Oração n. 15
deus azul inexistente,
sob a luz de lâmina fria matinal estou prestes a emergir e sou lodo de terra, sangue e raízes, esse lodo tem meu nome, mas ter nome de nada assegura, meu nome é possuído pelo lodo, a vida transborda, minha carne é mangue onde folhas e animais mortos apodrecem, as veias são raízes cercadas de sangue por todos os lados, meu sangue não me pertence, meus olhos estão cobertos de areia branca e nada enxergo enquanto sou modelado pela luz do meio dia como um lagarto, de madeira, matéria-prima retirada do mangue, lodo seco, enrijecido pelo sol: o animal de madeira fala, conversa, retruca, polemiza e é uma escultura vazia, cheia de razão por dentro, cheio de si, animal com os olhos abertos, contudo voltados pra dentro do próprio vazio, a terrível morte da certeza de madeira e o sangue ser gás inflamável pronto a explodir,
Absoluto, quando juntarei às minhas palavras o sopro da mente e o calor do coração?
*palavra: poema de Daniel Faria. recitado pelo autor, durante o 1° Mallarencontro - VOX URBE de 15/01/13 (Wonka Bar, Curitiba).
*imagem: Casey Krawczyk