A VIDA (É) DO OUTRO
Há várias coisas insondáveis no mundo. Para mim, elas sempre existiram. Eram, entretanto, muito mais ‘simples’ do que as que soube, posteriormente, serem as mais importantes (origem e sexo):
Não entendia a angustia das meninas (amigas) em saber se o encontro (do dia anterior) tinha sido bom. Sempre perguntava “Ué, mas você não estava lá?”. (Sempre confiei mais no que eu sentia - principalmente quando estava lá - do que no que me diziam).
Não entendia o porquê das pessoas falarem “pois não” quando queriam dizer “sim” e “pois sim” quando queriam dizer “não”.
Não entendia qual resposta deveria dar quando recebia um convite que desejava aceitar de uma pergunta formulada negativamente. “Você não quer ir junto?”
“Sim, obrigada” soava igual ao “Não, obrigada”.
Não entendia a facilidade das pessoas em trocarem um cão por um gato só para evitarem a solidão. (Como já sabem, sempre gostei dos meus cachorros e não, nunca tive gatos!). Como (como?) podiam mudar escancaradamente o sentido do meu ditado popular preferido? Depois diziam que era eu aquela que vinha de lá. No fundo, creio que todos desejam esconder suas origens.
“Quem não tem cão caça COMO gato!”
Mas, por fim, lembro-me de uma que até hoje me desconcerta. Aquela que diz respeito à curiosidade alheia, ao desejo de saber um pouco mais do que o que outro quer mostrar. Um excesso em busca do obsceno, em seu pior sentido.
Nunca (nun-ca!) entendi porque a revista “Caras” não se chama “Veja”.