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Sábado às 17:00 - 20:00 Livraria Nobel: Endereço: Internacional Shopping Guarulhos - Rod. Pres. Dutra, Saída 225 - Vila Itapegica, Guarulhos - SP, 07034-911 |
Cada poema deste Retratos Imateriaisé um grito de resistência, é a prova que este mundo que nos cerca, por mais que queiram nos forçar a acreditar não é natural, por isso cada poema soa como grito de socorro, procura da liberdade recorrente e inerente ao próprio homem, então a poesia, arte de criar linguagem é meio e fim. Octávio Paz, poeta e crítico mexicano afirma:
(...) Pois o homem é inseparável das palavras. Sem elas é inatingível. O homem é um ser de palavras. É o oposto (...) Assim, num extremo, a realidade que as palavras não podem exprimir; no outro, a realidade do homem que só pode ser exprimida em palavras.
A palavra é o próprio homem. Somos feitos de palavras. Elas são a nossa realidade ou, pelo menos, o único testemunho de nossa realidade.
PAZ, Octavio. O poema, in O arco e a lira. Trad. Ari Roitman e Paulina Wacht. São Paulo: Cosac Naify, 2012, p.38.
Veja o poema fugidio: as palavras, no poema, são afáveis desertos/poetas audazes/atravessam noite e dia/em busca de ofertar oásis.
Linguagem esta que, por vezes, passa longe do tom prosaico e coloquial, Jean volta a fazer faz uso de um vocabulário erudito, mas sem cair no preciosismo desnecessário. É através da linguagem que a realidade vira ideia, a ideia vira verso e o verso, enfim, vira verdade, veja em ponte suspensa: a linha torta da linguagem constrói/ponte suspensa em nosso córtex cerebral.
Assim o homem ganha textura, recheio e cobertura artística e como consequência a vida também. O leitor tem acesso a esse raro e belo exercício de pensar e realizar a vida e o eu-lírico de Jean Narciso é o cicerone que apresenta e guia os olhos e olhares atentos do leitor por caminhos sinuosos da busca pelo humano na realidade fria e dura de nosso mundo e tempo paquidérmico:índio que não conhece civilização/é como me sinto/o poema é uma mala que levo em todas as minhas viagens/eu que nunca deixo a vista o paquidérmico sonho/sinto em todas as estações do ano/um sabor incurável de inconformidade.
Essa busca que para o poeta é essencial e individual aos olhos do leitor passa a ser social, sem nunca deixar de ser singular. É esse o jogo dialético que nos interessa em Retratos Imateriais como em toda obra de Jean Narciso ou toda a poesia e toda a arte.
Fabiano Fernandes Garcez
Jean Narciso Bispo Moura (1980). Poeta, natural de São Félix-BA e reside atualmente em Suzano-SP. Estreou em livro no início dos anos 2000, com o título A lupa e a sensibilidade, também é autor de 75 ossos para um esqueleto poético (2005); Excursão incógnita (2008); Memórias secas de um aqualouco e outros poemas (2011), Psicologia do efêmero (2013). Tem poemas publicados na Germina, Blecaute, Antonio Miranda, Canal Subversa, Blog do Noblat, mallarmargens, etc.