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5 POEMAS DE ANDRÉ LUIZ COSME LADEIA

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1)
Início

... E não havia nuvens
E não havia homens
O mar reinava absoluto

E não era possível
Distinguir o que era céu
Do que era mar
— E tampouco
Onde começava um
E onde terminava o outro —
Porque as distinções
Ainda não existiam.

E não havia deuses
E não havia homens
A linguagem não podia nos aprisionar
Porque ela também não existia

E não havia papel
E não havia tinta
E os poetas sequer existiam
E não havia nada mais
Do que já não existia por aqui

E apesar de não haver
Nuvens, homens ou deuses
E apesar de não haver papel,
Tinta ou poetas
O mundo não era um lugar triste
Porque havia o mar
E havia a poesia
E a poesia era tudo.




2)
Berço do Príncipe Imperial Eugène-Louis

Se não fosse pelo fato de o berço
Ser como qualquer outro berço

Se não fosse pelo fato de o menino
Ser como qualquer outro menino

Se não fosse pelo fato de a coroa
Estar suspensa pelo rei
E os anjos guardando o sono da criança

Eu diria que seria um berço qualquer

Mas não.

O berço, o trono, o quarto
Estavam
Vazios.




3)
 Wabi-Sabi - Oceanário de Lisboa

Por mais belo
E confortável
Que possa ser

Por mais aprazível
E próximo ao habitat
Se possa reproduzir

Um aquário
Será sempre
Um aquário

Uma hora
Os peixes
Vão se cansar
Dos espelhos refletidos
Das mentiras
Da floresta subaquática

Uma hora
Os peixes
Vão se cansar
Dos sons
Vindos
Das máquinas
Fotográficas

Uma hora
Os peixes
Vão se cansar
Dos pseudossons 
Da natureza
E dos 78 troncos
De árvores
Da Malásia.

Uma hora
Os peixes
Vão se cansar
Das nossas caras.




4) 
Imperador

A música do imperador
Dizem
É conhecida em toda a Europa

Os estofados
As lantejoulas
As alcovas
São conhecidas em toda a Europa

Dizem que o imperador acorda cedo
E recebe a todos que queiram lhe falar

Dizem que o imperador
Deu um castelo para sua amada

Dizem tanto
Falam tanto
Do imperador
Que é como 
Se ele ainda
Existisse
Como se ele
Ainda
Estivesse vivo




5) 
Poema feito na estrada

Que tristeza ver as cruzes com flores pelas estradas
As borboletas voando 
Sem vento
As folhas paradas
Que tristeza ficar
Pelas estradas



*    *    *




André Ladeia é poeta e procurador municipal. Autor de Suave como a morte (Penalux, 2014) e Alçapão (Oito e meio, 2016). 














4 POEMAS DE FERNANDO JOSÉ KARL: JAZZ HIDRÁULICO

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Imagem: Fernando José Karl

A BARCA DE CRISTAL

Sei que adubo a neblina ao nevar na neblina
a casca de um pensamento.
Se com afiada faca degolo a garganta do pensamento,
do corte fogem músicas em bando.
Ligo o rádio, amasso o pão, cultivo plantas fumegantes
no tombadilho da barca de cristal que nasce da noite escurenta.
Da amurada da barca de cristal,
contemplo a solidão das baleias narvais que afundam.
Já morri, eu sei, mas ficou de mim, nas tábuas do convés,
o sopro de uma sombra cansada de ser sombra.
Após algum tempo,
até a sombra da barca de cristal torna-se um cristal.
E a colmeia se ampliando na piscina angulosa da retina.

JAZZ HIDRÁULICO EM CORINTO
(Ka'a sí'ijil t'an: voltar a nascer a voz)

De novo me entrelaço aos ossos que são relâmpagos
naquela noite escura que eu chamo de meu corpo.
De novo volta a nascer a palavra
guiada pelo astrolábio da agulha de marear.
O labirinto flui incessante jazz hidráulico em Corinto,
e dentro de nós o frescor da água no barro da garganta.
Nos aquários que respiram na parte mais funda dos oceanos,
sorvo um jarro d'água
em nome do coração das mulheres vulcânicas.
Parado na luz,
o vento lê o meu futuro nas folhas de chá.
Porque te amo,
naquele recanto abandonado dos fiordes
eu deito na cama entre fevereiro e inverno.
Porque sem ti não consigo respirar,
observo na cozinha o besouro no prato branco
que sonha seu inútil sonho de ser,
algum dia,
um golfinho.

O GANZÁ DAS RÁFAGAS

O túmulo, como um cão raivoso, se esmera em acossar
o instante de lucidez de Cavaal de la Bruta que,
mesmo caindo no abismo,
não esquece de se lavar com sabão de erva fina e água de cheiro.
Enquanto despenca no abismo,
Cavaal de la Bruta pensa num modo prático de aperfeiçoar o ganzá das ráfagas,
e reza no terço para que a secura dos cascalhos diminua.
Durante sua queda no abismo,
Cavaal de la Bruta sorve o chá verde da xícara de porcelana,
entoa na garganta o manso croar das rãs,
escuta os rudimentos do suntuoso vendaval nas folhas das palmeiras.
Cada vez mais próximo do chão,
Cavaal de la Bruta baixa as pálpebras para não ver o baque nas pedras:
de olhos fechados, Cavaal de la Bruta substitui
a palavra baque pela palavra chuva.

O ZANGÃO

Se o leitor de um texto nada mais é que um cisne tenebroso,
eu não quero ser o Rei dos Mortos,
mas, como disse Aquiles a Odisseu,
quero ser o pastor mais pobre da terra.
Se o caqui é tão intenso quanto o Arraial do Cabo
e o zangão
tão surpreendente quanto o mel,
se o pente de tartaruga é tão intenso quanto as escamas do lagarto
e a fronha do travesseiro
tão surpreendente quanto as lianas do bosque,
se o búfalo é tão intenso quanto o véu de Ísis
e a cópula furiosa dos galgos de El Greco
tão surpreendente quanto o Convento das Carmelitas Descalças,
se o único desejo é ser – não eterno –
mas a música de um grafismo de Paul Klee,
só me resta acrescentar aqui
o texto de Jorge Luis Borges citando Enrique Banchs,
num ensaio sobre Gôngora:
“Como é seu dever mágico dão flores as árvores”.
Todas as coisas foram feitas por meio da palavra,
e, sem a palavra, coisa alguma foi feita de quanto existe.
Visto por esse ângulo, também foram feitas por meio da palavra
as coisas a seguir: xícara, aqueduto, quartzo, baleia azul, prego, abismo, avenca, arroz, Confúcio, Hitler, mel, urina, música de Bach, veneno da mamba negra, violoncelo, calabouço, biombo, água, Taj Mahal, fezes, ácaro, gânglios, latrina, termas de Caracalla, o peixe Capelo (Synaptura lusitanica), o aquoso das plantas, manta de algodão, chá do Ceilão, mantras de Aruanda,
arrozais da China, hieróglifos, um lápis na península, cachaça, a voz da Sibila.
A palavra nunca se reduz a um bibelô de inanidade sonora,
porque a palavra deseja sempre ser a carne
daquilo que está sendo pronunciado.
A voz da Sibila
toca o vento
para tocar o meu ouvido.

Fernando José Karl (Joinville/SC) é autor, entre outros, dos livros “Teares de pedra” (Prêmio Emílio Moura/MG/1992); “Diário Estrangeiro” (Prêmio Cruz e Sousa/1996/); “Travesseiro de Pedra” (Prêmio Cruz e Sousa 1997); “Breviário” (Prêmio da Biblioteca Nacional/RJ /2001); “Brisa em Bizâncio” (Travessa dos Editores/2002); “O livro perdido de Baroque Marina” (Prêmio Cruz e Sousa 2010/Categoria Romance) e “Casa de água” (25 anos de poesia, 2009). Em parceria com o cineasta Alceu Bett fez os roteiros para os filmes de “As mortes de Lucana” (2013), “O aquário de Antígona” (2016) e “O voyeur” (2016). No facebook publica “O elixir das linhas”, um acervo com seus desenhos e pinturas

3 poemas de "O coração range sob as estrelas" - Lila Maia

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Ilustração: deviantART



OUTRO OLHAR

O menino usava óculos,
mas chutava pedra como se fosse bola.
Sua raiva crescia feito árvore velha.
Nunca conseguia jogá-la escada abaixo.
Um dia ouviu o apito longe do navio.
O desejo de conhecer o mar foi mais forte.
Não sabia nadar.
Então pegou o lápis,
e fez o mar que sentia bem dentro dos olhos.
À medida que ia conhecendo as águas,

guardava a raiva nos bolsos.



UMA CERTA AVÓ

Capaz de dividir o pequeno brigadeiro por cinco.

Seus olhos de tão azuis permitiam
que as histórias tivessem um final feliz.
Imitava o bem-te-vi com tamanha perfeição,
até hoje desconfio que virou passarinho.

Aquela avó tinha gosto de tudo que é bom.



CONJUGAÇÃO

Teu nome foi um verbo.
Sabia que conjugava amor.
Por isso, tentei ser um pretérito mais-que-perfeito.
Tu foste infinitivo demais para o meu gosto.
Nos perdemos de um modo tão subjuntivo.

            


LILA MAIA, poeta maranhense, vive no Rio de Janeiro. Desenvolve trabalhos na área de literatura fazendo a leitura crítica de textos: poemas, crônicas, contos, romances. Publicou três livros de poemas: As Maçãs de Antes – vencedora do Prêmio Paraná de Literatura 2012 - Prêmio Helena Kolody de poesia, Céu Despido (2004) - prêmio de publicação como vencedora do II Prêmio Literário da Editora Scortecci (SP), e A Idade das Águas (1997). Ganhou os prêmios literários com os textos Caixa de guardar Amor (infantil) – Universidade Federal de Goiás (2014)  O Coração range sob as estrelas(juvenil) – Universidade Federal do Espírito Santos (2015).

3 poemas do ciclo "como afiar pregos em casa" de Flavio Caamaña

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Francesco Scavullo
GIA

eles capturaram uma mulher tão linda quanto um sol
uma mulher com dentes refletindo no escuro
uma mulher de cabelos rasgados de vento
e na voz dessa mulher o som desconhecido
de uma palavra selvagem numa jaula

que mulher rara e que olhos estranhos:
colocaram-na num pedestal e lhe deram asas
forjaram para seu corpo uma armadura e um escudo
amarraram sapatos de chumbo aos seus pés

multidões e multidões queriam ver o seu rosto
e elegeram que essa mulher seria do mundo
uma mulher capaz de causar um surto
de tocar os sujos e torná-los fecundos

uma mulher de pó e de sonho
de agulhas fiadas por todos os poros
com amores esperando o ritual da foice
contra o seu sexo um leão que afronta
de encontro a sua alegria a planta carnívora

e perceberam um dia que ela não tinha mais luz
cortaram-lhe os cabelos e os seios
jogaram maldições e feitiços em seu útero
acenderam fogueiras para afastá-la da vida
quebraram espelhos e tudo que pudesse refletir
a sombra e o nome dessa mulher sem mundo


DALLESANDRO

um minuto de teu dia e a vida estaria ganha
atravessaria um peixe pelos teus olhos e o animal incendiaria
salivas e neons numa metamorfose de inseto sobre sílex
ferrugem num bagaço emaranhado de medusas
e o mineral deflorado sobre os brinquedos

sofresse tanto e não sofresse em vão
este vácuo onde trepam os fumantes na contraluz
um interior de corpo tecendo texturas de ânus
noite fresca de veludo musgoso no canto da boca
traz dentro de si um asfalto e acúmulo de gasolinas
não fosse homem e seria apenas anjo no labirinto

noite florescente de animais babando pirolitos
pássaro apagado numa brancura de lâminas
estampidos de chocolates colados à mão
liquefeito e sorvido dentro de abrigos e paredões
não fosse homem e seria uma flor no intestino
rumorejando grânulos de sêmen pela língua

um minuto de tua noite e o oceano deitaria
o riso despido pelos putos cabelos loiros
uma delicadeza rara de sangue nas palavras
tagarelice de atores acertando presságio e golpe
o desejo ganindo um bafo no esconderijo


FUGALAÇA

vamos supor que um homem conheça outro homem
e juntos eles construam uma casa
e projetem móveis para resistirem
aos arrastões de espermas e riscos de lápis
em coxas torneadas de correrem por esquinas

vamos supor que dois homens criem um gato
e o gato não tenha o rabo e uma das patas

são tantas bichas bonitas no mundo
são tantos pés sujos esperando serem lavados
com água morna saliva boa e sal
são tantas pérolas se perdendo pelas rotas
de uma orgia clandestina e os cílios curtos

vamos supor que um homem engole outro homem
e guarde a fumaça do hálito dentro da gaveta
e quebre as duchas dos bares lotados e a sudorese
que não caberá nos colchões amarfanhados

vamos supor que dois homens queimem as sandálias
e decidam que suas respirações serão como rastros

vamos supor que pelas ruas homens quadrados rotundos
sejam enfermeiros fotografando um poema num buraco

vamos supor que hajam homens como jogadores
a traficarem sangue de narcisos entre pensões
em são paulo canindé campo belo paragominas
homens negros brancos índios arrochados
apanhados de surpresa na ereção das santidades
mágicos ladrões vendedores hipnotizadores mendigos

vamos supor que um homem conheça outro homem
numa cidade subterrânea ou num asilo psiquiátrico
nos subúrbios nos cubículos noturnos nas guerrilhas
nas filas de distribuição de drogas injetáveis e inaláveis
vamos supor que em algum momento naquele momento
uma luz acenda nos rostos a madrugada

Flavio Caamaña é um trabalhador braçal e poeta nascido em Tamboril,  desertão do Ceará. No início dos anos noventa participou como voluntário em campanhas de apoio às vítimas da Aids. Primeiro lugar no XVI Prêmio Literário Ideal Clube De Literatura, participou de coletâneas em livros e revistas literárias virtuais. É autor do livro de poemas Aquedutos (PATUÁ, 2016).

a escrita na mão frenética de Mc Santiago

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Anatol Knotek - Nothing Lasts Forever




Phantastica poesia


infusão, vácuos digestivos
a garganta do mundo
à lupa da poesia micro crepuscular
a luz focada à lente convexa
há uma fonte inesgotável
de favos vocábulos que querem ser células
células vivas
-só me apetece subir às árvores
retalhos da epiderme da rã
somos camadas de cebola
do estado inalterado das coisas
o osso dentro da carne imaculado
dos músculos contraídos da morte
a distopia reservada ao perpétuo
mergulhar-me no vulto do ser
na surdina incómoda grosseira
obsceno ou domado
na disposição de tudo ao contrário
os pássaros parece que andam à toa
abanando a cabeça em pequenas passadas
dando voltas
saber exactamente o dia e a hora
porque nós já não nascemos em casa
das janelas da mescalina
a linha marginal da utopia - estou vivo
ou felicidade artificial - vivo
da vigilância do banal
Meca para uma mente vedada
da contracção da oração - em ti vivo
como se espera por ninguém
na hora extraordinária do além
visualmente procuro pela palavra-pássaro
não sei se é ela a fachada das casas
ou a pedra que falta na calçada
mas nós já não nascemos em casa
nem as fachadas nem as calçadas
nos pertencem
só a palavra encarnada da indústria
incontrolada dos sentidos
esse mundo-pássaro honesto
o mundo em que se vive
o mundo em que se sente
das linhas marsupiais
elevarem-se os beirais
dos sonhos vulgares erguerem-se
novos voos
para atravessar arco-íris de cinza
porque a abstracção não carece de cor
a escrita lanterna mágica´
projectarem-se nós fantasmagóricos
da transparência a partícula íntima da beleza
do éden desaparecido - porque partimos
não nascemos em casa nem morremos dentro dela
somos um todo pedaço de tudo
como os olhos da velha que me fixam
não sei se em mim o final da rua
se em mim o final da sua, vida
esses olhos perturbam-me
desse mistério que não tem mistério
os olhos penetram-me de concreto
será que pensa no que penso?
- só me apetece subir às árvores
...


pedra dura e opaca que sangra


ousar opor-se à tirania
monte abaixo, monte acima
tudo fora, singular, espantoso
azulejo vidrado cosmológico
do seu habitat natural
incluir-se na paisagem
somos união universo
rochedo escavado da apropriação inventiva
dos opostos polares cerebrais
a essência redutora glaciar
factos brutos, estátuas, torres, pedestais
todos os ângulos salientes das junções bizarras
da coloração histérica das ondas magnéticas
protestando contra a palavra transparência
rubi, safira, prismas facetados de ideias mágicas
jaspes suspensas como folhas de ensaio
do regresso fundador do passado
aceder por via do prazer - um prazer melacólico
aos pigmentos da natureza dos brutos
dias que já foram
alvorecer do ocaso como lótus espreguiçado
caminhar sobre pedras de fogo no arrasto do sonho
no trânsito dessa outra terra
que nos habita dentro da cabeça
a alma reconduzida à íris do céu
para dar vida àqueles que já partiram
esse céu de lápis-lazúli perdurado no olhar
de quem o carrega do fundo da dor
ousar opor-se à tirania
rasgando essas cortinas de vidrados opalinos
que um eu em absoluto se decompõe de lutos

do ramo que nutre a noite
cada pétala que fica é uma pedra
que respira o tributo
do que deixamos em bruto

a morte certa


palavras migratórias


deixo-te estas palavras na linha óssea
que é tudo o que te posso deixar
olvidar-se do pêndulo a despedida
porque nós nunca tivemos tempo
parto como fonte fome, guerra
a escrita na mão frenética, a mão que treme
na gravitação da ventura do coração
bombeando desta terra a esta terra
de todas as âncoras sem lamentos
deixo um alvéolo um vocábulo aberto
da esfera armilar o equador que lembra
que há horizontes que nos matam
sempre quisemos viver demais
a lenta lágrima que da fonte partiu
que nos transformou em onda de fastio
que vai e vem sem descanso
de noite vagueias sobre meu corpo de areia
essas lágrimas que desenham caminhos sem passos
que deslizam sem rumo pelos meus braços
dunas fantasmas, estátuas de carcaças secas
e querer deitar-me sem a mortalha que me cobre
querer que tudo o que me consumiu por dentro
me consuma agora na maresia
longe das coisas gastas do dia-a-dia
no silêncio de todas as palavras que não te conheci
as crinas selvagens da fantasia irão primeiro
depois os ossos, muito depois os ossos
que de noite vagueias sobre meu corpo de areia
essas lágrimas que desenham caminhos de teia
que deslizam sem rumo pelos meus ossos
dunas de silêncio onde nunca fomos um só
que te posso contemplar no céu sepulcro?
das portas flamejantes do inferno
em teus olhos a escuridão como promessa
porque deixamos um mundo inquietos
da roda livre do tempo inviolado
da fundição de todas as quedas
lutando até ao último sopro mas sem guelras
sermos nós gaivotas migratórias
um homem livre sem terra
viajando sem memórias
numa mente operária do mais nada
porque não te recordas dos nossos sonhos
deixo-te estas palavras na linha óssea


runas brancas


tamborilando garras que me conhecem o corpo
como as garrafas que são lançadas
que o mar traz de volta
a minha cabeça presa num vácuo de existência
porque me querem prender o pensamento
e que o corpo apodreça
sobre as andas do destino
alegóricas batalhas de esperança
porque digo que nada me derruba
mas nada me deixa sair da luta
da exibição da fúria
dos gritos ancestrais das grutas
as pálpebras da escuridão
que nem descanso dão
e os laços brutais dos moluscos
agarrados à alma já conchas mortas
contra a rebentação tudo se despenhou
há um fio de prumo que me corta o punho
abandono o sangue na areia
que aos poucos se cora de vermelha
à vacuidade de tudo
do engodo das promessas gustativas da vida
nunca provei senão fantasia
como a aura dos cisnes
dos espinhos das plumas brancas
a espuma que me sai da boca
com a intenção de borrar o céu
de nuvens nascidas da tormenta
da profunda maldição de estar viva
o sangue é o caminho
que trilha o cansaço do ser
ser de carne e poema, balanço e recomeço
pelas guelrras arcaicas do animal
pedra sobre pedra a falésia
longe dos gestos a solidão de passagem
olho êxodo as pontes das asas
dos cursos das mágoas que se afundam
no lugar de derrame o silêncio
com o vagar arfante de um sonho de verão
deixo a lua e os espelhos para os que espreitam
deixo apenas uma lente estreita
num pulsar que nunca dorme, nunca se cansa
acompanho o arrasto do afastamento dos barcos
na ventilação marítima da saudade que fica
a luz atravessa as paredes de lágrimas
que compõem o mar das memórias
runas deixadas em poemas
tecidos que não tiveram outro destino
senão essa Atlântida desaparecida
dentro do meu peito
mas atravessam-me dias noites encalhados
revirando-me em ondas de revolta
partido aos bocados pela praia
porque não posso mudar o que não conheci
fui atirada das alturas sem destino
como quando nos fecham num frasco
e se esquecem de nós num aquário
num pedaço de vidro sem paredes nem portas
sinto a alma dentro deste corpo garrafa
imóvel, inerte...que em nada se converte
que nem sequer mais envelhece
condenada ao olhar vidrado da contemplação
que o mar insiste em trazer de volta


monastherium


acordarmos de pé
como um enorme fóssil vivo
as paredes estão já caiadas
os jardins repletos de flores exóticas
mas acordarmos como se nada disso
estivesse concluído
a tortura é amante da paz
ambas fazem amor nos lençóis do tédio
por acidente escorraçar do espírito o mundo
desse inconsciente colectivo
do ocultismo de tê-lo debaixo da pele
as fronteiras são apenas o impossível
e é do impossível que há que tecê-las
como serpentes vigorosas enroladas
elefantes de patas no ar a pastar
relutante, a vida tem de continuar
da corpulência de um pássaro a levitar
a poucos metros do chão
mas a vida tem de continuar
combateremos as impaciências da sombra
equitadores de algo móvel
cavalos de arco e flecha
através das planícies irregulares da consciência
para lá do sol posto
das pias secas dos deuses
dos muitos templos que o homem
ainda desconhece
em frente a galope ao seu encontro
da reparação berram demónios sem corpo
das regiões fronteiriças do sonho
ninguém será poupado
da ardósia o giz duro talhando destinos
um inverno do qual nunca saímos
as nossas andas enterram-nos
volante par de pernas para escavar
penas coladas ao dorso
uma mente remota lançando papagaios
como papiros saturados de mitos
volante um dragão habitando o centro da terra
do vidro moído uma atmosfera caindo
cautelosamente, o céu nocturno
chega-nos mais íntimo
desse corpo concha fogo corrente
dobrando-se depois folha de papel símbolo
alguém se esqueceu de descalçar os estribos
pela cintura equador
agarrar-se às crinas da dor
prolongar-se o voo
ainda que
as paredes já caiadas
e os jardins floridos de pequenos nadas
                                            mas exóticos




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Mc Santiago: Escritora, Poeta, Mc e Artista. Vem do coração do Alentejo e vive em Lisboa, Portugal. youtube channel: SANTIAGOoriginal www.myspace.com/santihh Soundcloud: Mc Santiago Vimeo: Mc Santiago Facebook: Mc Santiago Mc Santiago

a fenomenologia nos poemas de Júlio Machado

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PÃO DE MINUTO

Minimalista, tão enxuto,
dízima de alimento nobre
ou minério bruto,
esparge, chora,
range e confrange
por estômagos cristãos
de ateusconvictos,
ou porque trigo, concreto,
ou porque fruto,
sua brancura de mito,
despida de sol e de luto.

E assimsemeia,
morto, porque tão vivo,
o paradoxode ser tão grande
por ser tão diminuto.



ESTRABISMO

Chegaà beira do poço;
mede nele o intervalo
que vai de um olho a outro.

Mede nesse intervalo
o eixo torto que faz
do esquerdo, o direito.

Vê como esse esquerdo
reconhece sem medo
o que em Narciso é feio.

Repara no direito,
véu de leite tão velho,
a lágrima em coalho.

Faz do suco da lágrima
a beleza que turva,
ledo, o engano da água.

Esquece então que és caolho:
faz do intervalo um elo,
da água turva, um espelho.



ESPERA

Do escuro
que surge
ao som
que se
faz surdo;
do espelho
que some
à voz
que não
se ouve,
o que aprouve
dissipa-se:
houve, já
não há.

Do que
ficou,
resta à
mesa, a-
lém da
vela a-
cesa, o
mantil de
veludo
e o luto
de Deus:
Deus (vejo)
de ateus,
que se
fez mudo.



________________________________________ 

Júlio Machado (Júlio Cesar Machado de Paula) nasceu em 1975, em Pouso Alegre, sul de Minas, e já morou em vários lugares, de Paris a Benjamin Constant, no interior do Amazonas. Reside atualmente em Niterói e é professor de Literaturas Africanas na Universidade Federal Fluminense. Em poesia, recebeu, dentre outros, os prêmios Xerox/Livro Aberto, pelo livro O itinerário dos óleos, e Nascente (USP/Editora Abril), pelo livro Mimnas. Como dramaturgo, escreveu A profecia, encenada pelo Grupo Pândega, e Luzia, encenada pelo Teatro do Brejo Bento.Os poemas aqui apresentados fazem parte do livro O quintal e o mundo, a ser publicado em breve pela editora Kazuá (SP).

Columbita-tantalita

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Nyabiondo, por Phil Moore


No dia do lançamento do AI-7
só fiz pensar no Congo
dois dias depois de Trump
nove dias depois de quando

se contam os mortos
já não há dedos para esquecer
que o mundo se alimenta
de tântalo.

Como ignorar o suplício
e pagar por ele?
Como chegamos até aqui?

Leopoldo fez do Congo
sua fazenda. República
Democrática do Congo
Fazenda de Leopoldo.

Mas o genocídio tem apenas
enquadramentos morais
viés cinematográfico
e aceno invisível.

Se não pudermos lucrar com isso
chorar à exaustão
dissecar nossos mortos.

O que nos interessa
o mapa desenhado
como pela mão
de uma criança louca?

Um continente retalhado
como num jogo War
as terras são quadradinhos mínimos.

Fronteiras étnicas
milícias armadas
imagino meu corpo de escudo
não há tempo para defesa.

Leio: metal duro de transição
de cor azul acinzentado
e brilho metálico
resistente à corrosão.

Não sei do que é feito um iPhone
e o coração dos homens.


---

Roberta Tostes Daniel, poeta carioca.
Escreve no blog http://sedemfrenteaomar.wordpress.com

Poema de José Antônio Cavalcanti

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Man Ray

























Índice remissivo - soneto cinedramático

1º ato
"O começo no fim da fila do cinema", 9,11,14
"fileira F à esquerda; à direita, G", 17 a 103
"nódoa na tela, na lateral o problema", 19, 24, 37, 41, 56, 66, 79, 83, 97, 101
"apressar o passo na saída a fim de...",  104, 107, 108

2º ato
"café cai no esmalte, adoçante na mesa", 110, 112, 113
"cadeira vazia, oficina do diabo", 114
"obrigado, está sempre cheio todo sábado", 115
"finge que não escuta, faz ar de surpresa", 125

3º ato
"derramo chocolate no casaco preto",  128
"soletra, com ríspida meiguice, BA-BA-CA!", 128
"levanta, volta. Pede café e desculpa", 130

4º ato
"um filme húngaro em preto e branco é foda", 1, 5, 116, 132, 144
"torcer o pescoço, ver o n° da poltrona", 9, 11, 14, 17
"chega um vilão invasivo:  -  Miguel, meu anjo!", 148




José Antônio Cavalcanti - Poetc envolvido atualmente em Movimento Suspeito, a ser lançado dia 17/11, no Bar Ernesto (Largo da Lapa, 41), pela Editora UrutauAutor dos livros Anarquipélago (Ibis Libris, 2013), Palavra desmedida: a prosa ficcional de Hilda Hilst (Annablume, 2014 e Fora de forma & outros contos (Ibis Libris, 2015)). Mantém os blogs Poemas da página que falta e Poemargens. 



Antero - Didier Ferreira

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Ilustração: Gordon Pullar


1

Antero encontrou-se no jardim. Chegou até ali instintivamente, como se o seu corpo automatizado se movesse. Sentia-se perdido. Sentia-se verdadeiramente só. Olhou para trás, ninguém. A certeza de ter ouvido bem atrás de si «envelhece» perturbava-lhe. A voz estava próxima, sentiu-a. Mas não havia boca alguma que pronunciasse tal palavra.
«Envelhece»?
Todo o seu corpo estremeceu. O apelo da solidão era forte. A promessa de um refúgio, sedutora. Mas essa voz que o atormentava com «envelhece» causava-lhe uma horrenda indecisão.
Antero sabe que toda a história tem um fim. E quem o define é o autor, não alguma força superior, algum deus encoberto no céu. Antero era o autor da sua própria tragédia e, como tal, competia-lhe o último ponto final. E seria nesse mesmo dia, nesse mesmo jardim, perante um público desconhecido, que Antero iria escrever o último parágrafo da sua história porque o público anónimo é aquele que melhor nos sabe ler.
            Um final é escrito conforme o enredo. A história em si, por ser uma tragédia, no caso de Antero, deve terminar com a morte. Mas, aquela voz que lhe sussurra «envelhece» pede-lhe para alterar o final já traçado por outro que seja contínuo no tempo.
Se atravessar um jardim no auge da primavera sem distinguir o verde amplo sobre o barro húmido daqueloutro no topo da árvore, a luz flavescente de um candeeiro de rua da que ilumina o quarto com o indivíduo no parapeito da janela, se não fizer diferença sucumbir aqui mesmo ou trancado num quarto, então, por que não?
Antero sentou-se no banco. Enfiou a mão direita no bolso da gabardine, dele tirou um revolver que sabia estar carregado. Virou o cano da arma para si e enfiou-o na boca. Disparou.

2

O estrondo fez com que Antero despertasse. Acordou em sobressalto. Uma estranha força projetou-lhe o tronco para a frente, erguendo-o sobre a cama, apoiado sobre os cotovelos. Lançou olhares ao redor. Reconheceu a mobília, a porta, a alcatifa. Estava na sua cama. Estava no seu quarto. Mas, como? De súbito, apalpou os lençóis em alvoroço. As mãos tateavam os panos em busca da mancha de sangue. Tinha a certeza de estar morto.
Sem sair totalmente da cama, Antero debruçou-se sobre esta para investigar ao redor. Nada. Nenhum vestígio de ali ter ocorrido um crime. Então pensou: «dentro do homem existe um deus desconhecido. Será o homem um Deus que se ignora? Oh, Deus, no céu, não existe. Não! O destino é escrito pelo poeta-filósofo. Jesus? Sim, Jesus foi um filósofo. E nada mais do que isso. Um pensador que inspirou a poesia de apóstolos seus discípulos. Não. Sim. Deixa cá pensar. Também Jesus foi um deus, por ter sido homem. E foram homens-deuses que escreveram a Bíblia esse magnífico exemplar de boas poesias. Estarei vivo por milagre, ou descobri o segredo do tempo?»
Estava Antero abstraído nos seus pensamentos quando ouviu murmurado, o bafo húmido na nuca, tão perto que parecia que a voz lhe saíra do interior do corpo, «envelhece».
Antero lançou as mãos à cabeça. Cobriu-a com os braços, como quem se protege de um objeto que lhe é arremetido à toda força, e com reflexos instintivos procura minimizar os estragos no corpo ante o perigo. Depois, Antero abrigou-se nos lençóis, tapando totalmente o corpo, deixando a imagem de um homem encolhido em posição defensiva, furtando-se aos seus medos. Poucos minutos passaram, e timidamente Antero descobriu o rosto.

3

Ler liberta o pensamento. A sensação de estar num mundo vago, distante do plano fixo que lhe compete, entre a natureza estática e física rodeada por seres corpóreos que se comportam como a Natureza ordena, só a literatura lhe proporciona. Sem o sonho, Antero nada é. Ideias e imagens apresentam-se-lhe ao espírito quando à condição de leitor se entrega. Antero fantasia. Antero devaneia. Antero inspira-se. E regressa ao mundo material com apreensões. Escreve sobre reformas, sobre progresso, enfim, sobre um Mundo Novo. O mundo que descobriu nos livros quere-lo partilhar com os seus semelhantes. Mas Antero não tem semelhantes na terra onde vive.
Antero sonha quando dorme e quando está acordado. Em casa, nos transportes públicos, caminhando, a ficção cruza-se com a realidade bem diante da sua faculdade de sentir. E sente. Sim, como sente. Alegra-se com a criança que passeia com o pai. O amor de um e de outro unem-se num apertar de mãos sincero onde não há correntes que aprisionem tal gesto num conceito de namoro. Sente-lhes a liberdade. E quando a criança solta a mãozinha para correr atrás do rouxinol que deambula arrastando a pata esquerda, agarra-o, repara na lasca, liberta-o da dor, gentilmente pousa-o no chão, ele voa, ela deixa-se ficar quieta. Depois olha para trás. O pai vem caminhando devagar. E então lá vai ela correndo ao encontro de quem ama. Entrega-lhe a mão. Os dois seguem passeando pelo parque.

4

            Dentro do homem existe um deus desconhecido. Não sei qual. Mas existe.
            – Dentro do homem está o reino dos céus, Antero.
            – Não será Deus um homem que se ignora?
            – O homem não é Deus.
            – Jesus foi um deus, porque foi um homem.
            – Jesus não tentou compreender Deus.
            – Através da filosofia, do pensamento, Jesus descobriu o segredo do tempo. O messias era, na verdade, um filósofo.
            – A fé não é compatível com o raciocínio.
            – Diz-me, há mesmo um segredo do tempo, certo? E os que o conseguem desvendar vivem eternamente
            – Deus disse: «Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o coração».
            – Há um mistério que preciso revelar. Um mistério que me leva à melancolia. Não é um milagre, não, não é esse ideal comum. Quero desvendar o segredo do tempo. Que mal há em o homem ter consciência de ser um deus?
            – A tua consciência te condenou, Antero.
            – Vem às vezes sentar-se ao pé de mim… vem ter comigo, às horas duvidosas, uma visão, com asas de cetim. Pousa de leve a delicada mão (reconhece aroma a noite sossegada) pousa a mão compassiva e perfumada sobre o meu dolorido coração. E diz-me essa visão compadecida (há suspiros no espaço vaporoso) diz-me
            – Porque é que choras silencioso? Porque é tão erma e triste a tua vida? Vem comigo... habito ali, e tu virás comigoporque eu venho de longe em tua busca, trazer-te paz e alívio, pobre amigo.
            Sentado no banco do jardim, Antero enfiou a mão direita no bolso da gabardine, dele tirou um revolver que sabia estar carregado. Virou o cano da arma para si e enfiou-o na boca. Disparou. Morreu.


Do livro de contos “O diário poético de um empregado de balcão”, que saiu no ano de 2015 pela editora Esfera do Caos, em Portugal.


DIDIER FERREIRA.Nasceu em Luanda em dezembro de 1985. É também nacional de São Tomé e Príncipe e residente em Portugal há mais de vinte anos. Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Universidade Nova de Lisboa, onde frequenta atualmente o mestrado em Estudos Portugueses. É fundador do movimento Jovens Poetas Vadios, com o qual tem vindo a realizar, desde 2008, diversas sessões de poesia em escolas, universidades e associações culturais. O diário poético de um empregado de balcãomarca a sua estreia na ficção de género contista.

Lançamento em Porto Alegre de "Orquídea Trepadeira" de Ana Farrah Baunilha

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Lançamento: 19 de novembro, 18:00 - 20:00
Local:  Von Teese 
- High Tea & Cocktail Bar -  Porto Alegre RS.


Orquídea Trepadeira e outras flores ordinárias foi produzido por Well Souza, responsável pela editora Benfazeja, tem na orelha o escritor amazonense Diego Moraes, um prefácio cuidadoso de Carla Diacov, além do posfácio acurado da escritora Clara Baccarin.
O livro é recheado de poesia e imagens que conversam entre si e gritam em uníssono uma voz que é feminina na essência, de vida, vontades e bruxaria.

Lançamento dia 19 de novembro em Porto Alegre, RS

Conheça um poema do livro:


"Tinha onze anos quando morri pela primeira vez, num domingo diabólico. 
O choro convulsivo me trouxe de volta, já não mais a mesma. 
Tempos depois morri outra vez, súbita como um soluço
e no susto, desprevenida, acordei e vi o dia mais branco de todos

E durante anos fui morrendo, tantas vezes que nem sei
sempre volto sem um pedaço, sem uma cor
só um suspiro raso e oco

an empty shell"



Ana Farrahé gaúcha de 1981; Teve sua escrita notada nas redes sociais quando seus textos começaram a ser publicados em blogs e revistas eletrônicas de literatura contemporânea no Brasil e em Portugal. Participou da coletânea de contos Sete Pecados, pela editora Scenarium Plural e da Antologia Contemporâneas na Revista Vida Secreta, editada por João Gomes. Publicou poemas também no Livro da Tribo, pela Editora da Tribo. É colaboradora/curadora na Malarmargens, revista virtual de poesia e arte contemporânea. Escreve poesia sarcástica, mas transita entre outros estilos. Ana no momento trabalha  com  estética e escreve nos intervalos entre uma massagem e outra.

Videoteca: "foto-fobia" de Gabriela Capper

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involuntariamente fecham diante da intensidade de luz
















Gabriela Capper nasceu em 1968 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Realiza vídeos-poemas que têm como marca a fusão de elementos sonoros, imagéticos e textuais. O contágio entre essas materialidades (palavras, imagens e sons) gera um ambiente híbrido que amplia as possibilidades de articulações poéticas. A artista tem graduação em Música pela Universidade Estácio de Sá no Rio de Janeiro, Mestrado em Artes na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e atua como professora de Música no Colégio Universitário da Universidade Federal Fluminense. Em 2011, participou na instalação “Palavras”, de Alberto Pucheu, realizando a gravação de voz em desenho sonoro criado pelo compositor Daniel Puig, no Projeto Poesia Visual, na Oi Futuro. Em 2013, o vídeo “Arranjo em busca de um paradigma para a relação entre o crítico literário e o poeta”, em parceria com Alberto Pucheu, foi exibido no Colóquio “Crítica e criação”, do Programa de Pós-graduação em Literatura e Cultura da Universidade Federal da Bahia, e no evento “Primavera dos livros”, no Rio de Janeiro. Em 2014, participou da exposição "Mares poderão subir por mais mil anos", da artista e professora do Instituto de Artes da UERJ Leila Danziger, realizando a gravação de voz e desenho sonoro "Stela e o mar". Em 2015, integrou a mostra "Caleidoscópio", com curadoria de Maykson Cardoso, realizada no XXX Fuorifestival - Pesaro - Itália, exibindo os vídeos "Bells machine" e "Feche os olhos e veja".

guerra fria/cold war - poema em vídeo, de Ana Elisa Ribeiro (trad. Ricardo Escudeiro)

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Poema: guerra fria, de Ana Elisa Ribeiro (livro inédito)
Tradução português/inglês: Ricardo Escudeiro
Voz em português: Ana Elisa Ribeiro
Voz em inglês: Mônica Cunha Melo Veado
Imagem: Rafael F. Carvalho






Foto: Rafael F. Carvalho





Ana Elisa Ribeiro é mineira de Belo Horizonte, 41 anos, escritora com, entre outros, 5 livros de poesia, várias participações em antologias - inclusive estrangeiras - e eventos literários. Foi semifinalista do Prêmio Portugal Telecom em 2014.

Ana Elisa Ribeiro is from Belo Horizonte, Minas Gerais, 41 years old, a writer with five books of poetry published and several participations in anthologies - in Brazil and other countries - and literary events. She was semifinalist of Portugal Telecom Award in 2014.









Ricardo Escudeiro nasceu em Santo André-SP, em 1984, onde vive. É autor dos livros de poemas “rachar átomos e depois” (Editora Patuá, 2016) e “tempo espaço re tratos” (Editora Patuá, 2014)

Ricardo Escudeiro is from Santo André-SP. He is the author of "rachar átomos e depois" (Editora Pautá, 2016) and "tempo espaço re tratos" (Editora Patuá, 2014)

5 sonetos de Shakespeare : tradução de Emmanuel Santiago

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Soneto 18

Poderei comparar-te ao fulgor do verão?
Tu és tão mais amável e tão mais ameno!
A tormenta de maio a flor tolhe em botão
E o verão se consome num prazo pequeno.
Quando faz calor, o olho do céu nos fulmina,
Outras vezes oculta a dourada nudeza;
E, de tudo que é belo, a beleza declina
Por acaso ou por sua fugaz natureza.
Mas, sem fim, teu verão não conhece fastio,
Nem sequer perde o viço no curso das eras,
Nem a Morte te envolve em seu manto sombrio,
Pois no verso indelével o tempo superas:
Enquanto homens houver, e olhos prontos a ver,
Enquanto isto for lido, tu hás de viver.



Sonnet XVIII

Shall I compare thee to a summer’s day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer’s lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimmed,
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature’s changing course untrimmed:
But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow’st,
Nor shall death brag thou wander’st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow’st,
So long as men can breathe, or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.


.............................................. 


Soneto 20

Feminina feição por Natura pintada
Possuis tu, mestre-mestra de minha paixão;
Das mulheres tens a alma gentil, mas que nada
De volúvel supõe, nem da moda a ilusão.
Um olhar mais brilhante que o delas, sincero,
A fulgir sobre aquilo em que tu o desferes;
O rubor mais viril, dos matizes império,
Que dos homens o olhar rouba, e das mulheres.
A princípio mulher foste tu concebido,
Mas Natura, ao fazer-te, ao teu charme cedia
E mudou-te de forma e me fez excluído,
Dando-te algo, p’ra mim, sem qualquer serventia.
Como foste forjado ao prazer das donzelas,
Teu amor então é meu e teu gozo, delas.



Sonnet XX

A woman’s face with nature’s own hand painted,
Hast thou, the master mistress of my passion;
A woman’s gentle heart, but not acquainted
With shifting change, as is false women’s fashion:
An eye more bright than theirs, less false in rolling,
Gilding the object whereupon it gazeth;
A man in hue, all hues in his controlling,
Which steals men’s eyes and women’s souls amazeth.
And for a woman wert thou first created;
Till Nature, as she wrought thee, fell a-doting,
And by addition me of thee defeated,
By adding one thing to my purpose nothing.
But since she prick’d thee out for women’s pleasure,
Mine be thy love and thy love’s use their treasure.


....................................................


Soneto 53

Que substância é a tua, que forma latente,
À qual cedem milhares de sombras alheias?
Tudo tem, cada coisa, um reflexo somente,
Mas tu, sendo um, todas as sombras lastreias.
Representem Adônis: o que se revela
É um rascunho barato de tua figura;
Se de Helena pintarem a imagem mais bela,
Numa túnica grega, estarás na pintura.
Falem da primavera e do viço da messe;
A primeira é de tua beleza um resumo,
O segundo com tua bondade parece
E nas formas mais belas teus traços presumo.
            Se da graça visível és parte integrante,
            Ninguém tem, como tu, coração tão constante.



Sonnet LIII

What is your substance, whereof are you made,
That millions of strange shadows on you tend?
Since every one hath, every one, one shade,
And you but one, can every shadow lend.
Describe Adonis, and the counterfeit
Is poorly imitated after you;
On Helen’s cheek all art of beauty set,
And you in Grecian tires are painted new:
Speak of the spring, and foison of the year,
The one doth shadow of your beauty show,
The other as your bounty doth appear;
And you in every blessed shape we know.
In all external grace you have some part,
But you like none, none you, for constant heart.






Soneto 108

O que existe no cérebro para esboçar
Que minh’alma não tenha transcrito amiúde?
O que mais a dizer, o que então registrar
Que exprimir meu amor possa ou tua virtude?
Nada, doce rapaz; como quem reza a Deus,
Devo todos os dias dizer sem enfado,
Repetir o já dito: és meu, meus lábios teus,
Desde a vez que teu nome por mim foi louvado.
Esse amor sempiterno em seu novo disfarce
Não enverga nem sofre da idade os castigos,
Nem às rugas fatídicas há de entregar-se,
Mas converte em seus pajens os tempos antigos,
Encontrando do amor a nascente perdida,
            Onde a vã aparência o mostrasse sem vida.



Sonnet CVIII

What’s in the brain that ink may character
Which hath not figured to thee my true spirit?
What’s new to speak, what now to register,
That may express my love, or thy dear merit?
Nothing, sweet boy; but yet, like prayers divine,
I must each day say o’er the very same;
Counting no old thing old, thou mine, I thine,
Even as when first I hallowed thy fair name.
So that eternal love in love’s fresh case,
Weighs not the dust and injury of age,
Nor gives to necessary wrinkles place,
But makes antiquity for aye his page;
Finding the first conceit of love there bred,
Where time and outward form would show it dead.


....................................................


Soneto 126

Tu, querido rapaz, que gentil te assenhoras
Da ampulheta do Tempo, da foice das horas,
Que minguando floresces, ainda que vejas
Teus amantes murcharem enquanto vicejas;
Se a Natura (que sobre destroços governa)
Quando avanças te puxa de volta uma perna,
É por esta razão: pelos seus atributos
De mover guerra ao Tempo e matar os minutos.
Porém, teme-a! Que, mesmo o dileto vassalo,
Ela pode retê-lo, mas não conservá-lo.
E tal débito, enfim, deverá ser solvido,
Quando aos pés da Natura estiveres rendido.
(                      )
(                      )



Sonnet CXX

O thou, my lovely boy, who in thy power
Dost hold Time’s fickle glass, his sickle, hour;
Who hast by waning grown, and therein showest
Thy lovers withering, as thy sweet self growest.
If Nature, sovereign mistress over wrack,
As thou goest onwards still will pluck thee back,
She keeps thee to this purpose, that her skill
May time disgrace and wretched minutes kill.
Yet fear her, O thou minion of her pleasure!
She may detain, but not still keep, her treasure:
Her audit, though delayed, answered must be,
And her quietus is to render thee.
(                      )
(                      )



Emmanuel Santiagoé poeta, crítico literário e professor de Literatura. Autor de Pavão bizarro (poemas) e A narração dificultosa (crítica literária).

mecânica aplicada, 3 | Nuno Rau

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Imagem: http://operationalportal.com/




/por Nuno Rau/



mais um soneto tenta alçar do fundo
opaco do mundo o que não se fala
não porque a gente renegasse, nada
se quer mais do que poder dizer tudo
que o lábio em nós retém. Mais um soneto
alça... não, despenca arranhando o verso
da cortina: por erro o giro inverso
da engrenagem expõe o lado avesso
ao proscênio, e o anverso fica oculto
com seus grafites cifrados descendo
no palco escuro, artifício, maneira
de nunca entregar à platéia a seiva
fluorescente das palavras ardendo
no fundo de onde tudo vem ao mundo.




o magarefe de versos no poema de Geraldo Lavigne

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Obra de Tom Kratman em https://forums.sufficientvelocity.com/




magarefe


eu não descabelo mais o porco
na água fervente
enquanto ele sangra pelas ventas
e grita os meus pesadelos

não marreto mais o carneiro
para deixa-lo demente
e lhe colher o sangue
entre os espasmos

nem trespasso mais a lâmina
na garganta do garrote
apeado aos meus pés

hoje, o máximo que me ocorre
é ver um frango
circular sem cabeça
tingindo o piso

sento em minha cadeira de couro curtido
e da varanda vejo as moscas
cobiçarem o meu jazigo

peço às larvas
que esperem meu corpo esfriar
antes de me terem engolido




_________________________________
Geraldo Lavigne de Lemos nasceu em 1986. É natural de Itabuna e radicado em Ilhéus. Membro da Academia de Letras de Ilhéus, autor dos livros À Espera do Verão (2011), amenidades (2014), alguma sinceridade (2014) e Massapê: Solo de Poesia (2016), todos de poesia e pela Editora Mondrongo. Integra a antologia Diálogos – Panorama da Nova Poesia Grapiúna (Editus/Via Litterarum, 1ª ed. 2009; 2ª ed. ampl. 2010). Desenvolve os poemas furta-cores desde 2014, que darão um livro de mesmo nome, ora em processo editorial.

6 POEMAS DO MOVIMENTO PORNASO

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Ilustração: Suzie Q.
Os poemas a seguir fazem parte do Movimento Pornaso, livro prefaciado por Glauco Mattoso que será lançado, em breve, pela editora Dybbuk. Mais informações aqui.

Pornaso

Ele prolonga-se até ficar de pé
Quando tua boca escala até
O posto píncaro de minha pica
Eu digo: - fica que ele estica.

Sinto-me feliz estando a olho nu
Diante de teu róseo e belo cu.
Apaixonado por teu redondel
Cravo o anelar no teu anel.

Nas gêmeas virgens tetas com saúde
Eu as mamo mais que amiúde.
E quando ficas toda orvalhada

É na tua boa boceta bem salgada
Que enterro meu tinto tabaco
E crio inveja até no deus Baco.

(Zé Amorim)

Grego vaso

Às frias brumas do resplandecer do dia
Quando, taciturno, ao vaso grego me sento,
Testemunho da rodela um alargamento
Descarregando ao báratro a bosta sombria.

Se o cagar venoso a rodela nos judia
Não é senão ausente de contentamento
Que o cu possui culpa, embaraço e sofrimento
o prazeroso aumento que nos esvazia.

E se as lúbricas pregas sinto-me arrombando
É que o tronco tranca e trespassa o encanamento.
Torna-se então tépido e sôfrego o tormento

E o mijo ao cagamento vai se incorporando.
E antes que se julgue Barroco o meu barrego
Dou a descarga e abandono o vaso grego.

(Diego Moreira)

O pau-brasil

Para Oswald de Andrade

O Brasil é um país
Um tanto descomunal,
Pois não é que todo mundo
Queria abrasado pau?
Que aqui por essa estância
Foi um pau em abundância.
Vou mostrar o pau-brasil
Esse pau não tem pentelho
Mas tem o cerne vermelho
E feito um pau que pinta
Esse pau deu muita tinta.
Porque pelo mundo todo
Pau-brasil foi almejado
Por ser uma tora dura
Ainda hoje ele perdura
Qual portentoso lenhado.
Seja com ou sem raiz
No clandestino mercado
Foi o pau mais cobiçado
De todo o nosso país.

(Zé Amorim)

Dos Arcos

Diz-se que Apolo, no céu outonal
Que singrava sobre seu carro covo
Dardejava com seu arco ao povo
Herméticas setas de ira austral.

Perfurando bocetas, o meu pau
Agita-se como um novilho novo.
E se ocorre de ela lamber meu ovo
O espirro vem qual flecha sargital.

Vê-se assim que na coita se assemelham
Os paus que em foder se avermelham
E o aro deste deus tão misantropo.

Fábula tal não se viu em Esopo
Dos febris corpos quando se emparelham
Na insana véspera do acoplo.

(Diego Moreira)

Vibração

Depois de tantos uis
E tantos ais,
Ela pôs meu diapasão na boca
E  afinou suas cordas vocais.

(Zé Amorim)

Poema de verão

O biquíni é uma coisa engraçada:
Mostra tudo
Sem mostrar nada.

(Diego Moreira)

Diego Moreira é natural de Joaçaba – SC. É graduado em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade Federal de Santa Catarina, mesma instituição na qual adquiriu o grau de Mestre, com a dissertação Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, e a vida masoquista. Atualmente cursa o doutorado pela mesma instituição. Poemas seus foram publicados nas revistas Desenredos e Qorpus, e em 2015 publicou, pela Editora Multifoco/Funarte Poesia, o livro Subúrbios de poemas.

Zé Amorim é natural de Florianópolis – SC. Poeta e compositor, é graduado em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade Federal de Santa Catarina. Possui poemas publicados na revista Nua, no jornal Hora de Santa Catarina e em antologias de concursos literários em que se classificou. Seu trabalho pode ser lido no site aqui

La Garçoniére. Para João Cabral: Uma faca só lâmina.

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PROSA & POESIA:

Alfredo Fressia
Marcelino Freire
Laura Erber
Virna Teixeira
Marcia Barbieri III
Isadora Krieger
Thiago Ponce de Moraes
Luciano CortaRuas
Vanderley Mendonça
Marjorie Kuhne
Vanessa Bumagny
Heloiza Ribeiro
André Sant'Anna
Fernando Klabin
Luis Luís Perdiz



PERFORMANCE:
Duo D'Esgrima
(Vanderley Mendonca & Marjorie Kuhne)


LITERATURA & TEATRO & MÚSICA

Sons e Furyas em Amor:
Interpretações musicais de canções de autoria
de André Sant'Anna, Vanessa Bumagny e Helô Ribeiro
com uma releitura da canção “O Divã”, de Roberto Carlos.
As canções recriam ou dialogam de maneira irônica
com a leitura performática do livro “Amor”, de André Sant'Anna.
Os autores são acompanhados pelos músicos
Henrique Alves (baixo e guitarra) e
Rogério Bastos (bateria)


BANDAS

Picanha de Chernobil
De Brito


PERFOMENCE MUSICAL
FurmigaDub


LIVROS

CARNAVAL PRESS (Londres)
• 23 Cartas a um Destinatário Desconhecido
de Ghérasim Luca (tradução de Laura Erber)
• Neverland is Too Far Away
de Virna Teixeira, com ilustrações de João Concha,
(Bilíngue, trad.: Virna Teixeira e Edward Leek)
• Glory Box,
de Thiago Ponce de Moraes
(trad.: Rob Packer)


SELO DEMÔNIO NEGRO

Nuvens Ornamentais, de Natalia Barros
Senhor Roubado, de Raquel Nobre Guerra


EDITORA BENFAZEJA
 

• Corpo Transparente, de Max Blecher
Trad.: Fernando Klabin
(Edição bilíngue romeno-português)
• Olá, pequeno monstro do dia
de Claudinei Vieira
• As musas estão esmagadas no asfalto
de Daniel Tomaz Wachowicz


LUMME EDITOR
• Dobres sobre a luz,
de Thiago Ponce de Moraes


Sábado, 19.11.16, a partir das 20 h
Estúdio Lâmina
Avenida São João, 108 - 4o. andar - São Paulo, SP (Esq. Rua Líbero Badaró)

Película: um vídeo poema de Wanda Monteiro

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Wanda Monteiro, escritora e poeta é uma amazônida, nascida às margens do Rio Amazonas no coração da Amazônia, em Alenquer no Estado do Pará, Brasil, reside há mais de 25 anos no Estado do Rio de Janeiro mas só sente-se em casa quando pisa no leito de seu rio. Publicou dezenas de seus textos poéticos na Antologia Poesia do Brasil do Proyecto Sur Brazil, participando  dos volumes IX, XI, XIII, XV. lançados no Congresso Brasileiro de Poesia no Rio Grande do Sul.  Obras publicadas: O Beijo da Chuva, Editora Amazônia, 2009, Poesia; Anverso, Editora Amazônia, 2011, Poesia; Duas Mulheres Entardecendo, Editora Tempo, 2011, Romance escrito em parceria com a escritora Maria Helena Latini. Aquatempo – Sementes líricas, Editora Literacidade, 2016, Poesia.

ALFREDO FRESSIA: 8 POEMAS DE POETA EN EL EDÉN

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ÁRVORE PROIBIDA, POESIA FRANCA



tradução – adriano wintter




POETA EN EL EDÉN


No, Señor,
nunca huiré del Paraíso, tengo en mí
la leche eterna de los padres y los hijos,
y escribo poemas para la nostalgia.
No, Señor,
nunca seguiré el rumbo imprudente
de los cuatro ríos, el que impele a los nautas
hacia el mar de monstruosas criaturas.
Habían podado las ramas de oro
que brillaban en el árbol de la vida.
Y ahora me llaman como almas.
No, Señor,
nunca comeré del árbol prohibido.
Apreté tantas veces en mi mano
las frutas suculentas. Aspiro
los perfumes seductores,
—Et d´autres, corrompus, riches et triomphants—
Nada sabes de mis íntimos
paraísos artificiales, y te ofrezco las costillas
húmedas y turgentes
para que sigas modelando al mundo
mientras duermo.
Soy un niño inmenso
escribiendo dócilmente en el barro del Edén.
Tengo un muñeco de porcelana blanca.
Balbucea.
POETA NO ÉDEN


Não, Senhor,
nunca fugirei do Paraíso, tenho em mim
o leite eterno dos pais e dos filhos,
e escrevo poemas para nostalgia.
Não, Senhor,
nunca seguirei o rumo imprudente
dos quatro rios, o que impele aos nautas
para o mar de monstruosas criaturas.
Haviam podado as ramas de ouro
que brilhavam na árvore da vida.
E agora me chamam como almas.
Não, Senhor,
nunca comerei da árvore proibida.
Apertei tantas vezes em minha mão
as frutas suculentas. Aspiro
os perfumes sedutores,
—Et d´autres, corrompus, riches et triomphants—
Nada sabes de meus íntimos
paraísos artificiais, e te ofereço as costelas
úmidas e turgentes
para que sigas modelando ao mundo
enquanto durmo.
Sou um menino imenso
escrevendo docilmente no barro do Éden.
Tenho um boneco de porcelana branca.
Balbucia.



PARÉNTESIS


         Cuando nací el sexo fue un destino. No se puede elegir ser poeta.

         De las mujeres nunca amé a ninguna sin duda porque las amé en bloque. Fue un amor largo y sin alegría. Ellas también me amaron sin deseo y sin gozo.

         Las miré con la nostalgia de una vida más bella. Cuando quise ser mejor quise ser mujer.

         Después me olvidé. Devoré la costilla de Adán en la travesía del desierto. Fui hombre, poeta, amé a otros hombres. Tuve hambre.

         Llegué a la playa de este mar eterno, al sur del Brasil. Mi olor es de sal virgen y de yodo azul. Sé que una mujer devolverá al mar el pez con una moneda en la boca.

         Ella escribe mi poema. Yo aguardo.


Parênteses


Quando nasci o sexo foi um destino. Não se pode eleger ser poeta.

Das mulheres nunca amei a nenhuma, sem dúvida porque as amei em bloco. Foi um amor longo e sem alegria. Elas também me amaram sem desejo e sem gozo.

Olhei-as com a nostalgia de uma vida mais bela. Quando quis ser melhor, quis ser mulher.

Depois me olvidei. Devorei a costela de Adão na travessia do deserto. Fui homem, poeta, amei a outros homens. Tive fome.

Cheguei à praia deste mar eterno, ao sul do Brasil. Meu olor é de sal virgem e de iodo azul. Sei que uma mulher devolverá ao mar o peixe com uma moeda na boca.

Ela escreve meu poema. Eu aguardo.



NO     

(...)
Reverrai-je le clos de ma pauvre maison,
Qui m'est une province, et beaucoup davantage?
                        Joachim du Bellay


Ni cuando se olviden todos mis poemas
esqueletos del alzheimer,
secos como los tamarindos de la playa, el año
que los encontramos hechos pasto de termitas,
y porque el tiempo hace girar lenta la cuchara
en el plato de sopa de los viejos,
y son 26 letras impasibles de alfabeto.
Y cuando acabe de morir el mártir que me habita
atravesado por el venablo cierto
del que cambió los años por monedas
y registra los segundos que me restan
y aunque el ángel pertinaz de mi pobreza
vuelva otra vez como los mitos
o el perdón y la sangre
por la mano extendida con que espero.
Ni aun así.

NÃO

(...)
Reverrai-je le clos de ma pauvre maison,
Qui m'est une province, et beaucoup davantage?
                        Joachim du Bellay


Nem quando se olvidem todos os meus poemas,
esqueletos de alzheimer,
secos como os tamarindos da praia, o ano
que os encontramos feito pasto de cupins,
e porque o tempo faz girar lenta a colher
no prato de sopa dos velhos,
e são 26 letras impassíveis de alfabeto.
E quando acabe de morrer o mártir que me habita
atravessado pelo real venablo
de quem trocou os anos por moedas
e registra os segundos que me restam
e ainda que o anjo pertinaz de minha pobreza
volte outra vez como os mitos
ou o perdão e o sangue
pela mão estendida com que espero.
Nem mesmo assim.



CORAZÓN Y TÚ


Este es tu corazón.
No es un reloj
ni un pájaro enjaulado.
(No te dejes engañar por los poetas).
Es sólo un corazón
con su tejido fibroso de músculo
obstinado
y cierta vocación para el secreto.
A veces la mano sobre el pecho
indaga los latidos. Entonces
mano y corazón dan miedo.
Ya sabes que lo ciñen válvulas
como coronas majestuosas.

No es de león.
Más bien palpita buey,
a sí mismo obedece.
Lo oirás, lo oyes, lo has oído
y tú ignorarás siempre las respuestas.
Mueres cada noche sobre él
y al despertar auscultas su rumiar,
agitados o calmos, él y tú,
por el mismo temblor.
Tú respiras, él cava una vez más
el surco de la mansedumbre
e inexplicablemente
es sólo un corazón.



CORAÇÃO E TU


Este é teu coração.
Não é um relógio
nem um pássaro enjaulado.
(Não te deixes enganar pelos poetas).
É só um coração
com seu tecido fibroso de músculo
obstinado
e certa vocação para o segredo.
Às vezes a mão sobre o peito
indaga as batidas. Então
mão e coração dão medo.
Já sabes que o cingem válvulas
como coroas majestosas.

Não é de leão.
Antes, palpita boi,
a si mesmo obedece.
O ouvirás, o ouves, o ouviste
e tu ignorarás sempre as respostas.
Morres cada noite sobre ele
e ao despertar auscultas seu ruminar,
agitados ou calmos, ele e tu,
pelo mesmo tremor.
Tu respiras, ele cava uma vez mais
o sulco da mansidão
e inexplicavelmente
é só um coração.



ALFREDO Y YO


Duerme bajo el firmamento
la paciente flora del invierno.
Yo también duermo en mi cuarto de pobre.
Del lado ciego de la almohada
otro Alfredo tirita, es un ala
o una sombra que prendí al alfiler
entre las hojas de herbario, un insomne
aprisionado en las nervaduras,
mi fantasma transparente.
¿Qué haré contigo, Alfredo?
Afuera pasará un dromedario
por el ojo de la aguja, un milagro,
la larga letanía de tus santos
para escapar del laberinto,
tocar el infinito herido por la flecha
en la constelación de Sagitario
y siempre la tortuga en tu poema
ganaba la carrera.
Sobrevivo a cada noche
como un potro celeste
nutrido con alfalfa y con estrellas
mientras tú, Alfredo, hueles a hierbas viejas
en el cajón atiborrado de secretos.
Yo te olvido al despertar, sigo mi busca
obstinada en el pajar del mundo
y te reencuentro en la almohada
pinchado al otro lado de mi sueño.



ALFREDO E EU


Dorme sob o firmamento
a paciente flora do inverno.
Eu também durmo em meu quarto de pobre.
Do lado cego do travesseiro
outro Alfredo tirita, é uma asa
ou uma sombra que prendi ao alfinete
entre as folhas de herbário, um insone
aprisionado nas nervuras,
meu fantasma transparente.
Que farei contigo, Alfredo?
Afora passará um dromedário
pelo olho da agulha, um milagre,
a longa litania de teus santos
para escapar do labirinto,
tocar o infinito ferido pela flecha
na constelação de Sagitário
e sempre a tartaruga em teu poema
ganhava a corrida.
Sobrevivo a cada noite
como um potro celeste
nutrido com alfafa e com estrelas
enquanto tu, Alfredo, cheiras a ervas velhas
na gaveta abarrotada de segredos.
Eu te olvido ao despertar, sigo minha busca
obstinada no palheiro do mundo
e te reencontro no travesseiro
alfinetado ao outro lado de meu sonho.



ABURRIMIENTO


Una vez más el día
en este bajo mundo.

Me aburro en el jardín,
nadé en los cuatro ríos.

Me limo con esmero
las uñas de los pies.

Tengo mala salud
y he sido mal amante.

Soy muy mediano en versos:
nunca entré en el Edén

(ni en las antologías,
uruguayas al menos).

Para pasar el tiempo
puedo hablar de dolencias,

mi carné de salud
es de los veinte años.

“Altura: uno noventa,
Peso: setenta quilos”.

La foto en blanco y negro
es de un muchacho díscolo.

(Siempre me voy de tema
cuando hablo del amor).

Los hombres que me amaron,
con excepción de uno,

no tuvieron glamour
ni dejaron recuerdos

de mayor importancia.
Yo mismo -digo yo-,

de los muchos que fui
no quedará uno sólo.

(Una vez más el día
en este bajo mundo.

Me aburro en el jardín,
nadé en los cuatro ríos).

Soy sólo pensamiento
perdido en un jardín

que sueña ser Edén.
Sé que un mono me observa,

está sobre una rama.
Es eterno, calculo.

Y mientras, yo me aburro.



TÉDIO


Uma vez mais o dia
neste baixo mundo.

Entedio-me no jardim,
nadei nos quatro rios.

Limo com esmero
as unhas dos pés.

Tenho má saúde
e fui mau amante.

Sou muito mediano em versos:
nunca entrei no Éden

(nem nas antologias
uruguaias, ao menos).

Para passar o tempo
posso falar de dolências,

minha carteira de saúde
é dos vinte anos.

“Altura: um e noventa,
Peso: setenta quilos”.

A foto em preto e branco
é de um jovem díscolo.

(Sempre mudo de assunto
quando falo de amor).

Os homens que me amaram
com exceção de um,

não tiveram glamour
nem deixaram lembranças

de maior importância.
Eu mesmo – digo eu –

dos muitos que fui
não restará um só.

(Uma vez mais o dia
neste baixo mundo.

Entedio-me no jardim,
nadei nos quatro rios).

Sou apenas pensamento
perdido em um jardim

que sonha ser Éden.
Sei que um macaco me observa,

está sobre um galho.
É eterno, calculo.

Enquanto isso, eu me entedio.



NUGATORIA


Te desafió la nuez, latía
tras la cáscara guerrera, un yelmo inmemorial
deslizando sobre el hule de la mesa.
La despensa huele a paraíso y apenas había yuyos
secos de la infancia, dientes de leche
en el estuche repujado con la piel de una serpiente
como recuerdo de batallas engañosas.
Te tientan las manos expertas en degüellos,
viejas guerras de amor, el ávido vaivén
en las nueces frágiles de Adán.

Será certero el golpe, sólo añicos belicosos,
cabeza rota de la nuez o la inocencia.
Y es pulpa amarga el corazón del fruto,
el que llegó con moho en las arrugas, tarde
a la cosecha de los hijos de Eva, los del polvo
que acecha en el regusto de una nuez.



NUGATÓRIA


Te desafiou a noz, pulsava
atrás da casca guerreira, um elmo imemorial
deslizando sobre a toalha da mesa.
A despensa cheira a paraíso e havia apenas ervas
secas da infância, dentes de leite
no estojo repuxado com a pele de uma serpente
como recordação de batalhas enganosas.
Te tentam as mãos expertas em degolas,
velhas guerras de amor, o ávido vaivém
nas nozes frágeis de Adão.

Será certeiro o golpe, só cacos belicosos,
cabeça rota da noz ou a inocência.
E é polpa amarga o coração do fruto,
o que chegou com mofo nas rugas, tarde
à colheita dos filhos de Eva, os do pó
que espreita no sabor de uma noz.



LIMPIEZA


Y ahora procede a retirar
la tristeza del mundo, ¿no era esa
la función vigorosa de la salud?
Mírala, está en esas capas de polvo
macilento que encubre los objetos.
Se acumula con frecuencia en ciertas calles
y sin excepción en todos los zapatos. Suele ser
el comienzo de todos los males
así del cuerpo como del alma.
Sóplalo. Verás levantarse las nubes de polvo
que ahogarán a los frágiles, a los perplejos
y a los poetas lánguidos, hongos blancos
crecidos a destiempo en ese polvo húmedo. La naturaleza
prefiere a los más fuertes, siempre lo supiste,
y ella cuenta con tu perecedera lozanía.
LIMPEZA


E agora procede a retirar
a tristeza do mundo, não era essa
a função vigorosa da saúde?
Olha-a, está nessas capas de pó
macilento que encobre os objetos.
Acumula-se com frequência em certas ruas
e sem exceção em todos os sapatos. Era
o começo de todos os males
tanto do corpo quanto da alma.
Sopra-o. Verás levantarem-se as nuvens do pó
que afogam aos frágeis, aos perplexos
e aos poetas lânguidos, cogumelos brancos
crescidos fora do tempo nesse pó úmido. A natureza
prefere aos mais fortes, sempre o soubeste,
e ela conta com teu viço perecível.



ALFREDO FRESSIA nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1948. É poeta, crítico literário e professor. Ensinou letras francesas durante 44 anos. Desde 1976 reside em São Paulo. Sua obra poética – iniciada em 1973 no Uruguai – tem sido reeditada no México, na Argentina e na França. Em 2008 obteve o prêmio Bartolomé Hidalgo por seu “Ciudad de papel”. Seus poemas foram traduzidos ao português (Lumme Editor, São Paulo), inglês, francês, italiano, romeno, grego e turco. Em 1986 publicou livro escrito diretamente em língua portuguesa, reeditado em 2012, em São Paulo e no México. Tem feito palestras/leituras no Uruguai, Brasil, USA, França, Turquia, México, Argentina, Chile, Nicarágua, Rep. Dominicana, França, Colômbia, etc. Deu aulas, entre outros institutos, na Marshal University, Huntington, WV, na Ohio State Unversaity, Columbus e na Fundación para las Letras Mexicanas. Foi jurado do Prêmio Pablo Neruda (2010), junto a Ernesto Cardenal, em Santiago, Chile. “Poeta en el Edén” é um poemário publicado em 2012 no México e no Uruguai. Em 29 de novembro de 2016 será apresentada em Buenos Aires a edição argentina dessa obra. Mais detalhes sobre a poesia de Fressia em:
http://alfredofressia.blogspot.com.br/2010/06/alfredo-fressia-datos-minimos.html



Lançamento em Marabá e 5 poemas de "aurorescer" de Airton Souza

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Lançamento: 18/11 em Marabá.




te veste  de enseada, fende
a geometria das flores, veja,
a ilusão é um barco de auroras
orbitado de cinzas
adubado jardim
revestido de inverdades

contemplar a loucura
é mais selvagem
que aplaudir o louco

por isso cultivo mentiras

pelas tuas íris
recolho arbustos
tenho neles
a mesma mania
de girassóis amanhecidos.


***

o que custa
acender o silêncio?

brotam madrugadas
na catedral de teus gestos

sazonada
a aurora batiza
as parábolas de teu dorso
dirimi o peso dialetal
da palavra compaixão

acende o silêncio
em ti ele é um bangalô ajardinado.


***

para Maria Barbosa, minha mãe


sem receio
& desígnio
maria
inominativa
diante do catedrático dia
arvora aurora
a como/ver
[sem pudor]
o corpo.


***

para Karina Moraes


tua casa de abstrações
erguida sob o labor
de ensinar homens
os artefatos do palavramento
no indeciso tempo de agora
rabiscados verbos

tua casa encaibrada
de uma fé sonora
dentro do denso dia
habitada por todas as eras
alicerçada pela perenidade das coisas

pelas paredes
passeiam lembranças
decerto
tua voz quer atravessar o grito
arrastar a canção de ontem
para rumos do não acreditar

mas
é preciso que saiba

tua casa
calcina o impossível
colhendo girassóis
no alpendre milagrado da linguagem.


***
  
para o poeta Manoel de Barros, na eternidade


dos rumores da língua
consterna-me a não coisa
o afeto que é um rio
a gemer a pergunta pássaro
desdito no choro da chuva

as mãos da aurora
têm uma perna toda anônima
e desnuda de sol
para avizinhar o concreto da infância

no olhar de aldeia e trapos do menino
o abstrato é:
ora ave
ora árvore

do menino com piedade de adão
rasgamos a angústia do sujo
& da pedra fazemos um anzol
com as máscaras da perda
a preferir pescar o formato inominado
de dentro da conversa entre borboletas

no silêncio esparramado por deus
o menino edificou amor e grito “letral”.



AIRTON SOUZA é poeta, professor e nasceu em Marabá, no Pará. É membro de diversas academias de letras e instituições literárias, entre elas a ALSSP – Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense, cadeira nº 15, patrono o poeta Max Martins. Reconhecidamente um dos maiores ativistas culturais das regiões do Sul e Sudeste do Pará. Além disso, coordena diversos projetos literários, entre eles o Sarau da Lua Cheia, o Anuário da Poesia Paraense e o Projeto Tocaiunas, um dos maiores da Amazônia na publicação de livros independentes.  Já venceu diversos prêmios literários importantes, entre eles: menção honrosa no Prêmio Proex de Literatura, Prêmio Cannon de Poesia, menção honrosa no Prêmio LiteraCidade, com o livro Face dos disfarces, primeiro lugar no Prêmio Dalcídio Jurandir de 2014, um dos mais importantes da Estado do Pará, com o livro de poemas Ser não sendo, um dos vencedores do IV Prêmio Proex de Arte e Cultura, com o livro de poemas manhã cerzida. Em 2015 venceu alguns prêmios, entre eles o III Prêmio de Literatura da UFES, promovido pela Universidade Federal do Espírito Santo, com o livro cortejo & outras begônias, na categoria poesia. Possui publicado 27 livros, entre poesia, prosa e livros infantis e juvenis.




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