as pessoas cegam
as pessoas somem
as pessoas correm
lapidares, as pessoas,
frases
depositam-se em calhamaços
pó e papel
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sentir os calores do medo
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sentir os calores do medo
tocar o medo com as pontas dos dedos
deixar o medo sem língua
arrancar os dentes do medo
e mastigar no café da manhã
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sem arrasto
os nós que
em nós
diziam-se [e]ternos
precipiciam
aos berros
a iminência do
fim
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derrelição -primeiro movimento
eu:
só
me defendo
de mim
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[in]corpore
insuportável
Mente
Sã
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Sã
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petit château
carregam pedras
para construir castelos
enquanto esculpo
com sangue
a rocha fria
eu, que não sou princesa,
sinto prazer
nas mãos que ardem
sobre a campa
branca e última
sou tumular
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vi na semente
só
a semente:
inesperada
força imóvel
do germinar
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o passado
solidifica
ossos
e floresce
entre a carne
e a pele
o passado
consome o corpo
e se transforma
em dor
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só sabe de si
quem pode
cerrar as frestas da rótula
e usar a saída de incêndio
que despeja restos humanos
no quintal
de um incinerador
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preciso prender o medo
no solo seco da
garganta empoeirada
para tossir a vida
e escarrar o incômodo
indigerível
que corrói os ossos e
contamina as vísceras
do corpo inerte
imerso em sonhos
abortados
preciso criar um elo
com o olhar disperso
que paira verde entre
o eu e mim
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resiste e
[re]existe
isso posto,
suponho que
atravessar a vida
seja acumular
desgostos
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quanto mais sonha
mais voa
pensou a borboleta
insone
acorrentada a uma flor
de jasmim
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sístole
orações sem sal
deságuam
sobre os corpos
desabados.
os deuses, cegos,
já não sabem onde pisar.