Quantcast
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

5 POEMAS DE MARIEL REIS








O homem desoriental - VII


Ela desperta do sono
Coberta de pedrarias invisíveis
Vestida com a túnica sutil
Do meu desejo.

Os seios apontam para o horizonte
Com a ânsia de expandir-se;
O ventre de penugem escassa
Uma larga planície.

Lá semeio meu tesouro.

Ela desperta do sono
Coberta pela gaze fina,
As partículas do dia
Intrometem-se em sua pele.

O sol vem para sua companhia
Enquanto despede-se do resto de sono;
Ela brilha como as pedrarias invisíveis
Que lhe recobrem a nudez – sua única veste.



O homem desoriental – VIII a X


VIII

O coração não se queixa.
Não há sofrimento,
Nem infelicidade
Quando suas mãos hábeis
Mexem nos meus cabelos.

IX

O meu espírito perturba-se na sua ausência.
Debate-se nas sombras das feras
Tomba no ostracismo do espaço
Dissolvido pela música eterna.

X

Os reis não possuem tesouro comparável.
Os arquitetos reais nunca construíram
Arcos a que pudessem equipará-la.
Não há ornamento de prata ou ouro
Nem riqueza sobre a terra
Que se compare ao doce hálito de sua fala.



A vida e seus limites ante a finitude


Metade de nós está no presente
A outra permanece invisível no tempo;
Parte de nossa carne, poeira e vento
E a outra passa incólume à tempestade.

Metade atravessa o vale do esquecimento
Enquanto a outra arde em saudade,
Da parte que cai no desaparecimento -
Uma nuvem de areia sobre a cidade.

Uma parte de nós é constância
Enquanto a outra, substância volátil;
Que fundida ao infinito do espaço
Alerta-nos de nosso breve trânsito.

Ó Allah, ensina-me o segredo do silêncio
Permita-me aceitar a minha morte,
Qual o truque de um mágico
Que me guardasse junto das coisas eternas.




foto: Jeremy Shane


*    *    *



Image may be NSFW.
Clik here to view.


Mariel Reis (Rio de Janeiro, 1976) é originário do limítrofe bairro carioca da Pavuna (vizinho à baixada fluminense), graduou-se em letras pela UERJ e integrou os conselhos editoriais das Revistas Confraria do Vento e Paralelos. Seus livros lançados são "Linha de recuo e outras estórias" (2005), "John Fante trabalha no Esquimó" (2008), "Cosmorama" (Poesia, 2009) e "Vida cachorra" (2011), este último com prefácio de João Anzanello Carrascoza e quarta capa de Paulo Lins.  Em 2012 lançou "A arte de afinar o silêncio" (leia aqui uma resenha); E-mail: marielreis@ig.com.br

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Trending Articles