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5 poemas de "Ventanas de un día en blanco" de Julio Ceballos Vega - tradução de Marcos Samuel Costa

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CONTAGEM

Ali onde o perfume faz sombra
deixo os dias,
O que fazer com os vestidos
e tua respiração?

Não há espaço para colocar o que é impossível,
que confuso cruzar o passado,
ser algo mais que uma caixa

Tudo está em seu lugar
e eu fico.

*

RECUENTO

Allí donde el perfume hace sombra
dejo los días
¿Qué hacer con los vestidos
y tu respiración?

No queda espacio para meter lo que no tiene remedio
qué confuso cruzar el pasado
ser algo más que una caja

Todo está en su lugar
yo me quedo.


CONFISSÃO

O mármore que te cobre não é o de Rodin,
só a pedra suporta o peso que escorre

Porque ao olhar a foto
permaneço em sépia?
Que acontece?
quem impulsa a ruptura?

Bem dizias que a morte  sempre ocorre,
viver acontece a vocês
é isso quem sabe.

*

CONFESIÓN

El mármol que te cubre no es el de Rodin
sólo la piedra soporta el peso que escurre

¿Por qué al mirar la foto
permanezco en sepia?
¿Qué ocurrió
quién impuso la ruptura?

Bien decías que morir ocurre siempre
vivir sucede a veces
y eso quién sabe.


MEDITAÇÃO

Não diga nada
O ouvido tem
Sua própria fadiga.

*

MEDITACIÓN

No digas nada
el olvido tiene
su propia fatiga.



ENCONTROS

A forma em que me olhas, me dói,
Em que pensam os que levam a noite por dentro?
Talvez se nos conhecemos, deixaríamos
de perseguir a quimera

A porta se abre
sem necessidade de palavras
o quarto estava só. 

*

ENCUENTROS

La forma en que se mira me duele
¿En qué piensan los que llevan la noche por dentro?
Quizá si nos conocemos, dejaríamos
de perseguir el humo

La puerta se abre
sin necesidad de palabras
el cuarto estaba solo.



AVALIAÇÃO

As fendas unem as câmeras aonde
os habitantes estão em suas vidas escuras
a fé se filtra nos muros e as flores dizem
o nome das tumbas que cobrem

No cozinha as baronesas sepultam o tempo
o frio da estufa intumesce

A casa está à venda,
não está incluído o calor que a sustenta.

*

AVALÚO

Las grietas unen las recámaras en donde
los habitantes están en obra negra
la fe se filtra en los muros y las flores dicen
el nombre de las tumbas que cubren

En la cocina las boronas sepultan el tiempo
el frío de la estufa entumece

La casa queda a la venta,
no incluye el calor que la sostiene.


Galeria: telas de Julio Ceballos Vega



JULIO CEBALLOS VEGA :artista mexicano que nasceu no Distrito Federal. Trabalha nas disciplinas de pintura, escultura, é também promotor cultural. Em relação a pintura, seus trabalhos tem sido apresentados em diversas galerias, museus, exposições coletivas, sobressai as exposições da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Museu regional de Azcapolzalco, Casa-Museu Othón de San Luis Potosí e Casa de Cultura de Chimalhuacán EDONEX.
Em relação a literatura, ele representa o México com seus trabalhos em festivais internacionais tanto na Argentina como em Costa Rica, é membro da direção general do Festival ABBAPALAVRA e representante do mesmo no Estado de México e da Cidade do México, publicado JANELAS DE UM DIA EM BRANCO com o selo editorial ar em água e a secretaria de Cultura de San Luis Potosí, tem um segundo livro publicado em Buenos Aires NANDA EM COMUM com o selo editorial Olho de Poeta.   


Marcos Samuel Costa é estudante de nível superior de ciências humanas II - serviço social na UFPA. Além disso é poeta, apaixonado por literatura, tem se aventurado nas traduções, estudou espanhol por algum tempo e continuou em casa por conta própria. Essa será a primeira vez que ele “publica” algumas de suas traduções. Marcos é natural de Ponta de Pedras/Ilha de Marajó/Pará, mas atualmente mora em Belém do Pará. 

Cartas húngaras - José Antônio Cavalcanti

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Cartas húngaras

Sou um jovem poeta húngaro
em 1915.
Meu nome é István Szabó.
Há dois anos saí
de Győr
para viver em Budapeste,
do lado direito do Danúbio.
Estudei medicina
na Universidade Semmelweis,
antes que um fuzil caísse em minhas mãos.
Agora, do outro lado do rio,
há algo úmido e vermelho em minha farda,
há algo errado,
sempre há algo errado,
e não podemos fazer nada.
Sentado em silêncio mortal,
percebo a perda
de todas as cartas.
Sim, digo todas,
e isso é muito claro,
embora a única lacuna que lateja
são as cartas de amor
levadas lentamente pelo Danúbio
à margem intangível do tempo.

Etiquetas: 2017 José Antônio Cavalcanti mallaramago poemas vol 6 num 3

Mallarvista 006 - entrevista com a artista plástica e escritora Adrienne Myrtes

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coluna mallarvista nr. 006
.:. Chris Herrmann e Nuno Rau .:.




A entrevistada do sexto número da coluna mallarvista
é a artista plástica, escritora e poeta
Adrienne Myrtes:



1. A relação entre artes plásticas e a escrita é muito antiga _ pelo menos desde os gregos antigos _ e cultivada por inúmeros autores (das duas artes) ao longo dos séculos, de modos que vão se modificando. Como se dá a relação entre a artista plástica Adrienne e a escritora? Seria possível falar sobre os modos desta relação _ ela se apóia na materialidade ou no terreno da ideia?

AM: A escrita chegou primeiro; desde muito cedo na infância sinto necessidade de escrever e ler, (sou compulsiva com a leitura), as artes plásticas vieram depois, na adolescência. As artes plásticas são, em si, outro tipo de linguagem e, para mim, a relação entre as duas formas de expressão não pode ser de dependência, penso que as duas caminharam ombreadas durante um bom tempo em minha vida e a partir do meu primeiro romance: “Eis o mundo de fora” se deram as mãos. Usei no livro imagens, embora sem a função normal de ilustrar a narrativa, e sim para criar determinado clima, provocar silêncios no texto. No livro seguinte: “Uma história de amor para Maria Tereza e Guilherme” aprofundei essa relação, a história é contada a partir de micronarrativas e desenhos; outra vez os desenhos não ilustram, eles narram, e muitas vezes provocam quebras, rupturas, afinal se trata de uma história de rompimento e solidão voluntária.
Não sei se isso situou a relação no campo da ideia, na subjetividade da sensação porque na real não enxergo separação entre a materialidade e o mental. Sou budista, penso o físico e o mental feito faces diferentes de uma mesma coisa, vejo um sendo reflexo do outro e o outro reflexo do um.

2. Em face da multiplicidade quase inapreensível de vozes na literatura contemporânea no Brasil (e não só no Brasil), como você interpreta uma possível cartografia deste cenário? O que torna o livro representativo hoje? Forçando esse pensamento até o limite, qual o sentido de escrever e publicar um livro?

AM: De fato vivemos um fenômeno bem curioso, talvez devido às facilidades para publicação, testemunhamos um número crescente de pessoas escrevendo e publicando. Em contraponto, percebe-se que a venda de livros não acompanha esse gráfico, indo mais além, tenho acompanhado reportagens que situam uma parte desses novos escritores como não leitores o que é contraditório em si.
Pra não me estender demais, acredito que a literatura tem papel fundamental na sustentação das bases do que chamamos de humanidade, não por acaso a escrita é o marco divisor, a mãe que gestou o homo sapiens. A despeito de todas as histórias já terem sido contadas e recontadas elas sempre podem ser contadas de maneira diferente e esse diferencial é o olhar de cada um, esse olhar nos permite mergulhar no Outro e muitas vezes nos encontrar, isso é representativo.
Penso a humanidade feito um órgão no corpo do universo, nesse sentido somos células e tal qual células nós nascemos para determinada função, em se tratando de mim essa função é escrever. Em função disso movimento meus dias, escrever é para mim o que dá sentido a todo o resto. Escrevo e publico pela necessidade cega de estender a mão e apalpar o mundo, o Outro. Isso faz valer a pena essa coisa sem sentido que é respirar.

3. Qual a resposta que seus textos e livros têm recebido dos leitores e de colegas de atividade? Quais são os diálogos que seu trabalho tece com este Outro, que está do lado de lá do espelho da página?

AM: Tenho tido a sorte de receber bons retornos em relação a leituras do meu trabalho e essa é a maior satisfação que pode haver, para mim, nada é melhor ou mais compensador que saber o quanto meu trabalho se comunicou com outra pessoa. Tenho a sorte inclusive de ter ganhado bons amigos por meio de meus livros, pessoas que chegaram até mim após a leitura de um livro e que se tornaram queridas.
Fico sempre curiosa quando alguém me procura para dizer de sua impressão de leitura, tanto para saber de que maneira meu trabalho o afetou quanto para saber por qual via tomou contato com o livro. Os misteriosos caminhos que os livros tomam e a vida própria que adquirem nas mãos do leitor me interessam demais.

4. Desdobrando a pergunta anterior, em razão de uma questão essencial, você acredita numa escrita de gênero (e, por extensão, numa leitura interessada em uma escrita de gênero)? Como a questão do feminismo atravessa sua obra?

AM: Eu penso que a literatura abarca todos os fenômenos da vida humana, independente de quaisquer questões próprias aos homens e às mulheres. Acredito em boa literatura escrita por mulheres ou homens. Não sou insensível, no entanto, a questionamentos de mercado que colocam a mulher via de regra em situação de inferioridade e mesmo cria a ideia de que a literatura feminina é conversa de comadres. Não poderia ser diferente se considerarmos nossa sociedade e a maneira como as mulheres são tratadas, incluso a maneira como nos tratamos umas às outras, muitas vezes.
Na hora em que estou escrevendo procuro me despir de conceitos para olhar meus personagens sem julgamentos, para mim eles são reais e não me sinto com direito a condenar nenhum, tão somente trazer à luz suas dores e contentamentos porque não consigo ficar indiferente ao grito deles. Por outro lado sou mulher, e por menos que queiram ou aceitem alguns o feminismo é necessário no cenário social.
Vivo enfim em meio a essa sociedade que nos trata com crueldade, crueldade essa que me atinge todos os dias por vias direta e indireta, isso necessariamente chega ao meu trabalho por ser uma dor muito minha. Não significa que meus personagens estejam livres de vilanias, é, em contraste, por meio das vilanias deles que questiono a cruel desigualdade que nos impõem.

5. Seu próximo romance “Mauricéa” aborda, em seu eixo central, algum problema específico e particular, quais os campos de enfrentamento que a literatura tem no mundo contemporâneo, e como você estabelece suas ferramentas neste enfrentamento?

AM: Meu próximo romance conta a história de uma travesti velha repassando acontecimentos de sua vida em meio à situação imposta de estar presa a uma cama. Trata do óbvio questionamento acerca do feminino/masculino e, por extensão, da situação social feminina ao longo de algumas décadas, o tempo no qual transcorre a vida dela.
É também uma história de amor, mesmo que um amor às avessas. Gosto de questionar a noção de amor defendida pelo senso comum. Gosto idem de me debruçar sobre as miuçalhas do cotidiano, por meio delas eu observo nossa existência se revelar. Isso porque, para mim, os campos da literatura são a própria vida, vejo a literatura, repito o já dito, como portadora da missão de nos manter alertas à condição humana. A literatura não vai oferecer resposta, óbvio, mas provocar as perguntas necessárias e, vez por outra, apaziguar nossa dor de nascer a cada dia, a dor de, ato contínuo, sermos lançados nus e desamparados ao desconhecido a cada manhã.
Minha principal ferramenta é a verdade o que parece antagônico uma vez que escrevo ficção, tudo bem, eu vejo a contradição como sendo a essência dos fenômenos. Cada coisa contém em si seu inverso. Desdobrando, a verdade à qual me refiro é a interna a que me sustenta. Quando trato da dor do Outro eu busco em mim essa dor, eu preciso descobrir em qual local, no meu interno, ela está hospedada. E sei que vou encontrá-la porque a humanidade nos atravessa a todos e nos une, ou melhor, a humanidade é a substância que nos constitui. E, em geral, é no reflexo gerado no olho do Outro que eu consigo me enxergar.


*



Para meu papel em branco
  
Só agora escrevo para pedir: desculpe-me esse silêncio não bom, silêncio de quem briga com o tempo e perde. Perde-se.
A parada aqui perto de casa, nosso marcado ponto de encontro, quase virou parada militar. Muita gente na rua, manifestações de toda ordem, desordenadas algumas, ordinárias outras. Fogo ateado no burburinho do trânsito. Polícia fechando o tempo como se fosse sinal. Dos tempos. No final, tudo acaba em futebol.
Parada fiquei eu esperando o ônibus que não veio. Caminhei de volta pra casa acompanhada de meu silêncio. Meu amor. Perdido pelo mundo cruel, perdido o mundo e eu, perdida, sem palavras.
Uma crueldade só.
Tempos áridos esses, quando não encontramos as palavras que guardamos, quando já não lembramos onde.
Minha avó dizia: Quem guarda com fome o gato come. Guardei a fome. E a saudade que vamos esfaquear, para matar a fome com a língua um do outro, palavras, palavras, que vão nos saciar de silêncio. A substância do não dito, o tanto de vezes nas quais o tato de nossos dedos não alcançaram um ao outro.
Silencio.
Volto pra casa e me mato calada, saudade virou meu nome.
Renasço três dias após porque o mundo, embora cruel, não tem esquinas, é esférico. E o vento acabou de fazer a curva em meus cabelos.


Beijos, meu bem e até de novo.

da sua Remington Rand.
 


*

Abaixo, um trecho de seu novo livro:


            MAURICÉA

 
E me imagino caminhando entre os boxes do mercado, feito usava fazer naquela época, quando andava à procura da mistura perfeita para me servir de banho, e me banhava com molhos de arruda, quebra-pedra, espadas-de-são-jorge ou santa-luzia combinados entre si e entre todos para deixar claro que comigo ninguém podia e, assim, me curava dos caminhos fechados e da escuridão noturna reinante quando saía para trabalhar; toda trabalhada na sedução, fugindo da família a mim destinada, criando um destino brilhante, cravejado de paetês e vidrilhos, coisa que já nem se usa.

Lembrar é coisa em desuso. Ficar velho é coisa que não se deve usar sob qualquer justificativa; é feito melancolia, perdeu a serventia, efeito dos tempos, dos ventos que varreram minha vida, varreram a história e o rumo do mundo. Minha história se confundiu e meu mundo caiu muitas vezes; eu ficaria feliz em ter as sobrancelhas de Maysa. Os cabelos eu sempre preferi loiros, quando os tinha. E sinto pena de mim por não ter guardado a inocência e saber o quanto acreditar na vida e no amor é brega, piegas e sem o mínimo direito a se tornar cult. Canções podem se tornar cult; flores plásticas podem sofrer essa mutação; estampa de animais, cult. O amor não, o amor é brega, sem remédio.

Estico os olhos sobre a paródia de varanda de minha quitinete e lembro quantas vezes me montava no banheiro do bar, porque saía com a roupa ensacada em plástico de supermercado para não dar pinta diante da família, para não causar desconforto pulmonar na tia asmática e já viúva, muito sacrificada e empenhada em me tornar um adulto merecedor de respeito, respeitando a circunstância que fez de mim sua herança; a única deixada pela irmã morta, tão jovem e tão solteira, embora grávida. Partiu durante o parto. E lembro ainda, buscando uma estampa perfeita, precisava circular a tarde inteira pelo Cais de Santa Rita, enchendo de pernas as ruas da Zona da Cachorra, procurando uma kanekalon loira e lisa para completar meu cabelo na noite do Chantecler: palco de vida e morte de momentos meus. E o Chantecler não existe faz é tempo, eu soube, o governo interditou, reformas, restauração. O casarão, feito tudo nesse mundo, não resistiu aos dias; o que resiste em mim é o costume de apelidar qualquer lugar onde se reúnam primas e donas de Chantecler. Por carinho mesmo, para reviver um tempo quando eu ainda vivia. Vivia pelas ruas do Recife velho, só na fechação, apertada em minissaias muito mínis, que eu ficava puxando pra baixo, charme puro. Porque achava lindo quando via as meninas puxando a calcinha que teimava em se refugiar do arredondado da bunda, atendendo ao apelo do rebolado; e eu, sem bunda, sem calcinha, lutando para manter preso entre as pernas aquele apêndice de sexo que me sobrava sob o conforto da cueca. Coisas das quais nunca consegui abdicar, nem do pau, nem da cueca. Me restava o arremedo de puxar a saia, os dedos em pinça, a mão atravessada pelas costas, valorizando o movimento.




Omar, tá acordado? Vou buscar os remédios.

Omar é meu cu, me chame de Mauricéa.







Adrienne Myrtes nasceu no Recife/Pernambuco e vive em São Paulo desde 2001. É artista plástica e escritora. Participou de algumas antologias, destacando: Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século, (Ateliê Editorial, 2004), 35 Segredos para Chegar Lugar Nenhum, (Bertrand Brasil, 2007) e Assim você me mata (Terracota Editora, 2012). Publicou: A Mulher e o Cavalo e Outros Contos (Alaúde e EraOdito, 2006), o romance Eis o Mundo de Fora (Ateliê Editorial, 2011) cujo projeto recebeu o Prêmio Petrobras Cultural 2008/2009 e a novela uma história de amor para Maria Tereza e Guilherme (Terracota Editora, 2013). Lança esse ano, pela Edith, Mauricéa, seu segundo romance.




Colunas anteriores:

Mallarvoz - letras mastigadas - #13 Antônio Miranda

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ANTÔNIO MIRANDA

Poema: Assim caminha a humanidade
Livro: Memórias Infames
Ano: 2009
Editora: Anome Livros


Link direto: https://youtu.be/hh8y5uI-ltg

Mallarvoz:
Sander Brown (sannbrownn@gmail.com)

Carta da mãe de um suicida - Fernando Rocha

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Querido filho,
Que fique claro desde já, que a palavra querido ocupa o lugar do inominável, este afeto tão grande que não coube no dicionário, deixando o peito apertado e sem ar.
Aqui, a única luz é a chama da vela que me observa de joelhos, quando a viro de ponta cabeça, ela chora, minhas lágrimas secaram. Me disseram que meus olhos ficaram opacos, constantemente tristes, depois de sua partida.
Recordo das advertências que lhe fiz na infância, de que embora se parecessem com as balinhas que costumava comprar, naquelas cartelas havia remédio, os quais poderiam te fazer passar muito mal, ainda não sabíamos o quanto...
A tristeza te acertou em cheio, um soco com a intensidade diluída ao longo de uma vida inteira, que estrago, meu filho, que estrago! Você não conseguiu se esquivar.
“A mão que pensa acariciar o pássaro, talvez o esteja ferindo, os olhos desesperados no jeito de olhar do pequeno animal, preso em suas asas paralisadas, sentindo o céu distante, sem lugar perto do chão”, tão você.
Estou com as mãos estendidas, quero sentir sua palma na minha, me toca! Vem!
Não gosto de me lembrar da sua figura estática, olhos cerrados, choros sem rosto ao seu redor, eu sem saber o que sentir.
A felicidade ao ter o cordão umbilical cortado, seu choro, você em meus braços, o inverso em imagem e sentimento: o cortejo que te conduziu ao túmulo, a ruptura, nosso distanciamento.
O excesso de medicamentos correndo em sua corrente sanguínea, te levou rápido para longe, onde não posso mais te alcançar.
Gostaria de dizer adeus e com isto calar tudo o que tenho aqui dentro, mas sei que minha voz desesperada irá procurar seus ouvidos inoperantes outras vezes.

Eu te amo!


Fernando Rocha é paulistano, nascido em 1981, graduado em Letras, professor de Língua Inglesa na rede municipal de São Paulo. Fotógrafo amador, autor do livro de contos Sujeito sem verbo (Confraria do vento) e da novela Oslaços da fita (Penalux), Possui um conto na coletânea Descontos de fadas (Alink editora). Colabora com as páginas Letras inacabadas e Letras et cetera. Tem textos publicados nas páginas Musa rara, Cronópios, Jornal O Relevo, Meleca-chiclete.

Lançamento do livro: Todos os abismos convidam para um mergulho de Cinthia Kriemler

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Restaurante Carpe Diem, 104 Sul, Brasília-DF, 24/08/2017, 19h. ENTRADA FRANCA.


Todos os abismos convidam para um mergulho é um romance sobre depressão, abusos e cicatrizes. Sem soluções felizes. Como algumas existências.”  — Cinthia Kriemler


“Universos internos e externos são explorados e
lançam o leitor em um mergulho semelhante a um afogamento”
(Lisa Alves, na apresentação de Todos os abismos convidam para um mergulho).

Beatriz é uma assistente social que trabalha numa casa abrigo, lidando com crianças e adolescentes vítimas de abusos e maus-tratos. Uma profissional obstinada. Uma mulher forte, dura, ácida, desencantada. Obcecada pela vontade de se punir pela morte de sua filha única, Laura, uma adolescente de 16 anos, vítima de depressão, que cometeu suicídio há dois anos.
Beatriz é uma mulher com muitos fantasmas. Um deles, a sua relação complicada e agressiva com a mãe, desde a infância. Divorciada de Bernardo, um homem paciente e amigo, mantém com ele uma relação de dependência emocional quase mórbida, mas ao mesmo tempo de gratidão.
Depois que causa involuntariamente — ou não? —, a morte de um abusador, é obrigada a fazer terapia com Clarice, uma psiquiatra a quem não consegue manipular e que a faz trazer à superfície histórias e sentimentos indesejados. Que a põeem contato com uma Beatriz que não sabe se distanciar dos casos em que atua, que se vinga, e que coloca a empatia pelas vítimas acima da ética.
Sexo. É o que Beatriz faz quase o tempo todo. Um sexo destituído de amor, que ela decide quando e como acontece. Uma válvula de escape que pode ter se tornado um vício. Em volta dela, a violência e a insanidade praticadas por todo tipo de abusadores contra incapazes e minorias, delineando a cara de uma sociedade alienada e esfacelada, que fecha os olhos para o que precisa ser feito com a urgência do ontem.

SERVIÇO
LOCAL: Carpe Diem, 104 Sul, Brasília-DF
DATA: 24 de agosto de 2017

HORÁRIO: 19h


Todos os abismos convidam para um mergulho(Editora Patuá, 2017) é o primeiro romance de Cinthia Kriemler. Acostumada aos contos, aos textos curtos, a autora entrega agora ao público um história robusta de 272 páginas. No entanto, o foco nas misérias sociais e nos aspectos psicológicos dos personagens é uma característica que a escritora trouxe do universo dos contos para a narrativa longa.

'DA INFÂNCIA, ANISTIA DE SONHOS', poema de Mariana Basílio

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conheci Mariana Basílio num abraço. ela sorria. seu Sombras & Luzes trouxe de volta um H.Helder que eu tinha deixado de lado. trouxe tantas falas, tantos diálogos. e o que vibra: o silêncio de Mariana, noutro abraço. 

bruna mitrano






XXX

DA INFÂNCIA,
ANISTIA DE SONHOS

*

Cortava-me minha mãe as unhas e
eu chorava. A criança pudica que se
distraía no cheiro do colo materno,
que cansava de ser alta pureza
quando bebia o leite, no sorriso dos
bicos escuros como a névoa noturna.

Porque eu cantava o peso do mundo.
Quando a leveza me abençoava.
Nos dias que eram suaves, 
no peso do pensamento.
A voar.

**

Fui EU a menina levada que
pisava as vielas molhadas,
quando subia calada a saltitar
em árvores colossais. Riscando
escadas e palavras, gritava aos 
cachorros da rua: o amor em
profundas doses de bolos 
de cenoura, o amor em
cantigas de ninar.

Porque eu cantava o que a morte ria.
Porque eu cantava o que formava ar.
Porque eu cantava o que era imortal.

***

Hoje a fala me diz muito pouco. No salto de
uma lívida memória. Em segundos de prata.
Recordo, luzente e lúcida, dentes de leite e
pequenos delitos cotidianos... O que eu
fui, senão grandes sorrisos de hiena?

E era o céu que me cobria o sono.
Era de nuvens que me cresceram as asas.








Artefatos Poéticos: A POESIA À MARGEM com Luiz Carlos Bahia e Luiã Borges

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 A cada evento o sarau multimídia, Artefatos Poéticos, trabalha um tema vinculado ao universo da poesia. Nesta quarta edição, o tema será A POESIA À MARGEM. A festa vai ser animada. Poetas e poesias de todos os tipos dando conta da produção que está à margem da indústria cultural. Além dos poemas, vídeos e performances poéticas e musicais.

Nesta edição, o homenageado é o poeta e artista múltiplo Luiz Carlos Bahiaque nos honrará com sua presença, versos, voz e imagens e será acompanhado por Luiã Borges.

Poetas convidados: Betty Vidigal, Claire Feliz Regina, Maria Giulia Pinheiro, Moreira De Acopiara, Natasha Felix, Plínio Camillo, Rubens Jardim e o coletivo Poetas do Tietê(Akanni Alves, André Diaz, Cissa Lourenço, Elide Nascimento, Fernando Bispo Da Silva, Gisélia Sá, Guilvan Miragaya, Marcelo Lemos e Paulo D'Auria).

Músico: Gustavo de Oliveira.
Apresentação: Claudinei Vieira.
Local: 38 Social Clube – Rua Cel. Castro de Faria, 38 – Vila Anglo, SP
E no 38 Social Clube, você também poderá degustar os deliciosos lanches e pratos oferecidos pela Maria Sidnéa Rodrigues.
Couvert: R$ 15,00
Comidas e bebidas à parte


3 poemas inéditos de Fernanda Fatureto

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Ilustração:Noell Oszvald


1.

As dobras as vestes a pele
tecidos finos revestem a orfandade do mundo.
A marca humana mancha o discurso
como tatuagem
Pequeno abrigo de significantes.
A caligrafia vibra para que se ouça a dor
roçar o asfalto
tecer correntes que arrastem o abandono
feito trapo pelas calçadas.
A pele o sentido as palavras
são belezas que não salvarão o mundo.


2.

Estar aberto à vida por todos os poros;
O pequeno torpor dos dias
ocupa todas as vias de expressão.
Um cântico um grito um alento
que vibre o silêncio da entrega.
Medir cada passo que alcança
a desesperança,
recompor a grafia dos tempos mortos –
onde o mudo alcance das palavras selam o pacto do sentido.


3.

Falhar sempre e um pouco mais
essa é a única lição
enquanto traço meu epitáfio –
geografia turva,
cartografia falha por sobre a pele dos fatos.
Percorrer essa trilha de acidentes e percursos
onde a linguagem chama e cala,
permanentemente.



Fernanda Fatureto (1982) é poeta e jornalista. Bacharel em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Participa das antologias poéticas 29 de Abril: o verso da violência; Subversa 2 e Senhoras Obscenas. Seu livro de estreia Intimidade Inconfessável foi publicado em 2014 pela Editora Patuá. Possui poemas em revistas literárias do Brasil e na revista portuguesa InComunidade. Saiba mais: https://fernandafatureto.wordpress.com

Poeteu I - Reinoldo Atem

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O mar é o infinito
e o eterno das gentes.
Embelezado nas brumas
simbolizando o que vem.
Prazeroso e gemente
nunca nada o detém.
Ele anda destruindo
tudo que não lhe convém.
Para renascer na maré 
que nos invade no além.

*

Quanto desalento
na tarde intransponível
com algum vento
nesse dia incrível.
Nada me resguarda
no horizonte cinza
dentro do apartamento
com alguma brisa.
Por isso me escondo
atrás da cortina
e trago meu lanche
para o dia seguinte.

*

Ainda que eu bem não queira
Devo pagar o condomínio inteiro.
Não importa o quanto ou quando seja
O gasto é que vem aí ligeiro.
Devo pagar e não sei de onde possa
retirar com jeito algum dinheiro.
Os juros bancários não respeitam
a minha honestidade sobranceira.
Ninguém quer saber minha virada
ou o que vale nisso algum sorteio.
Por isso, não vivo o meu legado
que se acaba logo na zoeira.




O enorme bloco,
muitos apartamentos,
parecem uma colméia
que não produz doçura.
Produz rancor,
ciúmes e tesão.
Abelhas mais atentas
na televisão.

*

Mais uma vez
tento decifrar
o medo do futuro.
Por isso invento deuses
que me possam socorrer
no solitário rumo.

*

Depois de muito ensaiar,
apresento meu show da vida.
Os que aqui me acompanham
não querem vê-la perdida.
Pesar de tanto sonhar
com uma ilusão desmedida.

*

Tudo que pode ser bom
traz também dificuldade.
Uma vez em cima.
Outra vez em baixo.
De dia estou fora.
De noite me encaixo.


Galeria:  Gilad Benari



Reinoldo Atem, declaradamente curitibano, nasceu em 1950, no Piauí, morou em Londrina e em São Paulo. A sua poesia guarda as imagens de uma Curitiba sem os delírios de modernidade. Como consequência, seus melhores poemas não pagam o tributo para o verso curto ou para a modernidade epidérmica. Muito pelo contrário, os seus bons poemas são longos, bem articulados e revelam o domínio da macroestrutura da linguagem.
     Participou e publicou:
     - 4 Poetas - coletânea - Editora Cooperativa de Escritores - Curitiba, 1976.
     - Tempos - coletânea de poemas - Editora Pindaíba, São Paulo, 1976.
     - O Conto da Propaganda - coletânea de contos - Editora Vertente, São Paulo, 1979.
     - Assim Escrevem os Paranaenses - coletânea de contos - Editora Alfa-Ômega, São Paulo, 1977.
     - Sala 17 - coletânea de poemas - Movimento Sala 17, Curitiba, 1978.
     - 1971 - novela - Editora Beija-Flor, Curitiba, 1978. (reeditada pela editora Inverso em 2015).
     Foi um dos fundadores e editores da revista de jornalismo cultural e literatura Outras Palavras (1978) e da revista de criação Zé Blue (1980).


"Líquido" poema de Paulo Fatal

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::: arte de Paulo Fatal :::




Entre costuras várias sigo às voltas
Com os fios do novelo interminável
À procura da seda que seja suficiente
Para vestimenta em vida
E para mortalha que me caiba, 
A mim e aos outros, múltiplos, 
Nos quais vou me desdobrando.

Não vejo fim em nenhum dos meus tecidos.
Embora tudo seja breve, nada acaba realmente,
Sou feito de começos amplamente desejados,
Que viraram caminhos nos quais me perdi.
Levaram a trajetos que, em certa hora,
Não eram mais os meus trajetos,
Embora certamente fossem a algum lugar.

Tudo é de uma riqueza descontínua,
Aquela trilha de terra no crepúsculo,
O abraço quando era aconchego,
O som dos sinos do Angelus,
Os portos que sempre foram o que são:
Portos, parada entre um mar e outro.

Prossigo só, sombra de mim mesmo.
Olho para trás e vejo um cortejo extenso.
Não consigo nunca reter-lhe os detalhes,
Que se me escapam entre os dedos,
Como se em vez de navegante
Eu tivesse na verdade sido a água.

Hei de ter conduzido jangadas.
Algumas vezes fui enchente bruta,
Em outras fui gota em meu próprio oceano,
Muitas vezes beijei a areia da praia,
Muitas vezes fui azul turquesa.

Fui onda, redemoinho, represa que rompe,
Lama, vinho (que é água), lago.
Afoguei, rompi, entornei, molhei,
Engolfei, banhei, envolvi.

A cada recomeço do meu tear,
Penso em como fazer desse líquido
Um tecido tão leve que pairasse
Quieto acima do movimento
E me fizesse entender por que,
Mesmo sendo água,
Continuo sentindo tanta sede.



::: arte de Paulo Fatal :::









Paulo Fatal é mineiro de Belo Horizonte. Artista plástico e poeta, vem desenvolvendo há muitos anos um trabalho de arte no qual se mesclam imagens e versos. Realizou diversas exposições, além de ter participado de mostras em várias cidades do Brasil. Pretende fazer o seu primeiro lançamento literário até 2018, contendo uma antologia de poemas inéditos.

4 poemas de Marcia Pfleger

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TUDO ISTO É VERDADE

Tenho colecionado ideias 
de invenções que nunca botei em prática;
depois esqueço o que eram, para o que serviam... 
Eu me agradeço não ter urdido uma geringonça a mais num 
mundo de renomados supérfluos. 
Foi assim que deixei de ficar milionária (eu acho). 
Sigo engendrando, portanto, apenas 
coisas baratas como poemas e
historinhas mais ou menos brandas - quinquilharias 
coloridas que às vezes, muito às vezes,
alguém se detém para olhar.
O tempo as torna quebradiças, tudo isso é verdade.
Num ínterim das recorrências, talvez você percorra 
esses pedaços. E se detenha. 
E então se contente comigo como
as crianças pobres se satisfazem 
com brinquedos quebrados.


DORFLEX PARA MENINOS-LOBOS

(...)

lembro esmeraldas em anéis 
de lata
joelhos ralados por 
rolimãs
o mundão no fundo do quintal
seu mapa para sempre
perdido

lembro a época de
coisas assopradas no ar: 
bolhas de sabão 
dentes-de-leão
pipas coloridas
a esperança...

o tempo em que 
fomos felizes
a dor alcançava
apenas ¼ de mim...
era fácil então
despi-la 
junto com as meias


FOTO NO PARQUE

ele disse (câmera fotográfica 
na mão):
suba correndo a escada
de pedras ao sol
quero capturar esse
momento nos cabelos
esse movimento 
de fuga esses vermelhos 
do único dia em 
que você 
fugiu de mim
na minha direção...
ele disse (câmera fotográfica
na mão)


ALGUMA COISA ENTRE NÓS

Há um mistério entre nós dois
Alguma coisa não decifrada
no marulhar do riso
Um cimento de conchas...
Alguma coisa de pérola e de dor
entre nós dois:
Um piercing na língua da ostra


Galeria: Nick Savvas


 fotografia: Dani Sanson
Marcia Pfleger é escritora, tradutora e jornalista, de Curitiba (PR). Em 2015 lançou seu primeiro livro, Caneca de Café com Versos, pela Editora 7Letras. Não gosta de autoconfete, por isso consta falar o menos possível sobre si. 

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BEATRIZ H. RAMOS AMARAL

(2 CONTOS)












RICHTER, Maísa - Pisces I 























OS FIOS DO ANAGRAMA
















“...eu descobria que uma letra atrai outra, que uma palavra atrai outra, essa afinidade organizando não apenas o texto, como a vida, o universo. O que eu via, no pergaminho, quando terminava o trabalho, era um mapa, como os mapas celestes que indicavam a posição das estrelas e planetas, posição essa que não resulta do acaso, mas da composição de misteriosas forças, as mesmas que, em escala menor, guiavam minha mão quando ela deixava seus sinais sobre o pergaminho.”

(Moacir Scliar, A mulherque escreveu a Bíblia)




Laerte e Arlete dividem o começo das horas. Tão gêmeos quanto Castor e Pólux, concebem danças circulares e trajetórias neo-esquizóides. Coreografando o pisca-pisca de cada pálpebra, escrevem páginas análogas de uma saga, revisitam pergaminhos, museus e, paradoxalmente, mostras de arte sacra. Habitam casas geminadas de um bairro onírico e ruminam problemas psicoemocionais inusitados. Entre os dígrafos do sobrenome ibérico que nem sempre declinam, na estranheza do som, numa tarde laica, na árida-esquálida esquina da simetria ficta, dezenas de linhas e vozes sempre correspondem aos pares: o duplo de uma dissonância de origem.

Agrada-lhes o exercício dos extremos. Arlete atira uma flecha para o alto, fotografa o cume das montanhas, estuda balonismo, planeja um voo livre, amanhece em vista aérea. Laerte mergulha o pensamento nas águas lá do fundo, submerge ideias entre camadas, escamas e cromatismos de peixes. Ambos cultivam música. Depois de três horas de estudo, Arlete guarda a flauta no estojo e pede suco de graviola. Laerte recoloca os óculos e retoma a embocadura para o oboé. É outono, época propícia para Rimsky-Korsakov. A data do concerto se aproxima.

Partituras se rebelam, caem da estante e se mesclam. Mãos adestradas e rápidas reordenam o caos de folhas espalhadas pelo chão. Moedas e pequenas tiras de papel permanecem sobre os tacos encerados. Ensaios mais freqüentes no palco. Ruídos da cidade, intermitentes, vontade de apagá-los.

Nada se assemelha ao sopro do tempo no espelho. O que aproxima e distancia personagens, na sequência de intenções anagramáticas, subsiste como dois fios narrativos de um segredo abandonado. Para revelá-lo, a ironia transita pelas letras. O tear de estrelas responde com asas e múltiplas figuras de linguagem.

Tudo é cenário para a duplicidade dos fios: o enredo desliza e tinge os dedos do intérprete, fingindo alcançar as rubricas do tema. Ninguém percebe as bússolas atrás da porta. Reclamam como se navios partissem de hora em hora do porto imaginário.

Tudo é oceano e vastidão, na genética aleatória que os compõe e os impele para a frente. Laerte e Arlete projetam algas na superfície da razão. Redescobrem as chaves no toque do metal. Tão gêmeos quanto ambíguos, trocando pensamentos e raízes. Crescem compassos nos dedos, amálgamas de frases e teorias digitalizadas. Papel carbono, memórias híbridas, o veleiro imitado. Logaritmos despem enigmas, enquanto a antessala permite os ventos e os remos, os remos, aqueles outros remos, os pares de remos.

Laerte e Arlete redescobrem seus papéis na mitologia e alongam vocalizes à beira do piano. Cena aberta. Boca de cena. Água na boca. Escala diatônica. O pôr-do-sol trazendo valises repletas de reprises assimétricas. Que lasca de enredo entreabre o caminho dos faróis? A fotografia das lendas. A insistência dos olhos para as faíscas do oculto, que foge do texto, assim como um fino fio de água escapa e escorre da torneira. Água, letra, tinta, lago e página: atores no desenho de um rito fazendo emergir novas probabilidades. No esboço da equação, anunciam a sintonia de um acaso. Em que não se penetra. Com as mãos tão gêmeas, inventando a planimetria do futuro.

Álgebra da manhã, que segredo irrompe na frase matriz?

Aleph, reish, lamed. Dialoguem. L, ele: Toque, toque, não pare.

Siga as placas. Da cappo. Outra sequência. Vermelho avança, azul recua. Ritornello. Reduplicam-se gestos, mas que sentido transita na volta? A, ela: Siga. Finja. Contorne (pule dois parágrafos e me encontre mais adiante). Depois, volte. Desça. Suba.

Desça e suba. Deite e role. Pinte e borde. Transborde sobre as barras de rolagem. Ré, fá, lá, ré. Fá, ré, lá, fá. Si bemol.

Em plenilúnio, Laerte e Arlete plantam planetas no tempo.

Entoando semitons, refazem a rota das medusas. Na constelação em que ancoram, há pares de olhares geminados apontando, lúcidos, os desafios do anagrama.



















PORTAL DE ANÁFORAS













Neste portal de anáforas, você se despe das reprises, antes do espelho, pesquisa proto/imagens, você não repete nomes, sobrenomes, retira os excessos, você sabe o claro-escuro das ilhas, um trio de sílabas inauditas, o sabiá na praia, as abelhas no labirinto de vontades. Você recolhe os crustáceos, miniaturas, brindes, brasões, tudo assim tão nítido – sol a pino, a planimetria da avenida, o desfile dos instrumentos antigos, os de sopro, os de cordas, você lendo aquele conto de Cortázar na primeira hora vespertina, todas as valises e todos os cronópios, o pisca-alerta, a marcha-a-ré, e bem mais tarde, o teor da própria tarde, o arquipélago de sombras forjadas pela tarde.

Em seu portal de anáforas, você tece as fibras de cada nova hora, um projeto por hora, acende o abat-jour, a pronúncia da luz, a penumbra, as tendências do design, o jogo de sombras, as listras da fronha para um rosto sem sono, a janela aberta de outra noite desperta, o tempo de sobrescritar o envelope, os vãos, as frestas por onde entra o pensamento.

No portal de ubiquidades, você tão célere se posta: // assim moldura para a frase cibernética, você no meio da frase, pontuada, pontilhada, você se depara com o estado de espírito, a estrada, o estresse, a estrela, o estrilo, o estilo, o uníssono porém belo e incessante canto do quarteto de grilos.

Neste portal de anáforas, você reconstrói os castelinhos, você sabe, você ensaia, deseja, recomeça, erige, pavimenta, você arquiteta uma frase, é bom semear na areia – numa pausa de milésimos, as ondas, mapas, marés, tudo ondulado azulando as intenções abreviadas, você – aeroplanagem de instintos, olho no olho, palavras de novo à deriva, que barco navega, que rota diz porto?

Neste portal vislumbro o astrolábio: todos os navegantes seguem para pontos sem nome e se perdem – quando se acham, se recolhem, sabendo a desordem do norte, o idioma das vertigens que os des/orienta de novo, again, again, forever.

Portal de anáforas, quando será a nova tarde, quando será a invenção da manhã, quando virá o clarão da forma?

 Na decupagem de sentidos, enquanto pergunto, você caminha pela alameda e evoca Gertrude Stein, because a rose is a rose is a rose is a rose.







  













  
BEATRIZ HELENA RAMOS AMARAL




















Paulistana, poeta, contista, ensaísta, musicista, é formada em Direito (USP, 1983) e em Música (FASM, 1985, com especialização em violão erudito). Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP. Autora de doze livros, entre os quais "Encadeamentos" (1988, poemas), "Primeira Lua" (1990, haicais, escrito em colaboração com Elza A. Ramos Amaral), "Poema sine praevia lege' (1993, poemas), finalista do Prêmio Jabuti, 1994), "Planagem" (1998, poesia reunida), "Alquimia dos Círculos" (2003), "A Transmutação Metalin-guística na Poética de Edgard Braga" (2013), "Os Fios do Anagrama" (2016). Coordenou projetos e ciclos literários e culturais na Secretaria Municipal de Cultura e também na Casa das Rosas. Tem realizado palestras no Brasil e no exterior sobre sua produção e sobre a obra de Edgard Braga. O livro "Os Fios do Anagrama" recebeu o Prêmio Troféu LITERATURA 2017.







TEATRO DE SÉRGIO MEDEIROS

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CASTRO ALVES

SILENCIOSO

Um espetáculo na cozinha










SÉRGIO MEDEIROS








Castro Alves del Brasil, tú para quién cantaste?
Neruda: Canto general






ATO I














Cenário: teatro de uma escola à tarde, cheio de crianças acompanhadas e desacompanhadas.
Personagens: um par de sapatos femininos e um saco de pipoca.

***

CENA I: ANTIGAMENTE...

Calma relativa. O público (na verdade, uma parte dele) se serve de guloseimas, que retiram de sacos de papel barulhentos. No palco, sob a cortina rígida e plissada, vê-se um par de sapatos femininos.
       Uma mulher tira fotos do filho pequeno sentado no colo do avô. A avó, sentada ao lado, lambe discretamente um pirulito.
       — Vai ter sapateado? – pergunta alguém.

***

CENA II: ANTIGAMENTE DE NOVO...

Um saco de pipoca flutua magicamente sobre o palco.
Depois vai embora, passando por cima da cabeça das crianças acompanhadas e desacompanhadas. Sai do teatro pela porta da frente.
— Não tem sal na minha cabeça? – pergunta alguém.



























ATO III














Cenário:
  Uma cozinha à noite.
     Vários panos de prato úmidos jogados sobre o fogão. Uma chaleira brilha.
      Na pia, uma ave viva nada num lago leitoso, com folhagem branca ao redor.
     Num banco, um cisne de vime de pescoço negro, corpo em formato de cúpula.
         Nas paredes, rabos e asas de luz fria.
Personagens: Uma cozinheira. Ou um cozinheiro. Ou ambos.
   — Esses têm cara de que sabem o que fazem – comenta alguém.

***

CENA I – O FANTASMA E A CANÇÃO. HOJE, AMANHÃ...

        Os cozinheiros não estão mais na cozinha. Volatizaram-se como por encanto.
     Atrás de um balcão, ou sentado à mesa, o público aguarda o retorno dos cozinheiros.
        O silêncio é a canção dos cozinheiros, neste exato momento.
— Não tem nem uma chaleira chiando no fogo – pondera alguém.

























ATO II














Cenário: a mesma cozinha, momentos depois. Ou no dia seguinte. Dia ensolarado.
       A cozinha abre-se para um pátio.
Personagens: A anfitriã e uma criança.
— Já vai começar! – exclama alguém.


CENA I: ONTEM – A QUEIMADA

 No pátio, uma criança se esconde atrás de uma coluna.
       O público passeia pelo pátio, às vezes entra na cozinha. Depois torna a sair para a luz do sol.
        A anfitriã aparece, vestida com elegância e graça. Cruza o pátio e entra na cozinha.
       Liga uma das bocas do fogão.      
     A anfitriã percebe uma poça de urina no assoalho. Empurra a mesa nessa direção, colocando-a sobre a poça, que assim fica invisível.
    A anfitriã se esconde atrás das folhas abertas de um grande armário e declama rapidamente um poema em homenagem às chamas azuis do fogão.
       Eis o poema (uma recriação de “A queimada”, de Castro Alves):

   “As chamas azuis vão para cima arredondadas e têm um halo alaranjado, como uma fruta gorda trazida para o café da manhã...
       ... devagar o vento açoita...
       ... as moitas do pátio... rubras de sol...
       ... os braços vermelhos levantados para Deus...”


























ATO II

AGORA — A CACHOEIRA














Cenário: a mesma cozinha dos atos anteriores, mas à noite, e sem a poça de urina. No lugar dela, surgiu no assoalho uma poça de água. A mesa foi afastada, para deixar a poça visível. A luz é discreta, mas suficiente.
A torneira ligada deixa escoar uma água pesada que se afina formando bolhas na bacia da pia, que vai se enchendo perigosamente.
Ao lado da bacia, uma embalagem de detergente pela metade, com bolhas diminutas fixadas na parte externa.
Personagem: Alguém mudo.

***

Alguém entra na cozinha e fecha a torneira.
Depois lava a face carbonizada com a água acumulada na bacia da pia.
— O forno estourou na minha cara – conta.


F I M

























SÉRGIO MEDEIROS




É poeta, ensaísta, tradutor e professor de literatura na UFSC. Publicou o ensaio "A formiga-leão e outros animais na Guerra do Paraguai" (Iluminuras) e traduziu, entre outros livros, o poema maia "Popol Vuh" (Iluminuras), indicado ao Jabuti na categoria melhor tradução, e a crônica histórica "A Retirada da Laguna" (Companhia das Letras), do Visconde de Taunay, texto escrito originalmente em francês. Publicou vários livros de poesia, como: "Mais ou menos do que dois" (Iluminuras), "Alongamento" (Ateliê) e "Totens" (Iluminuras). Seus poemas já foram traduzidos para o espanhol, o italiano e o inglês. Seu poema em prosa "O Sexo Vegetal" (Iluminuras), de 2009, finalista do Jabuti, foi publicado em inglês sob o título "Vegetal sex" (UnoPress/University of New Orleans Press, 2010). Colabora no jornal "O Estado de S. Paulo".








7 poemas políticos de Teofilo Tostes Daniel

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O tempo da esperança carmesim

A esperança venceu o medo, enfim.
É patente nos olhos dessa gente
vestida numa estrela carmesim
que os sonhos renasceram novamente.

Tantos são os que sonham! Quanto a mim,
toda desesperança me é freqüente.
Eu não espero nada para o fim
porque meu sonho tem andado ausente.

Mas espero a esperança desse povo,
acerto o coração nessa vontade,
mesmo ao ver que essa chama não me invade.

Não creio que é chegado nada novo.
Porém, ao pessimismo ainda é cedo,
pois a esperança já venceu o medo.


Para a garantia da ordem

É tempo de silenciar e viver
da falaciosa segurança que nos aprisiona
em nosso ódio,
em nossa impotência,
em nossa indiferença,

em nossos medos.

É tempo de mascar o ópio festivo
da ordem,
da normalidade,
do progresso,

da mediocridade do ouro.

É tempo de seguir a jurisprudência da desumanização
que permite a injustiça,
que garante o arbítrio da força,
que indefere a escrita

de um poema para nossos tempos.

É tempo de permitir, em nome da paz,
que atirem bombas em nossa rua,
que invadam nossa casa,
que sujem nossas mãos com as armas do crime,
que violem nossos corpos

para que se celebre a violência inominada
de nossa omissão.




Psicopatia quotidiana

Pessoas vindas não se sabe donde
não podiam ficar perambulando,
sujando o espaço público. Também
deviam entender que elas não podem
ter filhos livremente, propagando
a inocentes, heranças de miséria.

Que treinemos então nossas milícias
para que nos defendam bem daqueles
que não querem servir, pois são culpados
enquanto não provarem o contrário.
Direitos se conquistam e não valem
aos que se atiram sem perdão no lixo.

Quem está condenado na existência
não deve ameaçar a segurança
dos que gozam as bênçãos de seus méritos.
Prendam mesmo as crianças e as grávidas.
Como somos de bem, porém, clamamos:
protejam fetos; domestiquem bichos!


O dia de hoje é cinza

O dia de hoje é cinza.
Assim se tingiram
os céus da cidade
que ontem festejou
com fogos de artifício
artifícios discursivos
– o que há para comemorar?
Indiferente à perplexidade
ante os duros golpes
dos tempos, segue
a luta.

A luta da mulher
que acorda de madrugada
para cruzar a cidade
e garantir seu lugar
à sombra dos patrões,
e depois levar para casa
a comida pouca,
que cozerá com seu cansaço
para alimentar o crescimento
das crianças.

A luta de quem mora
longe – inda que perto de nós –,
onde o estado de
exceção é regra,
e o Estado, uma exceção.
A luta das pessoas
que são governadas,
das que são despojadas
de palavras,
das que não sabem
quanto custa o dólar,
mas contam cada centavo
do trigo.

Há muito foi exilada
a esperança.
Ouço gritos, que ainda
parecem longínquos,
pedindo cárcere de quem
luta por mais do que circo
e pão.

Agora, parece que vão banir
o vermelho das ruas
– quem sangra,
que fique em casa!
O dia de hoje é cinza.

São Paulo, 12 de maio de 2016.


Jamais nos recuperamos de 1964

os coturnos ecoam até aqui
manchando as ruas de terríveis
reminiscências

ouve a marcha dos soldados?
assinaram um papel
autorizando o emprego das forças

armadas
para quem não marchar direito

enquanto isso o concreto modernista
fincado na caatinga
por suaves linhas repletas
de eufemismos

pega fogo

no dia anterior
derrubaram um prédio
com gente dentro

quase gente talvez

e todo dia
pega fogo
chumbo quente
e bala dirigida
teleguiada, mas nunca

perdida
em distâncias tão vizinhas

o tempo é de temor
pois jamais nos recuperamos
de 1964

São Paulo, 25 de maio de 2017.


Pequeno manual dos corpos indóceis

(para Beatriz Pagliarini Bagagli)

Habitar com o corpo
uma falha discursiva
e resistir

mesmo que tudo diga que assim
não pode, não deve
existir.

Manter-se na pólis,
ainda que tacitamente
decretos de exílio

estejam publicados
na boca do povo,
na voz de um deus.

Lutar contra o controle
da singularidade dos sujeitos
sujeitando corpos – indóceis? –  a padrões

e domando a política dos quereres.
Permanecer atento para escutar
o que costura as bordas do Fora.

Opor-se ao arbítrio de normas,
interdições e regramentos
que não digam respeito às margens
de convívio com os outros.
Estar no Outro,

no diverso e no estranho.
Ser o provisório
universo do desejo,
o verso vermelho de carne
que sangra palavras.


É urgente espalhar amor

Para calar canhões e metralhadoras,
conter a mão brutal
no momento de desferir o golpe;
para combater a cultura de pólvora e chumbo
que assola os quatro cantos do mundo,
opor-se a cada guerra
e a cada assassinato;
para impedir que o cinza dos asfaltos
continue a ser tingido
pelo sangue de culpados e inocentes

é urgente espalhar amor
com a sofreguidão de todas as sedes.

Porque são tempos miseráveis
aqueles em que o amor
é motivo de escândalo e perplexidade,
e o ódio,
aplaudido de pé,
se alastra como uma praga
na boca e nas mãos de tantos,
e na morte e no massacre
de quem ousa ser,
mesmo que involuntariamente,

o Outro.

Galeria: Igor Dobrowolski




Teofilo Tostes Danielé poeta e escritor nas horas cheias. Nas horas vagas bendiz o ócio, lê, canta no chuveiro e nas aulas de canto. Nas plenas, conversa com amigos, reúne-se em família, brinca com suas cachorrinhas e é feliz com sua esposa. E em horário comercial é analista de comunicação do Ministério Público Federal. Publicou “Trítonos – intervalos do delírio” (Patuá, 2015) e “Poemas para serem encenados” (Casa do Novo Autor, 2008). Participou ainda das coletâneas “Tabu”  (Oito e Meio, 2017), “Escritor Profissional – Volume 3” (Oito e Meio, 2016), “Antologia Inaugural – Patuscada” (Patuá, 2016), “Di Menor” (Publicação digital na plataforma Issuu, 2015) e “História Íntima da Leitura” (Vagamundo, 2012) – projeto em que também realizou, junto com Paulo Mainhard e Fabiana Turci, um documentário com os autores. Colaborou ainda com a “Enciclopédia de Guerras e Revoluções do Século XX” (Elsevier/Campus, 2004). Tem contos e poemas publicados em revistas literárias, além de artigos em sites sobre arte, cultura e sociedade. Escreve habitualmente em http://teofilotostes.wordpress.com/.

3 poemas de Patricia laura Figueiredo

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circo

no circo dos animais tristes
o mar é um cemitério
onde esqueletos de índios guerreiros
e seus cabelos
amarrados em placas de concreto
boiam

mais e mais todo dia
no burlesco na melancolia
os corvos podem agora voar

que a terra volte a ser a terra
nas sandálias de um imigrante
num  punhal num penhasco
jazz e surrealismo
de novo aos nossos pés

monk e seus 46 baseados
tudo é grito
dos gregos ao monólogo
tudo é cadência
dicção (a primeira das delicadezas)
se fazer compreender
e a mais bela entre elas
o silêncio

diabos saem das poltronas
como no tempo de don juan
moliére e corneille
abrem-se as cortinas
les filles dans le ciel
cavalos como os de forman

se um estrangeiro chega
é preciso que ele se venda
se um surdo fala
ele tem que calar
colagens dadaístas
de moisés a dalai lama

topor e suas vacas negras
morrer de melancolia
partir

porque somos loucos
porque somos sós
e eles são tão numerosos



escuta

esses passos de botas no leste da europa
(os ferros em nossos tornozelos
longe bem longe)

repara como o ódio
a ironia são covardes
falam só pra si mesmos
não escutam
não respeitam
acusam
apontam com dedo
e por trás desse pobre dedo
covardes
se escondem deles mesmos

os tiranos os psicopatas
os perversos os que gritam
os que falam falam falam
esses que odeiam crianças e mulheres
esses “homens”

ouve
o silêncio ensurdecedor dos sinos

quando não se tem mais nada
a dizer
é preciso calar não é assim?
é preciso calar
se calar
e caminhar em silêncio
raspar a pele das batatas molhadas
a carne deixar pros diabos
(os diabos agora a gente sabe
eles caem do céu)
andar andar mais e mais e de novo
rápido e em silêncio

a loucura
desses tempos de ignorância
paralisada na garganta
apertando como cinto
com gana cada criança

preparar meninas fortes
pra um mundo de homens fracos
e cantar até a última gota
a vida a dança a beleza da criança
inteira
que mesmo antes da linguagem
(e por isso?)
sabe dividir
o pão o riso a dança

andar andar e silenciar
construir a liberdade
nesses tempos em que deus mata

escuta
tá ouvindo?
os passos de botas no leste
da europa vindo rindo vindo rindo


poema do sena

vê como mesmo
sob a mais fria das águas

a partícula mais afiada
dessa lâmina impregnada

o desvio preciso
o ângulo do pescoço exato

vê como mesmo
se me desabou assim
esse pacto

se esse desejo
esse segredo
de polichinelo

por mim
aberto e lacrado

(garotos sedentos
às margens do sena)

contato contato contato

vê como do nada
o amor dá de novo as cartas

dança livre e insubmisso
nos whatsapps
nos bares

e eu
sem sede
de poder
nem de palavra

vê como o amor pulsa
pra dor e pro perdão
quando o coração se abre


 Ilustração: pinterest




Patricia Laura Figueiredo (pat lau) entre São Paulo, onde nasceu e se dedicou à poesia e ao teatro desde cedo, e Paris, onde mora desde 1990, amadureceu seus poemas numa vida dedicada a tornar o poema uma experiência essencial. Publicou o seu primeiro livro de poesias, Poemas sem nome pela editora Ibis Libris e seu segundo No Ritmo dAgulhas,em março de 2015 pela editora Patuá. Participou de várias antologias, no Brasil e na Alemanha e também em diversas revistas digitais de literatura e poesia. Seuterceiro livro de poemas foi publicado pela Editora Dasch em 2016:  Poemas Bebês.


 

4 poemas de Lábios-Mariposa de Rosa Maria Mano

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Ilustração: Claire Alice Jean

SEGUNDO MOVIMENTO DO CASULO


Traduz-me. E nem será preciso que me dispas. 
Onde falo a tua língua, já estou nua.

1.       


É um jogo de esconder? Quebra-cabeças sem encaixe? 
Um fogo por baixo, subterrâneo, um gesto descolado, 
deslocado da fala? 
É um pedido, um chamado surdo, gume afiado na espera inútil?
É um ato desnudo onde a saudade goza?
Uma farpa na palma? Um caco na sola? 
Um cravo metido no coração?
E é tão breve o tudo e se alarga o nada, se encolhem as palmas, recolhem, escondidas, entre as coxas, submetidas.
não vivem carícia, não moram em lugar nenhum.
Se eu fosse mentira, acreditarias?
Se fosse um jogo, me decifrarias?
Se o gume da espera me ferisse agora, 
tu responderias, meu amor?
Será?



2.

Pensei num poema aberto, dilacerado, jorrando lua e água de horizonte sobre teus passos
Que criasse borboletas incendiadas, brasas, infinitude, sereias que cantassem a Habanera.
Imaginei um poema descoberto, costas nuas, pernas tontas. 
Uma sangria, um corte. Séquito de estrelas pervertidas, 
o canto de trabalho dos estivadores, das lavadeiras.
O canto de liberdade dos escravos.
Um poema que te buscasse dentro dos sapatos, se metesse nos teus bolsos,
sonhasse sob o travesseiro e fosse o vapor dos teus poros e o doce da tua língua.
Mas, o poema me fugiu, por trás da boca.



3.

Fluxo contínuo, um bocado de vida
me escapa pelas pernas, pelos braços,
palmas, dedos, unhas.
É preciso que eu viva essa tristeza
tão intensamente quanto 
vivi o amor em que a alegria acreditava.
Porque a tristeza acredita em mim tão ferozmente,
que subjuga toda a vontade
com garras de aspartame e aço
e me diz – solta os nervos.
Deixa que viva de ti até que eu seque.
Ou eu te dilacero e devoro
como um aspecto da morte
devorasse teus lábios-mariposa.


4.

No espaço entre o osso e a saia,
me oferto em chamas.
Me vejo nos teus escuros,
archote, raso da noite incendiando o sono.
Nesse vão no meio das costas,
desenhas arabescos de pássaros,
uma centena de musgos,
punhado de rosas amarelas.
Me cobre uma agastada membrana de frio,
quando sinto teus pés num outro rumo,
teu desejo maior de ir embora.
Um cardume poreja no meu ventre,
quando teus dentes se abrem.
E quero sair do medo pela porta dos teus braços.
Apenas tive medo.
Porque não comando a correnteza,
não sou dona do barco, dos fios
que remendam as rosas,
as velas, a costura dos dias.
Ouço, mais uma vez, o som da vida
quando dizes amor na minha língua.






Rosa Maria Mano publicou seu primeiro livro, em São Paulo, uma coletânea de poemas sob o título Fruto Mulher,  com outras poetas. Em 1983,  Xamã, primeiro livro de poesias, individual. Com capa de ElifasAndreato e prefácio de Antonio Houaiss. Participou da coleção Passe Livre, da Cia. Ed. Nacional, com o título Três Marias e um Cometa. Desta coleção participaram nomes como Pedro Bloch, Helena Silveira, Josué Guimarães, Fausto Wolff, Moacir Scliar, entre outros. Também: O Gato, Conto , 1998, D.O. Leitura, São Paulo; Coletânea Prêmio SESC de Poesia, 2000, Editado pelo SESC, Rio de Janeiro; Vento na Saia, poesia, 2015, eBookAmazon/Kindle; Manuscritos de Areia, 2017, pela Coleção Marianas, Ed. Marianas Edições/Bolsa Livro, Curitiba. Premiada no Concurso de Poesia do SESC, Rio de Janeiro, 1999, tendo A Lua Negra em primeiro lugar na fase municipal (Teresópolis) e segundo na premiação final, na cidade do Rio de Janeiro. Ainda, segundo lugar em Teresópolis com Re(s)cendência, no mesmo concurso.  Vencedora do I Concurso de Escrita Criativa, nas três categorias, Editora LiberUm, 2016. Esses poemas pertencem a Lábios-Mariposa a ser lançado nesse ano pela Editora Singularidade. 

Mallarvista 007 - entrevista com a escritora Bruna Mitrano

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coluna mallarvista nr. 007
.:. Chris Herrmann e Nuno Rau .:.




A entrevistada do sétimo número da coluna mallarvista
é a escritora, desenhista e articuladora cultural
Bruna Mitrano:





1-Como você problematizaria a questão da poesia, do/a poeta que escreve a partir da periferia de um país periférico num mundo em que os fluxos de capital são cada vez mais centralizadores? As condições marginais – lugar, lugar de fala, país, tempo - são alimento ou veneno para a poeta Bruna Mitrano?
bm: não estamos mais num único movimento da margem pro centro, que não questiona discrepâncias históricas, sociais, econômicas, culturais. a periferia (do mundo, que seja) quer ser vista e ser reconhecida pelo que construiu no lugar onde está.
o condicionamento é alimento e veneno. nesse caso, não depende da dose, mas de como ingerir. uma pessoa reativa vai entender que é vítima. e é, vítima do sistema. mas isso não basta. é preciso um cadinho de potência ativa. quando digo que só acredito na ação, não é desprezo pela teoria, esta existe em função daquela. se o objetivo é transformar, e o meu é, a única forma é agir, com as ferramentas disponíveis.


2-Ainda a partir da visada estabelecida na primeira pergunta, como você vê o desenho estabelecido pelo diverso painel da produção de poesia na contemporaneidade, e qual sua relação com este campo de forças?
bm: estou tentando descobrir a minha relação.

3-Seu livro “Não” expressa, desde o título, uma negativa, ou seja, uma fronteira política, um estabelecer de posição; isto é perceptível em muitos poemas, ou mesmo todos, e nos desenhos também. O que você poderia falar sobre as premissas de construção deste livro, seus eixos, para onde mira? Qual a relação de seus desenhos com sua forma de escrita?
bm: o Nãoé um improviso, uma junção de poemas [rascunhos, experimentos] escritos entre 2008 e 2016 e desenhos feitos com caneta e giz de cera, tudo muito precário. tem, sim, alguma pretensão de embate, mas não tive a intenção fazer uma denúncia da miséria, como algumas pessoas disseram. se houve um pouco disso, fico feliz - espero que tenha sido da miséria humana geral (risos). os desenhos são independentes, não ilustram os textos. como a querida Nina Rizzi diz no prefácio, eles são poemas também.

4-Você vê um papel da poesia escrita por mulheres, uma escrita de gênero, na redefinição das forças do campo literário e, claro, como decorrência (ou assim esperamos), do mundo em seu todo?
bm: me perguntaram se criar eventos e espaços de publicação só pra mulheres não seria uma forma de reafirmar a segregação. ora, se houvesse uma equidade em espaços mistos, não precisaríamos desse movimento, que é praticamente uma tática de guerrilha (risos). basta googlar os últimos prêmios literários pra constatar que [ou as mulheres escrevem muito mal (NÃO!!!) ou] os critérios precisam ser revistos.
e a coisa fica ainda mais complexa quando as vulnerabilidades sociais se sobrepõem. como moradora da periferia, sempre questiono: quantas mulheres que nasceram e vivem longe das áreas privilegiadas estão sendo publicadas por grandes editoras? isso vale pra mulheres negras, lésbicas etc.
mas por que falar de prêmios e grandes editoras? não sou 'marginal'? eu nunca disse que era nada, disseram por mim. de toda forma, o ponto é outro. uma coisa é você não querer algo ou querer e não conseguir porque, claro, perder é próprio da existência. outra coisa é você saber que perdeu antes mesmo de tentar. muitas vezes, eu sinto que perdi antes de tentar.
lembro que uma das primeiras impressões que tive das pessoas que frequentavam lançamentos, debates etc. é que elas cheiravam a xampu, enquanto eu estava com aquele cheiro de borracha queimada do trem impregnado na roupa. quero dizer, não tem a ver só com a escrita e a gente sabe disso. tem a ver com eu ser mulher, ser pobre, não frequentar universidade, morar 'longe', não ter um corpo padrão e um visual descolado. e isso porque tenho o privilégio de ser branca, vejo pouquíssima mulher negra nesses lugares. existe segregação explícita no circuito literário e eu não vou ficar resmungando sentada. todos os movimentos são necessários, sim.

5-Neste contexto, qual o papel da voz – e, portanto, do corpo, na poesia falada, nos slams das minas, qual a potência que se movimenta por meio disto?
bm: a poesia começa com a voz dos aedos. e é também silêncio, imagem, corpo, morte. uma deslimitação, né? acho importante recuperar o gestual. o perfil_padrão_escritor ainda é aquele do cara (sempre um cara) que não se comunica com o mundo, com o entorno. precisamos dar uma sacolejada nesse estereótipo. gostem ou não, a poesia falada (que tem influência do rap, que tem influência do funk, feita nas ruas) está aí. e ninguém quer enfiar um outro modelo_poeta goela abaixo. substituir padrões é um erro, eles precisam ser extintos. 




não se diz não prum homem
armado até os dentes

o medo do que já aconteceu ainda
é medo?

sangrei no silêncio
nenhum grito de revolta em meu nome

faz dois anos vinte dias dez horas e cinquenta seis minutos que não choro

as pessoas falam
as pessoas sempre falam

mas

nenhuma voz sustenta
ou abate
o corpo violentado.

bm


Foto por Leonardo Lopes



Bruna Mitrano (1985) nasceu e vive na periferia do Rio de Janeiro. É escritora, desenhista e articuladora cultural. Tem poemas publicados no portal Escamandro, na revista InComunidade, na revista Oceânica, no portal Poesia Primata, no Flanzine, no jornal Plástico Bolha, na revista Germina, no portal Mulheres que Escrevem, no jornal Relevo, na revista Gueto, na revista Reversa, no portal Ambrosia, na revista Caliban, na revista Malembe, no jornal O Casulo, na revista Pessoa, na revista Cult online, no blog da Confraria do Vento, no Fórum Virtual de Literatura e Teatro, na revista Tlön, na revista Diversos Afins, dentre outros. Teve textos traduzidos para o inglês no projeto Contemporary Brazilian Short Stories (Califórnia). Escreve na revista Mallarmargens. Participou das antologias Algum vazio nesta paz fajuta (Ed. Edital), Clube da Leitura Vol. III. (Ed. Oito e meio) e Escriptonita (Ed. Patuá). Em 2010, esteve entre os vencedores do prêmio Off-Flip, na categoria Contos. Teve um poema adaptado para o teatro pela Cia. Teatro da Mente. Integrou a exposição Poesia Agora, no Centro Cultural da Caixa/RJ. É autora do livro Não (Ed. Patuá, 2016).





Colunas anteriores:

6 poemas de Rosana Piccolo

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Ira

possível rosto de um tigre
nesse girassol do fogo, quando
a noite é carroça de demônios
e uma horda de rugidos
povoa-me as veias

queimo as mãos ao tocá-la
(essa aparição das chamas)
fera
ou ânfora de cólera
onde perco meus óculos


Copo de borboletas

e bebo um copo de borboletas

a primeira, súdita da névoa
outra me vem com asas de chita
estrelas amarelas
alta patente em asas militares

asas querendo ser braços
procuram colares e camisolas negras no armário
todas da mesma ordem
todas à mesma hora
costuram-me as pálpebras
e me apunhalam com lâminas soníferas


Malleusarboribus

em torno de meia hora
basta a pétala do fósforo
bolhas na pele

basta a árvore
raízes como artelhos retorcidos
donde partem as chamas
e apressadas
e rumo à coroa de plumas acesas

mau pressentimento na dormência
da semente: sardas do fogo
na língua das folhas a praga obscena
surto de gritos

Irritam-se os dedos volúveis da fumaça
formam pentes
pentagramas
gatos negros indolentes
sobre a queimadura das copas

ela tem poderes e poções, é o que dizem
faz do galho ressequido a vassoura apavorante
bonecas alfinetadas

guarda o livro das sombras, é o que dizem
chamuscado por faísca
de um halo de punhais

alumiam demônios, fugitivos
da mata vestida em labaredas
como uma bruxa queimada



Pinças da morte

Quando olhei o mundo lá de cima
vium terrível caranguejo

As patas brilhavam como metralhadoras
cresciam
e cresciam
e cada uma disparando
6.000 relâmpagos
­­­­­­­­­­­­________ por minuto

Ardia na carapaça
uma estrela de Davi
Deformada, é verdade
(o peso das quelas vermelhas de fogo)

Esmagaram duas cidades ________
lavavam panelas, as mulheres
os velhos colavam o ouvido
numa rádio reticente
e se deitavam depois
à luz de velas usadas __________ duas cidades

do cedro
vi queimada a semente
com roupa rasgada partirem anjos
tal flocos de neve       
os pássaros debandaram
­­­­­­­­­­­­­­­­­­menos a dor

pombo retraído sem uma das asas
esse ficou                                       


Estampa africana

Não é o conflito vermelho das aves
com estilhaços do crepúsculo
nem a piscina dos crocodilos
nem a palmeira
ao fio da chuva guerreira
não é a tatuagem no dorso do lagarto
não é estrela, pavão, topázio, olho
de leopardos saciados
não são mangas abrasadas
nem serpentes de canela
apenas a estampa, a canga
da feiticeira senegalesa
que sopra-me a testa, essa ruga séria


Bárbaros

Então chegaram os hunos
inesperados e brutos, quase noite

Não trouxeram arcos
nem peles mongólicas
cavalos nus

mas desenharam tridentes de sangue
o cheiro doce do crime pelo asfalto retorcido 

Não os liderava o Flagelo de Deus*
nem cerveja bebiam, nômades ainda 

Se suas pupilas eram miúdas
e a barba feita de orvalho
se morenos ninguém sabe -- chegaram encapuzados

esfolarem malhas, pontas de cigarro
escapulários

Partiram então
à frente da grama amaldiçoada
e a havaiana gasta dos querubins repórteres



* Átila assim se intitulava.
Ilustração;Chie Yoshii


Rosana Piccoloé publicitária e poeta. Formada em Filosofia, pela USP, e em Jornalismo, pela Fundação Cásper Líbero. Autora dos livros de poemas Ruelas Profanas (Nankin, 1999), Meio-fio(Iluminuras, 2003), Sopro de Vitrines (Alameda, 2010), Refrão da Fuligem(Patuá, 2013) e Bocas de Lobo (Patuá, 2015).Participou de diversas antologias e revistas literárias no Brasil, Espanha e Moçambique

Posse de João Almino na ABL

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POSSE DE JOÃO ALMINO

NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

 
por João Carlos Gomes

   Realizou-se na concorrida e inesquecível noite de 28 de julho de 2017, sexta-feira, às 21h, no Salão Nobre do Petit Trianon na Academia Brasileira de Letras, a posse do Acadêmico eleito João Almino, diplomata e escritor. É potiguar de Mossoró – RN, brasiliense de coração e cidadão do mundo. Nascido em 27 de setembro de 1950, foi eleito em 8 de março de 2017, na sucessão do médico  Ivo Pitanguy para a Cadeira 22. A tão aguardada cerimônia foi marcada por muita alegria e começou pontualmente com a fala do Presidente da instituição, o Acadêmico e professor Domício Proença Filho fazendo saudações de boas-vindas aos convidados, acadêmicos e a chegada do novo imortal à Casa de Machado de Assis.

   Na sequência, João Almino foi chamado e conduzido ao Salão pelos acadêmicos: Nélida Piñon, Cicero Sandroni e Antônio Torres, sendo muito aplaudido pelo grande público. Em seu discurso pautado com muita propriedadee saudosismo, evidenciou momentos importantes de sua trajetória vitoriosa e a relevância do antecessor e demais ocupantes da Cadeira. Depois foi convidado a assinar o histórico livro de posse; na sequência, a espada lhe foi entregue pelo Acadêmico Arnaldo Niskier, a aposição do colar coube ao Acadêmico Alberto da Costa e Silva e o Diploma lhe chegou às mãos através do Acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti

   O magnífico discurso de recepção foi proferido pela escritora, Acadêmica Ana Maria Machado que, com maestria e genialidade, discorreu sobre temas históricos fazendo uma viagem literária ao universo de criação do confrade, desde o nascimento do eleito até a presente data. As considerações finais foram feitas pelo presidente que, logo em seguida, convidou os acadêmicos: Zuenir Ventura, Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça eRosiska Darcy de Oliveira, para conduzi-lo ao espaço onde receberia os cumprimentos e os tantos registros fotográficos. Foi servido um delicioso coquetel; momento no qual foi possível a descontração e os diálogos informais, consolidando uma noite memorável para todos os presentes. Também prestigiaram a posse, os Acadêmicos: Alberto Venancio Filho, Antônio Carlos Secchin, Antônio Torres, Arno Wehling, Candido Mendes de Almeida, Carlos Nejar, Edmar Bacha, Evanildo Bechara, Geraldo Carneiro, José Murilo de Carvalho, Merval Pereira, Murilo Melo Filho e Sérgio Rouanet.

   João Almino traz para a Academia a alta representatividade do ficcionista, do poeta, do ensaísta e tradutor, aliada ao saber e à experiência do diplomata de longo curso. A Casa de Machado de Assis ganha, e muito, com a sua presença” afirmou o Presidente da ABL,Acadêmico e professor Domício Proença Filho.

Mais sobre o Acadêmico:www.joaoalmino.com / www.facebook.com/João-Almino

 
O Acadêmico João Almino entrando no Salão
O diplomata e escritor discursando.
 
Assinando o livro de Posse.
 
Vicente Melo, jornalista e vice-presidente da AVL – Academia Volta-Redondense de Letras e o Acadêmico empossado.
 
O Acadêmico Evanildo Bechara com Jean Carlos Gomes
 
Geraldo Carneiro, Carlos Nejar, Antônio Pedro e Jean Carlos Gomes.
A Acadêmica Nélida Piñon e Jean Carlos Gomes.



* Fotos: Acervo da PoeArt Editora







    
   
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