/Helena Figueiredo/
Serpenteavam uma mata de pinheiros, descendo na direção do rio.
Estremeceu, quando ele, quebrando o silêncio da viagem, lhe disse:"Posso fazer-te uma pergunta?"
A voz assim, tão solene e repentina, pressentia algo muito sério, relacionado talvez com as contas por pagar, o comportamento dos filhos, ou aquela zanga de fim de semana, que lhe ruminava ainda nas entranhas.
Além de imprevisível, ele tinha o condão de ver a garrafa sempre meio vazia, de usar tinta preta na maior parte dos comentários.
A voz assim, tão solene e repentina, pressentia algo muito sério, relacionado talvez com as contas por pagar, o comportamento dos filhos, ou aquela zanga de fim de semana, que lhe ruminava ainda nas entranhas.
Além de imprevisível, ele tinha o condão de ver a garrafa sempre meio vazia, de usar tinta preta na maior parte dos comentários.
" Podes", respondeu ela, elencando já mentalmente, um vasto leque de argumentos a utilizar na resposta.
" Responde francamente" continuou ele, no mesmo tom de voz " Durante a tua vida toda, quantas vezes viste o sol nascer?"
Ela, que sempre adorara a noite, o cantar dos grilos, o cheiro da madrugada no quintal...
A pergunta desconcertante, emudeceu-a, mas dentro de si, sentiu desmoronar-se o forte muro, que até ali os tinha separado.
A pergunta desconcertante, emudeceu-a, mas dentro de si, sentiu desmoronar-se o forte muro, que até ali os tinha separado.
Foto:Marta Monteiro