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Dois poemas de Cardoso Tardelli

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DOIS POEMAS DE CARDOSO TARDELLI

O QUARTO

A noite circunda o meu quarto.
Vejo, daqui, a lua tristonha
Com o seu olhar pesado e farto
Como o olhar de quem não sonha.

Sinto um perfume e o aparto...
Com ele, uma era medonha,
Qual um novo universal parto,
Nasce, nostálgica, tardonha...

Passa aqui um amor antigo...
Talvez, ali, perpassa a morte...
Já não sei a qual relógio sigo,

Pois toda hora é moribunda...
E temo até o sonho que aporte
Ao meu quarto que a noite circunda!

18/07/2013

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ODE AO TEMPO

Da soberba vaporosa e vã,
Que me unja o viver do amanhã...
Que, delirante, do alto orgulho,
Eu veja o sonho destruído
A cantar em formoso arrulho
Pelo pobre céu enobrecido.

Meu coração já caminhou demais -
Qual peregrino de estrela falaz.
Quem assim dera ter andado tanto
E poder uma vez mais amar.
Mas bebi do eternal desencanto,
E nem sequer mais posso sonhar.

O Tempo o meu peito crucia:
Chama-me o torvo estrondo do dia
Para a ironia dos segundos...
Ei-lo! O algoz de todo o sonho,
Das predestinações dos mundos,
Qual vasto deserto frio, medonho.

Ei-lo! O Vampiro dos narcisos,
Deus dos súplices, dos invisos...
Coveiro risonho dos sonhadores,
Esperança das quimeras novas,
Sinos funerais, tateadores,
Eterna morada das Luas-Novas...

Tempo! Alma de todas as almas!
Ó rumor de longínquas calmas,
Fascinação dos ilusórios cimos...
Ó íntimo, volátil oprimente,
Silente alquimista do que sentimos,
Alto abismo indeciso... Poente!

Ó vós! que d’alma sorveis o carpir,
Que aspirais a saudade a fugir:
Se com vorazes esquecimentos
Renegais os sorrisos das afeições,
Enterrai os magos acalentos
Nos quais nascem os breves corações...

22/05/2012

  


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