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Resenha do livro "Versos no Camarim", de Regina Celi - por Fernando Andrade

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Editora Penalux

Livro de poemas Versos no Camarim cria através da tonicidade da língua um jogo poderoso de polissemias
Fernando Andrade
Árvores dão frutos. E pensar que a semente devir(á) a polpa. Se na religião tivemos a maçã caindo das árvores do conhecimento e vindo (d)aí a folha de parreira com suas vergonhas à mostra. É interessante notar que o homem tenha vergonhas a mostrar, enquanto na língua do fio ao pavio corre solto o sumo do veneno, anti-monotonia, Cazuza. Alguém? Já se viu botando veneno nas palavras? Há muitos pormenores, como gírias, chistes, trocadilhos, a palavra é tão maleável como uma corda de cipó. Mas para sonorizar isso aqui, o poema chegou a algum dia destes para resolver esta bagunça de Dilúvio linguístico onde só se salva os animais. Estes que não falam uma língua sequer. Ah! vamos botar tudo debaixo do guarda-chuva da linguagem; aquele nome feio em forma de chiste ao seu desafeto, virou (troca- afeto), ops, trocadilho.
E a poesia inventou o parnaso ou céu do paraíso. Saímos do lugar escuro, onde o diabo quixotesco tenta dar à luz, e parimos o verso que hoje já não tem nada de controverso; muito pelo contrário, encontra-se em muitas travessas, tanto de ruas, como um bom sarau, como em saborosos pratos ou iguarias de palavras. Regina Celi, em seu primeiro livro de poemas, Versos no Camarim (Editora Penalux) veste ou reveste sua obra de uma bela coleção de nuances miméticas. O travestir da linguagem que borda e pinta personagens, não corpóreos, mas semantizados com aquele belo hífen que oferece ao espaço branco a ser nutrido e impresso: sentidos que são dentro do esco(r)po do poema, são tanto mutáveis quanto intercambiáveis. E para isso, a poeta parte sempre de uma ação que se pode parecer violenta pois requer um alvo ou uma mira. Exemplos: dardos, cordas, força.
 Aqui além do empuxo das palavras fonéticas-sonoras, temos uma relação de além de movimento, não só do sensor (ial), mas também da própria tonicidade maleável da língua. Seus sentidos em seus poemas brotam do grotão profundo. Eles não veem da superfície do poema, não estão ali já visíveis na escrita. São polissemias saltitantes que pulam a corda do espaço geométrico da criação. Regina é tão precisa em seu tamanho de onda, aquele movimento da escrita que diz onde ela deve cair para depois fechar-se em ostra? (mostra) Ela explora detalhadamente a própria tensão espacial do poema, criando universos lúdicos, com acepções & sentidos pluralizantes da palavra que parecem uma serpente ou será semente, algo projetivo além do finito momento de desabrochar em estética. 

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Fernando Andrade, 49 anos, é jornalista e poeta. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel e do coletivo Clube de leitura onde tem um conto Quadris na coletânea volume 3 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia com Entrevistas com escritores e resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e meio. Lacan Por Câmeras Cinematográficas Poemoemetria e acabou de lançar Enclave (poemas) pela Editora Patuá.


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