SEMENTE
1.
Compor com as próprias mãos
uma cor inédita para o arco-íris.
Mais vívida & capaz de causar
sensação de eternidade:
o impacto rouxinol
do sublime em pixels.
2.
Com essa cor banhar espécie virgem de flor
uma espécie rara & capaz de sobreviver
ao mais árido da existência – o tempo
uma espécie brotando de cacos
uma espécie de bem-me-quer
3.
Manter na pele a geografia
do sopro primevo.
A poesia de verso original:
O batismo do instante
para muito além
do homem.
GUARAREMA (PÉROLA DO VALE)
Os índios transmitiram
dever de galgar,
degrau a degrau,
alguma salvação.
Ergueu-se barroca
Nossa Senhora e sua escada,
leves mãos do destino
trocando carícias
com o entorno
em taipa de pilão.
Das entranhas
de vosso ventre, depois,
brotou a pérola,
santificando os ossos
avermelhados
de seus antepassados.
SIBILA
Certa vez, já no ensino médio,
a professora de português
advertiu-me categórica:
Não se vive só de poesia!
Coitada. Não poderia estar
mais correta sua teofania.
COSMOGONIA
Escondo-me da face bruta não-dita
na cicatriz do verso à qual
a mágoa se expele.
Existo equilibrando todo caos
na própria pele.
INSTINTO APRUMADO
um cometa fulgurante desabrocha no céu
nasce na boca gosto de terra molhada
o gosto por palavras bolas de futebol
o gesto Pietro gesto de nuvens animais
o gosto doestrondoversus
na dianteira do cometa dorme o anjo
paira o pássaro-verso
Lucas Luiz nasceu em Guararema - SP, em 1991. Iniciou publicando crônicas no “Jornal D’Guararema” e depois poemas no site de variedades “Guararema Tem”. Recentemente participou de inúmeras Revistas Literárias entre elas: Avessa, Inversos, LiteraLivre, Ser Esta, A Bacana, Subversa. Participou da Antologia “Além do céu, além da terra” da editora Chiado. Segue sem exceder o limite de municípios. Ou já o fez sem que ninguém perceba.