(imagem: ver nota)
para Sândrio Cândido
“onde estão os anjos que não se pode ouvi-los?”
Nydia Bonetti
os céus que se abram e dali se abismem
verdades, meteoritos
riscando o azul impreciso, tear
de gelo em que tais projéteis risquem fios
de fogo nessa manhã que mais parece um apocalipse
ao contrário
e sem revelação, voz
de sete pedras, não, você
procurando sementes nas frutas todas
sem sementes da primavera sem perdão
em meio a comentários intermináveis, parede
ácida em que olhos escreveram oceanos e suas rendas
oxidadas que no fundo são desertos com peixes
mortos sobre a areia imitando porcelanas, fazendo pose
de iluminura diante do
paraíso (imagem
nenhuma é bárbara o bastante, você
sabe, agora
que seus olhos estão vendados
na frente da grande tela: a única diferença
entre você e os suicidas é que os suicidas parecem não ter
dúvidas).
___________________________________________________________
Imagem: Signo Peixes em um Livro de Horas, manuscrito feito pelo Mestre de L’Échevinage de Rouen, França, c. 1475. (Foto: Grupo Imago, em http://imago.fcsh.unl.pt/?loc=3&id=543&tema=iluminura).
