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"somos vestidos mais de medo do que de amor" - dois poemas de enzo fuji

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Foto de Elle Hanley

Recordas-te quando me amou? Espero que não me leia

eu sinceramente espero que você não leia este texto
quando você chegar e
mergulhar rente às costelas

sinceramente
um berro em buzina é como um sopro
para bandeira assim a sua estrutura
abala em alguns segundos

então

lamentar a renúncia do tempo que éramos
como correntes de oceano e agora já passamos
para estagnações em pontos específicos da praia
só espero que você não me leia
enquanto sua linda alma de algodão se põe
ao vento e ao vento põe flores adormecidas quando
você mergulha na respiração caótica e diz
é uma aventura
sinceramente escalar horas e horas
e não chegar a lugar algum

e através disso abraçar o acidente porque
você não conheceu meu avô nem o meu primeiro poema
entalar um adeus é engordar de sofrimento

e sinceramente espero que não me leia
porque ainda me interesso em tropeçar e cair no
algodão da sua alma

"Stuck in my head", de Mr. Rolzay
às vezes gostaria de suspender a roleta do azar


é o barulho do fim do mundo
ou o silêncio do começo do mundo
perguntou-me
é o tempo de dar lugar a um desmembramento de quem nos prende
somos vestidos mais de medo do que de amor
e consagramos o congresso internacional do medo
à luz
o exercício desordenado da agonia
e agora certas virgens
dosam um trator
pronto para funcionar
outras virgens
bebem de umaastrologia
e se põem a funcionar
dentro de um dia
uma turbina no seu ventre
arrepiar é deixar algo entrar em nós
se é beleza por dentro acende
se é tristeza escurece
é o barulho do começo do mundo
destrinchar o invólucro invisível
do anel no dedo
procurar pelo o mistério da perda
da membrana revestida do corpo
no meu corpo
agora resta o silêncio

a relíquia de ouvir um piano pronunciar o remorso
o focinho da memória respira em mim
entoar o mínimo de desespero em cima dos outros
o cartógrafo das cores dedilha e entende
que o toque é o mais especial
por isso quer escrever epístolas revoltosas
que fazem um lavrador tocar em você
mas percebe que bafar o hálito quente do amor
pode ser recusado muitas vezes
            a distorção aparece
nos olhos e desinventar
uma palavra ou um beijo
quando você não está mais
aqui porque o tempo distorce
a palavra rompe
o beijo contorce
e inacreditavelmente
abreviamos certos momentos
para que eles sejam
o que esperamos

cento e oitenta graus
para realizar determinada
atividade com certa
habilidade e com um
corpo enferrujado

cerca de oitenta e poucos
graus para chegar a suaboca
e consagrar vitórias ao
longo da vida como uma
inclinação oposta às derrotas

certas coisas dependem de
certas ocasiões para que
sejam postas em ação
certas coisas possuem em nós
um esforçoe foi assim que
aprender matemática
se tornou um código
mais humano

me pendurar nos ramos dos seus cachos
molhar as rosas das suas raízes
nascer um escritor maior que ramos e rosa  
e depois crescer
perturbar o verão como uma criança
pendurar a invenção e mostrar com orgulho aos outros
            entretanto
como explicar certas coisas
como
os caras de vermelho sempre são bombeiros
comunistas ou torcem para o sp mas
e o cara de laranja é o quê
pergunto-lhe
amassar as batatas para fazer purê
um ritmo cotidiano de suspender
a roleta do azar e declarar
a sorte

e foi assim que
a distância começou
a nos matar
a nos enfraquecer
até que um dia percebemos
que a matemática
e a geografia só servem
de encontros base
para encontros históricos -
e com isso nutrimos
uma gratidão eterna -
sobretudo queríamos suspender
a roleta do azar em que
abrimos sacos de salgadinhos

mas não se preocupe
certas coisas não serão nossas
nunca
é apenas o barulho do fim do mundo
ou o silêncio do começo do fim do mundo
a gente nunca sabe o que é.




_______________
enzo fujiescreve poesias, mas não se considera poeta. ainda não sabe o que quer ser e como quer que seja. vencedor do prêmio da editora lamparina luminosa no estopim de 2017, junto a mais nove autores, que serão publicados em uma antologia. publica, no final do ano de 2018, aos 18 anos, o seu livro de estreia pela editora patuá - depois que seja tarde antes que seja nunca - com poemas realizados entre os 16 e 17 anos. ainda feliz, divulga os seus versos pelo instagram e facebook, conhecido em ambos como @enzofuji. planta um sorriso em cada poema finalizado. a semente, diz ele, não se sabe onde pode germinar. mas espera que germine. 


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