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Rita Medusa _ Aprendiz do Inflamável e seus poemas surreais

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some comigo daqui

finge que não me viu, na verdade você tem que me ignorar
tão completamente que estarei verdadeira
descendo a ladeira com rendas e cálices
perdendo dentes, ganhando marcas férteis
pedindo para você parar de devolver minha imagem deformada
apertando o gatilho antes que o gesto se afirme
cuspindo na beira do ato
castigando flores alheias

desata-me do teu colo
das tuas intenções generosas
livrai-me das tuas delicadezas 
sejamos solares



amarga paisagem de balanços molhados
e abraços que não acontecem
nos filamentos ósseos
da ferida estruturada 
pronta para celebrações
quase indecorosas
mentindo uma nudez iluminada
o orvalho recusa a escalar
teu crânio entorpecid
o
no dorso imperial
da palavra frutífera
teu nome na boca:
sabor de sangue
explosão solar na caixa de música
textura do juízo final
silencioso nocaute



Fechaduras asmáticas

 dormi séculos na tua porta 
declarando a insanidade do pavio
costurando tuas musas
engolindo o amargo de tantos fetiches
quantas crueldades serão necessárias
 para falar deste deserto?

agora resta uma metralhadora na boca 
agora sou devota das paredes 
não renego mais o pecado
não patrulho mais teus armários 

sou só mais uma  imensidão vazia
que se arrasta pelos viadutos
rachando a cabeça no sol com licor de laranja nas veias






Enquanto a malícia come cerejas na sarjeta
emprestamos dádivas aos nossos olhos
E numa coroa de sementes
Nosso legado de ofícios insanos
Uma foto do céu pra colar nas cicatrizes
um gole de orvalho com rum
o cheiro do acidente com tuas pegadas
é tudo ensaio de adeus sem cinema



Irreversível
você está do avesso
é aviso concreto 
presente indiscreto 
das manhãs sem rumo
você é o cenário 
por onde transitam as energias cativas
com sua medalha de perigo
e suas camisas d'água 
no peito intransigente 
mãos nuas para esculpir em brasas 
você é gota de lágrima
No coração do deserto
apelo indiscreto
da miragem irreversível
beber do impossível
num gole só




Sufoque os encantos na sala de projeção

Que minha paciência foi vencida trajada de trapos e gozos heróicos
Que eu me senti atraída pela dor e lascívia das esquinas e travesti minha inocência de boneca vodu
meu amor viciado em tapas e goles espessos de saliva escorrendo vergonhosamente pelo rosto e isto pareceu digno e bonito a ponto de me escancarar um sorriso condenado
o sol queria escapar pelas coxas no meio do teste e a professora era arquiteta de masmorras e danos viciantes
nada disso tende a reger os nervos em seu ultimo concerto.





Rita Medusa, paulistana dos anos 80 segundo certidão de nascimento, mas transita dos 4 aos 84 anos, transcreve, bebe, anota impossibilidades, anda sem rumo. Esses poemas fazem parte do primeiro livro “Hipnose para um incêndio” a ser publicado esse ano



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