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Adivinhações poéticas-ESTOCÁSTICAS de Nuno Rau

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Calcografia firmata: "Dom. Ant. Vaccaro I. - Sesone Sculp.", da: Principj di scienza nuova di Giambattista Vico- 
In Napoli : nella Stamperia Muziana a spese di Gaetano, e Steffano Elia, 1744. - 8° [F.A. Triani 292]



/por Luís Serguilha/



A poesia acontece onde as intensidades expressivas antecipam futuro por meio de sensações! As superfícies-profundas de M CÂNICA APLICADA são desabaladamente ético-políticas porque suas traçaduras leva-nos ao incomensurável das angulações, das cordas, das veias, constroem existência, corpo , espaço, cérebro, tempo, fora do reconhecimento-do-sujeito-pessoal e da memorização hominídea: há sim, transbordamentos matemáticos, algoritmos elásticos, texturas infinitamente punctuais, fluidos heteromórficos, ondulações de inseparabilidades , velocidades ortógonas, partículas elipsadas, germes eléctricos, invaginações entremeadas, tubuladuras em desmoldagem, tensões-mónadas, curvaturas vectoriais, homotetias , anamorfoses, histereses, formigamentos ressemântizados, pontos de vista-cenográficos, arquitecturas criptografadas, pulverização de redobras, acumulações de respiradouros, velocitários, metalurgias ____uma linha infinita de inflexões sígnicas a diferenciarem-se ininterruptamente entre PHYLUNS maquínicos, as geometrias fractais de Mandelbot, as composições ÉCLAT de Boulez e a produção de emergências do tempo das hecceidades, combatendo os DROMOS, sim, NUNO RAU intensifica as multidirecções musicais com os conceitos moventes (SEVERO) de Vico atravessado por Auerbach, porque nos transporta para as conexões do mundo-cíbrido com a ancestralidade-DIVINARI do nomadismo, desregrado, caológico, xamânico, sim, M CÂNICA Aplicada constitui-se no PHARMAKON de Fedro, arremessando-nos para tremendas hesitações! Aqui-agora, a poesia emerge como uma golpeadura alçada contra o mundo-por-dentro, é um burgau amolado dentro da linfa da linguagem, uma guerra no pensamento contra a entropia e o cansaço, as palavras vibram ao espetarem os escafandros nos pulmões do mundo, nas reentrâncias obscuras do corpo com a sede de expirarem, de se esbulharem e de repulularem como auspícios inumanos, chamando para não nomear (avocar as coisas que não existem e que não têm nome); sim, estes poemas fazem dos leitores bichos falantes-chamadores de cosmicidades feiticeiras porque as palavras atravessam alvos intangíveis, e no seu avesso a respiração penetra a cada instante no movimento da travessia da morte, ultrapassando margens, “fazendo do espírito uma tremenda passagem”…. ao lermos nevarinamente os textos, os balanços da boca transformam-se na cavidade estranha do pensamento onde a impossibilidade se amplia na correnteza corporal! O mundo acontece na linguagem, a fala sente esse contágio, e se emancipa, abrindo o ritmo do acontecimento: a linguagem não descreve mas se imprime no corpo escarificado pelos espelhos sem-fundo dos signos: aqui-agora: as falas-da-visão-ouvidora ultrapassam, espionam o corpo-leitor porque esponjam o desconhecido, o inomeável, mostrando o anónimo, o silêncio entre as palavras, a obscuridade e o insondável, sim, não há trocas, há acessos, sons absconsos, fracções, trajectórias invisíveis, fragmentos secretos, visageidades no interior das palavras! O poeta atravessa e vai, é um boomerangue difuso que nos trespassa com sonoridades estranhas: uma presença invisível, uma fracção vivente, acontece e faz acontecer, assim, auscultamos o espaço perfurado de palavras, de matérias inomináveis, imperceptíveis, imponderáveis, bruxas, magas, concretas e sedimentadas que nos escarificam, fazendo do nosso corpo-leitor uma ondulação de ritornelos-mundo, de diagramas-mundo! Nuno RAU criva-se nas palavras com rumos invertidos e desfaz a relação sujeito-objecto ziguezagueantemente, sim, as palavras se derivam nas superfícies de abjunções, se demovem nos ritmos mutantes, se distanciam dos objectos manipuláveis, se raptam e se escarificam umas às outras, se extraem adentro dos acossamentos do tempo, as palavras são volteaduras subterrâneas, provocando no leitor desabamentos horizontais! Em M CÂNICA APLICADA sentimos que escrever é uma insciência, é uma força inexplicável do fora-adentrado, inundado de verbos energéticos, escultores do real em modificação: in-decifração em variantes contínuas, em fugas ininterruptas onde os sentidos constroem as palavras com toda a hecticidade do espaço! Nuno RAU pensa, rapta, afirma, nega simultaneamente porque desce à obscuridade e desfrecha-nos espirais semantúrgicas ventiladas por matérias luminosas numa dança giratória porque a carnadura da língua atinge a fulguração no estado selvático com faces invertidas, com cristais incisivos, assim, uma voz solitária aparecerá na desaparição do pensamento-espaço! M CÂNICA APLICADA esculpe-nos com as escutas do real quase-falado das serendipitias cibernéticas, cria intermezzos da matéria, transfronteiras da física, produzindo na visão gravitacional outra fala-cybermonde, construindo no visível transpoético a renovação eterna das falas-avatares, das caligrafias espaciais: aqui, nada é sem voz-algorímica, nada é sem linguagem-plagiotrópica, porque a palavra diz tudo o que não existe entre barrocos finisseculares e abstracizantes intersemióticas, chama o intocável, o invisível, ela não é reflexo, nem imagem, mas o grito-pixel que risca novos territórios com o seu próprio desaparecimento (ou serão imagens mágicas dos pitagóricos?): a palavra interactiva, em transladação esferizada chama sempre as renascenças do mundo nos interfaces da imprevisibilidade. Todos sabemos que a complexidade dinâmica do universo não tem repouso e que o espaço não é um campo material, mas um teatro-rizomático da fala e quando a matéria se fixa em si mesma, o vazio surge, o nada desponta e a linguagem desaparece...contudo, a adivinhação permutacional, estocástica, randômica joga interminavelmente com as polissemias combinatórias de M CÂNICA APLICADA!



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Luis Serguilha
nasceu em Vila Nova de Famalicão, Portugal.  Distinguiu-se em várias áreas, tendo atuado como coordenador de uma academia de motricidade-humana, colaborador em pesquisa arqueológica da época castreja, dinamizador de bibliotecas de jardim. Poeta, crítico e ensaísta, suas obras são: O périplo do cacho (1998), O outro (1999), Lorosa´e Boca de sândalo (2001), O externo tatuado da visão (2002), O murmúrio livre do pássaro (2003), Embarcações (2004), A singradura do capinador (2005), Hangares do vendaval (2007), As processionárias (2008), Roberto Piva e Francisco dos Santos: na sacralidade do deserto, na autofagia idiomática-pictórica, no êxtase místico e na violenta condição humana (2008), KORSO (2010), KOA'E(2011), Khamsin-Morteratsch( 2011) estes cinco últimos em edições brasileiras. Seu livro de prosa - Entre nós - é de 2000, ano em que recebeu o Prêmio de Literatura Poeta Júlio Brandão. Possui textos publicados em diversas revistas de literatura no Brasil, na Espanha e em Portugal. Alguns dos seus textos foram traduzidos para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão e catalão. Participou em vários encontros internacionais de arte e literatura.É responsável por uma coleção de poesia contemporânea brasileira na Editora Cosmorama e Curador do Encontro Internacional de Literatura e Arte: Portuguesia.



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