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5 poemas de Pedro Blanco

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Gravura de Rubem Grilo

status: em um relacionamento líquido

cuba libre es feita de cueca cuela
aliás
cocacolizaram os guaranis
um curupira e um saci saem na mão
pelo último nike air max
o hippie otaku caça um bulbasauro em busca de seu kambô

coisas reais acontecem com pessoas fictícias

o equilibrista endoidou
não resistiu ao pacote de tarja pretas
desequilibrou-se

fidel morreu numa black friday
são tempos dialéticos

mas "tudo ainda é muito previsível" né, michel? (o poeta que deveria ser presidente,
não o "presidente" que deveria morrer)
matérias do tipo tecnologias
propagandas do tipo
seja você um android!
ou : promoção de dolly, dolly a ovelha clonada dolly
ou "quando da pós-liberação da tolerância religiosa o surgimento
dos abatedouros pra oferendas

o evento deus está voltando foi cancelado
sorria feito uma tomada
estamos sendo punidos
e a televisão não será revolucionada

a t e l e v i s ã o n ã o s e r á r e v o l u c i o n a d a

e lembre-se
fumar faz bem ao ambiente


***


prosa poética é a bula do meu remédio

ando anacrônico
sabe
vez me esqueço até de mim
sabe
meu pai vive me dizendo: "só não perde a cabeça porque tá grudada"
mas me perdi por inteiro

ando tão perdido que se me encontro na sugestão de amizade do facebook eu me
bloqueio

amanhã é dia das mães
e ao ser interrogada sobre uma possível demonstração de afeto em forma de bem material, como de costume, a sogra da mulher do meu irmão, também
conhecida como a deusa que me pariu, pedirá: juízo
coitada...
e nunca poderei revelar a ela que tomo veneno
cachaça
fico de jejum
mas juízo
de jeito nenhum
nem de graça

sério, uma vez eu tomei meio e bateu bem errado

vôo tem vez
meio bobo
sabe
vez não correspondo
a esse desespero

já fui bem velho
sabe
e agora moço
não combino com melancolia

por isso

tenho ousado sorrir
lembra?

e quando eu for criança quero ser o manoel de barros e mais tudo que eu quiser
e vocês?

mas do que falávamos mesmo?

minha atenção dura o tempo da sinédoque das nuvens

sofro de tda: tumulto de amor

perdoe a bagunça, é que ando de mundança

mergulho de ponta em poças

como dizem: é bom abrir a cabeça

sabe, vocês deveriam ir lá em casa
meu cão tem um uivo tão lindo que deveria chamá-lo allen ginsberg
e meu ginsberg tem um uivo tão foda que deveria chamá-lo cachorro

meu gato

me deu uma bota

me tacou um pau


chamo isso de abalo cínico
ando testando por aí

tem sido um fracasso
pois toda parede quebra

a questão é: venham em casa! perdi meus melhores amigos e não consigo imaginá-los 
de volta
bom
não sei quanto a vocês, mas tenho tempo de sobra pra perder

ai, ai...

a quem não me conhece e me compra
saiba que sinto
eu sinto muito


***


no julgamento do olho, lua e bola de gude têm o mesmo tamanho

na ótica da alma afetada, o nada serve tanto quanto o tudo

na surdez, trovão é lindo e nada mais
fogo de artifício não tumultua cão

navegando o mar talvez não seja tão bonito

lava é ferida quando tato
cacto é flor vez em quando
água viva de longe é medusa
de perto mijo ou uma espécie de ovo frito de e.t.

dois corpos produzem mais incêndio que especulação imobiliária
fio elétrico é o que liga tênis e anjo
não há chuteira ortopédica que ajeite garrancho
não há garrincha que não
entorte a caligrafia

não há gauche que a gramática dome

osso é duro, mas pra cachorro é baba
gravidade é questão de interpretação
como um sorriso que de ponta cabeça é uma expressão triste 


***


trajar trapo
tirando cartola de coelho
dando canja pra desafinar de galo
com voz de cigarra
ser o piolho que descabela o mundo
ser murro ao ser mudo
ser ponte ao ouvir de muros
ser diminuto enquanto os outros têm hora
rir com as bruxas pois se é caipora
e ir embora ao perceber que ficou

armado até os dentes de dente
pra desfilar sorriso
um camelô de sonhos matando sedes
um aras no deserto dum peito

de uns séculos pra cá
há de se reinventar os abraços
os toques

deve-se lembrar que a pele é pena
pena que de tão leve ninguém leve a sério

deve-se um arrepio em cada pio revisado a quem mandou calar
deve-se febre aos médicos
e devem ser tartarugas as lebres
deve-se desaprender das contas do tempo
deve-se desobediência, pois
quem prometheus o fogo não avisou da conta do gás
deve-se ignorar a conta da luz
deve-se queimar a conta das trevas
devemos chama ainda em chuva
deve-se barracos os balões
deve-se pipas ao céu
deve-se o véu sereno da noite
ao coração de uma criança etíope

deve-se
sobretudo
alongar o espírito
adocicando
nosso abissal

***


(po)eta

um dia serei um poeta pop

pop pop pop

poeta pra estourar
estilo pop corn

serei poeta pop
                       ular
poeta pra pular
que nem axé
poeta pra descer até
o chão
poeta pop
             pop
popular! pop
                 pop
popular!       pop
                         pop
popular!
poeta que faz mais barulho do que bala do bope

popopopopopopopopopopopopopopopopopopopopopopopopop!!!

serei poeta em promoção

pop! pop! pop!

serei um poeta
"top"
um poeta que já não presta
um poeta em liquidação

um dia serei um poeta pop
             serei um poeta pop
                       um poeta pop
                               poeta pop
                                          pop
                                           pó


***


Pedro Blanco: falhador de poesia, pescador de peixe fora d’água, nefelibata, desorganizador da Sarradas Batidas. Resiste em São Paulo há 26 anos-trevas.






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