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verbo em estado líquido - a poesia dos mares de Tiago Rabelo

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Arte: Rob Gonsalves


>>>nas embarcações

no fio dessas dores ancestrais
do teu corpo-morno
nas vozes do teu bruto peito
existem vários rios
dentro do rio
labirintos copas casulos
z u n i d o s
que atravessam
de dentro pra fora
furando a carne
d e s a l o j a n d o
que rasga o tecido da terra
e espera esbarra inaugura
que arranca o leme
dessa carapaça verde
dos redemoinhos-portais do tempo
dessas bolhas
no barlavento direcionado
nas embarcações
ecos mudam de direção
<<<jangada>>>

líquido subtraindo a sua superfície
percorre
o quase-não-move
líquido subtraído da lembrança: uma sensação
no lume dessa luminosidade vibrante
na semi-ilha de imensurável ser
na efervescência que escalpela
o breu rastejante transcendente mórfico
sob a espelhagem

jangada
rabiscando o traçado desse percurso
multívoco refletido
no movimento-serpente
que flutua o corpo
dessa alga-movente
no jabal que ensereia os galhos
dessa imensidão transvestida

e o gemido inaudito
no ruído das pedras
nas fendas da amplidão
no rio que transcreve memórias...
enquanto peixes percorrem o infinito
mares livres  I

carrego nos olhos esperanças horizontais
antilhas de versos entulham-se ante a angra

[esperar é insônia em descanso
canto do espaço insonoro,
sonho, reflexo do encanto]


a alma enfada-se
sem
querer e pedir

a linda horta desanda
ímãs atraem miragens
encontram arcas

o enquanto encalha
estrelas sobre o abismo
brilham na noite do esquecer

no peito, espetos sangram o lodo
- lobo desorbitando um lar
no peito, um seio esmera olhos
mortos alinham o mar
 

o voo do pássaro azul
para Luíza
arde
alma, coração.
brilho ofuscado de negros olhos
que morrem
[uma brasa no leito do tórax]
na soma infinda de pequenos óbitos
eternos
que
renascem em sentimento novo,
vestem-se, balbuciantes, agitados.


amores que não são amores festejam
no hipotálamo de uma cor
de ouro;
percorrem a noite da província,
queimam-se,
porém,
divertem-se.

o vapor no sumo da corrente:

- eu gosto é de quem provou do doce
e do amargo...
- eu gosto é do pesar da vida,
de aflição nos dias de inverno.

sente-se a liquidez,
o bater de mãos tremulas
enseja a ribanceira do tempo
- úmidos dedos, fios que conduzem.
e o pequeno pássaro azul
logra, consagra,
no sobrevoo de asas,
acaricia o medo.


______________
Tiago Rabelo (Teresina, PI) é um jovem escritor brasileiro, poeta e estudante de licenciatura em História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Têm poemas publicados na "Antologia Poética Gritos Contidos" (Coruja Escritora, 2017), “Antologia Poesia Agora” (Editora Trevo, 2018), e-book “Brinquedos do Infinito Poemas a dezesseis mãos” (livro disponível para download na plataforma digital VER-O-POEMA, 2018) e nas revistas literárias: Literatura & Fechadura, Mallarmargens, QUETETÊ, Revista Prosa Verso e Arte  e Escrever Sem Fronteiras. As Vozes desse Rio (Editora Multifoco, 2018) é o seu livro de estreia na literatura.


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