Luís Costa
Nas Astúrias, fotografia de José Maria da Gama Nunes
TU ÉS A CHUVA dos pássaros nascida na boca faminta de estrelas
olor da sapiência feminina
amoras que se desfazem nos alvéolos
poderosos
ó ilustres tardes onde os bichos-da-seda tecem o ouro
metalurgia absoluta
amor
obra secreta de ígneos metais
genialidade dos altos ourives
tudo jorra do núcleo perpétuo
e é o movimento e a pedra
que as tuas mãos recolhem com o louvor da luz
rotação alegre
oráculo ancestral por onde um deus espreita
assim te vejo com mantos dourados
e helénicas insígnias
por entre o verde das ramagens
de onde os mamíferos emergem
rápidos e elegantes
costuras que erguem o espaço
com as pressões ejaculares do fogo:
o teu rosto vindo até mim
o teu rosto
fotográfico
o teu rosto
entre as tranças douradas
e tudo circula agreste e puro
como o sol em repouso nas hastes das sombras
nos canaviais
assim te vejo
e és bela como a água secreta que corre, cintilante,
dos cântaros.
Arqueologia Nocturna,
Luís Costa