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As estações da razão, poema de Jorge Lucio de Campos

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[a Jonathan Barnes]


Tales de Mileto

Aqui de
dentro

espreito
o Ser –

tudo é
Água

aquém
de mim

Dentro
de mim

tudo me
olha

tudo se
molha

além de
mim






Anaxímenes de Mileto

O Ar
vasto

traz
em si

diversos
nomes






Heráclito de Éfeso

Se o Um
se move

então
existe

surge e
some

em um
segredo







Parmênides de Eleia

Se o vento
esculpe

e a tarde
entece

nada muda −

Um é sempre
o mesmo







Empédocles de Agrigento

Um ao outro
desunidos −

Ar e Terra
Fogo e Água

Seja o sopro
que os revela −

caos no caos
resolvido







Anaxágoras de Clazômenas

Cabe ao olho
ver na estrela

o que há de
mais contido

Logo o éter
se dilata –

em meio
ao mar um

novo mar
já esquecido


In: Prática do azul (Lumme, 2009).






_____________________

Jorge Lucio de Camposé poeta, ensaísta e professor da ESDI/UERJ. Publicou os ensaios Do simbólico ao virtual (1990), A vertigem da maneira (2002), A travessia difícil (2015), Lembretes filosóficos para jovens sábios (2017), O império do escárnio (2017) e as coletâneas Arcangelo (1991), Speculum (1993), Belveder (1994), A dor da linguagem (1996), À maneira negra (1997), Prática do azul (2009), Os nomes nômades (2014), Sob a lâmpada de quartzo (2014), Paisagem bárbara (2014), Através (2017), Véspera do rosto (2017) e O triunfo dos dias (2018).


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