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a barraquinha de milho verde
a barraquinha verde de milho verde
perdida na superfície de como eu me sentei
depois de alguns meses sem pisar aqui
a sombra do pássaro desenha este farol
um homem embaixo do guarda-sol de sua barraquinha
tomou a frente da barraquinha de milhos verdes o meu ponto de referência
então não vá muito longe como dois braços de canoagem
não se deixe levar pela sombra da pipa que parece um fóssil de dragão chinês
ninguém também segue as marcas das patas dos crustáceos
a barraquinha verde de milho de verde foi abandonada
ali dentro tem uma panela com milhos cozidos
ou você acha que eles são cozidos na hora
slumber
debaixo das árvores chuvosas
quando as pétalas rosa
permanecem no painel do carro
uma cabine sob respingos de mofo
do fechado cinza como geladeiras desligadas
o limpador de vidro vai deixando a noite
para irmos entre miopia de calafrios e lustres
lembrei da estrada de armação dos búzios
de madrugada das namoradas caminhoneiras
com os faróis faroestes e o motor morto
emergíamos no imenso breu
desafiávamos o prazer nos seguintes fulminantes
com o gole da cantina da serra deitávamos na pista
os adormecidos do boulevard
não havia floricultura aberta àquela hora do romper do dia
iríamos nos despedir ao som do esconderijo das corujas
a ponte oca da arquitetura modernista
arco de gesso sobre a lava verde
uma escadaria molhada
o primeiro vira-lata
e um sinal interno de gotícula na lente do óculos
o funcionário abriu a primeira capela
e eu estava caçando um canteiro
nos anjos escapados pelas torres os metais que sobraram do pequeno
Simon que se encosta a Garfunkel
você gostaria de contemplar a cidade pela última vez
as veias desapareceram deixando o seu braço de cera
creio que nos despedimos muitas vezes com a sua inesperada névoa
o isqueiro boca de baleia de berlin
o isqueiro boca de baleia com nome berlin
deixou uma bolha de água no meu dedo
o barulho indecifrável do teu gás
o barulho inflamável do dispositivo aberto
o barulho entre três suspeitas zebras chorando
você já tem uma casa para ficar em colônia
o meu amigo já te ama, disse fran
naquele sonho as geleiras se partiram
uma torre de uma basílica se rompeu
alguém deixou a sua neblina comigo
a criança sente angústia vendo
a mãe indo trabalhar todos os santos dias
porque dizer para aliviar um furo na pele
isqueiro boca de baleia jubarte
postos de julho
neste posto de julho o céu esteve das cores de júpiter
é um crepúsculo joviano e gasoso, rugas de deuses da sincronicidade
acho que se aproxima uma tempestade, o creme no café desperta a geografia da língua
ainda dá tempo de percorrer o límpido ar sem capacete até chegar o recanto das férias, o extremo da maresia, antecedente flerte para a tropa de choque soltar suas bombas de efeito moral
de todos os desertos que se combinam numa batedeira para bolo napolitano em neve
parece que estamos tão distantes de suas belíssimas acomodações dentro da textura de marshmallow
quando é anti-horário como em outras américas dias de quinta-feira somos atraídos por um hotel
acho que se aproxima uma tempestade, o creme no café desperta as rochas magmas e as bandeiras se aquietam, o que me leva a voltar a amolecê-las
parece que de uma sideral química e densidade pictórica agridoce
os corpos vigiando-se mutuamente para que garantam o roubo das águas do beija-flor
mingau de insetos
cremogema é um mingau branco
de sabor tradicional
alimento favorito do mascote urso marrom
a avó não enxerga que a louça está brilhante
e produz raios de previsões de chuvas
lisos para patins de meias
corredores esticam os interlúdios cômodos
vó, tem inseto no meu mingau
...tem insetos pela casa toda!
é porque vai chover...
causando o vômito de formigas vermelhas
derramando-se feito mel pelas brechas dos armários
este é o inverno mais rigoroso para os narizes
mas o som é bom para os cadernos
para o repouso dos teimosos de coração
adormece no sofá e acorda igual a um iceberg rachado
entre as geleiras torrem as formigas vermelhas
as vozes através da conversa dos miolos de pão
a face ainda ancorada de uma nativa
com a pele do animal virada para dentro
expoente quebra-cubos de açucares raio lasers
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Rafaela Nogueira Barbosaé estudante de Letras na UFRJ. Amadora, inventa-se como fotógrafa e professora de artes. Escreve e resenha em seu blog http://paralelo14sul.wixsite.com/paralelo-14-sul. Vende vinis raros e experimentados. Recentemente, recebeu uma menção honrosa do prêmio literário Uccla de Portugal pela obra poética Asa Norte, que será publicada em breve. Rafa dos poemas ou raposa das cartas, atualmente, reside em Niterói, ao lado do cinema.