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o peso e a leveza na escrita dos poemas de Jean Narciso Bispo Moura

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Elefante e passarinho 
(montagem sobre foto de Ciro Albano - www.yunphoto.net/pt/)









Desvario

Não posso tomar o meu poema como um devaneio lúcido
Isto me venderá em qualquer uma dessas paragens
A rebeldia incita a santa calma
Entristece o fumante
 Que queima o último sobrevivente do maço










estranha acrobacia

O homem
Faz a travessia
Seu corpo não realiza a travessia
Rodopia
Rodopia
Rodopia
De cabeça para baixo
De pernas para cima
De cabeça para baixo
Sem ter domínio algum
Sob a estranha acrobacia










elefante

empurro um elefante
sem ter força nos braços
desolado
 empaco
não consigo êxito
em tarefas pouco triviais

solto em ato falho
o meu canário favorito
deixo a cabeça a sós
subordinada a intempérie
 da incerteza

guardo sorrateiramente
longe de qualquer
pensamento cristalino
um gigantesco elefante
numa minúscula gaiola










outro narciso

um narciso que abomina conhecer espelho
 não sabe o que é um espelho
por esquisitice e instinto qualquer
de pulsação e vida

 narciso de baixa intelecção
que não conhece espelho
 tampouco a cotidiana transfiguração
do belo em compêndio suicida
de loucura e vaidade

narciso que não sabe da existência do belo
 guardado como jazida dentro de si
 sabe apenas de poucos humanos
 cerca de duas dezenas de humanos

narciso longe de qualquer auscultação
a um passado mais gigante do que
o dos primeiros bípedes
vive como refratário
não reconhece o taciturno desejo
de olhar em um autoral espelho a sua finitude










fechadura

ri com boca escancarada
dez minutos antes
da velha encapuzada
empunhar a lendária foice

ri da fortuna de dívida
deitado no colchão macio
espiando da janela
um contínuo descolar de folhas
do bem-me-quer da primavera

gargalhar da alegria e infortúnios
a serem solapados
pela familiar fechadura
da não existência










_________________________
Jean Narciso Bispo Moura, poeta e professor. É natural de São Félix-BA e reside atualmente em Suzano-SP.  Estreou em livro no início dos anos 2000, com o título “A lupa e a sensibilidade”, também é autor de “75 ossos para um esqueleto poético” (2005); “Excursão incógnita” (2008); “Memórias secas de um aqualouco e outros poemas” (2011), “Psicologia do efêmero” (2013). E-mail: para contato: poeta.jean@hotmail.com



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