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Poemas de Déa Paulino

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as pessoas cegam
as pessoas somem
as pessoas correm

lapidares, as pessoas,
frases
depositam-se em calhamaços

pó e papel



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sentir os calores do medo
tocar o medo com as pontas dos dedos
deixar o medo sem língua
arrancar os dentes do medo
e mastigar no café da manhã



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sem arrasto

os nós que
em nós
diziam-se [e]ternos
precipiciam
aos berros
a iminência do
fim



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derrelição -primeiro movimento

eu:
me defendo
de mim


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[in]corpore


insuportável
Mente



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petit château


carregam pedras
para construir castelos
enquanto esculpo
com sangue
a rocha fria

eu, que não sou princesa,
sinto prazer
nas mãos que ardem
sobre a campa
branca e última

sou tumular



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vi na semente
a semente:
inesperada
força imóvel
do germinar



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o passado
solidifica
ossos
e floresce
entre a carne
e a pele

o passado
consome o corpo
e se transforma
em dor



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só sabe de si
quem pode
cerrar as frestas da rótula
e usar a saída de incêndio
que despeja restos humanos
no quintal
de um incinerador



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preciso prender o medo
no solo seco da
garganta empoeirada
para tossir a vida
e escarrar o incômodo
indigerível
que corrói os ossos e
contamina as vísceras
do corpo inerte
imerso em sonhos
abortados

preciso criar um elo
com o olhar disperso
que paira verde entre
o eu e mim



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resiste e
[re]existe

isso posto,
suponho que
atravessar a vida
seja acumular
desgostos




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quanto mais sonha
mais voa
pensou a borboleta
insone
acorrentada a uma flor
de jasmim



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sístole

orações sem sal
deságuam
sobre os corpos
desabados.

os deuses, cegos,
já não sabem onde pisar.


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