Amanhã, o retrato
Os sinos dobram dentro de nós
suavemente anoitece
de alguma forma sempre fomos eternos
entre a exclamação e a virgula nadamos.
Hoje nos abraçamos
amanhã o retrato, empoeirado.
Tanto mato cresceu por cima da infância
fechando todas as portas da casa.
As ruas existem
perdidas entre as árvores
as ruas existem e dizem o nosso nome.
Grita por dentro da casa uma criança
canta embriagada
entretanto
os dedos não sabem alcançar as chaves.
Andamos muito
meio dia
sentamos a beira do poço
de nós só temos o caminho.
Algumas malas esperam ser arrumadas
no pensamento,
um vento forte balouça a nau
Aos nossos pés acorda o talvez
suavemente levanta,
estendemos as mãos para apanhá-lo.
Desde cedo temos sorvido a possibilidade.
Gelados espelhos
túmulos para descansar o tempo
a lápide, saudade
de alguma forma sempre regressamos
os pingos de café no fundo sujo das xícaras.
Bebemos as ultimas gotas de orvalho
sentados junto ao fogão
olhamos arder a lenha
a vida arde alto, queima, depois fumaça
de nós algumas cinzas restaram.
Temos medo de não ter estado conosco
por vezes sentimos a vida como uma prece silenciada
talvez a existência nos tenha pronunciado.
Ninguém sabe porque estamos aqui
porque rasgamos ondas
porque lavramos o coração nas águas do mar
ninguém sabe se estamos aqui.
*palavra: poema de Sandrio Cândido. recitado pelo autor, durante o 1° Mallarencontro - VOX URBE de 15/01/13 (Wonka Bar, Curitiba).
*imagem: first love - balbusso