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7 poemas de Antônio Mariano

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                                                                    Ilustração: Rene Magritte



 


O LUAR


O claro no olhar da moça
é um só leitmotiv:

a lua está lua.
Lua como sempre achou-se.

Nua de adjetivos.



EXCEÇÃO À TEORIA


Quando se vai amar,
as teorias fora do quarto.

Como as sandálias
ficam esquecidas à porta do banheiro
senão molham-se ou sujam.

Quando se vai amar,
as teorias são o tapete.



EXISTENCIALISMO


Ele faz poesia
porque morre de medo
do tiro
no ouvido.

E esquece
da extrema poeticidade
do suicídio.

Que tolo!

Que é então o poeta
senão um suicida
reincidente?




HISTÓRIA UNIVERSAL


Nunca soubemos
amar em pleno voo
como as andorinhas

que no auge do prazer
pairam e se absorvem
no antídoto dos instantes.

Então escolhemos
em vez do coito
(viveiro de constelações),

lágrima nos olhos
e um banquete de asas.



LOT & PERSEU


Nenhum pecado nos cercava
na tarde gris da infância.

Nenhum azougue de imã
podia nos chamar.

Frutos do instante
apodreciam na macieira.

Pênfigos lábios
sangravam infâmia
à menor tentação.

Jamais o olhar
frente a frente.

Nunca o voltar-se
para trás.

E não passamos de pedras,
estátuas de sal.


DIALÉTICA

Aquele homem
me aguarda na esquina
com uma faca

que irá repartir o pão.

Cortasse ele a esquina,
seria talvez padeiro
resgatando a poesia
que me escapa das mãos.



DA ETERNIDADE 


A eternidade é feita de pássaros
que riem do vôo em falso
dos homens.

Planar além dos rochedos
é anoitecer
desinteressada perenidade.

E não precisar de relógio
pra se descobrir presente

Nem contemplar o passado,
fez invisível do tempo.

O que há de mais seguro
no alvará da incerteza
que levita?

O futuro tem asas,
repete o poeta,
timidamente.

 






Antônio Mariano é um escritor e poeta brasileiro nascido na capital  do estado nordestino da Paraíba.  Publicou cinco livros, entre eles, Guarda-chuvas esquecidos (Rio: Lamparina, 2005),  Imensa asa sobre o dia (Dinâmica: João Pessoa, 2005) e Sob o Amor (Patuá: São Paulo, 2013). Das publicações nacionais, destaca o Suplemento Literário de Minas Gerais, a revista Vida Simples (Editora Abril) Revista Etcétera (PR) e Livro da Tribo (SP). Integrou a coletânea Contos sobre tela (Org. Marcelo Moutinho. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2005) com o conto A Carioca, inspirado na tela homônima do pintor Pedro Américo. Das publicações internacionais, registra ARCO-ÍRIS DE OXUMARÉ, Caderno da poesia brasileira atual, Revista Homúnculos, Número 3, Ano 2, Lima (Peru), 2004. Em 2010,seu  poema "Before the dream", escrito originalmente em inglês, foi estudado na obra Brazil, Lyric and the Americas (org. Charles Perrone, University Press of Florida). Na Internet, se faz presente em vários sites de literatura, entre eles Zunái, Blocos, Jornal de Poesia, Cronópios e Musa Rara. Foi editor da revista Correio das Artes (05/2009-06/2010), produto povo da Paraíba. É dos criadores do Clube do Conto da Paraíba. Coordenou o projeto Tome Poesia, Tome Prosa. Edito o blogue Umbigo Alheio HTTP://umbigoalheio.blogspot.com e colabora com o Zona da Palavra WWW.zonadapalavra.wordpress.com.


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