Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Na ternura das horas - Tere Tavares

$
0
0



Hoje a lua afaga as nuvens. Os lobos fazem serenatas às sentinelas noturnas.Algo anuncia que o amanhã não amanhecerá. De quando havia música e vasos deslizantes filtrados na saliva dos instrumentos como o silvo das abelhas. A ferrugem das portas que adornam o céu entre a nebulosidade que se desdobra no ar. A consolidação risca o cicio das cigarras e refaz as arestas. A excessividade que se desgarra da memória complementa a surdez das habitações. Tudo se amacia. Como arde saborear a lentidão dos nervura dos minutos da geada sobre a pele. A letargia e o sono que pesa menos que as penas e essas construções de sopros – vergadas de insônia alegria e verdade como alvos coroados que o intervalo sem suspirar deixa como rochas luzindo sob uma mecha apagada e inteira. É esse o vegetal insubmisso que se promulga nesse som pacífico e primordial. Hei de um dia desobstruir os emblemas e saborear as amplitudes. Sem dormir nem sonhar nada que não seja aquecido.



Sobre as orquídeas. Today.I see. So beautiful. Coeur et couleur. Bonjour orchidée.Thanks God. Parce que je peux l’étendre la beauté. End now I see more.Combien vous êtes nature. Em dias tão cáusticos é grandioso poder contemplar a plenitude dessas flores.Maison de Dieu Merci pour tout. O mundo precisa disso. Somos bordaduras.Oráculos perfumados pela beleza.O contrário da aridez. A festa da contemplação. As distâncias nos são próximas. Porque adotamos a ternura e a solicitude. O Alfabeto que soletramos é universal. Nessas grafias impressas e precisas não há limites para sermos. Nem mesmo a adversidade nos afasta dessa rendição que culmina com as estrelas. Somos a possibilidade que se inclina e ascende infinitamente.Merci Pour votre présence et votre prière.Votre amour et votre tendresse. Pour toujours et pour tous les jours de notre floraison. 



Do que o circulo ouve. Elbiah não deixa nunca de finalizar a frase antes que o sono chegue.  Na sincronia do mar, sua alma navega como uma canoa subtraída que talvez pouse numa praia inóspita e resgate uma aurora a descer com sonhos e impaciências no compasso em que dançam as ondas. Como se esperasse acostumada à ausência Elbiah agarra-se no sargaço que escurece a orla suporta maresias e ventos como um carinho gestado impregnando a pele das pedras. No engodo de suspender-se deixa-se ficar com o fervor dos veleiros esquecidos chamados uma mulher de sorte ou desejos ou cavalos de ébano. Não me furtei de ser-te o sonho infuso nem de sonhar-te. Chegarei a tempo de roçar as chuvas e aclarar-me nos teus gestos.


Galeria: Tere Tavares



Tere Tavares, escritora e artista plástica, radicada em Cascavel, PR, Brasil, autora de sete livros publicados Flor Essência (2004), Meus Outros (2007), Entre as Águas (2011), A linguagem dos Pássaros (Editora Patuá 2014), Vozes & Recortes (Editora Penalux 2015), A licitude dos olhos (Editora Penalux 2016), Na ternura das horas (Editora Assoeste 2017). Conta com diversas publicações em antologias no Brasil e Exterior. Possui publicações em várias revistas, jornais e sites literários espalhados pelo Mundo. Integra a Academia Cascavelense de Letras.


 
 

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Trending Articles