Last man from Taos (2018), Larry D. Blissett.
Se todo ser humano tende a ser desequilibrado, pode-se dizer que também tende a não ser confiável. Se tende a não ser confiável, pode-se dizer que também tende a ser perigoso. Se tende a ser perigoso, pode-se dizer que também tende a ser mau. Se tende a ser mau, pode-se dizer que também tende a ser uma ameaça à vida. Como qualquer ameaça à vida precisa ser exterminada, todo ser humano, por tender ao desequilíbrio, à não confiabilidade, ao perigo, à maldade e à condição de ameaça, precisará, para poder sobreviver, exterminar-se. Explico: como a primeira instância da vida para a qual todo ser humano representa uma ameaça é a sua própria, pode-se dizer que ele tenderá a exterminar os seus iguais. Logo, pode-se dizer que, se todo ser humano tender a exterminar os seus iguais, em determinado momento, poucos seres humanos sobreviverão. E quando, afinal, restar apenas um único ser humano no planeta, esse último − que já não representará uma ameaça para os outros, mas apenas para si mesmo − terá que se matar para sobreviver.
In: Desimagens (Bookess, 2018).
Jorge Lucio de Campos é poeta, ensaísta e professor da ESDI/UERJ. Publicou os ensaios Do simbólico ao virtual (1990), A vertigem da maneira (2002), A travessia difícil (2015), Lembretes filosóficos para jovens sábios (2017), O império do escárnio (2017) e as coletâneas Arcangelo (1991), Speculum (1993), Belveder (1994), A dor da linguagem (1996), À maneira negra (1997), Prática do azul (2009), Os nomes nômades (2014), Sob a lâmpada de quartzo (2014), Paisagem bárbara (2014), Através (2017), Véspera do rosto (2017), O triunfo dos dias (2018), A grande noite perdida (2018) e Desimagens (2018).