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Ilustração: Julie de Waroquier |
<<BICHO>>
Projeto de bicho
dizem: bicho do mato
porém, simpático
digo: bicho de lama
porém, afeita a banhos
As pedras não arranham
bicho de ferro
caia à vontade
porque: formada de dobradiças
lado e de lado
a volta é o próximo avanço
Que o tempo passe
porque: passarei dona dos lares
manipulável e reagente
O peito, ainda que orfandade, virou mãe.
<<CORTINA>>
Os historiadores não saem na linha de pagamento
Precisa-se de arqueólogos
Função: esqueletar a besta
Ela é grande e sorri
Taxionomia: de bem
Os cadernos passam rápidos sobre ela
destroem sua materialidade
a carbonizam
O objetivo?
fumaça
Somos testemunhas de seus restos
eles falarão sobre nós
E a vida continua.
<<ACIDENTE DOMÉSTICO II>>
Essa é uma conversa de quarto, do ele qualquer. Cada pontuação é de um sem medo. Mas não acho que és bem resolvido. Eu não castigaria ninguém com essa alegoria dos condomínios e das associações simuladas. O que há é a consciência honesta e majestosa da cafajestagem. Em um estalo, tu e o amigo da ladeira fecharam o buraco do projetor, sem aviso, a lente quebrou dentro do olho, este o motivo de andarem aguados. Não deduzi nada, tudo foi dito em tom de confissão. Jogo de joga verde e colhe maduro, tão infantil que ri quando caiu. Mas não desmereço a conduta, digna de inscrição nos tomos de ética. Certamente nunca escolherás cortinas de vidro para tua casa, com certeza serão vitrais narrativos. O evangelho de hoje mostrou a tormenta em cima da mesa, os anunciados caminham sobre ela. Enquanto me convenço que, aqui, não existe profundidade. O que suspeitam ser habilidade, é o truque de quem aprendeu a afundar e tirar pedras do bolso. Não ganho campeonatos, não há quem segure a bomba de respirar.
<<CARANGUEJO>>
É dolorido criar defesas, andar para trás, recolher garras, e
somar tudo isso ao estômago.
Gabriela Sobral(1990), nasceu em Belém-PA.Formou-se em jonalismo e concluiu mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural, pelo Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional (IPHAN), em Brasília, onde morou por 7 anos. O ofício da escrita vem desde a infância e, há alguns anos, passou a atuar profissionalmente como escritora. Em 2017, lançou seu primeirolivro de poemas, Caranguejo, pela Editora Patuá, em São Paulo. Após uma longa temporada vivendo entre Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, voltou para Belém, onde vive atualmente, dividindo-se entre o trabalho com patrimônio cultural e a poesia.