Na rede que tuas pálpebras teciam
o presente ardente, o vento
sem movimento. Só tu
tens a chave para o mundo e seu
anagrama infinito.
A manhã se debruça
sobre o leito obscuro de teu rosto.
Agora, da amurada,
admirando o céu, pasto de estrelas.
Regressamos, Musa, por ruas de águas
e árvores imaginárias, de trás para frente,
os metais cantando tua penumbra.
"Toda geração é tardia", dizias, e emudecias
mais mil anos.
"O passado está mais adiante".
Quando vejo, era dia.
Onda repondo uma pegada.
Pó voltando humano,
Coisa em imagem percebida,
Morros azuis se derramando
na distância lápis-lazúli.
"As palavras morreram na praia,
guerreiras, sem entregar a senha,
as sextinas rubras de aurora".
Foram milagres que acreditaram em nós.
Numa passagem em vídeo
aquilo era a pérola gasta
da Lua, salvo engano.
Manhã ancestral, à direita
destas ameias localizas
os leões de Luna Pampa
a cordilheira que é o Museu de Nuvens
as moedas invisíveis de César
os rostos de ruínas de Bruma
o bosque de ciprestes derrubando sombras
(tão longas —como certas cartas persas)
na areia úmida e primeira.
A realidade, sua alteza, é a bolha mágica
que se forma em pleno campo de batalha.
Um mormaço como uma mortalha
sobre a tarde.
Sub rosa consciente. Ciência nova.
O ócio brinda estes instantes de ouro
& o olor silente do Éden,
as duas cisternas de pedra
diante dos olhos abertos.
Sagrados segredos segundos.
Na rede que teciam as pálpebras
(anagrama infinito da manhã)
lembrarás, então,
dos dois lugares onde nasceste.
És esta linha.
Rodrigo Garcia Lopes
Poema de Estúdio Realidade (7 Letras, 2013)