papel em branco como metáfora do silêncio é central, a tinta da palavra, por sua vez é o solvente que mancha esta superfície, ou rompe a substância virgem do silêncio. Esvaziada da palavra não haveria existência e não se reconheceria nem a própria humanidade. A palavra dissolve a mudez, ergo vida (criação).
            A tentativa de aproximar este momento primordial do rompimento do silêncio faz com que o poeta esvazie sua linguagem de verbos e renda-se a uma intensidade de imagens ao longo das páginas. Aguarrásé perene de versos de grande conteúdo imagético, que se encaixam como um mosaico – ou flashes– estabelecendo coerência na poética de Daniel da Rocha Leite. Como no poema “Espesso”, momento inicial do livro, que espalha um verso por página, assim intensificando o efeito intrínseco do silêncio e contrapondo a palavra como peças que se integram passo a passo. Os versos apontam o surgimento:  “caem os pássaros// o/ peso do corpo durante o tempo// o/ peso da palavra durante o silêncio// eu te olho com o meu sangue// acendes o rio”.
Logo ocorre o desdobramento da metáfora central – mais precisamente localizada na idéia que o branco da página suscita – nas possibilidades de um rio. Elementos que compõe o imaginário ribeirinho do Amazonas surgem e o autor é zeloso em usar estes elementos fora do imaginário regional. O surgimento de palavra tenta ser cartografado por elementos como: margens, náufrago, travessia, praia, água, corais, cais, âncora, leito, entre outros.  esta exploração não tornada simples, o encantamento com a busca e a complexidade do objeto certas vezes parece naufragar o eu lírico, como parece enunciado pelos versos do poema “Narcose”:  “afogado// o teu silêncio ainda respira em mim”.
Cabe observar que a palavra silêncio – assim como sua ideia - é repetida tantas vezes que se torna um rumor interno do livro. A palavra passa a significar seu oposto, abalando o elo entre o som e o sentido. Este último, ponto central na jornada poética de Aguarrás. Uma vez que a ausência de som desaparece, a palavra silêncio encerra um novo paradoxo, entre seu som e o que quer significar.  Aguarrás parece nos apontar que certas buscas, encerram em si mesmas as respostas e os objetivos; fenômenos que significam por si só tanto quanto em seus desdobramentos.
Destaco ainda o poema “Alimento”, central e minimalista, comunica-se com os demais como o cerne da metáfora da página e a oposição branco x palavra, que é a tônica do autor em Aguarrás. O poema “Marquise”, por sua vez abordando o nas estrelinhas a chuva, parece correr à margem do tema central, fugindo, ou desviando o pensamento do leitor por um momento. Esta digressão – ou quase – oferece um contraponto lírico com um dos mais belos conteúdos visuais poeticamente instaurados no livro.
            Daniel da Rocha Leite é muito consciente com o espaço geográfico da página. Utiliza a liberdade conquistada anteriormente por vanguardas literárias para distribuir os versos por todo o espaço da página. Há o efeito de palavras caudalosas como o rio, que já havia surgido nos versos dos primeiros poemas de Aguarrás. Em outros momentos o verso surge no centro da página como tela emoldurada, ou provavelmente ilha no leito do rio.
Aguarrásé um livro de poemas ágil em sua leitura, com um agradável impacto visual que converge com sua proposta de busca pela nascente da palavra na página. O livro também se abre para uma reflexão estética a respeito do ofício literário, sobressaindo o silêncio e a solidão do autor, inerente do processo de criação. Sua leitura certamente irá atingir não apenas os que apreciam a metalinguagem, mas os que preferem uma lírica profusa em imagens em estado de poema.
Boas leituras.


*    *    *


Roberto Dutra Jr. é um escritor em resistência, carioca e deslocado. Mestre em Letras, foi editor da Revista Escrita, contribuiu para o jornal Panorama da Palavra e escreveu artigos acadêmicos. Atualmente oferece consultorias literárias, e leciona quase na clandestinidade. É colunista regular do blog literário Zonadapalavra (www.zonadapalavra.wordpress.com). Colabora com a revista Mallarmargens e usa o Instagram (@robertodutrajr) para experimentos fotográficos com a palavra. Alguns de seus poemas foram publicados na antologia Escriptonita (Patuá, 2016). Leia mais textos do autor aqui.



Daniel da Rocha Leite é advogado e licenciado pleno em Letras, com habilitação em Língua Alemã. Mestre em Comunicações, Linguagens e Cultura, pela Universidade da Amazônia e doutorando em Estudos Comparatistas na Universidade de Lisboa. Recebeu em 2007, o Prêmio Carlos Drummond de Andrade promovido Sesc – DF. No mesmo ano foi finalista do Prêmio Machado de Assis pelo Sesc – DF. Por quatro vezes venceu o Prêmio IAP, promovido pelo extinto Instituto de Artes do Pará. Com o romance Girândolas, venceu o Prêmio Samuel Wallace Mac-Dowell, da Academia Paraense de Letras, em 2009. É um dos mais premiados autores paraenses. Possui dezesseis livros publicados entre poesia, contos, crônicas, romance e literatura infanto-juvenil.


Lançamento em São Paulo de "Ensaios para a queda" de Fernanda Fatureto

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Fernanda Fatureto lança Ensaios para a queda, livro de poesia publicado pela Editora Penalux.

            O título faz menção ao livro A Viagem Vertical de Enrique Vila-Matas. O início da obra do escritor espanhol começa com a epígrafe de Vicente Huidobro : “Caia/Caia eternamente/Caia no fundo do infinito/Caia no fundo de você mesmo/Caia o mais baixo que possa cair.” A partir daí, surgiu a associação do título Ensaios para a queda com poemas que falam da queda humana – o abismo, a condição falha que conduz a humanidade ao seu limite e também à redenção.

            A queda nada mais é que uma abertura à surpresa e às possibilidades infinitas da linguagem: o poema emerge da escavação interior.

            No livro, é possível traçar um  diálogo com autores que permeiam o imaginário poético de Fernanda, como Paul Celan; Maria Gabriela Llansol, entre outros.

            No prefácio, o poeta, escritor e jornalista André Caramuru Aubert afirma que “se todos esses (e outros) ‘antepassados’ ajudaram a fazer da poesia de Fernanda o que ela é, eles não a explicam, não a definem e nem, finalmente, ajudam a classifica-lá. Alguns poemas me parecem quase um romance em miniatura, um daqueles no qual há um gigantesco cuidado formal com cada palavra, mas que lograsse contar toda uma extensa história em poucas linhas.”

            Segundo André Caramuru Aubert “os poemas de Fernanda Fatureto explodem, enfim, com qualquer classificação. O que temos aqui são – em perfeita harmonia com uma das minhas definições prediletas sobre o que é um poema – preciosas peças de lirismo concentrado.”

            Ensaios para a queda é dividido em três partes: Travessias, Miragem e Polifonia.
           

Título: Ensaios para a queda
Autora: Fernanda Fatureto
Editora: Penalux
Publicação: 2017
Páginas: 74
Local: Patuscada
Data: 20/10
Horário:a partir das 19 hs



Fernanda Fatureto (1982) é autora de Ensaios para a queda (Penalux, 2017). Bacharel em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Participa das antologias poéticas 29 de abril: o verso da violência; Subversa 2 e Senhoras Obscenas. Estreiou com o livro de poemas Intimidade Inconfessável (Patuá, 2014). Possui poemas publicados em revistas literárias do Brasil e nas revistas portuguesas Enfermaria 6 e InComunidade






5 poemas inéditos de Leandro Rodrigues

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Ilustração: Lars Raun



ANTIFÁBULA Nº 1


Cavas com as mãos
úmidas pedras do aquário
Limbos profundos onde peixes se encantam
com suas próprias sombras

Cores escorrem neutras entre os dedos

  
Não verificas o precipício da tarde guardada.


                    
ANTIFÁBULA Nº 2


Alguns rios gritam descendem
duas verticais penas invisíveis
Águas furtas/ mudas formas
Olhos estrangeiros postados
num leito vazio
de mortos que acenam destros
disformes aguapés de abismos


Da margem esquerda
réstias de limbo traduzem
O cão velho que sangra cinza à beira


Do nada ao centro,
na profundidade da tarde extinta;

Emaranhadas vozes,
palavras despidas de silêncios e silêncio.



ANTIFÁBULA Nº 3


O meu silêncio pode ser medido pela tarde
           & suas múltiplas ausências
Texturas disformes de um retalho sem cor
Súbita sinfonia inacabada
A cortar as horas com sua fria lâmina

Estendo-a (colcha de abismos)
por sobre os olhos da cidade
gritos adormecem nos cemitérios
de lápides quebradas
incendiados ciprestes se movem
restos de escombros guardados
da minha voz morta.



O MARCO ANDANTE*

     
O meu espaço é o nada
A minha cicatriz uma colher de azeite
Meu grito a fina tessitura do canto abstrato
A chama, o resguardo de um ventre exaurido - parir eterno
Acalantos guardados à beira dos precipícios da tarde inteira intacta
  
              §


Um marco adiante,
Adelante!
Um cavaleiro imóvel
Moldado no concreto
Desdenha!

Desdenhada criatura da estrada
com pés fincados
num canteiro central
movem-se alados
carros autômatos sangrando
ao sol - destinos
A passos largos

caminhas fixo, grotesco
observas - vivo
com o único olho - alto
o impreciso,
o antes, o depois, as formas,
sombras verticais, o nada
do poema vertido
décadas a fio
têmporas de desprezo
silêncios
na cara atônita do poeta

a cara atônita do poeta



MARCO KM 16*


Um estranho marco
posiciona-me ao mundo
Vejo-o da janela, da varanda
                        de minha infância

Parece caminhar
com suas longas pernas
de concreto chumbado
       no canteiro central da rodovia

Possui apenas um olho.

O que enxergas?

Alguém saberá seu significado?

Para mim sempre esteve ali e
                              permanece
                              caminhando,
                              caminhando
                              sem sair do lugar.

            


 
Um curta poético experimental foi realizado pelo jornalista Jesse Navarro com performance do próprio poeta Leandro Rodrigues sobre os poemas O Marco Andante e Marco KM 16, e pode ser visto em:





Leandro Rodrigues,nasceu em 1976 em Osasco -SP, onde reside. Formado em Letras - Pós-Graduado em Literatura Contemporânea, é Professor de Literatura e poeta. Lançou em 2016 o seu 1º livro de poesia: Aprendizagem Cinza pela Editora Patuá. Em 2017 participou do Jornal de Literatura  O Casulo Nº 11 e 12 e do livro Hiperconexões 3, Ed. Patuá. Também é autor do blog: nauseaconcreta.blogspot.com.br,  e um dos autores da Revista Zona Da Palavra. Possui poemas em diversos sites, revistas literárias e jornais.




Cinco Poemas de Maria Apparecida Coquemala

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The Windmill, de Jules Dupre



Abandono

Orquestrados na noite enluarada,
coaxam sapos... cantam grilos...
piam pássaros noturnos...
Gemidos de amantes
vêm de páramos distantes,
trazidos pela brisa...
                        Súbito,
            da janela escancarada no universo,
            ressoando pela noite esplendorosa,
            ouve-se a primeira gargalhada.
            Calam-se as vozes.
            Ecoando pelos vales,
            só se ouve a gargalhada.
Riam os deuses zombeteiros,
riam do que sou sou,
riam do que um dia
decretaram que eu seria,
trilhando caminhos traiçoeiros,
tropeçando nas garrafas,
sob o sol ou sob a chuva,
virando calendários...
            Bebi todas.
Afundei-me no esgoto das intolerâncias,
me atolei no pantanal dos preconceitos,
estrelas brilharam sobre meu corpo na sarjeta,
o sol me queimou a face adormecida.
            No estertor desta vida que se finda,
            sob este luar de prata,
            só me cercam os vultos das garrafas...
            Vazias as garrafas...

            Vazia a existência desvalida.  


CANAÃ

Nenhum reflexo do sol
no fio das enxadas, foices e  facões.
Não brilham os olhos dos fabianos
na retirada dos meios urbanos,
expulsos pela globalização.
Urubus pontilham o céu sem nuvens.
A paisagem é graciliana.
Mãos encardidas caçam piolhos aninhados
nos emaranhados dos cabelos infantis.
Na terra seca se ajeitam, com pouco sobrevivem.
Uma voz comanda, António Conselheiro.
Biblicamente faz brotar esperanças:
terra para os Sem-Terra.
Do árido chão há de brotar o verde.
            Canaã.
O sol é uma bola dourada no poente.
Trilham os caminhos, os poucos trastes carregando.
O calor não ameniza, chuva nenhuma.
Se chovesse, uma copa de árvore bastaria,
habituados todos a pontes e viadutos.
António Conselheiro sabe incluí-los sem conflitos.
Teto para os Sem-Teto.
O canavial farfalha verdes esperanças.
            Canaã.
Calor sufocante... estrada poeirenta...
Abre sulcos, o suor, na poeira dos rostos,
queimados pelo sol...
Miragem? Os olhos se encantam:
ali o verde das lavouras, pomares e jardins.
Trabalho sobrando para todos.
Contrato nenhum é preciso.
Folhas verdes são mensagens de esperança.
                        Canaã
Pela ardência dos caminhos, vêm os marginalizados,
mendigos, meninos abandonados, mulheres desvalidas...
Repete-se o milagre da multiplicação dos pães.
Jorra o vinho de tonéis nunca esgotados.
Vinho e pães igualmente repartidos.
            Canaã.
E vieram de carro os profissionais liberais,
e a cidade se encheu de doutores;
vieram de avião os empresários
e o azul do céu foi se tornando cinza;
vieram de helicóptero os banqueiros,
e cifrões se infiltraram até nos corações;
vieram nos mais variados veículos, os políticos
e com eles a corrupção;
vieram os corretores
e os bens anônimos tiveram possuidores:
Com-Terra, Com-Teto, Com-Emprego.
O farfalhar dos canaviais se enfraquecia
entre as vozes midiáticas.
            Canaã?
       Casebres, fumaça, urubus, lixões...
       Crianças nas ruas, pedintes nas esquinas...
       António Conselheiro é uma pálida lembrança.
       Flores do campo crescem na humilde sepultura,
       onde pousam borboletas azuis.
            Canaã?
Nenhum reflexo do sol
no fio das enxadas, foices e facões.
Não brilham os olhos dos fabianos
na anti-retirada dos meios urbanos... 

       Do infortúnio de Sísifo

Sou múltipla no tempo.
Múltipla na conduta, no amor, na aparência,
múltipla na rejeição, nas preferências,
em fortalezas e fraquezas se alternando...
Em que buraco do tempo se escondeu
a menina de franjinha na testa,
casaquinho cor-de-rosa de tricô,
sorrindo para o Céu e a Terra?
         Onde a que ansiosa esperava Papai Noel,
que gordo e barulhento chegava de repente
e um presente deixava na véspera de Natal?
Em que fiapo do tempo implacável
se escondeu para sempre a aluna nota dez
de inesquecíveis professores nota onze?
Em que momento se perdeu a noiva sonhadora,
ao lado do noivo sério, jurando amor eterno,
como se eterno fosse o amor?
         Quem é esta mutável criatura,
         qual Sísifo pelos deuses condenado,
         sua pedra para o alto arrastando,
         buscando a infinitude nos filhos, na Arte,
         e um sentido para a vida, nas perguntas sem resposta?

       Paralelismo
Despercebidos, silenciosos,
foram se infiltrando nas portas
sem que eu nada percebesse.
          Geometricamente se multiplicavam
          naquelas noites de eróticos festejos,
          quando aos milhares eu podia vê-los
          sob a noturna luz das arandelas,
          cumprindo festivos sua função maior:
          perpetuar a espécie.

          Leves, imponderáveis, em esvoaçante
nuvem que se dissipava ao mais leve sopro,
aqueles ínfimos insetos voadores me atraíam,
ignorante ainda dos meios que os nutriam.
Até descobrir que se alimentavam
dos recônditos de minhas belas portas
e tive que optar de imediato
pela morte deles, réus inocentes.
           
O tempo escorreu em muitos anos.
Invisíveis cupins de certa forma,
de minhas cartilagens, músculos e ossos,
mais e mais se alimentam a cada dia.
Sou agora uma velha porta carcomida
aos poucos devorada pelos cupins da vida
sem que eu nada possa contra eles.

                               Redenção

Só nós dois, eu e você, mais ninguém.
E a primavera chegando com leves odores,
em formas e cores jamais entrevistas.
De longe, a música, em cordas de sonho.
 Nossos corpos liberam emoções reprimidas
 de homens e mulheres de todas as eras,
 beijos e abraços perdidos no espaço,
 sonhos suspensos na dor das partidas...
Das plagas distantes no espaço e no tempo,
qual murmúrio de água cantante,
chegam lamentos de tantos amantes,
gerando arrepios no corpo e na alma
 No enlevo do momento único,
 no breve encontro, viver a eternidade.
 No carinho, redimir a humanidade,
 dos sonhos de amor um dia desfeitos.


* Maria Apparecida Sanches Coquemala é colunista de O Guarani, jornal de Itararé - SP -, cidade onde reside. Autora de Pulsar, Círculo Vicioso e oÚltimo Desejo, engloba vários gêneros em sua obra. Participa de antologias, selecionada por meio de concursos, no Brasil, Portugal e Itália.

Cinco poemas de Lucas Schlemper

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Retrato da jornalista Sylvia von Harden, de Otto Dix


PÂNICO E ORAÇÃO

Aqui em Lesbos
- rodeado delas –
ergo as mãos ao céu
enquanto inquiro:
safar-me-ei de Safo?
Uma vítima dos versos
em riste, ou serei salvo
pelo soar triste
do gongo?




VERBAL VOLÚPIA

Consultei as cartas, as conchas, os astros,
as trincas, os túmulos, as tralhas,
os tetos enviesados.
As linhas cravadas a fundo nas mãos.
Os auspícios, os oráculos,
as runas e os rumores cegos.
As pirâmides,
as portas que dão para o nada.
Os raios, as labaredas,
o insólito reflexo da lua.
Os presságios, as presenças,
as possessões.
Os terreiros e os arrepios
de um passado inteiro.

E vi um rosto bem nítido
no borrão da xícara de chá.
E imaginei a tua ternura estampada
nas vísceras de um pardal esventrado.
Enquanto vasculhava por pistas
e espreitava por frestas.

Ousando pérfidos palpites
com base em provas improváveis.
E ossos, e pedaços de tuas vestes.
Constituía planos pueris.
Como quem colheu búzios
para interrogar o silêncio
e obteve como resposta
só o eco da própria voz.

Agora, resta-me ser aquilo
que para mim inventei.
Deixa-me invocar as respostas
como quem invoca, das cinzas,
uma verdade definitiva.
Com o rigor de dúvida de um sábio
e a escancarada convicção de um louco.

E que venham
profetas, padres e pajés.
Os quiromantes, os necromantes,
as pitonisas da Tessália -
seja lá o que for, que venha!
Os filósofos, os moralistas,
os cientistas da matéria,
os juízes da impávida certeza.
Ou marginais, ou bon-vivants,
adoráveis embusteiros,
adoráveis conselheiros -
por que não?

Que venham todas as vozes
da verdade inventada.
Para que se satisfaça, em mim,
esta ignorância que é ávida.
E que uníssonas,
num coro de deboche,
digam-me tão somente aquilo
o que espero de antemão ouvir.

Terei, assim,
ligeira impressão
de que sei de tudo.



Retrato do advogado Hugo Simons, de Otto Dix.



APRENDIZAGEM

Aprendo sobre as coisas
só depois de perdê-las por completo.

Dantes não poderia supor
quanta falta me fariam.

Enfastiado que estava
de tanta e tamanha presença.

Que deixava de senti-las por perto.
As coisas. E sentia-as melhor
na distância.

Dantes não poderia dizer
o quanto é que me tocavam.

E se de fato tocavam ou não, não saberia.
De tão enfadado pensava-me.

Quando vejo-as ir ao longe
é como se as visse pela primeira vez.

Quando por fim constato que se foram
é como se finalmente as visse.

Aprendo sobre as coisas
no momento em que as quero de volta.

Tarde, entretanto,
para reavê-las.



PREMISSAS

Moldam-se
os grandes.
Refazem-se
os ídolos de pedra.
Nesta geração do limbo
ou no limbo desta geração.

Eis
o mais lívido desespero
já captado em vídeo.
Produto televisivo
da mais alta definição.
Eis uma arena romana.
Eis uma obra-prima.

A realidade
acontecendo em volta.
Prestes a acontecer.
Quase que acontece.
Aconteceu: nem vi passar.
Quando dei por mim,
 já era manhã seguinte.
Perdi o lance.
Perdi a festa inteira.

Mas amanhã
haverão outras notícias,
 mais jovens e mais frescas,
 e é por isto que não me importo
com o sofrimento de ninguém.
(Há tanto que sofrem mais
a todos os instantes,
que não é possível haver,
dentre as dores, alguma que seja
a maior de todas).

Convenço-me fácil.
Sou pouco inteligente.
Aguardo por um futuro brilhante
como o que mamãe, vidente,
previu para mim.

Prostro-me entre os grandes
admirando-os ou invejando-os
distraindo-me do pensamento
de que o sol não se reserva a mim.

Tenho na língua
uma tréplica aguda:
sou produto de geração gasta.
Toda revisitada de antemão.
Prevista por teoristas e profetas
como sendo a geração do fim.
Fim do que - de quem -
não me pergunte.
Reproduzo apenas
o que ouvi dizer.

Desta geração
os analistas não dão conta.
As ciências não mais concluem.
As religiões, por fim, se calaram.
São três as premissas:
O passado é uma casca solta;
O futuro é uma granada-relógio;
E o presente
é só o intervalo de tempo
entre uma coisa e outra.

Mas há tantos a sonhar
com tanta ênfase...
Moldam-se os grandes
novamente.
E os menores, coitados,
que se adequem
às novíssimas proporções.



FLOR QUE SE CHEIRE

Ela pinta a boca e o rosto para dar-lhes a solidez
imóvel de uma máscara.

Fazer-se planta, pantera, diamante, madrepérola,
misturando a seu corpo flores, peles, búzios, penas.

Para que não a reconheçam logo à primeira vista,
escova os cabelos com velada obstinação.

Quer a crina sedosa dum cavalo que viu em sonho.
Quer da beleza o mais puro dos disfarces.

Como uma ladra fascinada pelo risco que corre,
é profunda em sua má-fé.

A pobre santa agora está num garden-party.
O rosto impávido, irresoluto.
Como é bela!

Mas digna de pena:
por debaixo da mesa, sem que ninguém perceba,
ela corta as coxas com uma navalha.

Arranha-se,
queima-se com cigarros acesos.

Enquanto fala consigo mesma:
"Doida!... Estás doida!"
A máscara continua intacta.

Desafia o futuro amante
que nunca teve - e nem terá -
como se dissesse:

Não me infligirás nada de mais odioso
do que o que inflijo a mim mesma.

Nua, diante do espelho,
ser estranha lhe é motivo de orgulho.

"Nós morremos todas aos 15 anos", disse-lhe, certa vez,
uma jovem moribunda. Desta frase ela guardou o som e o
gosto.

Sabe-se desde já que não encontrará o amor,
mas encontrará por fim a poesia.

Embora, nesta altura
coberta até o pescoço de absoluta indiferença
no vazio que vier a desenhar para si própria.

Talvez acabe como a sua mãe, silenciosa,
com um avental azul e chaves nas mãos.

E os ruídos de sua existência prévia
sejam só a banda sonora
a embalar a cena

De sua tão aguardada
redenção.



Lucas Schlemper. Escritor e poeta catarinense, iniciou suas atividades literárias no ano de 2008. Atua nas áreas de revisão de texto, preparação de originais para vias de publicação, tradução, ensino informal (oficinas de criação) e gestão de projetos e concursos literários. Autor do livro "Cá Entre Nós - Odes de Alusão & Ilusão". Mantém o blog Verbal Volúpia.
Sente irresistível atração por tudo o que é obscuro, hermético e misterioso.

 

Três poemas de Adonis

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[O QUE ME APOIA ?]

O que me apóia?

Na quadratura de zero, no triângulo do desejo, nas pirâmides do ar ou nos campos da história? Nos ventos que se evaporam dos cemitérios ou em uma pomba faminta? A flor tem um buraco no final? A borboleta não é a mesma coisa que uma chama?

Devo perguntar como esse mundo vai acabar ou como esse inferno começou?

Como fazer amizade com os lobos, mata essa humanidade agachada nas minhas garras.

Meus olhos se ajustaram à minha visão e a isso, acompanho em seu país o perfume de uma rosa morta.

As feridas umedecem o vestido de um céu pobre que aprende a cantar com a gente:

O passarinho está passando

A gaiola não tem fim.


O sol ama os caminhos maias.



[NESTE MOMENTO...]

Neste momento, o ar está de luto.

Meu olhar muda a tampa do real desde que eu dei minha visão à luz das lendas.

As imagens que ignoram o mutismo são expressas apenas em sussurros.

Os olhos são cerejas pretas

Pontes de poeira flutuam nos degraus.

Por que essa incapacidade de não se intoxicar  com a época, mas com frascos de sangue e partículas de átomo?

Por que não saber dançar sobre os cadáveres de nossos amigos e entes queridos?


O sol ama os caminhos maias.



[NO FINAL, VOCÊ FINALIZARÁ SOMENTE ...]

No final, você acabará sozinho, índio vermelho, meu irmão, pois nada se dispersa melhor no ar do que a solidão.

O  auto é  como a areia, sem semente. O eu é uma nuvem cósmica.

Old-San Angel Inn

Gisèle-César-Afif.  O Líbano em miniatura.

Há um restaurante em um bairro histórico. O cliente mistura-se com a poeira da história, com o ouro, os cavalos aproveitados, selados com montanhas, puxando o olhar do tempo.

O efêmero jamais precisou da eternidade.

O eterno precisa do efêmero.

Há um par de quadris neste restaurante em forma de asas que falam a linguagem das nuvens.

Uma mulher aliviada ! Sua cabeça é uma copa em flor. Suas coxas, duas encostas de um vale.

Os cavalos e os cavaleiros dos desejos se encaram dentro do peito.

Tradução livre de Marcelo Ariel  de três poemas da versão em espanhol do livro Zócalo feita com a colaboração do  Google Tradutor  e do Dicionário Online de Espanhol-Português

5 poemas de Marcelo Pierotti

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POEMA INCONCLUSIVO

O que te espera,
meu amigo,
nesta próxima noite
passada é sempre
inconclusivo de nascença
ou criação mesmo
em testamento
sempre inconclusivo.

Mesmo que trocasse
cachaça por chá
numa sala grande com futon
que morresse a ideia fixa
por triângulo pubiano
de passante alegorizada
que escrevesse dísticos
espirituosos leves e burros
sobre porra nenhuma
que se rebelasse todo
contra a tirania desta
liberdade corcunda e manca

seria mentiroso
mas ainda sempre
inconclusivo.


ET IN ARCADIA

Mas quem diabos não é desterrado
neste mundo de ontem hoje a tarde,
nosso eterno domingo na história do
universo?

Quer dizer,
quem diabos,
em nome de deus,
continua dando meia pataca
ou peido – o caralho que for –
para ente invisível/
acidente metafísico
externo ou
(dizem otários que há)
quiçá interno,
incluso aí o supracitado

neste domingo tão calmo
enquanto a humanidade toda
dorme triste quase
bêbada no tapete
embalada pelo som
morto implacável massacrante
do sempre mesmo jogo
do Campeonato Brasileiro?


AMOR É TUBARÃO QUE MORRE DE SEDE

Karbunkov carregava o mundo
com a cabeça do pau.
Passeava querubins sobre o falo,
depois encantava animais
de toda família de peçonha
com balangadas ao poente
no deserto do Arizona.

Karbunkov possuía olhos tristes,
corpo manchado e peludo de hiena
e um sorriso arreganhado
escarrado na cara do universo
que armava quando sentia dor.

Faltavam-lhe duzentos dentes
mas o restante bastava
quando morria por toda paragem.

Karbunkov gostava de flores,
contou-me certo dia claro demais,
sonhava sempre com uma orquídea
carnuda e bonita que nunca tocou –
parecia um pouco incomodado
quando se calou sorrindo.




DA DESTRUIÇÃO DO OUTRO

O golpe certeiro na cervical
do que se poderia compreender,
que seja de punho ou de voz,
importante é devassar
o miolo comum do alheio.

Descortinar carnes,
adentrar o âmago,
todo amor agressão.



UM PRIMEIRO AMOR

éramos casal contente
sentado no estacionamento
dando o resto do lanche
para montes de formigas
grandes e pequenas
pretas e marrons

que julgaram muito pouca
a comida caída do céu
e guerrearam e mataram
e também desmembraram
umas às outras

guardamos silêncio
sua mão sobre a minha
calamos o assunto
quase horrorizados

não foi difícil notar
cravado num instante
o inegável indício do fim

de nós naquele abraço e

de tudo mais sobre a terra


Galeria: Alexei Bednij


Marcelo Pierotti nasceu em Tatuí e vive em Sorocaba, cidade que escolheu como sua. Já morou em outros aglomerados humanos no interior e por algum tempo em São Paulo, de onde fugiu com o filho pequeno há pouco. É autor de poemas espalhados por revistas como Raimundo e Escamandr, do livro Domingo no Matadouro (publicado na primeira Coleção Patuscada, da Editora Patuá) e de mais alguns outros volumes que podem (ou não) ser publicados logo mais. Gosta de algumas coisas e desgosta de tantas outras como, por exemplo, falar de si. 

inéditos em livro (poemas) | Maiara Gouveia

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imagem.: flora borsi

incendiário
só o incendiário habita este mapa | onde cada limite inaugura | o decifrável e o indecifrável \\ só o cavalo incendiado | de crina acesa | fúria veloz | sob o arqueiro | aquém da corda solar ou seta: | esta pauta | corola sob a lua incendiada | e as patas queimam \\ cada nome | sonoro | luminoso | crepita entre as cartas | inventa | intervalo por intervalo | o arqueiro | a seta | dentro do som | e esta paisagem | esta | onde perambulamos | com fiapos de história | vozes inflamáveis | cheios | de estranhas cartografias | imanências \\ e só o incendiário | está aqui | no rude espaço da respiração | no rude espaço onde a respiração entorna | cifra por cifra | e até a fala | queima
ínfima lavoura
apalpo esta cidade branca – distância pouco a pouco calcinada – (entre o) corpo aberto, à revelia das tocaias, (e o) país sem nome. | entro na cidade estrondo. não só dos mortos. que se acumulam brandos. não só dos mapas. em casas subterrâneas. | exibo o frágil. na trilha movediça (entre os) cicios e o campo de batalhas. e aqui na minha testa, escrito em brasa. | estendo um mapa da cidade sopro. e arremesso a cifra – ínfima lavoura – entre a nudez e o incomunicável.
o nome
Como o sumo de uma fruta improvável | Como a cena oculta contra a música de fundo | O nome encarna a parte azul do fogo | O nome acende laranjas frescas | O nome é o disco solar e acolhe | a coroa de flores, a dança dos dervixes | O nome é a escada no sono dos bichos | O nome é úmido e queima | O nome é o poço de água limpa aos tuaregues | O nome é a distância, a tenda e a pele | O nome é maciço como um punhado de areia | O nome é um estrondo, a sinfonia arcaica | O nome é uma pauta de animais aéreos | O nome é a única nudez, a inatingível | O nome não está aqui | O nome é isto
entre o instinto e a arquitetura
Somos orla | De toda forma | Aquática | Como anseio fluvial | No espaço | Marítimo | Ancestral esta boca | Que te engole até o íntimo | Cada artifício | Que as paisagens corpóreas multiplicam | Sob o antigo continente | Sanguíneo | Entre o instinto e a arquitetura | Água incandescente | Ondas ígneas | Corolas | Ainda mais velozes do que isso | Entre cada nome e o seu | Correspondente não dito
E TUDO RESISTE À FORJA
Pluma, atalho, água e fumo: vida curvilínea. | O perfume emoldura o mistério. | O que sobe e some. Rastro de toda intriga: da violência ao êxtase. | Digo: o comediante, o de língua ágil | Fala contundente. A cantora lírica. O tira-dentes. | A trapaça do homem triste. O zunido da vespa. | A beleza. | A que entorna | Silêncio. | Cheio | De agulhas luminosas. Cristais elétricos. | Jorro. | De algo pleno. | E leve. | O suposto infinito | Entregue | Na coleção de cifras. Toda matéria | É um ponto dolorido. | E esvaece. | Filigrana de uma sensação aberta. Por exemplo, esta. | Que se inventa dentro | Da ferida aberta. | Som-desenho. Sílaba. Som dentro da cabeça. | Espiral de filigranas | Como um credo. | Barca-ilíada. Espelho | | |  O próprio corpo, como toda travessia, dentro | (Da sensação aberta). | Pele. Como livro. | Amálgama de ilegíveis. De espaço e pulso. | Onde o fluxo | De sangue | Altera ||| O tom. | E chove. Dentro do sonho. Chove.| O pássaro flutua. Na pauta entre os dedos. ||| Antes do voo (o voo). Antes da música (a música). | E TUDO RESISTE | À FORJA. | Destrói sílabas. Burla | Cada linha úmida | De pele a pele. ||| Até que o sangue menstrual encharca a cidade. | E estamos lúcidos. | A vida sibila. Depois perfura | A terra. | Dorme no poço | Como a deusa | Agora talhada em pedra. | Perto dos papéis | Balofos de clareza. | Há muita elegância | Nas megalópoles | Sobre o cancro. Sobre a lepra. | As pálpebras abertas | Entre as mandíbulas | Carne violeta. ||| Dor onírica | De uma dor. ||| Em carnadura exuberante. | A própria pele. | A própria pele. | Enquanto as luas se cruzam em falhas barulhentas. | O esquecimento traz martelos. | Estribilho. | Das perdas. Dos espaços desolados. ||| Um encanto impreciso contorna outra música. | Uma elegia canta outro mistério. | Ponho a concha do ouvido | Na tua boca:  (     ) Digo: Fica, fica. | Faço um furo neste canto. | A morte é a sombra do fio que ele deixa | Passar.
beira do mundo
“O fogo acabará por consumir a própria fornalha” – John Donne. Baralho de sílabas na “mesa de águas”. Suave é o barulho das “marcas marinhas”/nesta fornalha incendiada. O dialeto/ deste país marítimo. Asma/ a debulhar delírios/na ilha sem margens. PORQUE TUDO O QUE É VIVO ESCAPA. Com este brilho sonâmbulo de tudo o que é vivo. Pele. Pluma. Manada – em fuga – (acende) n’água/o que cai, sílaba a sílaba. Até esta asa. De ave ancestralíssima. Rasgo dentro da espuma. Da nudez inatingível. Baralho incendiário/dentro do jogo incendiado. Como os degraus que caem/ enquanto subimos. //Aos abismos aéreos. [Mas é justo falar do de cima, se o de baixo nem sabe onde colocar os pés? – Hilda] À beira de tudo o que queima. Beira. [“Eu sou a beira do mundo.” – Estamira] De tudo o que respira – ferido e ofegante – neste campo. Branco e de flores brancas. A rolar dentro do escuro. [“Reino dos bichos e dos animais é o meu nome.” – Stela do Patrocínio] Como laranjas frescas derrubadas/ de uma cesta. A rolar. Dentro/ da máquina/ de luz. Olho aberto. Colher. Recipiente/alquímico. Ilha de miragens. Sem margens. O que está aberto./Aberto. [“Romper a linguagem para tocar na vida” – Artaud]. Casa líquida. Entre a ruptura/ e o tempo-réptil/no templo sem muralhas. //O que é fecundo. Crepita.
*
(uns estilhaços)
29.08.17

meu ofício é traduzir o invisível | e como ouço | enquanto ouço | o alheio musical: minha própria língua | refeita em clareiras de sentido || crio isto: o que só pode decifrar | o próprio enigma | e nesse gesto rearranja cada cifra || desenho este lugar fora dos mapas | e em cada fragmento de sentido | finco a inaugural cartografia

6 poemas inéditos de Lucas Alvim

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31-08

Olhos erguidos e arrancados
por prédios de orelhas.
A noite foi apagada
como um pássaro morto
sopro de esquinas vazias
por córregas ruas acesas
o velar de laranjas velas.

Sorvo das escumas
sobre o pasto de concretos
e asfalto, Alfenas
morrera e morena.

Não sei em que calçada
deixarei minhas coxas.
Acende os metais
do afar das horas
elas nunca serão as mesmas
guilhotinada por pálpebras
e perdidas em correnteza
de suas veias.


05-09

As paredes ensolaradas não entendem por que de minha certidão. Fora de minhas razões formigas, um vácuo respirar espera o retirar sapato de aperto dos dias em caixas métricas. Em um dobrar de pernas, empanzino uma velhice pusilâmine de meias.
Fora de minha sala manam ouvidos de nuvens minerais, pústulas abrem poços na enfermidade de terra, uma espada verde é erguida. Céus tempestuosos acusam imaterialidade. E escuto seu badalo.

As serras serão coroadas e me desfolharei neste preamar de ventos. Sem renascimento, azedam meus vinhos grãos. Apodreço nozes de meus tornozelos.

E caminha paulatinamente a revelação de relevos defumando-se minha pele. Na desistência das flores no cansaço, um homem sinceramente sombrio sorve as luzes dos cômodos e me olha pote de vidro. Pronto para ferir com lanças d'águas.

Rastros detalhes de lençóis de alabastro me sentam. Empertigam nuvens para me espiarem deitado. Chovem silenciosos cavalos de pianos. Coma-se o espanto dos raios.

Não há nascimento, estou natimorto espantando o adejar de sombras da solidão, algas envolvem cabelos e mortos. Em constante levidade meu queixo se alumínea e sirvo uma cabeça em bandeja.

No corredor de ausências, a casa não me faz o mesmo que tanto vivi nela, uma ferrugem me beija e escorro por sua face moeda. Uma casa sentinela dentre casas apagadas cultiva insônias meticulosas, que sentam garrafa de vodca.

Estou mitigado em remanso, mar de estômago, cintura de horizonte, a sair pelo assombrar dos ciprestes, atordoado ou defunto. Revestido para existir. Despido para não existir. Viúvo de noites não testemunhadas.


08-09

Apedrejam adejam
estúpidas moscas
este beijo dilúvio
na palma da noite.

Ampara a uva
lâmpada bexiga
álcool de fogo água,
único fósforo,
enquanto se esvai
de suas roupas
azeite derramado.
Automóveis noturnos.

Postes cravam
corações inconstantes
lúmen sem mãos
cestos de relógios
gestos danificados.

Enterram-se beijos
jáspeos pés ausentes
e se desprende
pontes entre árvores.
Solitários cumprimentos.

Alvacentas razões
de luzes rarefeitas
diluem estrelas
no brilho negro
de amargo sabor.

Atém aos olhares
de estômago seco
as ruas lambem
vozes submergidas,
coxas sem mulheres.

E o passo bêbado
costuras as ruas
sobre meu peito.


14-09

Sibilar de chamas
Raia águas frias.

Almas medulas veias
Espantadas por marulho
Deixarão o curso
Mas não o zelo
De seus cabelos.

Haverá entulhos
De destinos.
Significativos passos
De cascos afundados.

Serão meu ouvido
Derramado e enamorado.


29-09

Cansaço besoura olhos, caem, após esbarrar em véu céu.

Madrugada evapora e deixa nave baleia.
Parte fogueira deserta. Praças de carcaças despovoadas.

Um filme de fumaça dança solitário.

Dorsos pastos velam a cidade de mastros postes árvores.

Constante morte de fotografias. Ruas rápidas e sombrias.

Murmuram nostalgias impossíveis. Conspiram o sabor das águas.

Neste rio paralelipípeda poeira, vigia céus, ombros ouvidos.

Feridos por sede, à sorte e azar de chuvas tempestivas.

Há um pertuito de espaço claridade, brilha anel solidão. Joia perdida.

Afagam ipês, piedosos ipês. Atônita velhice, conhecida e manemolente.

Pássaros agudos estão em inermes assembléias cirandas. Não se resolvem.

Não acerta tempo nesta relógia corrida, descansam desesperos e derrotas.

Entretêm-se mortos, roupas jogadas e a razão de uma toalha molhada.

Não há porvir, não há cinta nas gerações de fantasmas.

Derrama gozo luminoso e virtual. Aparências editadas.

A razão é uma delimitação de margens. Água de espelhos disformes.

Constrói-se na fragilidade dos seixos a dureza das agulhas.

Uma simples manhã destrói novamente tudo com sua pecaminosa suavidade.


01-10

Cortinas chuvosas cortam meu pescoço.
Minha mente se vai com as calhas d'águas.
Adentram o solo, seus segredos mortos.

Trovões resvalam cabelos. Veias ralas.
Folhas estômagam terra molhada
Digere o despertar das sementes.

Testa metálica costura seu frio.
Medo vapor d'água. Medo dos músculos.
De pulmões asas em vôo submerso.

Na solidão de uma tempestade
Caminhando sem passos, vou-me sujando

de seus próprios estalos de chuva.


Galeria:  Mike Davis



Lucas Alvim, nascido em oito de abril de 1990 em Areado-MG, é um típico e pacato mineiro fã de Rock Progressivo que escreve poemas. Publicou Maço de Março em 2013, finalista no Prêmio Gloria de Sant’ana 2014, e em 2014 publicou Exergia, segundo lugar no Prêmio LiteraCidade jovem 2014 categoria poesia, ambos pela Editora LiteraCidade. Também possui participação em Antologias. E foi menção honrosa com o Livro das Evaporações no Prêmio LiteraCidade 2015, categoria poesia. Em 2016 lançou Contorcionismos pela Penalux, e depois fez mais nada. 


Pasolini Way of Life - Davi Kinski

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Pasolini, do Neorrealismo ao Cinema Poesia sobre o cineasta italiano pela editora Laranja Original, o livro está indicado ao prêmio Jabuti de 2017 na categoria Arquitetura, Urbanismo, Artes e Fotografia".


Não é possível
Tocar a realidade
Com os olhos
Língua universal
Epilepsia espiritual
Epifania cotidiana
As danças da vida
Santas e profanas
Os toques das mães
De Roma
As barbáries
Dos Bolsonaros
O fascismo pregador
O lado torto
Da vida
Um resto de comida
No teto
Um protesto
Abafado e censurado
Um diagnóstico
Atrasado
Nu e sentado
Vendo o grande
Museu de novidades
Onde o tempo não para
E as comadres das igrejas
São como hienas
Que comem merda
E arrotam
Na cara
Dos desprovidos
Esvaziados
Olhos midiáticos
Ocos discursos
Atrasados
Fantoches sem alma
Juventude do vaco
Estamos todos
Em perigo
Sujos e mal lavados
Nem torrentes
De água
Nos limpa
Do lava-jato.



Davi Kinski traz em sua bagagem uma carreira no teatro, pelo cinema e na literatura. Formado como ator pela Actor School Brazil e em cinema pela Academia Internacional de Cinema, Davi dirigiu sete curtas-metragens, dentre eles, Cineminha. Foi convidado a participar do Festival Italiano Curto In Brae do Portland American Film Festival.Ainda como ator passou por diversas escolas, entre elas FAAP, Chateaubriand e Studio Fátima Toledo. Participou do filme Nome Próprio, de Murilo Salles, que lhe rendeu a indicação de melhor ator no Festival de Gramado de 2008.Davi também atuou em 5 curtas metragens exibidos em diversos festivais.No teatro, encenou Aurora da Minha Vida, Lisístrata, Bailei Na Curva e O Grande Jardim das Delícias de Fernando Arrabal. Em 2011 encenou seu primeiro monólogo ‘Lixo e Purpurina’ baseado em textos de Caio Fernando Abreu, cumprindo uma temporada esgotada no SESC Pompéia. Em 2012, abriu sua produtora a Play Cultural, uma das produtoras responsáveis pelas últimas temporadas de Bibi Ferreira em São Paulo entre outros projetos.  
Atualmente grava seu primeiro longa documentário "POEMARIA" onde se debruça em registrar a poética de nossos tempos,e está em processo de construção do documentário SEXO.DOC inspirado no site Pau Pra Qualquer Obra.
Davi lançou seu primeiro livro de poesia Corpo Partidopela Editora Patuá, que se encontra agora em tradução para o francês e o livro biográfico Pasolini, do Neorrealismo ao Cinema Poesia sobre o cineasta italiano pela editora Laranja Original, o livro está indicado ao prêmio Jabuti de 2017 na categoria “Arquitetura, Urbanismo, Artes e Fotografia”.


Dez poemas de Alejandra Pizarnik, por Mariana Basílio

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AS JAULAS

Lá fora há sol.
Não é mais que um sol
mas os homens o olham
e depois cantam.

Eu não sei do sol.
Eu sei a melodia do anjo
e o sermão quente
do último vento.
Sei gritar até o amanhecer
quando a morte pousa nua
em minha sombra.

Eu choro debaixo do meu nome.
Eu agito lenços pela noite
e barcos sedentos de realidade
dançam comigo.
Eu oculto pregos
para escarnecer meus sonhos enfermos.

Lá fora há sol.
Eu me visto de cinzas.

LAS JAULAS

Afuera hay sol.
No es más que un sol
pero los hombres lo miran
y después cantan.

Yo no sé del sol.
Yo sé la melodía del ángel
y el sermón caliente
del último viento.
Sé gritar hasta el alba
cuando la muerte se posa desnuda
en mi sombra.

Yo lloro debajo de mi nombre.
Yo agito pañuelos en la noche
y barcos sedientos de realidad
bailan conmigo.
Yo oculto clavos
para escarnecer a mis sueños enfermos.

Afuera hay sol.
Yo me visto de cenizas.

FILHAS DO VENTO

Vieram.
Invadem o sangue.
Cheiram a plumas,
a carência,
a pranto.
Mas você alimenta o medo
e a solidão
como a dois animais pequenos
perdidos no deserto.

Vieram
incendiar a idade do sonho.
Um adeus é sua vida.
Mas você se abraça
como a serpente louca do movimento
que só se encontra a si mesma
porque não há ninguém.

Você chora debaixo do seu pranto,
você abre o cofre dos seus desejos,
e é mais rica do que a noite.

Mas há tanta solidão
que as palavras se suicidam.

HIJAS DEL VIENTO

Han venido.
Invaden la sangre.
Huelen a plumas,
a carencia,
a llanto.
Pero tú alimentas al miedo
y a la soledad
como a dos animales pequeños
perdidos en el desierto.

Han venido
a incendiar la edad del sueño.
Un adiós es tu vida.
Pero tú te abrazas
como la serpiente loca de movimiento
que sólo se halla a sí misma
porque no hay nadie.

Tú lloras debajo de tu llanto,
tú abres el cofre de tus deseos
y eres más rica que la noche.

Pero hace tanta soledad
que las palabras se suicidan.

SOMENTE

já compreendo a verdade

explode em meus desejos

e em minhas desgraças
em meus desencontros
em meus desequilíbrios
em meus delírios

já compreendo a verdade

agora
a buscar a vida

SOLAMENTE

ya comprendo la verdad

estalla en mis deseos

y en mis desdichas
en mis desencuentros
en mis desequilibrios
en mis delirios

ya comprendo la verdad

ahora
a buscar la vida


SUA VOZ

Emboscado em minha escrita
canta em meu poema.
Refém de sua doce voz
petrificada em minha memória.
Pássaro preso em sua fuga.
Ar tatuado por um ausente.
Relógio que pulsa comigo
para que nunca desperte.

TU VOZ

Emboscado en mi escritura
cantas en mi poema.
Rehén de tu dulce voz
petrificada en mi memoria.
Pájaro asido a su fuga.
Aire tatuado por un ausente.
Reloj que late conmigo
para que nunca despierte.

O MEDO

No eco das minhas mortes
ainda há medo.
Você sabe do medo?
Sei do medo quando digo meu nome.
É o medo,
o medo com chapéu preto
escondendo ratos em meu sangue,
ou o medo com lábios mortos
bebendo meus desejos.
Sim. No eco das minhas mortes
ainda há medo.

EL MIEDO

En el eco de mis muertes
aún hay miedo.
¿Sabes tu del miedo?
Sé del miedo cuando digo mi nombre.
Es el miedo,
el miedo con sombrero negro
escondiendo ratas en mi sangre,
o el miedo con labios muertos
bebiendo mis deseos.
Sí. En el eco de mis muertes
aún hay miedo.

FESTA NO VAZIO

Como o vento sem asas preso em meus olhos
é a chamada da morte.
Só um anjo me enlaçará ao sol.
Onde o anjo,
onde sua palavra.

Oh perfurar com vinho a suave necessidade de ser.

FIESTA EM EL VACÍO

Como el viento sin alas encerrado en mis ojos
es la llamada de la muerte.
Sólo un ángel me enlazará al sol.
Dónde el ángel,
dónde su palabra.

Oh perforar con vino la suave necesidad de ser.


NAUFRÁGIO INCONCLUSO

Esse temporal a destempo, essas grades nas meninas dos meus
olhos, essa pequena história de amor que se fecha como um
leque que aberto mostrava a bela alucinada: a mais
nua do bosque no silêncio musical dos abraços.

NAUFRAGIO INCONCLUSO

Este temporal a destiempo, estas rejas en las niñas de mis
ojos, esta pequeña historia de amor que se cierra como un
abanico que abierto mostraba a la bella alucinada: la más
desnuda del bosque en el silencio musical de los abrazos.

A DANÇA IMÓVEL

Mensageiros na noite anunciaram o que não ouvimos.
Buscaram debaixo do uivo da luz.
Quiseram deter o avanço das mãos enluvadas
que estrangulavam a inocência.

E se esconderam-se na casa do meu sangue,
como não me arrasto até o amado
que morre atrás de minha ternura?
Por que não fujo
e me persigo com facas
e deliro?

De morte foi tecido cada instante.
Eu devoro a fúria como um anjo idiota
invadido por malezas
que o impedem de recordar a cor do céu.

Mas eles e eu sabemos
que o céu tem a cor da infância morta.


LA DANZA INMÓVIL

Mensajeros en la noche anunciaron lo que no oímos.
Se buscó debajo del aullido de la luz.
Se quiso detener el avance de las manos enguantadas
que estrangulaban a la inocencia.

Y si se escondieron en la casa de mi sangre,
¿cómo no me arrastro hasta el amado
que muere detrás de mi ternura?
¿Por qué no huyo
y me persigo con cuchillos
y me deliro?

De muerte se ha tejido cada instante.
Yo devoro la furia como un ángel idiota
invadido de malezas
que le impiden recordar el color del cielo.

Pero ellos y yo sabemos
que el cielo tiene el color de la infancia muerta.


A CARÊNCIA

Eu não sei de pássaros,
Não conheço a história do fogo.
Mas creio que minha solidão deveria ter asas.

LA CARENCIA

Yo no sé de pájaros,
no conozco la historia del fuego.
Pero creo que mi soledad debería tener alas.

A ÚLTIMA INOCÊNCIA

Partir
em corpo e alma
partir.

Partir
desfazer-se dos olhares
pedras opressoras
que dormem na garganta.

Hei de partir
não mais inércia sob o sol
não mais sangue devastado
não mais fila para morrer.

Hei de partir

Então avante viajante!

LA ÚLTIMA INOCENCIA

Partir
en cuerpo y alma
partir.

Partir
deshacerse de las miradas
piedras opresoras
que duermen en la garganta.

He de partir
no más inercia bajo el sol
no más sangre anonadada
no más fila para morir.

He de partir

Pero arremete ¡viajera!





Alejandra Pizarnik (Buenos Aires, 1936) foi uma escritora e poeta argentina. Seu nome verdadeiro era Flora, o pseudônimo Alejandra foi criado em sua adolescência. Faleceu aos 36 anos, em 1972, ao ingerir uma dose excessiva de soníferos. Alguns de seus ensaios poéticos foram dedicados a Erszebét Bathory ou Elizabeth Bathory como em La Condesa Sangrienta (1967), à obra de Julio Cortázar, Silvina Ocampo, André Breton e Antonin Artaud. Seu primeiro livro foi La última Inocencia (1956) e o último El Infierno Musical (1971). É considerada uma das maiores poetas argentinas do Século XX.

Mariana Basílio (Bauru, 1989) é uma poeta e tradutora paulista. Autora de Nepente (Giostri, 2015) e Sombras & Luzes(Penalux, 2016). Atualmente trabalha em seus dois próximos livros, Tríptico Vital (premiado no ProAC 32/2017), e Megalômana. Paralelamente, traduz uma antologia de poetas americanas do Século XX. É colaboradora dos portais Zonadapalavrae Liberoamérica. Tem poemas, entrevistas e traduções em diversas revistas do Brasil e de Portugal, entre elas: Alagunas, Diversos Afins, Escamandro, Garupa, Germina, InComunidade, Mallarmargens, Oceânica, Odara, O Garibaldi, Rai

Quinta Maldita #5 - Demétrio Panarotto

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     Versar o Corte

                                                    Demétrio Panarotto



     recortar
     cortar de novo
     tantas vezes
     se possível for
     se não for
     versar o corte
     reeditar
     qual é o significado
     reescrever
     o sentido da espera
     ressignificar
     aquele que passou despercebido
     que pode ser visto de outro modo
     com luz e som
     corta edita pede patrocínio
     faça você mesmo  
     uma câmera sempre
     uma câmera que desatina o verso e o alimenta nas brechas do silêncio e do
ruído
     muitas brechas
ruído e silêncio desatinando
     e depois
ruído
     e silêncio
     mas assim óh
     e câmera
     sempre uma câmera
     versar de novo
     outra vez
     remontar
     ao fundo ou à frente uma narrativa
     ou a (aparente) falta dela
     a falta como opção
     corta tantas vezes possíveis e se possível inimagináveis
     já é outro verso
     outra perspectiva
     a mesma
     desnecessariamente a mesma
     sendo a outra da outra
     a outra
     corta.


*************


Quinta Maldita
Todas as quintas às 23h
Ouça pela Desterro Cultural: www.desterrocultural.com.br
Contato: quintamaldita@gmail.com


Os programas anteriores são disponibilizados
para download e compartilhamento em:

www.desterrocultural.com.br/quinta-maldita

www.mixcloud.com/desterrocultural


Idealização: Demétrio Panarotto
Colagem e mixagem: Marcio Fontoura


Demétrio Panarotto nasceu em Chapecó-SC, em 1969. É doutor em Literatura e professor universitário. Publicou, dentre outros, Ares- Condicionados [Nave, 2015], O assassinato seguido de La bodeguita [Butecanis Editora Cabocla, 2014]; “15'39”” [Editora da Casa, Alpendre 2010], Mas é isso, um acontecimento [Editora da Casa, 2008], mais alguns discos e alguns filmes. Vive em Florianópolis-SC.
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