![]() |
Foto: Tommy Ingberg |
Para Márcia Barbieri, porque só me reconheço no meu nome,
quando tua boca o diz e para minha mãe, porque viu meu sofrimento
e sofreu tanto quanto eu até que eu descobrisse meu nome.
1 – O Monstro
O pior de estar preso no labirinto
É encontrar a saída inúmeras vezes
E não querer sair
Por medo de olhar nos olhos do monstro
E admitir que não sou Teseu
Mas o Minotauro
GUACCALUZ!
2 – Descrição do Limiar
A única hora em que estamos despertos
É pouco antes de dormir
Guaccaluz!
Há o círculo vermelho e o azul e os dois são o mesmo
A dualidade deste Um é a energia na qual fundo e superfície são o mesmo
Guaccaluz!
O Espírito é real e não pode estar longe do natural
Mas a Natureza sem o Espírito é um cadáver.
Não há pecado em Guaccaluz
Porque mesmo a busca é festiva
As entidades zombeteiras habitam mais a Guaccaluz vermelha
As espirituais, mais a Guaccaluz azul
E, no entanto, uma não pode ser sem a outra
O ouro é a armadilha de Guaccaluz
Porque o Mestre-Discípulo repetiu o sopro:
Meu reino não é deste mundo e o reino de Deus está em cada um de nós
Para a Igreja Católica, Guaccaluz é a Eucaristia
Para Lao-Tsé, o TAO
Cada cultura dá um nome
Eu fui incumbido de dizer Guaccaluz!
Os profetas de Guaccaluz enfrentam o Minotauro,
Devorador de criancinhas
E o vencem
O único crime contra Guaccaluz é ceder ao Minotauro
E os profetas são os mais constrangidos a cometer tal crime
Aqueles que podem tocar os círculos
Têm do lado esquerdo do peito um pouco de Guaccaluz Mas devem manter-se puros, sob o risco de desmoronar
Quando encontram o Tesouro
Os Profetas-Guaccaluz devem reparti-lo com os homens
E repetir Guaccaluz até cansar.
Mesmo quando os ouvidos estiverem podres
E pensarem em desisitir, repetir Guaccaluz outra vez.
Os varredores-noturnos são Profetas-Guaccaluz
O profeta Gentileza é Guaccaluz
Inri Cristo, um farsante
Friedrich Nietzsche confundiu Guaccaluz com vontade de potência
E Carl Gustav Jung confundiu Nietzsche com um Profeta-Guaccaluz
O mito é Guaccaluz
O amor é a lei, meus amigos
E a eternidade, uma Festa
O que mais o ser humano poderia almejar?
![]() |
Foto: Tommy Ingberg |
3 – O caminho
Passamos toda a vida aprendendo
Lendo,
Procurando,
Escrevendo,
Para um dia, quem sabe, poder dizer nosso nome eterno
Feito mendigos que juntam
Entulhos de palácios
Restos de castelos
E no fim constroem um barraco com o que foi ruína
Mas, o barraco, bem pode ser mais belo
Que os tijolos sagrados que lhe deram vida:
GUACCALUZ!
![]() |
Foto: Tommy Ingberg |
4 – Ao outro
Quem se salva, salva-se pelo mito
E pode matar o Jaguadarte!
O pior que pode acontecer a um homem é perder sua alma
GUACCALUZ!
GUACCALUZ é zombeteiro
Brincalhão
Um menino
É contra todo espírito de gravidade!
Um Deus que, se não dança, ao menos conta piada
GUACCALUZ!
Se o dia foi feito para o trabalho
A noite foi feita para o sonho
E um não pode ser sem o outro
GUACCALUZ!
Por isso, é preciso passar pela doença
Pois a própria doença produz a cura
A lâmina da espada é feita do sangue do Dragão
GUACCALUZ!
E se as dualidades são sempre unas,
Por que Deus estaria separado do Homem e o homem de Deus?
O nome desse Dragão é modernidade
E o nome que eu me dei é o mesmo com que Deus Se Me mostrou:
GUACCALUZ!
E se você quer escrever, aprenda tudo sobre as palavras e depois esqueça as palavras.
Se quer cantar, aprenda tudo sobre o canto e depois cante, apenas
Se quer pintar, aprenda tudo sobre traços, cores, pinturas, perspectivas e depois apague
Um chinês disse que o sábio aponta a Lua, mas o tolo olha para o dedo
E GUACCALUZ completaria:
- E ainda reclama da cutícula!
Não seja um tolo, não se perca na máscara
A alma é o rosto mais precioso!
Se você quer, pode recriar o mundo
Mas, primeiro, tem de adoecer
Perder-se no labirinto
Tornar-se o monstro e trocar de rosto
Correr o risco de morrer sem ter sido
Encontrar o tesouro
Trabalhar de dia e sonhar de noite
Aprender uma piada nova de vez em quando
Cortar a cabeça do dragão
Então poderá ofertar à Morte uma taça cheia de vida
E a lagarta terá se transformado em borboleta
Diante do túmulo tua boca vai sussurrar: GUACCALUZ!
Mas já não será esta a palavra
E sim outra feita só para ti
O nome como Deus se inscreve no teu coração
E sequer precisarás lembrar que um dia existiu GUACCALUZ!
Daniel Lopes publicou a coletânea de contos
Pianista Boxeador (Confraria do Vento), o romance
Fruta (Terracota - 2013)
e A delicadeza dos hipopótamos (Terracota -2014). Daniel edita o blogue
Pianista Boxeador.
Contatos: danielopes26@yahoo.com.br