Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Quatro poemas de Anne Sexton, por Mariana Basílio

$
0
0


Old

I'm afraid of needles.
I'm tired of rubber sheets and tubes.
I'm tired of faces that I don't know
and now I think that death is starting.
Death starts like a dream,
full of objects and my sister's laughter.
We are young and we are walking
and picking wild blueberries.
all the way to Damariscotta.
Oh Susan, she cried.
you've stained your new waist.
Sweet taste –
my mouth so full
and the sweet blue running out
all the way to Damariscotta.
What are you doing? Leave me alone!
Can't you see I'm dreaming?
In a dream you are never eighty.

Velha

Estou com medo de agulhas.
Estou cansada de lençóis de borracha e tubos.
Estou cansada de rostos que eu não conheço
e agora penso que a morte está começando.
A morte começa como um sonho,
repleto de objetos e do riso da minha irmã.
Nós estamos jovens e nós caminhamos
e colhemos mirtilos selvagens.
em todo o caminho para Damariscotta.
Ó Susan, ela gritou.
você manchou o seu corpete novo.
Gosto doce –
minha boca tão cheia
e o doce azul se esgotando
em todo o caminho para Damariscotta.
O que você está fazendo? Me deixe em paz!
Você não vê que estou sonhando?
Em um sonho você nunca tem oitenta.


Again And Again And Again

You said the anger would come back
just as the love did.

I have a black look I do not
like. It is a mask I try on.
I migrate toward it and its frog
sits on my lips and defecates.
It is old. It is also a pauper.
I have tried to keep it on a diet.
I give it no unction.

There is a good look that I wear
like a blood clot. I have
sewn it over my left breast.
I have made a vocation of it.
Lust has taken plant in it
and I have placed you and your
child at its milk tip.

Oh the blackness is murderous
and the milk tip is brimming
and each machine is working
and I will kiss you when
I cut up one dozen new men
and you will die somewhat,
again and again.

De novo e De novo e De novo

Você disse que a raiva poderia voltar
como o amor fez.

Eu tenho um traje negro de que eu não
gosto. É uma máscara que experimento.
Eu migro para ele e seu sapo
senta em meus lábios e defeca.
Ele é antigo. E também um miserável.
Eu tentei mantê-lo em uma dieta.
Eu não lhe dou unção.

Há um bom traje que eu visto
como um coágulo de sangue. Eu o
costurei sobre meu peito esquerdo.
Eu fiz dele uma vocação.
A luxúria foi cultivada nele
e eu coloquei você e sua
criança em sua ponta de leite.

Ó a escuridão é assassina
e a ponta de leite está transbordando
e cada máquina está funcionando
e eu vou te beijar quando
eu cortar uma dúzia de novos homens
e você vai morrer um pouco,
de novo e de novo.
 More Than Myself

Not that it was beautiful,
but that, in the end, there was
a certain sense of order there;
something worth learning
in that narrow diary of my mind,
in the commonplaces of the asylum
where the cracked mirror
or my own selfish death
outstared me . . .
I tapped my own head;
it was glass, an inverted bowl.
It’s small thing
to rage inside your own bowl.
At first it was private.
Then it was more than myself.

Mais do que eu mesma

Não que isso fosse bonito,
mas que, no fim, houve
um certo senso de ordem ali;
algo que valesse a pena aprender
naquele diário estreito da minha mente,
nos lugares comuns do asilo
onde o espelho rachado
ou minha própria morte egoísta
me encarou fixamente...
Eu bati na minha própria cabeça;
Era vidro, uma tigela invertida.
É coisa pequena
Se enfurecer dentro de sua própria tigela.
No começo, era privado.
Então se tornou mais do que eu mesma.
The Fury Of Sunsets

Something
cold is in the air,
an aura of ice
and phlegm.
All day I’ve built
a lifetime and now
the sun sinks to
undo it.
The horizon bleeds
and sucks its thumb.
The little red thumb
goes out of sight.
And I wonder about
this lifetime with myself,
this dream I’m living.
I could eat the sky
like an apple
but I’d rather
ask the first star:
why am I here?
why do I live in this house?
who’s responsible?
eh?

A Fúria dos Poentes

Alguma coisa
fria está no ar,
uma aura de gelo
e catarro.
Todo dia eu construí
uma vida inteira e agora
o sol afunda para
desfazê-la.
O horizonte sangra
e chupa seu dedo.
O pequeno dedo vermelho
sai da vista.
E eu penso sobre
esta vida inteira comigo mesma,
esse sonho que estou vivendo.
Eu poderia comer o céu
como uma maçã
mas eu prefiro
perguntar à primeira estrela:
por que estou aqui?
por que moro nesta casa?
quem é o responsável?
hein?




_____________
Anne Sexton (Newton, 9 de novembro de 1928 — Weston, 4 de outubro de 1974). Poeta estadunidense conhecida por sua poesia confessional. Vencedora do Prêmio Pulitzer de Poesia em 1967. Sua temática inclui a sua longa batalha contra a depressão, tendências suicidas e detalhes íntimos, incluindo o relacionamento com familiares. Ela optou pela morte em 1974. Obras em vida: To Bedlam and Part Way Back (1960), All My Pretty Ones (1962), Live or Die (1966), Love Poems (1969), Mercy Street (1969), Transformations(1971), The Book of Folly (1972) e The Death Notebooks (1974).

Mariana Basílio (Bauru — São Paulo, 1989). Escritora, poeta, ensaísta e tradutora. Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Autora de Nepente (São Paulo: Giostri Editora, 2015), Sombras & Luzes(Brasil, Editora Penalux, 2016; Portugal, prelo 2019) e Tríptico Vital (São Paulo: Editora Patuá, 2018. Prêmio ProAC; finalista Residência Literária Sesc 2018). Colabora em portais e revistas nacionais e internacionais. Mantém o site www.marianabasilio.com.br.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Trending Articles