![]() |
AJUDA-ME A ENCONTRAR O TEU GRITO
Ajuda- me a encontrar o teu grito,
Tua luz apagada;
A vertigem de tua língua
Inalcançável.
Ajuda-me a regar tua flor silvestre
Nesta orla feita de sol e primavera.
Para mim, basta saber que me acolhes
Em teu voo migratório.
Quantos caminhos
Até encontrar em teus olhos
Um vestígio de eternidade?
Meus pés (trôpegos no tempo),
Perdidos, para refazer o caminho.
É preciso apagar as pegadas.
Decodificar a trilha com a luz apagada.
Olho-me no espelho e minha cara é de deboche,
Mas algum rasgo é de ignorância.
Alguma linha tem algo de Frida,
E da natureza morta no calo da vida.
Não creio nos tons amenos
Quando sinto fome.
A CABAÇA
Sou essa terra de chão batido
Esse sertão da língua de cinza
A fome alada, o Carcará
Sou esse deserto de poeiras
longínquas
Sou água na cabaça, o arame
Farpado, cercando o cercando
O latifúndio de sol e estrada
Sou esse fruto no avesso da
Terra plantada.
![]() |
Foto de Andrea Vialli |
TREINAMENTO
Na barriga da minha mãe
Eu andava pelos babaçuais
Do Maranhão
Não sabia ainda a função
Do Machado, o coco aberto
E ferido. O azeite.
Depois conheci a fome e a
Lâmina.
POEMA NATIMORTO
Vai meu poema
natimorto
Ainda que lhe
arranquem as vestes
E o seu cordão umbilical
Não se entregue
Fale dos homens vazios
Do silêncio dos injustiçados
Do grito dos excluídos
Da fome dos desvalidos
Leve consigo a fé dos que
Professam o amor
Dos que lutam bravamente
E resistem aos infortúnios
Vai, natimorto
Ressuscite, grite, prossiga
É lá onde não temos a
Coragem de ir
que encontramos a força
Para tocar o barco, a valsa
O burro...
Vai meu poema
Porque é nos ombros
Que a palavra trepa
natimorto
Ainda que lhe
arranquem as vestes
E o seu cordão umbilical
Não se entregue
Fale dos homens vazios
Do silêncio dos injustiçados
Do grito dos excluídos
Da fome dos desvalidos
Leve consigo a fé dos que
Professam o amor
Dos que lutam bravamente
E resistem aos infortúnios
Vai, natimorto
Ressuscite, grite, prossiga
É lá onde não temos a
Coragem de ir
que encontramos a força
Para tocar o barco, a valsa
O burro...
Vai meu poema
Porque é nos ombros
Que a palavra trepa
![]() |
Fotografia de Luciano Queiroz |
LAMBARIS
Trago comigo
Estas dúvidas
Suspensas sobre
As águas
As poucas certezas
Que tenho
Se escondem do anzol
Na lama.
_______________
Luiza Cantanhêdeé natural de Santa Inês -MA. Filha de lavradores, formou- se em Contabilidade em Teresina -PI, onde reside atualmente. Autora de “Palafitas” e “Amanhã, serei uma flor insana” (Poesia, Editora Penalux - 2016/2018). Tem participação em várias Antologias. Poemas traduzidos para o Italiano. Membro fundadora da Academia Piauiense de Poesia. email: luiza-cantanhede@hotmail.com