poemas duma guerra perdida
as cinzas __________________________________________
● o terror o terror so pode ser quebrado ● ● pelo terror quando se espalham as cinzas ● ● essas essas mesmas q não nascem do fogo ●
● não bastam as palavras nem as fogueiras ● ● muito menos as laminas nem a tortura ● ● inda menos as panelas q se deformam ●
● so as cinzas espalhadas as cinzas as cinzas ● ● q vieram sem o fogo q vieram do medo ● ● vieram do terror o terror q se propaga ●
● sim so as cinzas sem o fogo o fogo ● ● as cinzas puras as cinzas q purificam ● ● as cinzas do terror as cinzas o terror ●
● so quebrado pelo terror das cinzas ● ● sem o fogo o terror pleno branco e duro ● ● q se torna ele mesmo as cinzas as cinzas ●
● essa a grande fonte a grande razão ● ● rios de cinzas oceano q encontra mares ● ● de cinzas q a tudo devora sem fome ●
● nada mais devemos ao fogo agora temos ● ● as cinzas q não vieram do fogo o fogo ● ● as cinzas q pariram as cinzas as cinzas ●
● o tempo do fogo passou e não voltara ● ● o deserto das cinzas chama chama e vem ● ● nada maior nada mais forte q as cinzas ●
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● as ratazanas chegaram ● ● com elas seu deus perverso q mata o filho ● ● devorando multidões com gula e desejo ●
● as ratazanas chegaram ● ● com suas montanhas de dinheiro roubado ● ● do suor de todos os tolos de todos os idiotas ●
● as ratazanas chegaram ● ● trazendo medalhas pros togados pros diplomas ● ● pros codigos pras honras pras ordens do dia ●
● as ratazanas chegaram ● ● porisso esse gozo no ar essa alegria essa festa ● ● essa quantidade de comida monstruosa e gorda ●
● as ratazanas chegaram ● ● elas agora tomaram todos os lugares e faces ● ● todos os dentes e risos todos os dedos e horas ●
● as ratazanas chegaram ● ● como sempre chegam depois do sumiço ● ● onde cavam seus tuneis suas salas seus pulpitos ●
● as ratazanas chegaram ● ● como se nunca tivessem ido embora e agora ● ● tudo não apenas é delas como tudo são elas ●
● as ratazanas chegaram ● ● com elas as palavras as ideias o silencio o ar ● ● q so elas criam so elas procriam e todos adoram ●
● as ratazanas chegaram ● ● com elas o piano o gramofone a guilhotina ● ● a geleia de morango a marmelada o vinho doce ●
● as ratazanas chegaram ● ● nada mais podemos fazer porq agora somos ● ● as ratazanas essas q sempre fomos e nossa vida ●
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● desde q picharam nos muros ● ● a desordem violenta é a grande ordem ● ● temos nos escondido como gatos ●
● temos mandado mensagens sem sentido ● ● em todas as direções e não compreendemos ● ● as respostas nem se devemos responder ●
● ha um silencio q se alastra ● ● q tem congelado nossos ossos e linguas ● ● muitos de nos perderam dentes e unhas ●
● pra nos inda não amanheceu e essa noite ● ● não passa não termina não deixa um sol ● ● normal vir tomar conta do mundo ●
● ha entre nos uma fome descontrolada ● ● como se tivesssemos aqui ha meses ha anos ● ● decadas e vidas e milenios de medo ●
● mas é impossivel q tudo tenha começado ● ● apenas com aquelas pichações dizendo q ● ● a desordem violenta é a grande ordem ●
● as palavras não possuem essa força ● ● as palavras são coisas mortas e frias ● ● as palavras tão dominadas desde antes ●
● mas como não sabemos de nada ● ● talvez morramos todos como gatos ● ● envenenados nessas tocas escondidos ●
● precisamos mandar mais mensagens ● ● em todas as direções talvez cheguem ● ● respostas com algum sentido ●
● mesmo com o silencio q se alastra ● ● o mesmo q congela nossas linguas ● ● com certeza nem tudo ta perdido ●
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● temos dançado a beira desse lago ● ● desde antes da terceira guerra e bem antes ● ● como sabem todos q dançam dispostos ●
● na beira desse lago todo dia as 5 em ponto ● ● da tarde como manda a tradição e a ordem ● ● porq se não fosse a ordem ?pra q dançar ●
● desde a primeira vez e sem acordo ● ● vamos nos aproximando do lago e de mãos ● ● dadas começamos a levantar as pernas ●
● primeiro a esquerda lentamente e a direita ● ● fincada no solo como se fosse uma coluna ● ● tambem lentamente mudamos as pernas ●
● segundo a direita vai subindo ao ar ● ● enquanto a esquerda fica fincada no chão ● ● como a boa e velha arvore da lei ●
● na lentidão desse trocar de pernas ● ● os braços as mãos os dedos sem cessar ● ● vibram violentos como numa tempestade ●
● esses movimentos lentos e violentos ● ● nos curvam todos a essa grande atmosfera ● ● sem cessar continuamos a dançar ●
● velhos jovens ate mesmo alguns cães ● ● q aprenderam a nos imitar e os doentes ● ● os quase mortos não perdem nada de nada ●
● pois nessa dança damos lentamente a volta ● ● ao lago q é o corpo da nossa terra beijando ● ● sua alma com desejo e profundo respeito ●
● nessa volta honramos as tradições e deus ● ● ta sempre conosco ali ao nosso lado ● ● como tambem tudo q vale e pena ●
● tudo q é branco lucido racional e puro ● ● cantando numa mesma voz verdadeira ● ● q somos aquilo q so nos podemos ser ●
● ate a meia noite quando voltamos ● ● felizes plenos e satisfeitos com confiança ● ● no q fazemos na mais rara esperança ●
ruas __________________________________
● ha sempre cães mortos pelas ruas ● ● vc sabe q isso não faz bem a nenhum de nos ● ● sabe bem demais q esse cheiro de cães mortos ●
● invade os sonhos invade o sangue invade tudo ● ● ate não restar nada mais q cães mortos ● ● desde os ossos pela carne ate a pele ●
● depois vc vem dizendo q bastam os dias ● ● basta a limpeza publica os carteiros os poetas ● ● todos os corneteiros da nossa cidade ●
● não é verdade vc sabe isso bem demais ● ● mas fica sentado mandando mensagens vazias ● ● sabendo q ninguem vai receber nenhuma delas ●
● enquanto isso não se consegue andar ● ● pelas ruas da cidade sem chutar cães mortos ● ● sem bater os pes nessa carne morta carne mole ●
● carne q apodrece porq vc não se move ● ● vc não faz o q é preciso fazer não faz nada ● ● enquanto todos nos passeamos nus pela cidade ●
● com esse gosto de cães mortos na boca ● ● como se tivessemos mastigando cães mortos ● ● como se cada um deles tivesse na nossa boca ●
● sob nossa lingua q lambe essa carne de cães ● ● todos eles mortos pelas ruas da cidade ● ● tudo isso vc sabe sem fazer nada ●
● sabe tanto q fica rindo fica gargalhando ● ● enquanto cada um de nos chuta e mastiga cães ● ● mortos pelas ruas da cidade ate q os ossos ●
● dos cães mortos pelas ruas da cidade ● ● surjam como pedras pontiagudas q nos ferem ● ● q envenenam nosso sangue so pra vc gargalhar ●
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● de quão baixo nos vem esse poder ● ● q o cu aparece em sua pequenez ● ● fazendo invertido o q mal nos diz ●
● cagando as terras tão cultivadas ● ● q nenhuma flora suporta e degenera ● ● q toda fauna morre logo sufocada ●
● bastam as ondas de merda nos o mar ● ● q não se revolta nem se alucina ● ● se mordendo sem se saciar ●
● o q o mar deseja sendo de merda ● ● é um cu bem maior q esse dagora ● ● q o poder so precisa dum cu imenso ●
● mesmo q seja assim de ratazana ● ● desejando mais mais e todo queijo ● ● se cagando desde o bom momento ●
● pois assim sabemos ser o poder ● ● sabemos todos o poder do pobre cu ● ● das ratazanas q pelo queijo vendem ●
● a mãe matam o pai comem os filhos ● ● tudo isso é tão baixo q fica a mostra ● ● o pobre cu seus trombos e cobiças ●
● cagando a vida tão cultivada ● ● q nenhuma ideia suporta e degenera ● ● q todo brilho fenece logo sufocado ●
● nem porisso falta festa falta feijão ● ● q um cu assim pleno e conquistado ● ● alegra ate quem não tem cu e vende ●
● o cu a varejo vende no seco vende ● ● no molhado q um cu desses assim ● ● é pra se vender não pra se gozar ●
● eis o nosso belo rei tão bem vestido ● ● mas basta ele se voltar e vemos ● ● tão miudo o cu da ratazana ●
● o mesmo cu q todos agora imitam ● ● pois mais uma vez a corte não vive ● ● sem um cu desses ralo e real ●
● pois não precisam mais nem de voz ● ● nem de palavras ou escrita assim ● ● tudo se distancia e zurramos ●
● olhem a bela vista aqui de baixo ● ● pois alem do cu do nosso rato rei ● ● ha sempre nosso medo companheiro ●
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● eis a hora das tartarugas● ● ouvimos ano passado entre os predios ● ● como podiam ser outras palavras atentamos ●
● mas se repetiu o eis a hora das tartarugas● ● com mais força mais nitidez e violencia ● ● como uma coisa dura e muito viscosa ●
● então começaram a surgir as tartarugas ● ● pelas ruas pelas praças pelas pontes ● ● tartarugas aos montes nas praias ●
● tartarugas pelas salas pelos banheiros ● ● tartarugas ao nosso lado na cama ● ● tartarugas professores e porteiros ●
● todas sempre sobre avestruzes ● ● como se guiassem os avestruzes alem ● ● sempre mais alem dizendo eis a nossa●
● hora a hora das tartarugas pros avestruzes ● ● atentos sempre atentos demais eu diria ● ● mas agora q somos todos tartarugas ●
● tartarugas sobre avestruzes ● ● vivo escondido aqui no esgoto ● ● onde posso comer restos de cozinha ●
● eu os ratos e muitas baratas ● ● ja q esses mortos q começam a surgir ● ● dos esgotos deixaram de ter fome ●
● porisso mesmo como tudo q posso ● ● senão essas tartarugas nesses avestruzes ● ● virão berrando agora vamos a la mierda●
● e saberei q esse mierda sou eu ● ● e se não como não terei força pra fugir ● ● pra outro esgoto enquanto berro ●
● pras baratas e pros ratos ● ● ser somente um mierda foi o q quisemos ● ● agora é tarde porq é sempre muito tarde ●
● porisso é preciso qeu me torne logo ● ● fungo ou duende senão as tartarugas ● ● me comem o esgoto não vai me valer ●
● preciso ser um rato como os ratos ● ● baratas q roem os labios a lingua os olhos ● ● dos mortos q chegam rindo sem cessar ●
● dos mortos q inda vão atracar ● ● é preciso devorar logo todos os mortos ● ● antes q as tartarugas cheguem ●
● nos seus avestruzes rindo e gritando ● ● agora vamos a la mierdanão ha tempo● ● a perder e tenho q ter forças pra fugir ●
● so não posso ficar dizendo ● ● pra ratos e baratas gritando nos esgotos ● ● sou mierda sou um mierda um mierda●
● porq senão logo logo me transtorno ● ● numa tartaruga e saiu em busca do meu ● ● avestruz entrando na canção da manada ●
● berrando como todos não aconteceu nada● ● não aconteceu nada não aconteceu nada● ● foi o sol q brilhou a lua a lua sempre a lua●
● então sobre meu belo e forte avestruz ● ● sem ser mais mierda poderei eu então cantar ● ● com a manada nada nada nada nada nada●
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● as hienas entram ● ● pelas janelas ● ● as portas tão fechadas ●
● elas arrombam ● ● as portas ● ● nos agarram pela nuca ●
● pela garganta ● ● elas devoram nossas linguas ● ● devoram nossos olhos ●
● nossas orelhas e narizes ● ● elas devoram a ponta ● ● dos nossos dedos ●
● elas adoram mastigar ● ● nossos pes ● ● nossas pernas●
● o figado ● ● a porra ● ● dos pulmões ●
● a porra dos nossos dentes ● ● e unhas ● ● como se come doces ●
● como se come geleia de figo ● ● elas sabem onde morder ● ● sabem onde ferir ●
● sabem bem demais ● ● nos cercar ● ● nos possuir e mascar ●
● comer nosso sexo ● ● com gula riso e ganancia ● ● elas correm ●
● gargalhando ● ● por cima dos telhados ● ● correm pelos muros ●
● pelos corredores ● ● correm pelas ruas ● ● como se fossem cães ●
● fossem gatos e ratos ● ● e devoram ● ● porteiros ●
● motoristas ● ● vendedores de cocada ● ● dormindo sob nossas camas ●
● dormindo ao nosso lado ● ● entre travesseiros ● ● lençois e cobertores ●
● de repente mordem nossa face ● ● toda noite elas cantam ● ● entre predios e casas ●
● cantam sobrias e bebadas ● ● ruidosas nas praças ● ● e se reunem ●
● nas pontes devorando ● ● os q não conseguem fugir ● ● depois desse tempo ●
● somem ● ● como se tivessem ● ● escondidas ●
● pra dormir satisfeitas de nos ● ● esperando ● ● a fome duma nova hora ●
● doutra hora bem nossa ● ● mas sempre reaparecem ● ● pra nos apavorar ●
● pra nos perseguir ● ● pra nos consumir ● ● pra tomar ●
● conta do nosso mundo ● ● como se fossemos merdas ● ● depois de todo esse tempo ●
● ja sabemos q somos nos ● ● q precisamos das hienas ● ● pra nos devorar ate nos ●
● esquecermos de nos ● ● e da nossa ferida ● ● a qualquer momento ●
● as hienas sempre retornam ● ● se não for agora ● ● se não for nesse tempo ●
● agora sim ● ● sera ● ● e se não for agora ●
● entrarão nos devorando ● ● assim mesmo ● ● entrarão por nossas portas ●
● nos morderão a nuca ● ● a garganta ● ● enquanto devoram ●
● nossas linguas ● ● pra esquecermos a ferida ● ● a ferida ●
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● cria cuervos sim cria pois teus olhos alimentam ● ● teu coração alimenta tua carne alimenta demais ● ● alimentam inda mais tuas palavras tua loucura ●
● cria de todas as cores esses cuervos verdes ● ● brancos azuis cuervos amarelos e furtacores ● ● cria cuervos enquanto resta musculo e viscera ●
● sim cria cuervos desses q falam e rosnam ● ● cria pois são mais sabios q automatos e gente ● ● cria desses q sonham desejam prometem traem ●
● cria cuervos como quem cria filhos ou amigos ● ● cria sem querer não criar cuervos cria apenas ● ● sim cria cuervos dentro e fora do teu quarto ●
● cria nas salas nos quintais nas camas e mesas ● ● cria nos banheiros nas cozinhas na garagem ● ● cria cuervos na tua espera e no teu futuro ●
● cria cuervos no passado cria cuervos agora ● ● cria cuervos com livros com imagens cria ● ● cria cuervos como quem inventa um mundo ●
● cria cuervos o tempo todo e no nada tambem ● ● cria e vai criando teus cuervos como sementes ● ● cria nesse deserto ridiculo cuervos de pedra ●
● cuervos de caramelo cuervos de açucar de mel ● ● cuervos de madeira cuervos de paixão cuervos ● ● de amor cuervos de amizade cuervos de merda ●
● cuervos de insonia cuervos de ceramica cuervos ● ● em figura de laranjas de mulheres de crianças ● ● de cães de gatos de operarios devorados e nus ●
● em forma de aves de leão de sapo ou inseto ● ● cria como quem não sabe criar outra coisa ● ● cria cuervos nas tempestades nos invernos ●
● cria cuervos nos verões e nas primaveras todas ● ● cria cuervos noite e dia hora a hora cria cria ● ● cria teus cuervos sem susto sem medo cria ●
● cria cuervos sem esperar mais q criar cuervos ● ● cria e um dia quando menos esperar cria ● ● mais cuervos multidões de cuervos manadas ●
● de cuervos enxames vivos de cuervos cria ● ● caravanas de cuervos cria cardumes de cuervos ● ● cria partidos bandos nuvens de corvos cria ●
● cria cuervos enquanto o matadouro não chega ● ● enquanto todos os cuervos não findam de comer ● ● teus olhos tua lingua teu figado tuas mãos teu cu ●
ao redor do ovo podre ___________________________________________________________
● agora q mataram o cão agora q rangem os dentes ● ● se reunem feito carneiros uns nus outros doentes ● ● outros arrastando pedras outros lambendo o chão ●
● vcs sabem q abrimos o esgoto agora ficam olhando ● ● minha barriga cabeluda meu pau cortado no talo ● ● como se não soubessem q o saco apodreceu e eis ●
● q agora chegam todas vcs nuas e raivosas e meu pau ● ● não pode mais fazer nada e vcs sabem e vcs querem ● ● q inda seja o mesmo pau de sempre e faça o mundo ●
● nem esse abismo entre nos vcs gritam vcs gozam ● ● sim nem mesmo esse abismo entre nos é possivel ● ● alem do q criamos porisso não apontem os dedos ●
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● desde q ulysses veio com aquele arco da porra ● ● nos vexando diante de itaca diante do filho idiota ● ● desde esse dia quando nos tornamos essa merda ●
● gritam nos meus ouvidos o caralho a 4 e bem mais ● ● como se fosse eu so eu e não essa canalha de servos ● ● q devem decorar o sacrificio do rabo ate a cabeça ●
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● gravidos querendo arrancar dos meus cabelos ● ● cada um dos filhos q destrui dos filhos q matei ● ● dos filhos q matamos e comemos e sabem disso ●
● porisso tramam jogando cartas porisso dançam nus ● ● porisso as armas o dinheiro os minotauros o olhar ● ● visguento das medusas o saque dos porcos e ratos ●
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● agora beberão o fluxo velho do esperma podre ● ● coisa indigna esses cus em fila esperando serem ● ● lambidos ate jorrarem sua merda de sempre ●
● ?quem gritou eu sou meu pai meu avo e a porra ● ● viva ta se fudendo ?como podem ver beleza ● ● no horror ?sintam o cheiro da merda q vem ●
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● depois q cortaram nossos caralhos minhas filhas ● ● q nossos sacos apodreceram e todos cairam não ha ● ● pra nos povo castrado um lugar nas festas do futuro ●
● porisso trabalhamos como zumbis acordando idiotas ● ● sem saber onde acordamos e ?q ninhada é essa ● ● ?por q nos estrangulam !nos estrangularam sempre ●
● todos os cadaveres q plantamos colhemos agora ● ● todas as covardias todas as servidões e a merda ● ● agora jorra como petroleo e trazem seus canecos ●
● na noite q começa ha um imenso cu entre as nuvens ● ● negras e abertas deixando vir do inferno nossa burrice ● ● qualquer dia desses vcs me culpam disso tambem ●
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● bem vindo senhores a essa grande cultura biblioteca ● ● q carrega todos os saberes da covardia seus pulhas ● ● mas havera sempre o puro manjar o hidromel na taça ●
● mesmo com esse gigante de merda sempre dormindo ● ● bando viciado de servos eu digo e repito mesmo nu ● ● com o caralho arrancado na cara de vcs caralho sim ●
● q tramam em volta dos mercados fabricas e bancos ● ● infinito de todas as coisas e inda olham pro meu vazio ● ● vcs deviam se envergonhar assim tão funcionarios ●
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● andar sobre cranios com cabeças gritando no lugar ● ● dos caralhos e das xotas rinchando ?eis então a nudez ● ● metam a chave no cu berrarão servos entretramados ●
● a cabeça q sai e grita do meu vazio vomita e muge ● ● pode ser espumante ou um vinho doce um vinho leve ● ● enquanto olho essa nudez dura de peitos e coxas sim ●
● vcs fogem vcs se acovardam como sempre escravos ● ● eu não eu apenas me embriago e os bebados são livres ● ● vcs caranguejos vivem voltando e entrando no buraco ●
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● toda noite tenho eu um sonho assim com o pau decepado ● ● o minotauro caga na entrada o minotauro caga na saida ● ● o minotauro caga no centro do labirinto o minotauro ●
● esfrega o rabo dias e noites nas paredes do labirinto ● ● na escuridão do labirinto entredevorando outros e outros ● ● labirintos com inumeraveis minotauros q não se batem ●
● so ha merda nos corredores merda nas paredes merda sim ● ● depois ossos depois restos de carne depois dentes unhas ● ● corações figados baços pulmões pernas braços linguas ●
● cabeças bundas caralhos armas roupas semidevorados ● ● ao redor desses labirintos rios ruas e praças destruidas ● ● cidades e brasas e eu acordo mascando merda e fuligem ●
●
● mas podemos nos ouvir um segundo enquanto a senhora ● ● pega o vazio do meu pau e vc pensa em xotas e o resto ● ● fica escutando paralisado como sempre o desejo ●
● so não me amarrem como fizeram com aquele idiota ● ● no mastro q belo mastro e as sereias de gesso derretiam ● ● nos rochedos e os marinheiros batiam punhetas inuteis ●
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● agora venham vamos caminhar pra tras como caranguejos ● ● depois vamos entrar nos buracos de lama dos caranguejos ● ● la dentro ha sempre uma merda qualquer pra chupar ●
● agora sempre agora porq não ha antes ou depois ● ● não ha nem aqui ali nem acola é tudo o mesmo lugar ● ● lugar nenhum so esse mar de merda e porra podre ●
● mas não se enganem porq tudo passa e se volta sempre ● ● pros mesmos enganos pras mesmas loucuras e vazios ● ● como se houvesse um mundo um deus uma historia ●
● como se houvesse um corpo uma coisa a lei a vida ● ● ?pois não é sempre a mesma merda ?ou é outra e outra ● ● a merda de sempre isso q nos enraba sem querermos ●
●
● podemos vender farinha vender cocaina vender o cu ● ● podemos nos reunir e vender mães e criadas negras ● ● ?não é sempre assim meus amores sempre de sempre ●
● agora a reunião dos machinhos com as femeas ● ● no centro esperando parir filhotes porq deve ser assim ● ● ?quantos servos ?quantos animais ?quantos trabalhos ●
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● vão terminar me enforcando cortando minha lingua ● ● me fazendo ouvir uma vez mais toda essa bosta ● ● q vcs repetem desde q nasceram nas estribarias ●
● todos nos bares cercados entulhados de cervejas ● ● cabeças e brasas caralhos minusculos cheiro de merda ● ● vindo do mundo o mundo é uma merda alguem diz ●
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● ciclopes de merda no circulo dos ciclopes de merda ● ● ?q adianta essa zona esse puteiro se aqui ninguem goza ● ● se ate os q dizem gozar mentem e rastejam ratuinos ●
● basta olhar hefestos sentado na privada cagando fogo ● ● vejam se isso não se parece com o resto da idiotice ● ● vejam se não é uma privada onde se caga fogo e grita ●
● sim ?por q vcs acham q hefestos grita porq é um porco ● ● porq é um de nos porq é o deus do inferno ou tudo isso ● ● berra sua bela e gostosa mulher nos esfregando a chave ●
● mas não ha chave pra isso não ha misterio algum ● ● nadinha nos livros na alma nadinha na pele so a lingua ● ● aqui é o mundo todo todos os corpos q fedem a merda ●
●
● nem bem netuno nos lambe a pele cheirando nossa carne ● ● pra vcs se oferecerem como putas como mercadorias ● ● por tão pouca beleza por tão pouca vida pouco valor ●
● agora é sentar na beira da praia esperando o peixe ● ● enquanto a cobra suga nosso sangue sanguessuga ● ● isso sim ela todos nos todos vcs de pau e grilo mole ●
● enquanto a massa dura dos servos reune as cordas ● ● sim senhoresputas e senhoras desse pouco lugar ● ● pra nos enforcar pra nos punir pra nos ensinar ●
● assim senhoras e senhoresputas antes de nos lascar ● ● vamos todos rir e dançar como gostamos porq sem ● ● carnaval cerveja e porra nenhuma não somos nada ●
Alberto Lins Caldas publicou os livros de contos “Babel” (Revan, Rio de Janeiro, 2001), “gorgonas” (CEP, Recife, 2008); o romance “senhor krauze” (Revan, Rio de Janeiro, 2009) e os livros de poemas "No Interior da Serpente" (Pindorama, Recife, 1987), “minos” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2011), “de corpo presente” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2013), “4x3 - Trílogo in Traduções” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2014 - com Tavinho Paes e João José de Melo Franco), “a perversa migração das baleias azuis” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2015), “a pequena metafisica dos babuinos de gibraltar” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2016).
Imagem - Guerra Civil Espanhola | Foto: Gerda Taro
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