imagem adrian faria's
monomaníacas,
lindas como os rouxinóis:
as moscas.
infatigáveis,
insuportáveis,
abertas às febres
todas, todos os modos (e cheiros, sabores)
de vida e morte.
benditas sejam
as moscas!
mais vivem do que
pousam,
mais vivem do que
voam.
a teimosia feroz, a algaravia,
as filigranas de saliva,
únicos filamentos
do brio.
voltar sempre, como
uma alma penada,
um cão com fome,
um homem,
atordoado inseto
em redor do sol.
um homem
que, afogando-se no ar,
na baba espessa de enigmas, nas ígneas
ignorâncias de amar,
quer porque quer
viver
por viver.
Rodrigo Madeira (Foz do Iguaçu, 1979) Poeta. Vive em Curitiba desde 1992. Autor dos livros Sol sem pálpebras (Imprensa Oficial, 2007) e Pássaro ruim (Editora Medusa, 2009). O poema “balada da cruz machado” foi adaptado para o cinema por Terence Keller (Balada da Cruz Machado, 2009, curta-metragem). Assina o blog “blog às moscas”
(www.rodrigo-madeira.blogspot.com).