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para Helena
foi numa primavera hostil que deixei de te entender
e semeando ausências nos teus calendários
não via as flores minguarem nos jardins
onde depositei o script de outro drama
em que anjos distraídos se dissimulavam em pedra
ou no cedro dourado dos crepúsculos dos adros
e das naves escuras e vazias
já não me importa mais que as células sãs enlouqueçam
ou teçam abismos pelo corpo
sangrando moléculas e névoa e nuvem
e descompassem a música das esferas
nem que o silêncio venha carregado
de palavras
artefatos de um tempo tão antigo
que ainda amanhecia
no mesmo lugar deixei o mapa
que ia nos levar de volta a um presente que não mais termina
e agora
com todas as pontes arruinadas
vi pelo espelho dos metais que forjei o rosto
que representa a ilha
num mar transbordando cinza bruma e gelo
nos acalenta agora
nesta outra primavera
o fio que abre a ferida sem resposta
aquela em que [atrás das imprecisões
no livro dos dias]
definitivamente eu
não sei
[este poema integra o livro "Mecânica aplicada", publicado pela Editora Patuá em 2017]
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Nuno Raué carioca, arquiteto e professor de história da arte, mestre em história da arquitetura, e tem poemas publicados em revistas e sites como Cronópios, Germina, Sibila, Zunai, Mallarmargens, Diversos e Afins, RelevO, InComunidade, em diversos blogs e nas antologias Desvio para o vermelho (13 poetas brasileiros contemporâneos), pelo CCSP | Centro Cultural São Paulo, Escriptonita: pop/oesia, mitologia-remix & super-heróis de gibi, que co-organizou, e 29 de Abril: o verso da violência, ambas pela Editora Patuá e, em fase de organização, a antologia Poemáquina. Esteve entre os poetas da exposição Poesia Agora, da Caixa Econômica Federal. É um dos editores da revista eletrônica mallarmargens.com.