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Descentramentos e aporias do corpo nos poemas de Eduarda Vaz

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Barrigas, Johanna Hamann, 1983 
(fotos de Gino Ataucusi)




Coordenadas

A primeira medida para descobrir-se
é sair correndo,
pular pelas pontes,
tomar três trens,
rodar a saia
e finalmente
deitar-se junto ao ventre.





Barrigas, Johanna Hamann, 1983








Caverna

o movimento aqui não é para fora da caverna
você estava errado, Platão

o movimento é para dentro da caverna

cadenciado é sopro
subindo descendo subindo descendo

ainda é luz, Platão
mas aquela de olhos fechados

a cavidade é úmida
antecipação olfativa e tátil
da gruta transparente escondida

o encostar em cada uma das formas geométricas
o encontrar de
lados rochas paredes lábios rochas paredes lados

libera-se
rompe-se
tudo então, Platão
se expande e toca a verdade
na forma que se perde
que é forma sem forma
inflada e ampliada

já não é vida
mas sim partida
desague
para outra dimensão
e o corpo, Platão,
levita.





Barrigas, Johanna Hamann, 1983






Sobre o amor

você sempre me disse
que gostava de plantar
bananeira

que naquele momento
em que a palma da mão
e todos os seus dedos
estavam em contato
com o chão
você era infinito
que seu peso era permanência
e fertilizante

que apontar os pés
para a copa das árvores
para o topo do céu
era deixar os caminhos
abertos
era ser planta e floresta

e eu,
que ainda não falava bem português,
achava que queria
plantar colher e comer

os outros só queriam
a fruta
quando diziam perto de mim
para plantarmos bananeiras

mas você
me vendo confusa
me mostrou
como plantar bananeiras

grudou, suavemente,
minhas mãos
na terra
contraí o abdômen
estiquei minhas pernas
deixando-as livres
e meus caminhos abertos

você ficou ao meu lado
me ensinando na sua língua
sentimos juntos
fui infinita
correu por mim a energia
do mundo
descobri que nós dois
ali
plantando bananeira
éramos um.





 
Esqueletos, Johanna Hamann, 1983






Fluxo

a sua imagem
se faz memória
probabilidade
mas não esquecimento

se a sua imagem
se fizesse corpo
densidade
e preenchimento

seríamos rio
terra, água
entre sua
entre minha
margens.











____________
Eduarda Vaz nasceu em Volta Redonda (RJ), em 1997. Desde pequena, queria ser escritora. Estuda Letras: Português/Espanhol na UFRJ, escreve em sua página Eduarda Vaz / Poesia e na Revista Pólen. Também é contadora de histórias e professora. Alguns de seus poemas já foram publicados em revistas - como a Zzzumbido. Seu primeiro livro, Aresta, foi publicado pela Macabéa Edições em dezembro de 2017.


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