A PORTA
Sou uma porta profunda ‘ hermética ‘ fechada a sete trancas
na obscuridade dos relâmpagos
e em cada poema que escrevo floresço como um pedaço de gelo
que arde nas mãos desta mulher ‘ altiva como os cereais ‘ altiva
como o cheiro das maçãs...
sou um labirinto ‘ um labirinto como todos os
homens ‘ uma fechadura engordurada de olores ancestrais
e amo ‘ mas amo
com a força dos bosques ‘ amo como uma água tribal que dilacera
furiosamente os astros ‘ amo como quem odeia
e digo: em cada palavra que escrevo quebro o nó górdio
e sinto o gume
da navalha no rosto dividido
como os olhos de um cavalo insano à beira da morte
então ‘ subo a mim ‘ subo ao conforto e solidão da minha latrina
e em cada cavilha que fere a minha carne
– talvez Deus exista
In: Arqueologia nocturna
TEMPLO
Pintura sobre papel