1
as mãos do nosso pai
faziam paráfrases habituais
entre desalento e o desencanto
deportaram capins às margens da rua
em que cândida era só um nome
em nosso pai
a veleidade era seu lado humano
& suas mãos
sem caligrafar amarguras
[ e letra alguma ]
legou-nos a lição de fi(n)car.
2
a mãe como nenhuma raiz
imprimiu seu perfume
pelo princípio e o escombro
na miséria figura do mundo
de fio a fio teceu retórica
unificou o amor
nos vultos diluídos de deus
e ariadne que não foi nem nome
com os olhos pontiagudos
traduziu a saturância
de esvaziar corpos
descer ao abismo
era sua tarefa libertária
a nos deixar a invertebrada lição
do partir.
3
o pai & seu olho atravessado de rota
pedia fim a intenção do morto
[morrer era sua mania
de um incendiado jardim]
sem ruídos
convencia fechaduras
a conduzir o horror
escutado todas as noites
tinha inclinação a inquirir
o espanto dos delitos
dentro da manhã
seu corpo
trazia obsessão de engolir fatalidades
a sentir que não recusaria piedade.
4
ao desafogar a cabeça de dentro de si
[essa era a sua maneira de amanhecimento]
a mãe palavreava fantasmas
é como se próximo dela
tivesse um palco, planos
& a alegoria de desfazer insensatez
a voz de inverno da mãe
do alpendre a cumeeira
rondava a casa
para morrer no quintal
só depois dos varais desestendidos.
5
mãe, o pai não sabe
cultivar jardins
meio aos anseios
de silêncios e inundados passados
6
pai, a mãe desconhece as estações noturnas
quer sempre o imaginário mundo completo
a questionar teus santos
& moinhos impunemente escancarando sensações
7
e eu vazio caminho
batizo paisagens
no excesso de deus e inferno
atravesso as causas iludidas.
Poemas do livro “pragmatismo das flores” – 14º Prêmio Assabeça de Literatura 2015 – Menção Honrosa, Prêmio Cruz e Sousa de Poesia 2017 – Primeiro Lugar e Prêmio Miau de Literatura 2017 – Menção Honrosa.
Galeria: Aldemir Martins
Airton Souzaé poeta e professor. Nasceu em Marabá, no Pará. Já venceu diversos prêmios literários, entre eles: Prêmio Proex de Literatura, promovido pela Universidade Federal do Pará – UFPA, 5º Prêmio Cannon de Poesia, Prêmio LiteraCidade de Poesia 2013, com o livro de poemas Face dos disfarces, Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura 2013, com o livro de poemas Ser não sendo, IV Prêmio Proex de Arte e Cultura, com o livro de poemas manhã cerzida, III Prêmio de Literatura da UFES, promovido pela Universidade Federal do Espírito Santo, com o livro de poemas Cortejo & outras begônias, Prêmio Nacional Machado de Assis, promovido pelo Canal 6 Editora, 1º Lugar no Prêmio LiteraCidade Prosa 2014, 1º Prêmio Gente de Palavra 2017, organizado pela Editora Litteris, de São Paulo, 5º SFX de Literatura 2017, sendo o único vencedor nas categorias Contos e Poesia, Prêmio Carlos Drummond de Andrade 2017, promovido pelo Sesc de Brasília, I Prêmio CAPT de Literatura 2017, obteve ainda menção honrosa no Prêmio Letrinhas do Brasil, com o livro infantil Os dias dentro da saudade, foi finalista no Prêmio Kazuá de Literatura 2016, com o livro de poemas um acenos aos girassóis e só início de 2017 esteve entre os vencedores de mais de dezoito prêmios literários, entre eles venceu o 1º Prêmio de Poesia Cruz e Sousa, promovido pela Editora Do Carmo, de Brasília e o Prêmio Vicente de Carvalho, promovido bienalmente pela da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, com Menção Especial concedido ao livro de poemas crisântemos depois da ausência. Atualmente é mestrando de Letras, com ênfase nos estudos literários, pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.