Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all 5548 articles
Browse latest View live

3 poemas de Tere Tavares

$
0
0
Ilustração: Lar/Tere Tavares


Casas à casa

um dia de frio tem a beleza cruel de tão bela
a manhã alvorece e há mais alguns que já não pensarão em fadas
enquanto os duendes se divertem no gelo do lago
ao longe uma caravela pensa passar
traio-a e então é o rio que passa
não tento corrigir nada, não há forças
no frio do tempo
obrigo-me a ser peso como o cinza que ouvi
aceito o inverno sem esquecer de me aquecer
na estrela que cairá do centro do mundo
para dourar o que houver
de novo
o ar
na estrada
agora é um sorriso
enrodilhado de mantas que não sabe ter
passa da montanha
tão mínima diante do que a repara
amparo-o
para que não se pareça com a sorte dos sem nada
que gozam o frio de sempre
tão díspar dessa rua
que gostaria de obter os campos
o branco frio que deles renasce
sem pressa e sem ausência
com uma luminária maior e mais leal que o sol
entrando sorrateira em cada rosto
para viver quiçá
o seu primeiro instante
que é um dia
ou toda uma vida
depois
de amanhã.


Ilustração: Parede com Flores/Tere Tavares


Graças ao que foi possível existir

iniciava-se a noite num dia
em que contei à algumas nuvens
os condutores extintos
ao que chamo servidão
ou fim

entre  pastores e estradas de terra
descobri que ainda havia coragem
e limites duráveis

até a altura pretendida
não era a vida o momento virgem
nem o chamado intacto
o fato a condição
a verdade que não fingiria
suportar num instante infinito
o grito de não querer partir
ou salvar o ponderável
o pó de água
desprendendo-se de mim


Ilustração: O sorriso das Flores/Tere Tavares


Quando o pensamento ignora a palavra

algo atravessa-me o espírito
sacrificando-me o gesto
ainda não conheci de todo
o casulo onde as cores respiram
não aprendi simplificar o mundo
em sua inocência suprema
e o espetáculo me parece
contemplar o que devo
a cada instante
-como numa lição ruminante-
começar
e a cada vez
com mais prudência
e sem fixação.





Tere Tavares, escritora e artista plástica, radicada em Cascavel, PR, BRASIL, autora de cinco livros publicados "Flor Essência" (poesia 2004), "Meus Outros" (poesia e prosa 2007), "Entre as Águas" (prosa 2011), “A linguagem dos Pássaros” (poesia Editora Patuá 2014), “Vozes & Recortes” (prosa Editora Penalux 2015). Participante de quatro coletâneas editadas em Portugal: "A arte pela escrita III" (2010) "Cartas ao Desbarato" (2011), "A arte pela escrita IV" (2011) e “A arte pela Escrita VIII” (2015). Conta com trabalhos de prosa e poesia publicados nas Antologias Febraban ( 2007) e (2009).Integra as Antologias: “Saciedade dos Poetas Vivos” Vol 11 (2010) do portal “Blocos onLine”, “Contologia” da Revista “Arraia PajeurBR 4, (2013), “Antologia Poética 29 de abril o Verso da Violência" (Editora Patuá 2015)”, “Sobre lagartas e borboletas” (Selo Editorial Scenarium(2015) e “Aquafúria - Uma antologia de Poetas Sedentos" (2015). Possui publicações em sítios da Internet: “Cronópios”, “Histórias Possíveis”, “Blocos online”, “Musa Rara”, “Diversos Afins”, “Germina – Revista de Literatura e Arte”, “Revista Grito”, “Escritoras Suicidas”, “Mallarmargens – Revista de poesia e arte contemporânea”, Revistas “Fénix-Logos”- PT, “EisFluências”- PT, “Soletras” de Moçambique, “Acrobata” número 4, de Teresina-PI. É colaboradora do blog “Dardo”. Participa do portal lusófono litero-artístico “EscrtArtes”. Integra a Academia Cascavelense de Letras.Edita o blog http://m-eusoutros.blogspot.comE-mail: t.teretavares@gmail.com

ESCRITA LIVRE

$
0
0

Escrita livre



Luciana Salum



Háde se pensar em alguma liberdade em tempos de cólera.

“Escrita livre” parece-me um bom nome já que atribuímossentido às coisas. Remete-me claramente àassociaçãolivre e carrega, como herança, a própria prisãodo termo. Peço licençaao campo poético e iludo-me numa liberdade efêmeraque desaparecerá na medida em que terásido. Na medida em que terá sido escrita. Presa então estaráao sentido do outro, daquele que leráo texto e fará dele os meus vocábulosjá escritos.

Parece que o fracasso da comunicaçãoanuncia seu caminho... Textos produzidos exclusivamente como garrafas jogadas ao mar. Com destinatário que prenderámeu equívoco em outro porto. Distante. Marcado pelo oceano sem onda que não mais trarámeu dito lido por outro para me contar o que eu disse. Desamparo-me por minhas próprias palavras. Escrita livre e extraviada. Constantemente extraviada. Exclusivamente extraviada.

***

A madrugada me lembra em minha liberdade silenciosa, juntamente com meu psicanalista francês preferido, que o amor éuma junção do Imaginárioe do Simbólico com a exclusãodo Real... E ao optarmos por afetos tais quais a ignorânciae o ódio nossa liberdade é,tanto circunscrita pela falta da palavra mediadora, exibida pelo ódio,como pela inviabilidade da representação, pelo  triunfo da ignorância.
(...)
Havia isso certo? Escritos em textos que me fizeram destinatária? Garrafas perdidas não em mares mas em lagos artificiais marcados por uma cidade projetada que, desesperadamente, transgrediu algumas de suas regras e deu espaçoà radical diferençaentre mim e outro. Deu espaçoàdiferença insuportávelpelo olhar que me familiariza com aquilo que deveria permanecer  quieto e élançado aos olhos do mundo a denunciar toda minha estranheza e ser marca de meu desassossego.

Escutei, penso que poucos escutaram... veio com a forçade um grito e foi escutado com a potênciade um sussurro... Eu escutei. Acho que por que vi,... Acho que por que amei.

Vinha como um pedido urgente de amor. Parece ser ele o afeto ausente a denunciar toda a falta de solidariedade e generosidade de uma geraçãoque cresce em progressão geométrica. “Mais amor”... era isso? Não sei mais. Parece que tomada por Epimeteu esqueçominha história, absolvo-me de meus pecados e... quanto ao amor, fico com o que me cabe, com o que me serve bem. Afinal, “ébom possuir, é bom possuir, ébom possuir”.

                                                                               Foto: Luciana Salum

Lançamento em Curitiba de "Sob o Signo da Noite" de Daniel Osiecki

$
0
0

Rua Trajano Reis, 326, 80510-220 Curitiba



Sob o signo da noiteé o segundo livro do escritor curitibano Daniel Osiecki. O livro reúne contos que abordam,  em sua maioria, dramas urbanos nos quais a cidade de Curitiba  (escura e fria) é muito mais do que espaço. 




Daniel Osiecki nasceu em Curitiba em 1983. É professor de literatura e crítico literário.  É colunista do Jornal Relevo. Editor regional da Revista Flaubert, publicou nomes relevantes da literatura brasileira contemporânea.  Publicou Abismo (2009) e Sob o signo da noite (2016). 

Dona Santa - André Rocha

$
0
0
Ilustração: deviantART




sua sombra desesperada apalpando guias
sarjetas e lágrimas juvenis
a atração pelas virilhas, vaginas e cu depilados com cera quente
no vitro do banheiro iluminados cogumelos com leite condensado
corrompendo santos em terrenos baldios
oh linda garota que bate punhetas antes de sol se pôr
garota apertada
tão úmida e vulgar
anjos hermafroditas vigiando nossas mães
desvirando chinelos
convulsionando doses de conhaque
- deus é gay mamãe.
disse a criança suja de tinta guache
mulheres histéricas fumando cigarros baratos
anti-depressivos
novelas e tomates maduros
menopausa
flutuam seus pelos pubianos pelas navalhas cegas
com as cabeças nos trilhos do trem
duvidando da lua
maldizendo o cosmos
carícias obscenas no meu quarto
línguas hábeis nos meus bagos
beijo grego
ruas apagadas
respirando a solidão
- é o ácido.
nas orgias carregadas de álcool
nos fios de cabelos esquecidos no lençol
nas pias  abastecidas de psicotrópicos
charmosas prostitutas frenéticas ás 4 da manhã
- preciso de um amor de pele morena.
sonhos fodidos de março a julho
amantes lésbicas
doces trepadas
motéis vagabundos
overdoses de pó
- moças, moças e mais moças.
profecias pornográficas sob a luz vermelha de neon
hipoglicemia
um velho malandro cantarolando sambas antigos numa esquina do meu cérebro adulterado
Ogás nos atabaques
saias de renda, olhos vermelhos e sorrisos agradáveis
agulhas e Exu's
Jeová sentado sozinho no ônibus
- sexo anal sem camisinha, cerveja e maconha.
meus amigos trancados em presídios
"o homem é o lobo do homem "
duas semanas de beijos insanos
vimos o céu desmanchado em amor e glória
tetas lascivas e indecentes esfregadas na minha cara
Maria dengosa e seu irmão mendigo perdido pelas ruas de São Paulo
sou da geração dos menores infratores
cheiradores de cola
sem abraços ou agasalhos
sou a linha da pipa com cerol no seu pescoço
seu pai alcóolatra e agressivo
o câncer na sua próstata
o oposto, o contrário
o cão que come na sua mão
a adolescente reabilitada
a calma ressuscitada em passarinhos na janela
nas suas pernas eu sou o meio
sou o sol na hora do recreio
sangue seco grudado no meu adidas branco
- lembra?

                                        Para alguns amigos privados de liberdade, para as mulheres que ainda vou amar e para as que me odeiam, inclusive minha mãe.


André Rocha

MARIEL REIS + BRUNA MITRANO = 3 POEMAS, 3 FOTOS

$
0
0



























CAMBULHA

Os caranguejos levam
Ar, através de túneis,
Para os mortos -
Dentro da lama.
Somem num rastro azul.






























BANCA DE PEIXES

Movem-se os cardumes -
Por líquido escuro -,
Incandescentes.
Nadam dentro da morte:
Banca de peixes.






























VERDURAS

O motor da verdura
Move hélices.
Circulam água e ar
Nas minúsculas
Tubulações das folhas.








As fotografias de BRUNA MITRANO
(da FEIRA DE BANGU)
inspiraram o tríptico de poemas.


MATHEUS ARCARO LANÇA ROMANCE EM SP/ 21/05, 19H

$
0
0




MATHEUS ARCARO LANÇA O ROMANCE “O LADO IMÓVEL DO TEMPO”


Após a boa receptividade crítica da sua primeira obra, o livro de contos “Violeta velha e outras flores”, publicado em 2014 pela editora Patuá (SP), o ribeirão-pretano Matheus Arcaro (32) lança seu segundo livro, desta vez um romance.

“O lado imóvel do tempo” tem como protagonista Salvador dos Santos, um bancário aposentado, poeta frustrado que, ao completar 70 anos, entra numa crise existencial. Ele percebe que a morte se aproxima e o medo de ser esquecido leva-o a cogitar inúmeras possiblidades para reverter isso até que chega à conclusão de que a única chance que tem para que seu nome seja cravado na história é tornar-se assassino em série.

Matheus espera que seu romance de estreia tenha o mesmo êxito do livro de contos. “Em menos de um ano e meio do lançamento, chegamos a 800 exemplares vendidos. Esse número é muito significativo, ainda mais eu sendo o livro de estreia de um autor do interior de São Paulo. Além disso, por todo o Brasil, saíram muitas resenhas e notas positivas sobre o livro. ”

Se depender das indicações, o sucesso virá novamente. A obra já nasce com o aval de nomes de peso da literatura nacional. O posfácio é de Whisner Fraga. A quarta capa é assinada por Nelson de Oliveira. O prefácio ficou por conta de Ronaldo Cagiano. Já a orelha conta com dois premiados no Jabuti de 2015: Maria Valéria Rezende e João Carrascoza. A primeira escreveu sobre a obra:

Em "O lado imóvel do tempo", há tudo o que um leitor arguto espera da literatura contemporânea: renúncia à linearidade artificial, flutuação entre vários tempos da ação, fluxo de consciência, diferentes vozes narradoras, nenhuma delas confiável, o sujeito em crise, incerto de sua existência real se não for delineada pelo olhar do outro, de muitos outros, de todos. E metáforas originais, surpreendentes, que, uma vez lidas, se revelam indispensáveis, sem jamais derrapar para a literatice e dando ao texto uma necessária pátina de humor.

Já Carrascoza afirmou:

"O lado imóvel do tempo"é uma obra vigorosa, com personalidade, que reafirma o talento de Matheus Arcaro como ficcionista.



Serviço
Lançamento em São Paulo: 21/05/2016, sábado, às 19:30 no Patuscada Bar.
Lançamento em Santos: 28/05/2016, sábado, às 19:00, no Estação Cidadania.

Lançamento em Belo Horizonte: 22/06/2016, quinta-feira, às 19:00, no Letras e Ponto



*   *   *



Matheus Arcaro nasceu em 1984 em Ribeirão Preto, onde vive atualmente. Graduado em Comunicação Social e também em Filosofia. Pós-graduado em História da Arte. Atua como professor de Filosofia e Sociologia, artista plástico e palestrante. Desde 2006 tem artigos, crônicas, contos e poemas publicados em veículos regionais e nacionais. Seu livro de contos ‘Violeta velha e outras flores’, publicado em 2014 pela Patuá, vem recebendo ótima crítica em âmbito nacional. Seu romance “O lado imóvel do tempo” também foi publicado pela Patuá.

5 poemas de Dagmar Braga

$
0
0
Ilustração: Jules Bouvier


Arqueologia

removo o pó dos sonhos
convoco oráculos
deuses
pitonisas
remonto a um passado
indecifrado
labiríntico

descerro véus
– é tua esta sentença?

como dói escavar este argumento
o nó                o laço             o texto

quando somos nós mesmos
subterrados


Arqueologia, Editora Patuá, 2016



Revelação

num descuido                     eu a vejo
à minha frente e dentro

e esta madurez
há muito germinada
tão entranhada em mim
me cobre e me revela

compondo traço a traço
o mapa dos meus dias

foi-me embaçando os sonhos
e me roendo os ossos
frisou as minhas mãos
limou as cartilagens
  
e me encolhendo os dedos
e as possibilidades

forjou em mim
memória e esquecimento
desde o primeiro choro da criança
extraviada no tempo
                                   
Arqueologia, Editora Patuá, 2016 


Ilustração: Jules Bouvier

*
como se fosse domingo
desabotoei as horas
l e n t a m e n t e

abri minhas gavetas e deixei
suspensa
a esperança ilegível

recolhi o desejo      
a memória

como se fosse domingo
deixei a solidão lançar seus fumos
meus destroços e lendas

aprontei o turíbulo
–  a prece pelo avesso – 

desentranhei-me –
o coração vadio

o corpo         
o olho nu
como se fosse domingo e um deus dormisse

Geometria da Paixão, Anome, 2008



Entrementes

num átimo
o último

sopro
beijo
sonho

a última palavra
o abismo

no sol posto
um istmo

unindo          
o nada           a nada


Geometria da Paixão, Anome, 2008 



Bumerangue

Tem um caminho nessa pedra
que eu atiro
                e volta
ao mesmo ponto     
                        ou conto
                        ou medo
                                               ou dedo
que me aponta a trajetória
que não
fiz.

- Cadê o amor que estava aqui?

Geometria da Paixão, Anome, 2008


Dagmar Braga é autora do livro de poemas Arqueologia (Patuá, 2016), é natural de Pitangui (MG), reside em Belo Horizonte. Professora, dedica-se à promoção de Oficinas de Literatura. Criou e gerencia, desde 2006, o Espaço Cultural Letras e Ponto, onde acontecem oficinas, encontros, exposições, palestras, saraus, debates e degustações de peças artísticas - nos domínios da Literatura, da Música, do Teatro, do Cinema ou das Artes Plásticas. Organizou as antologias Noites de Terça (2007) eOficina da Palavra (2011), com trabalhos desenvolvidos em oficinas. Tem textos publicados em  antologias, jornais, revistas e sites literários. Em 2009, foi finalista do Prêmio Jabuti, com Geometria da Paixão (poesia).


A Consciência é o estômago do cérebro - Gigio Ferreira

$
0
0
Ilustração; Hanna



Queres produzir  beleza ?
Vice
Versa...
O   estômago é quase autônomo...e  não me venha dizer que um autor sem ética não consegue muitas peripécias apertando o  pescoço da  estética, sensibilidade parece um jogo, as regras só  funcionam para os  robôs do meio de campo...
ROBÔ VEM DO TCHECO
e
quer
justamente
dizer...
TRABALHO  FORÇADO!
Na noite anterior as frutas estavam dentro de enormes circunferências de chuva, mesmo as  vozes, eram  apenas  milímetros de raciocínio sem  pena!
A linha reta adormecida é uma vitória...as  toneladas  acham graça! Todos os  meus  fracassos  escolares, inclusive o  majestoso ingresso numa  universidade, tudo, absolutamente  tudo, tudo foi  obra do  acaso, não bastassem os  lirismos cronológicos, também o  meu coração  nunca foi  lá  de  grandes  diálogos pavimentados.
Fiz  isso no escuro... juro,escrevi apenas lembrando como eu havia aprendido no jardim de infância, quando a professora Irene, coitada, infeliz no casamento, socava as  nossas  cabeças naquele lúgubre quadro negro, dizendo que aqueles desenhos eram as letras do nosso  alfabeto, hoje pensando nisso, acho uma diversão, brinco de escrever  em pleno  escuro para ver o que  eu desenho com as  palavras,sim, experimente esse  jogo mágico, se não sair uma grande poesia, pelo menos você tem o desenho  inédito nas  mãos, do  desenho surgem imagens que você nobre poeta, poderá utilizar  escrevendo o enredo que acabou  de  nascer na tua frente! Viu como nada é loucura quando você resolve brincar de vez em quando? Nenhuma criança é louca, ela apenas vê o que você adulto apenas despreza, afinal existe a pressa...e  a  rapidez  anda com as pernas  da truculência, quase tudo que eu falo eu  escrevo com  essas características, não me sobrou tempo para aprender um outro caminho, não houve parede para que eu desenhasse as minhas  primeiras impressões quando apareci por aqui cheirando esse  mundo.
ENTÃO  A CADA  RESPIRAÇÃO DEVERIA NASCER  UMA PALAVRA
Três horas da manhã despertei com um nó na garganta, fui beber água, mas não era sede o  problema... sonolento não percebi os lábios salgados...a comida engana muita coisa... menos a angústia, fato !
Outros dias vieram,outros cadernos foram preenchidos... datas, agendas,compromissos,
reuniões...sumiços!
"O seu livro é muito bom...você sabe arquitetar como uma aranha venenosa toda e qualquer vírgula que se apresente como silêncio, mas noto um problema na sua escrita, a  sua  nitidez parece não humana, algo como uma pedra gigantesca atrapalhando o  diálogo com a realidade Brasileira, creia-me, não é  um livro para  os  jovens...os adultos são complicados demais, ninguém está a fim de mergulhar  nessa tua piscina sem água ! Escreva sobre  um vampiro  sexy, coloque mais sexo em sua narrativa, não é de sacanagem que estou falando... é de  sensualidade, mulheres gostam disso, aposto que você tem esse coelho guardado em sua  cartola, não é possível  tanta imaginação aglomerada em  uma só  pessoa...  e  você me enviar  apenas isso... DELÍRIO! Faça-me  o  favor de cair  fora  daqui, não suporto  pessoas  tristes, deixei de publicar poesia  justamente  por esse  motivo...agora apanhe seus  originais e dê o fora ! Só me apareça  aqui com  uma  TREMENDA  NOVELA  BRASILEIRA"

Que jogo  interessante de  futebol  eu estava assistindo pela televisão, o  árbitro da partida era  cego...outras vezes mal intencionado, havia dois zagueiros estúpidos no time adversário, que volta e meia cuspiam nos  habilidosos  atacantes, isso quando não enterravam os  dedos nos  ânus daqueles garotos tatuados, possivelmente oriundos das classes mais humildes do país... o narrador da  emissora de televisão era um débil mental absoluto, digo isso porque ele era além de mal intencionado, um CEGO! O atacante driblou um daqueles zagueiros, mas na cobertura surgiu o  outro criminoso que sem elegância  alguma trombou com o veloz atacante...e  então uma de suas  pernas  calçando uma chuteira hedionda acabou por acertar  intencionalmente  os  colhões do garoto, que caiu ao chão se contorcendo  de dores...foi  aí que o tal  narrador a mando de alguma reunião de pauta  disse para nós, milhões de  telespectadores,  que  naquela trombada o  pé do estúpido  zagueiro havia acertado sem  querer  o  estômago do veloz atacante...e  que aquilo doía muito, por experiência própria...SIC!
Sangue e muito sexo...sexo com muito sangue ! Palavrão pra porra, ora vai te foder era  o bom dia de cada personagem, nada de tocar nas partes, o negócio de  cada  personagem  era chupar  pica & chupar  boceta...e se desse vontade você poderia  meter  bala à vontade, foda-se você  também, ora porra! Onde já se viu uma novela  policial sem baderna explícita? Depois o passo seguinte era  esfolar o  próprio  pai e a  própria mãe, porra de gente careta que não merece  viver em paz, então balde de gasolina neles e risca-se um fósforo, pronto! O amor  era apenas um detalhe sujo e sórdido, coma-se  também  todas  as  irmãs de sangue, as tias velhas, as  cabras, as  galinhas no quintal...
Agora eu me encontro aqui...em terras  estrangeiras recebendo a  hóstia da primeira  comunhão...as  mãos geniais e trêmulas  ainda me serviram uma taça espetacular  de um vinho que jamais esquecerei em minha vida de construtor de imaginários...aprendi  com ele a  falar  assim...VIVA  OS  EQUINÓCIOS !




Gigio Ferreira nasceu em 22 de junho de 1967 no Bairro da Pedreira em Belém do Pará. Estudou Letras na UFPª. Participou do Movimento Cultural Dadalúvio da UFPª.  Do  Projeto  Cultural  Poetas  Paraenses - Versos  no  Ar, da   Rádio  Cultura  do  Pará (FUNTELPA, 2005-6 e 2015 ); Prefaciou o  livro Infância Retorcida do poeta paraense Airton Souza (Giostri, 2012); Colaborou  com a Revista PI 2 do editor e agitador cultural  Luiz Carlos Barata Cichetto (2012-3).  Participou das antologias Vinagre: uma antologia de poetas neo-barrocos (2ª ed; 2013), organizado  pelo poeta Fabiano Calixto;.Em 2013, Gigio Ferreira lança O gringo da Matinta, livro de dramaturgia infanto-juvenil em parceria com a escritora  paraense Miriam Hanna Daher;   A-Massa Barata,  livro de poesia em parceria com a ativista cultural  Joanna Franko, publicado pela  Barata Artesanal,  2014. E ainda,  o livro de contos Chibé de Cobra & Multicabaré (Giostri, 2014). Gigio Ferreira é também poeta performático, e participou em 2014 do show Nuit do cantor e compositor Sérgio Leite; da 7ª ed. do Programa Cultural A Noite é uma Palavra, promovido pela Fundação Cultural do Pará Trancredo Neves, 2015. E do Show Iluminuras do cantor e compositor Heraldo Goez (2016).            Participou da Revista Pausa on line (São Paulo). Em 2015 lança o seu 2º  livro de contos Conversas com Mulheres Nuas  pela Giostri., em 2016  o livro de poesia O Palhaço de Arame Farpado, pela editora Penalux, São Paulo.
 Contato com o autor : gigioferreir@hotmail.com




BreveEntrevistaResenha com Mauricio Salles Vasconcelos sobre o livro de poemas Caderneta-Maquete

$
0
0


Por Marcelo Ariel

Nota: A BreveEntrevistaResenhaé uma experiência de fusão dos procedimentos da entrevista com os da resenha, uma tentativa de tornar a entrevista menos focada na biografia e a resenha um pouco mais densa, inicio a experiência com o poeta e ensaísta Maurício Salles Vasconcelos, conversamos sobre o pensamento e conceitos em torno de seu livro de poemas  Caderneta-Maquete lançado pela Editora Córrego em Abril de 2016.

1-) Sinto que uma das questões do livro é a de uma fusão de temporal idades, um movimento onde o tempo se converte em espaço para além de uma historiografia e na direção de um ' presente contínuo'que é uma 'energia da presença' , você concorda com essa minha leitura ?

          Importante, você destacar esse elemento do presente contínuo, pois só o captei no instante de compor os poemas, esquecendo-me depois do ponto de fusão que se cria com a “energia da presença”. Ou seja, são corpos caminhantes as forças motoras do livro. A partir da atuação na vida da cidade – um ativismo, recorrente em todo o livro, a envolver a Política dos Parques e o direito ao trânsito livre, a uma existência urbana devolvida aos pedestres – cria-se uma ligação com a infância. A figura do pai, na última parte – MUSICAL – propicia o encontro com o tempo anterior, tendo o táxi como meio de transporte, mas também a passagem para o plano da dança coletiva que a menção ao cinema musical favorece. Caderneta-Maquete acaba, então, desenhando a reunião de diferentes polos do tempo no espaço da cidade tornado eixo de um continuum na descontinuidade, eu diria.


2-) Me parece que os poemas do livro, poemas-notações, registros da presença no sentido heideggeriano talvez, se movem em uma dimensão próxima do onírico, no que ele possui de hiper realidade, você poderia falar um pouco sobre isso?

         O onirismo não se desliga de uma dimensão maquínica, sempre referida em Caderneta-Maquete. Entre os acessos downloads viabilizados pelo timing das plugagens informacionais (dadas numa esfera de imaterialidade a correr, a “baixar” durante as horas do sono) e os corpos ocorrem planos de contiguidade.
O livro aponta, assim, para uma dinâmica sempre ativa de captura entre os diferentes planos do real e da escrita. Penso que o ato de grafar hoje, inseparável das máquinas de impressão/arquivamento conexas a recursos audiovisuais, torna o texto de literatura e especificamente o poema uma escavação capaz de baralhar os estratos do sonho com uma imediata configuração na vida imediata. As menções ao onírico em Caderneta...– por exemplo, Breton (certos traços de aparição/desaparição do Amor Fou) e os cortes não-realistas da imagem cinematográfica (sejam em Debord sejam no cinemusical) – atendem ao interesse de fazer da imaginação e das projeções da poesia um palco aderente à realidade do presente. Algo indissociável da captação de elementos dotados de uma complexidade e um sentido combinatório, muito mais orientados para uma intervenção na ordem do dia – ou na “loucura do dia” (como pensa Blanchot), em lugar dos recônditos noturnos. Circuitos intercomunicantes se criam, pois. Novos espaços para o livro, para a poesia se apresentam em torno de uma escrita-anotação, num desbordamento da pauta lírica, a exceder a linearidade de um poema atrás do outro como comumente se alinha o volume poético legado até hoje através de uma longa história de sons, palavras e imagens que ritmam (lembra Rimbaud na Carta do Vidente) a ação de mulheres e milhares no tempo.



3-) A palavra ' Maquete' possui dobras de significado, sendo a principal um devir espacial que aponta também para um pensamento de intervenção na cidade, na vida da cidade, me parece que há uma narrativa do espaço que ' se diz' através de uma dimensão do fenômeno, inclusive de ' perda do eu', de dimensão digamos mística de um esvaziamento e de uma transparência do mundo, como você vê estas questões do eu e da cidade no livro?

         É uma poesia da cidade, sim, que se apresenta aí. A pauta que o espaço urbano propicia para a arte, a política, para o que torna mais vivo a passagem de cada existente, eletrizou a escrita de Caderneta-Maquete. O traço de anotação, o qual quis frisar desde o título, não se aparta de uma construtividade. Os jatos gráficos, as linhas instantâneas que se formam sob as inervações (em compasso com Walter Benjamin lendo cidade e cinema, conjuntamente) do cotidiano megaurbano contemporâneo, vibram no compasso de uma tópica abrangente, pluralmente pulsante para novas formas de vida.
O livro se torna maquete – diz na apresentação Simone Homem de Mello. É isso: livro e o lugar público da cidade estão em estreita consonância. Projetam inscrições, grafites, gráficos de uma outra ambiência, uma neoecologia de corpos e mentes (não apenas da Natureza, tomada como substrato superior de uma luta ambiental). No andamento das novas disposições humanas e culturais, o livro de poesia soa como uma caderneta de notas em que se projeta um desígnio interessado de coisas capazes de potencializar a continuidade de existência, escrita e história coletiva. Uma cidade potente e pluralizada (o livro se alinha a tal busca).

No que se refere ao eu, personificado na figura “Mauricio” mencionada no livro, ganha um contorno nítido enquanto habitante da cidade. Seu background– como se lê na seção “Musical” – é apreendido ao lado do pai, um taxista (um trabalhador do trânsito, do transporte). Desde o princípio até o ponto de culminação do ativismo na atualidade – Política da Vida Pedestre –, a marcação do “eu” em Caderneta...tanto se expande – a diluir os dados da pessoalidade – quanto se firma no poder de dizer a primeira pessoa para fora de um tratamento lírico. Dentro de uma pauta pontuada por um programa multiplicador de forças tanto poéticas quanto políticas de atuação é que o traço subjetivo se configura. Inapartável, pois, de situacionismo, cinema dos corpos em dança, arquitetura, ecofilosofia (em plena sintonia com Guattari), tecnologia, arte-cidade (confluente com as proposições intrigantes de Nelson Brissac), antropologia urbana, grafite, autonomia política (um veio producente da filosofia hoje).

Aqui o link para a página do livro no site da editora: Cadernete-Maquete

POEMA INÉDITO DE JORGE ELIAS NETO

$
0
0





Planície

                                                                              Glória é uma palavra
                                                                                                        esvaziada de sentido,
                                                                                                        e me chega no poema,
                                                                                                        em forma de despedida. 

Dentro de mim
tudo se aplaina
e em breve,
não mais sairei à guerra.

                                                    (A pedra tardia
                                                               jaz na funda
                                              ─ injustificável.)

Dentro de mim,
fez-se vazia
a rebelião dos anjos
de longas adagas.

Dentro de mim,
a cicatriz transparente
abriu sua boca para a noite
e vomitou a culpa.

Dentro de mim
um estampido
perfurou a cova
e despertou as raízes.

Dentro de mim
um todo imenso
viu-se areia.

Dentro de mim
o pai do Mundo
me chamou de filho
e eu o chamei de Terra.

Dentro de mim
o espasmo
da semente grávida.
estendida sobre o lençol branco.

                                                  Dentro de mim
                                             o orvalho fez soçobrar
                               o medo e despertar a hera onde a pá de                                                   
                                     cal sufocava os cristais dos ossos.
                              





Imagem: arte de Jie Ma


*    *    *





Jorge Elias Neto (1964) é médico, pesquisador, cronista e poeta. Capixaba, reside em Vitória – ES. Livros: Verdes Versos (Flor&cultura ed. - 2007), Rascunhos do absurdo (Flor&cultura ed. - 2010), Os ossos da baleia (Prêmio SECULT - ES – 2013). Participação: Antologia poética Virtualismo (2005), Antologia literária cidade (L&A Editora – 2010), Antologia Cidade de Vitória (Academia Espírito-santense de letras – 2010,2011,2012,2013) e Antologia Encontro Pontual (Editora Scortecci – 2010). Colabora com poemas em vários blogs e na revista eletrônica Germina, Diversos-afinsm Mallarmargens e no Portal Literário Cronópios. Membro da Academia Espírito-santense de Letras onde ocupa a cadeira de número 2. BlogEmail.


LEIA TEXTOS DO AUTOR






6 poemas de Raphael Sassaki

$
0
0


fique feliz

Passei a manhã inteira tentando achar neologismos com 43 letras mas só encontrei vídeos de proteínas que caminham como atores em frente às câmeras e gatos que carregam qualquer coisa de muito indefinível no seu olhar. Nossos rostos são coisas que mudam todos os dias. Nossos sonhos também. E qualquer um que já tropeçou na rua deve saber alguma coisa sobre a inteligência de Deus. Sei que incêndios são muito bonitos mas acho que nunca se deve chegar assim tão perto deles. Tudo aquilo que abre portas e pode ser habitado é o amor. Alguns bichos passaram por aqui e deixaram estes rastros, estas coisas, e estes nomes das coisas. Lembre que falar errado continua sendo o jogo mais bonito do ano, e fique feliz, pois mesmo depois de termos nos matado tantas vezes, acordamos de novo e ainda somos muito jovens


Astrologia

bigodes de leite no degrau de estrelas
passos predestinados

seu bazar beneficente
de corações amorfos

escaladas de mãos dadas
com espíritos na aclimação

dorme debaixo de astros grávidos

barulho de chuva em suaves
enteléquias no rolê

seus olhos plic ploc soltam sortilégios primitivos

há milagres abertos
nas costelas rachadas
da catedral da sé

e a rua fecha os olhos como nosso amor


aqui é lugar nenhum

Ontem foi dia de nadar na piscina à meia noite e assistir aos sonhos do mundo na televisão. Foi dia de ver passar o dia na sacada alheia dentro deste labirinto a que chamamos cidade. Perdi muito tempo lendo sobre as 27 farmácias, os 39 prostíbulos e as 3 escolas de música da capital desaparecida de Xang-han. E de tanto falar no facebook começamos a fazer deste qwerty um blues, e percebemos que esta era a maneira certa de se dizer tudo aquilo que não sabíamos ser possível dizer. Acho que também prefiro um grande amor do que ser publicado na revista piauí, e ver star wars no cinema com você ainda é o melhor programa do verão. Ainda não foi neste ano que nos alcançou a mão invisível, não foi neste ano que achamos aquela fórmula que libertará para todos a explosão das novas formas. Percorri os livros esotéricos todos sem nunca ter achado algum segredo mas seu sorriso nestes ângulos estranhos de prédios brilha mais que o mal ou o olhar das estrelas


o movimento giratório dos peixes

 Nosso papo é um círculo que não para de crescer em volta da praça Roosevelt, sobretudo quando você fala das três canções perdidas de Bob Dylan ou diz que nem as ruas nem os corpos já nos pertencem mais. Agora eu conto todos os guarda-chuvas no bar dos atores e registro quase 69 ângulos diferentes do seu rosto, enquanto você fala dos seus sete flertes e faz planos para os próximos quinhentos anos. Então ouvimos a voz dos mortos da Vila Munhoz e vemos a vida transformada de dona Zilda, e sabemos que entre essas duas coisas deve haver todas as possibilidades do mundo. E no meio de tudo ainda houve tempo para aqueles olhos castanhos batendo em todos os cantos da cidade, e por fim, para esta sua mania de atrair moléculas e gases e qualquer outro elemento interestelar para perto de si. Acho que nenhum deus sabe exatamente onde vai dar o mundo, mas que o amor existe isso não há quem duvide, a verdade está alguns decibéis acima do ouvido humano e por cima passam todos os bichos.


coisa

tráfego de fótons no céu laranja
o instinto nos leva como 1 ônibus

letras só chamuscam não capturam
o código de coisas q o mundo lambe

olhos abertos
no luscofusco de um planeta
lindo e estúpido

brasil: acepipe dos deuses
             na capela do sol

só reza de tribo com talento para storyteller

me reconduz à aliança
com o mistério
dos animais

amor,

todas as estrelas um dia vão sumir


cabeça partida dos girassóis

Suas construções musicais de sentido rodopiante e essa eterna divisão entre ser feliz e mudar o mundo. O tal espírito segue sendo uma coisinha muito misteriosa. E ainda bem que em alguns dias se pode aprender qualquer coisa da língua secreta das mulheres. Aquele profeta disse que o universo inteiro não passa de um grande espelho, mas somos só uns arquetipinhos de merda que o céu não toca. E então vieram os grafites vermelhos nas paredes do metrô e então a abundância efervescente de cada bicho e cada avião não inventado. Todas as cidades estão em guerra, mas não se esqueça que qualquer globo azul girando em alta velocidade vale a pena, e pro que der e vier, keep me under your spell.
Ilustrações: Hermim Abramovitch


Raphael Sassaki nasceu em 1988 no interior de São Paulo. Já trabalhou com jornalismo policial e foi segurança noturno de um albergue. Escreve poesia desde 2014.

Doce Ofício - Diego Callazans

$
0
0
Ilustração: Emmanuel Knibbe


no dia em que escrevo versos
as nuvens se me desprendem
não chove senão do avesso

no dia em que escrevo versos
levo os olhos à vista
os pés em cevada imersos

no dia em que escrevo versos
trago nas mãos gasta rosa
na pulsação, mil invernos

(é minha ideia escura
que me impede a cura)

no dia em que escrevo esses versos
escrevo sem dar por mim
dar por eles

escrevo sem desejar vê-los lidos
trago na ideia sintaxe de exílios
à alma, uns orvalhos inversos.

...........................

a gente passa ilesa
pela imensa fenda.
só no poeta há vertigem.

o resto segue reto
os tortos trilhos,
inerte ao abismo.

quem geme vira autor
(convenção para arquivo)
e ornamenta o invisível.

......................

se uma palavra decai,
logo um poeta ela atrai.

ele enobrece a vulgar
e vende pra classe A.

poeta bom sempre sabe
especular com a sintaxe.

......................................

nem só de obra
se vive.

a arte é nosso
gengibre,

mas
a batata é o
batente.




Diego Callazans nasceu em Ilhéus (ba) em 1982 e mora em Aracaju (se) desde criança. É autor de A poesia agora é o que me resta (Patuá, 2013), Blasfêmias(7 Letras, 2015) e Nódoa (7 Letras, 2015). Tem poemas publicados em diversas revistas literárias.

e disse sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam - Ricardo Escudeiro

$
0
0
Ilustração: Cesarr Terrio



“chegamos/cedo,/para onde/sempre/estivemos:”
(Eduardo Lacerda, que me diz há já um tempo:
“há o outro dia”)

“How do I get you alone?”
(Heart, 1987)


aquelas coisinhas mais técnicas sabe

que só veem os jurados
e os estivadores de nulidades e os responsáveis
pela montagem
mas não muito os jurados
mas não todos os jurados

sonhos e moinhos
compartidos
sob a mesma pelica
triste e fria
que o rosto de um

todo dia

carrega
ou mesmo um

o que seria

sabe
essas coisinhas
técnicas do som e da imagem

aquele plano de fundo sabe

cigarro descansa em mão apagado
inaudível na fumaça o fogo e a cinza
assentos vagos aos lados em cinema
ou qualquer outro sítio ou chão movediço
dizer do início ao fim ah desculpa tá ocupado
nana nenéns embalando
filhos não nascidos
dança concedida em corredor estreito
com outro par
irreproduzível

não dar conta de acompanhar
olhar ao mesmo tempo
take e legenda
presentear outra língua
com olhai por nós e contexto mal traduzido
com distorção e com equívoco
sabe
a triste figura de realidade
vestida da mesma malha triste e fina e cerzida
que o rosto lá de cima

ontem eu vi sabe

aquele cobertor
que pela minha mão chegou da sua
até
à do morador da rua
fraternismos
e moedinhas de jogar no pote
e estamos sozinhos entre amigos

(Ricardo Escudeiro)




Foto: Pierre Nunes


Ricardo Escudeiro nasceu em Santo André-SP, em 1984, onde vive. É autor dos livros de poemas rachar átomos e depois (Editora Patuá, 2016) e tempo espaço re tratos (Editora Patuá, 2014). Graduado em Letras na USP, desenvolve projeto de mestrado com interesse em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Atua no ensino fundamental II e no ensino médio. Possui publicações em mídias digitais e impressas: site da Revista CULT, Mallarmargens-revista de poesia e arte contemporânea, Germina-Revista de Literatura & Arte, Jornal RelevO, Revista Nefelibata, Revista Gente de Palavra, Revista SAMIZDAT, 7faces caderno-revista de poesia, Revista Pausa, Flanzine (Portugal), Revista Carlos Zemek, Revista Mortal. Publica poemas mensalmente na Revista Soletras, de Moçambique. Participou da antologia 29 de abril: o verso da violência (Editora Patuá, 2015). Foi poeta convidado no Espaço Literatura da 13ª Feira Cultural Preta, em 2014, e do sarau Plástico Bolha, evento de encerramento da exposição Poesia Agora, no Museu da Língua Portuguesa, em 2015.

VIOLÊNCIA DISFARÇADA

$
0
0


VIOLÊNCIA DISFARÇADA - I: CANIBALISMO

Luciana Salum

“Me dá um pedaço?”
Pediu ele a ela.
Ela não comia nada


Imagem: "Parede com incisões à La Fontana II" - Adriana Varejão inspirada em Lucio Fontana

VIOLÊNCIA DISFARÇADA

$
0
0


VIOLÊNCIADISFARÇADA– II : PERIGO


Luciana Salum



Conseguir suportar o corpo do outro dado de presente para você, sem que seja seu.

Imagem: "Natividade", 1987. Adriana Varejão

O Brasil deve um prêmio a Sérgio Fantini - por Tadeu Sarmento

$
0
0



Enquanto lia os originais do Lambe-lambe, sempre que se entusiasmava com algum conto, Adriane Garcia me ligava, fazendo questão de ler para mim o texto inteiro, por telefone. Como ela se entusiasmou com praticamente tudo, escutei através de um áudio book privilegiado, quase o livro todo. Mas quem já viu a poeta mineira declamar um texto em voz alta sabe que sua leitura embelezae dá vigor literário até mesmo a uma lista de compras de supermercado, de modo que não quis acreditar que o livro fosse tão bom quanto parecia. Precisava tê-lo fisicamente em mãos para constatar. E constatei.
Acredito ter sido Poequem inaugurou a lírica erradia do citadino, ao conformar a imagem do escritor à do detetive secreto, que se mistura à multidão formada no espaço urbano, com fins de se esconder ou de observar. Desde então, a ligação do escritor com a cidade onde vive pode se ver refletida como um modelo em sua narrativa: da Dublin de Joyceao Rio de Janeiro de Machado; da São Paulo de Pivaa Los Angeles de Chandler; da Paris de Henry Millerà Buenos Aires de Arlt.
Agora chegou a vez da Belo Horizonte de Sérgio Fantini.
Claro que a capital mineira já teve cronistas inesquecíveis, em especial Wander Piroli, que escreveu sobre uma época em que os policiais usavam chapéus, os jogadores de baralho bonés, e as prostitutas se apaixonavam pelos clientes (e vice-versa). Mas não é sobre essa época que Fantini (que é de duas gerações posteriores a Piroli) se debruça, ainda que seja para a mesma paisagem que seu interesse se incline. Digamos que Fantini atualize Piroli na medida em que partilha com ele a paixão pela mesma causa perdida. A verdade é que alguns escritores sofrem de algo que chamo de empatia por aquelas coisas que estão se extinguindo, e tratam de querer retratá-las para que não sejam esquecidas. Acredito que com o Lambe-lambe, Sérgio Fantini passe a pertencer a essa categoria.
Não é à toa que a figura emblemática que intitula o livro esteja fadada à extinção tanto quanto a figura do escritor. Fantini está à vontade para testemunhar o desaparecimento de ambos, pois se o escritor tem os dias contados, cairá atirando assim como o fotógrafo ambulante, empunhando retratos que remetem a um tempo em que a memória e a fruição do tempo contavamtanto quanto a imaginação. No fundo, Fantini sabe que ambos são os últimos heróis de uma época já antiquada, quando a atenção podia ser exercida sem culpa ou pressa: seja para desfrutar da cidade; seja para desfrutar de um livro. Mas se hoje as pessoas correm atrasadas pelas ruas de Belo Horizonte sem enxergá-las, podem ficar tranquilas: Fantini já passou antes por elas e quer contar não apenas sobre a beleza que possuem, mas sobre as pessoas que, um dia, também caminharam por elas.
São cinquenta contos curtos, intitulados pelas figuras emblemáticas que compõem a paisagem urbana de qualquer cidade: famílias que chegam do interior, mendigos, velhos, barbeiros, cães, garçons, andarilhos, pregadores, flanelinhas, lixeiros, hippies, motoristas – nada escapa à lente do escritor; no fim das contas, a última instância capaz de desenhar a onda de um padrão coeso em todo esse caos, no intuito de encontrar aquele ponto de semelhança onde todas as coisas possuem uma beleza digna de ser admirada. Fantini devolve uma cidade ao leitor que a conhece e, àquele leitor que jamais pôs os pés nela, o escritor oferece um zoom de uma cidade reconstruída pela imaginação, pelos sonhos da infância e pelo compromisso ético com aqueles que nunca tiveram voz nem espaço.
Lambe-lambe possui uma unidade formal que concede ao livro a força compacta de um romance. Os inícios iguais de cada conto (“São esses...”), a manutenção do mesmo tom de voz do narrador, do mesmo ritmo das frases, da mesma lógica de ideias, tudo sombreado por uma ironia melancólica que não se aparta da multidão para rir sozinha, mas que desce do pedestal e se junta a ela para denunciar que os invisíveis existem, que os invisíveis não estão mortos só porquenão conseguimos enxergá-los. Fantini aponta o dedo para que enxerguemos os “supérfluos”, aqueles que não contam mais para o sistema nem como consumidores nem como força de trabalho; sua literatura ataca o discurso bem memorizado das cartilhas liberais, que tentam naturalizar nossa indiferença, na medida em que nega ao outro o status de sujeito e o inscreve na fileira dos objetos descartáveis. O que o escritor quer denunciar é que nós, que somos leitores afortunados por termos a garantia de que nosso estômago terá algo com o que se encher durante todo o dia, não podemos fingir que não vemos aqueles que diariamente lutam para enchê-lo sem ter a certeza que conseguirão, sejam eles os malabaristas no sinal, os desempregados, os andarilhos, os feirantes ou as babás vestidas de branco.
Mas quando os olhos compassivos do narrador se voltam aos detentores do poder, sua ironia se torna mordaz, a ponto de termos policiais que espancam manifestantes porque são “distraídos”, políticos com “setecentos dedos de trezentas mãos”, ou esses “monstros que a gente vê no espelho” todo santo dia. É o filtro regulador da mordacidade de sua ironia que indica claramente o lado que o escritor escolheu ficar, não por coincidência, o lado contrário aos clientes do medo, aos detratores da esperança, aos resignados cínicos, enfim, a todos aqueles que se conformam em manter os invisíveis onde estão, seja por cansaço ou porque auferem vantagens com isso. Os cinquenta contos de Lambe-lambe se situam nessa fonte, nesse lado, cavando trincheiras ali onde seus mais antigos precursores ergueram barricadas. Mas apesar do seu claro tom de denúncia política, o livro não adquire, em nenhum momento, a elevação de voz panfletária dos discursos prontos. A linguagem, a perfeita condução da narrativa e a beleza poética de muitas descrições têm precedência sobre qualquer possível realismo chão dos partidos.Fantini resgata, da invisibilidade, figuras que o consenso do poder ou do bom gosto gostariam de manter desconhecidas, mas esta talvez seja uma das aspirações mais elevadas da literatura.
No dia do lançamento de Lambe-lambe,na capital mineira, o escritor Cristiano Rato trouxe, para também ser autografado, um velho exemplar mimeografado de Bakunin, um dos primeiros livros de Fantini, pertencentes a uma época (início dos anos oitenta) em que o escritor os vendia de bar em bar. O fato foi interessante, pois me permitiu compará-los, para notar nos dois o mesmo cheiro de tinta de mimeógrafo, a mesma liberdade artística, o mesmo compromisso com os que não têm nada ou bem pouco, a mesma independência. E se hoje um escritor como Sérgio Fantini, com uma estrada de mais de 40 anos dedicados à literatura, abre mão do circuito das grandes editoras, das “panelinhas” literárias e dos modismos (que, vira e mexe, retornam com a promessa de um rótulo que venda fácil) para publicar com editoras menores e manter controle absoluto sobre aquilo que quer dizer, não pode ser por nenhuma outra razão senão a reafirmação do seu compromisso com uma ética que transcende os slogans de qualquer bandeira e reafirma o papel do escritor em uma sociedade cada vez mais excludente. O resultado é o seguinte: a impressão de que, ao longo de todos esses anos, Fantini vem coincidindoconsigo mesmo naquilo que ele talvez acredite ser sua essência: a responsabilidade do escritor na construção de uma sociedade mais justa e mais solidária.
Óbvio que essa resenha é parcial e absolutamente afetiva. Tenho o privilégio de ser amigo de Sérgio Fantini, o escritor sobre o qual (desde que eu morava em São Paulo) falavam tantas pessoas que admiravam sua literatura, sua ética, sua honestidade intelectual, sua dedicação com a escrita, com a formação de leitores e de escritores. Claro que não é por isso que resolvi resenhar o Lambe-lambe: é um livro que se mantém de pé sem a presença do seu autor; mas é inegável que, ao passo em que você vai conhecendo Sérgio Fantini pessoalmente, vai percebendo o quanto homem e obra se enlaçam a ponto de se confundirem. Escritor íntegro; homem íntegro.
Como se não bastasse, a editora Jovens Escribas caprichou na edição, transformando o livro em um objeto de admiração à parte. As ilustrações de Guga Schultze, que separam cada narrativa, são belíssimas. O livro é um grande concorrente para os próximos prêmios literários e vou torcer por ele. Acredito que será um reconhecimento mais que merecido. O Brasil deve um prêmio a Sérgio Fantini.

Lambe-Lambe
Sérgio Fantini
Editora Jovens Escribas
2016

Tadeu Sarmento é escritor, nascido em Recife, Pernambuco. Venceu o II Prêmio Pernambuco de Literatura com o romance Associação Robert Walser para Sósias Anônimos, editora CEPE, 2015.


Article 1

$
0
0
































útero caminho do mundo, olhos de
riscos sãos do futuro, semente raiz de viço
um orgulho – um canto de poder ser sim


mas eis o cão do homem, dilacera-frutos: o canto
é sempre meu, perfura ele com ódio patriz


terra arrasada, o cão do homem satisfeito
capataz da flor, algoz do útero


capanga da tortura que sempre foi
a besta ejaculação da morte


o monstro pai do escuro



imagem: Kaja Avberšek, gnila roza. flor podre.




3 poemas de Fernando Campos

$
0
0



Quid genitu

Insigne
o poeta
de maio
de âmbar
insólito
seus olhos
bólides
espelhados
aguardam
que passe
que sangre
de si
para si
o ato
do ofício
profícuo
em vésperas
e carnavais


Estróbilo
seu estro
quidgenitu
quid quantum
quid facto
conforme
encetado
fadado
ao vagido
num vasto
possível
por esperar

O poeta
sui generis
de fisgas
certeiras
acerta
o vespeiro
de latas
concretas
e condensados
morais

E a nata
compacta
inteira
se agita
ao brilho
mortiço
no lago
de engasgos
de flores
e frutos
quejandos
e estrelas
descomunais



Perclepso

Para Wim Wenders.

Trocam-se as consoantes,
antes mesmo que eu as cubra de beijos,
meus lábios nos lábios delas.

Somos irmãos de sentidos e sensos,
pontos de luz,
sombra na exasperação do tempo.

Soníferas – me revelam diluídos segredos.
Dentes afiados, agudos – mordiscam deliciosamente
minha língua
em inúmeros, bastos movimentos.

Algumas têm um estrabismo magnético;
outras, ateias, atinam deuses em longitudes
e hemisférios.

A que se destinam, se permanecem memória?

Meus tímpanos, a decomposição de uma orquestra.

Terá a vida resvalado em arestas, armadilhas,
torpedos, precipícios e ânsias?

O que foi é pasto posto, pressuposto,
já nem penso em deslizes ou rédeas.

Se algo guardamos da natureza dos anjos
é essa consonância, um desejo de asas
– a vertigem
e a sensação da queda
em pleno voo.



AGORA QUE VIRGINIA É MORTA

Em meu boné industriado,
velho de guerra,
já não se desenha
sobre o pequeno escudo
o nobre leopardo – o sublime,
em fios de ouro,  o emblemático,
o quase vitoriano.

Meu boné se esfacela em chistes,
disparates; nele, o embuste, o ricochete,
a cabeça sopesando os dias,
o desconcerto só pensando as horas.

Virginia Woolf, trazida ao presente
por um fio de memória, acende um cigarro
e se acomoda numa cadeira, perto da janela,
para escutar os versos de um pássaro-lira
cujas feições lembram as de T. S. Eliot
– um êxtase de penas e de frases vivas.

Cheiro de açafrão, alecrim, fumaça,
meus temperos se dissolvem nesta lembrança
e nos objetos da casa.

Meus prazeres, fantasmas e dores,
Virginia sempre soube.
Ela, sim, era realista – mesmo
em seus maiores tormentos.

Eu troco alhos por bugalhos.







Mineiro do município de Bom Jesus do Galho, Fernando Campos reside desde 1984 na cidade de Caratinga. Começou a escrever poesia na adolescência e é autor do livro Insolvência – fragmentos de amor e morte e um esboço de despedida (2015, Ed. Caratinga), entre outras obras ainda inéditas.

VIOLÊNCIA DISFARÇADA

$
0
0



VIOLÊNCIADISFARÇADA– III : ÚNICA


Luciana Salum


Dissera-lhe, embebecido de voracidade:
“Tendo-te, não ei de desejar mais nada”


E nunca antes o amor lhe pareceu tão cruel.

Artista: Gabriela Nóe

5 poemas de Renan Sanves

$
0
0
Ilustração: Calliape Ericsson


CHEGADA TRIUNFAL

Quando nasci
um anjo caído de asa quebrada
(desses que riem da própria desgraça)
me olhou com ar de desinteresse
e entre uma tragada no cigarro
e um gole no vinho barato
disse:
- Não se fazem mais pessoas como antigamente.



O SILÊNCIO DÓI

Eu calei
você calou
e agora só restaram calos.



TODO HOMEM TEM UM PREÇO

Todo homem tem um preço
um desejo incofesso
uma força escondida
um limite desconhecido
uma comicidade descabida.
Todo homem tem um preço
uma fé inabalável
uma preguiça criticada
um receio inexplicável
uma ilusão renovada.
Todo homem tem um preço
uma honra que o impediu
uma promessa que não cumpriu
um rumo que não seguiu
um constrangimento que o despiu.
Todo homem tem um preço
que o rotulou, que o apresentou
que o enganou, que o feriu.
Todo homem tem um preço
que pra nada serviu.



POR TEMPO INDETERMINADO

Meus atributos
paralisam seus serviços
por falta de tributos.



ELES ERAM TODOS HIPÓCRITAS


E fingiram com tanta perfeição
que eu acreditei piamente.
Os parentes, os aderentes
os companheiros de luta
(mesmo na linha de frente).
Os amigos com seus sorrisos
os inimigos, os desconhecidos
quando me fecharam
e quando me abriram as portas
eles eram todos hipócritas
o professor, o psicólogo
o ator em seu monólogo
a garota que me beijou na boca
o lindo rapaz que gozou na minha boca
meu cachorro endiabrado
meu gato me abandonando
mesmo depois de eu ter lhe acolhido
quando abandonado.
Eles eram todos hipócritas
meu gerente, meu general, meu presidente
meu autor preferido
os que me aconselharam juízo
os que me prometeram o paraíso
os que me venderam gato por lebre
os que me deram regalias solenemente
eles eram todos hipócritas
e fingiram com tanta perfeição
que eu acreditei piamente.


Sanves é a junção das sílabas dos meus sobrenomes: Santos e Alves. Nasci  e moro em Salvador-BA em 1984. Sagitariano, rato no horóscopo chinês. Fumante, chocólatra, homossexual, amante de felinos, fotografia e cultura japonesa. Atualmente trabalho como atendente em um restaurante fast food. Leio praticamente de tudo(menos auto-ajuda). Tenho predileção por poesia e romances policiais. Publiquei em 2012, pela editora Patuá, meu primeiro livro de poemas, ''Lirismo Destrambelhado''.

Viewing all 5548 articles
Browse latest View live