![]() |
Ilustração: Duy Huynh |
Diálogos inacabados no vento
I
você precisa aprender a lutar
mas como é isso de lutar
lutar é sair daqui e ir
mas como é isso de lutar
lutar é sair daqui e ir
mas ir para onde
ir somente ir
e nada mais
ir apenas
assim
ir
II
o que devo fazer
quando faltar o ar
quando faltar o ar
nada
nada
nada
III
escolha bem o dia
em que vai parar
de reparar o tempo
não há ponto maior
do que este agora
no crochê anil
ora mar ora céu
em suas mãos
IV
no final pode parecer
que nada deu certo
não caia nessa menino
início e fim são palavras
feitas de água corrente
ou estrelas sob o céu
V
esperar e não saber
do que se espera
servir calmo ao ferrão
do mundo quando
no peito cresce
mais e mais vontade
de abraçar o fundo
de tudo e saudade
do que ainda se espera
"sperai" grita o olvido
como um antídoto continua
"é o que eu me sonhei
que eterno dura" ainda calmo
"é esse que regressarei"
sirvo ao espelho como
chance para a poesia
do que se espera
servir calmo ao ferrão
do mundo quando
no peito cresce
mais e mais vontade
de abraçar o fundo
de tudo e saudade
do que ainda se espera
"sperai" grita o olvido
como um antídoto continua
"é o que eu me sonhei
que eterno dura" ainda calmo
"é esse que regressarei"
sirvo ao espelho como
chance para a poesia
VI
confie no sol
quando seus raios
aquecerem a pele
o abraço do indizível
vai aplacar confie
nos pelos tesos
reais feitos de luz
confie na beleza
que há nisso
mesmo longe
confie no sol
quando seus raios
aquecerem a pele
o abraço do indizível
vai aplacar confie
nos pelos tesos
reais feitos de luz
confie na beleza
que há nisso
mesmo longe
confie no sol
VII
içamos as velas sem
a vida lá fora seguindo
a lua a estrada outrora
feitos de céu nuvens
de março céu
sobre céu
içamos as velas
ar e pele
des / conhecido
rei sobre nós
que nos revele
apenas os sóis
logo nada mais
Um respirar
nada é somente
o que o pássaro
sente
neste mar
aberto.
há de pedras
certezas
tão fecundas
quanto na face
um tapa. a voz,
de um tom
muscular, [ a imagem
de um prédio a desmoronar
diante do peito, dos olhos]
disse que o coração
é um disfarce.
nada é somente
o que o pássaro
sente
neste mar
aberto:
de suas asas,
sabido,
voa
que voar
é para
quem vive
Tiago D. Oliveira, de Salvador-BA, professor e pesquisador, estudou letras na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e na Universidade Nova de Lisboa (UNL). Tem poemas publicados em blogs, portais, revistas e jornais especializados como Alagunas, Avenida Sul, Canal de Poesia, Confraria do vento, Cronópios, Cultverso, Diários Incendiários, Diversos Afins, Enfermaria 6 (Portugal), Escamandro, Germina, Hyperion (UFBA), Janelas em Rotação, Jornal Livre Opinião, Jornal Relevo, Libero American, Mallarmargens, Musa Rara, O poema do poeta, Revista Saúva, Subversa, Zona da Palavra e outras. Em 2014 teve seu primeiro livro editado de poesia, Distraído (Editora Pinauna) e 2017 lançou o Debaixo do vazio (Editora Córrego). Seu próximo livro, Contações, sairá em 2018 pela Editora Patuá.