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"entre, inseto!", disse a flor, e a biblioteca ao leitor - poemas de Delalves Costa

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planta-biblioteca Carnívora (arte sobre imagem de pxhere.com)






Vou-me embora pro Asteróide 329

Velam a morte sem corpo
ao falar a língua dos contrastes,
a língua dos estupef(atos).
Divago explícito e tolo
entre tortos poliglotas,
e sem a estes pertencer
de minuto em minuto
acendo os lampiões
pra iluminar Josés e Marias
e seus íntimos países.
Mas em tempos de fogos
de ruas e fogo, de mãos
e brasas, sobrará país?
Embora lhes faltem pão,
assistem ao circo
nos bares e lares
osvio(lados opostos).

Embora eu sofra de mudança,
eu clamo por metáforas!
Prefiro isso a feias verdades;
o ócio a divagar. Portanto,
vou pro Asteróide 329, lá
eu falo a língua dos lampiões,
do liberto silêncio das ruas.










Poemortes naturais

                    I
Morre-se no miolo da flor
desatentos, os insetos
velam o perfume da alma.

                    II
No jardim do fúnebre céu
suja de terra, a noite
flerta com as belas pétalas.

                    III
São abelhas na borda do lábio
arde a língua, a fala
partiu sem levar a sua palavra.

                    IV
Enverga-se a florida biblioteca
calados, traças e olhos
mofam sem o ferrão do pólen.

                    V
Ouvem-se risos no fundo falso
a tarde finda, estrela já
não há senão flores sem rosto.










O Invento

O ritmo na soleira do poema
me inventa...
A formiga bebe a goteira
na ranhura,
arrasta o rio
pelo silêncio,
acorda a página e me define.










Banzé - cantoria que liberta

De sonho, a noite está em festa...
manifesta-se a senzala
e se cala o opressor: grito
maldito que feriu outrora.
Afora, as boas memórias
e histórias de alforria
de cantoria que liberta
que flerta nossas andanças
com danças e batucadas
e noitadas com banzés...
aos pés, voz de chão batido
o alarido canto dá
acolá, aqui em peditório
por Osório e região
tradição dos Maçambiques
que em repique pela vila
afila no íntimo dos versos
dispersos ao canto que fala
da senzala toda em festa
com seresta, canto e crença
da intensa noite em banzé
e fé com alusão à Nossa
Senhora da Conceição.










A G(estação)

As calçadas, as máquinas...
Onde parir o outono?
Flores e pára-brisas
não fecundam.
Transgênica, a época
do conservante
e condimento,
do inseticida
e calmante,
do abortivo
e fertilizante
é descartável
ato à cama sem flor.
No útero, o caos das ruas
apodrece a árvore
que já não tem calçada
– despejada às custas
da metal estação.










___________
Delalves Costa (13 de dezembro, 1981) é escritor e poeta com 6 livros de poesia publicados: COISAS que faltam em mim (2005); O Menino dos Cataventos na Rua dos Passatempos (infanto-juvenil, 2006); “Considerações Pré-maturas & Outras ausências” (2008); “Josseu Solta-inventos e as Invenções do infantiletrando” (infanto-juvenil, 2008); “Fragmentos e iluminuras do discurso pré-maturo” (2013); e “Inacabamento, a eterna gestação” (2016). Em 2005, foi patrono da 21ª Feira do Livro de Osório. Pesquisador e palestrante nas áreas de ensino, literatura e cultura locus-regional, com 2 livros publicados. Formado em Letras Licenciatura-Plena Português e Literatura Portuguesa, mestrando em Mestrado em Educação Profissional na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul/Uergs, Unidade Litoral Norte – Osório. Profissionalmente, professor de português, literatura e texto técnico na rede pública de ensino do Rio Grande do Sul. Contato: rdoispontos@yahoo.com.br.

















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