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3 poemas de Gáston Sequeira - tradução de Celina Portocarrero

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Ilustração: Erik Johansson

porDioscero

revolvemos la basura     en esta vida
atada con alambre

y de la huerta   el huerto   o el orto
de los que alimentan la necesidad
sacamos verduras     frutas     flores de aspiración

para los que meten la espiga detrás del santo

aladas huyen las almas
de los que somos porDiosceros
de cada uno de los que sonambuleamos
presente y futuro

herejes de la escasez     revolvemos contenedores
sin tenedores nos alimentamos de lo poco

jadeantes perros de exposición
ante quienes queremos simular o emular

pernoctar en la comodidad es triste
si la lluvia moja el lomo del sacrificado

a caja y caja se alimenta el aliento
desalentador     como la lengua de las víboras
áspera y puntiaguda     venenosa

colofones espesos donde nadar a esta altura o bajeza
a la que nos arrojamos como avaros al billete

a esta hora
en que todo deja de ser

 *
de(u)svalido

reviramos a lixeira     nesta vida
amarrada com arame

e da horta    do horto     ou do rabo
dos que alimentam a necessidade
tiramos verduras     frutas     flores de aspirar

para os que põem a espiga atrás do santo

aladas fogem as almas
de nós que somos de(u)svalidos
de cada um de nós que sonambulamos
presente e futuro

hereges da escassez     reviramos gamelas
sem panelas nos alimentamos do pouco

ofegantes cães de exposição
frente aos quais queremos simular ou emular

pernoitar na comodidade é triste
se a chuva molha o lombo do sacrificado

caixa a caixa se alimenta o alento
desalentador     como a língua das víboras
áspera e pontiaguda     venenosa

remates espessos onde nadar a esta altura ou baixeza
à qual nos atiramos como avaros ao dinheiro

nesta hora
em que tudo deixa de ser


***

rebusques

acostumbrado a cortar con cuchillo bueno
Pedro el juntalatas cortó el azar
emborrachó la sangre de sus antepasados
trajo cobijas para el Futuro     no quería enfermar los pasos
porque así empiezan a envenenarse los sueños
y ya nunca se tiene cordura
y la frustración grita gloriosa

Pedro de tanta alpargata gastada y días por la mitad
vistió su vida de palabras pobres     pero grandes
como el hambre de sus hijos
sangró misterios     mentiras piadosas para alimentarlos
robó flores recién vendidas del cementerio
y las vendió otra vez
pidió carretilla para echarle tierra a la incertidumbre
que lo mordía     debajo del cabello     detrás de la camisa

no había tiempo     para el apetito henchido de los suyos
ni para la cólera o los espasmos     de sus propias necesidades
estaba convencido de ellos     de sus besos y caricias
de las manos pequeñas pidiendo leche tibia
al ordeñe del rayo de las primeras horas

Pedro tuvo un padre también
que le enorgulleció la pobreza también
la sencillez de poder despertar con el pecho calmo
y enriquecerse el ego con el primer sol
con el desafío de querer convertir sus manos en pan fresco
próspero y postrero para cada uno de sus días

nadie nunca le abrió una puerta     él tuvo que abrirlas
atemorizado como niño solo en su primera vez
tuvo que derribarlas también
aunque esto le costara     un ojo de la cara o dos quizás
pero siguió a tranco largo    como quien rompe la luz para cegar la noche

encendió candiles y se los apagaron
y leyó la hora una vez y enloquecieron las agujas
como la cola de una tijereta
pero él no paró     el arrollo del mal
ni el arroyo escandaloso que lindaba su rancho
ni el arrobo de los chanchos que le sometieron

Pedro optó siempre por el arrullo de sus crianzas
por llenarles las panzas y elegir desesperado
entre lo bueno y lo malo

*
jeitinhos

acostumado a cortar com boa faca
Pedro catador de latas cortou o azar
embebedou o sangue dos seus antepassados
trouxe cobertas para o Futuro     não queria adoecer os caminhos
porque assim começam a se envenenar os sonhos
e nunca mais se tem bom senso,
e a frustração grita gloriosa

Pedro de tanta alpargata gasta e dias pela metade
visitou sua vida de palavras pobres     mas grandes
como a fome de seus filhos
sangrou mistérios     mentiras piedosas para alimentá-los
roubou flores recém vendidas do cemitério
e vendeu-as de novo
pediu carrinho de mão para jogar terra na incerteza
que o mordia     debaixo do cabelo     atrás da camisa

não havia tempo     para o apetite crescido dos seus
nem para a cólera dos espasmos     de suas próprias necessidades
tinha certeza deles     de seus beijos e carícias
das mãos pequenas pedindo leite morno
à ordenha do raio das primeiras horas

Pedro também teve um pai
que também o fez se orgulhar da pobreza
da simplicidade de poder despertar com o peito em paz
e enriquecer o ego com o primeiro sol
com o desafio de querer converter sus mãos em pão fresco
bendito e único de cada um dos seus dias

ninguém nunca lhe abriu uma porta     ele teve que abri-las
amedrontado como menino sozinho na primeira vez
teve que derrubá-las também
embora isso lhe custasse     um olho da cara ou dois talvez
mas continuou a passos largos     como quem destrói a luz para cegar a noite

acendeu lampiões e foram apagados
e viu as horas uma vez e enlouqueceram os ponteiros
como o rabo de uma lacraia
mas ele não parou     o rio do mal
nem o arroio escandaloso que limitava seu rancho
nem o arrojo dos porcos que o humilhavam

Pedro optou sempre pelo arrulhar de suas crianças
por lhes encher a barrigas e escolher deseperado
entre o bom e o mau

***

Naufragio

¡y aquí es a dónde pertenecen!

donde las olas salpican esposas     escupen hijos
corvinas tornasoladas     esporas     esperas
sirenas prostituidas     acumulación de futuros niños
frutos de mar    frutos del amor

pero todo trata de volver en sí
a la realidad de este barco que ingresa por la ranura fértil del mar
por rías purpuras     escuetas y recónditas

desde arriba caen los espejos en los que sonríen las estrellas
hay que recuperar la rutina
huir de esta hoguera de agua y susurros
recoger los espineles dorados
donde pernocta la ilusión     las pulsaciones

pero esta nave debe regresar al fraude de todos los días
dónde estamos intactos
haciendo lo que cada mente quiere
es exultante deliberar con la existencia y la abstracción
ser rehenes de nuestras propias consciencias

mientras continúa acariciándonos el nácar de sus gotas...

es imposible retornar del sitio
en que duerme la libertad

*
Naufrágio

e é aqui que pertencem!

aqui onde as ondas respingam esposas     cospem filhos
corvinas furta-cor     esporas     esperas
sereias prostituídas     acúmulo de filhos futuros
frutos do mar     frutos do amor

mas tudo trata de voltar a si
à realidade deste barco que ingressa pela ranhura fértil do mar
por canais purpúreos     velozes e ocultos

lá de cima caem os espelhos em que sorriem as estrelas
é preciso recuperar a rotina
fugir desta fogueira de água e sussurros
recolher os espinhéis dourados
onde pernoita a ilusão     as pulsações

mas esta nave não deve regressar à fraude de todos os dias
onde estamos intactos
fazendo o que cada mente quer
é exultante analisar a existência e a abstração
ser reféns de nossas próprias consciências

enquanto com suas gotas continua a nos acariciar o néctar

é impossível voltar do lugar
em que dorme a liberdade




Gáston Sequeira nasceu em 1975 em Coronel Pringles, Provincia de Buenos Aires, Argentina. Reside em mar del Plata desde sua infancia. É escritor e editor. Realizou diversas oficinas de leitura e criação literaria. Integra alguns grupos ligados a leitura. Participou de feiras dolivro (Mar del Plata, 2011 e 2013, Vila Mercedes, San Luis, 2013), do Festival  Internacional VaPoesía Argentina 2017, assim como de encontró de escritores. Seus textos circulam em formato digital em diversos sítios e blogs (Mispoetascontemporâneos da Argentina, metaforologia.com da América Latina e ILA Magazine do Marrocos). }Seu  libro de poemas La lengua del poeta foi editado por Alma de Diamante (Mar del Plata), premiado em certame internacional. Alguns de seus poemas foram incluídos em uma  plaquete pela editora La Garza Mora (Buenos Aires). É criador, director e coordenador do ciclo “Palimpsetos Encuentro de lecturas de autor.



Celina Portocarrero é poeta, tradutora, antologista. Autora de Retro-Retratos (poesia, 7Letras, 2007) e A princesa e os sapos (poesia infantil, Memória Visual, 2013). Tem poemas incluídos na revista Poesia Sempre da Biblioteca Nacional‎e e em diversos sites de literatura brasileira. Organizou, entre outras, a antologia Amar, verbo atemporal: 100 poemas de amor (Rocco, 2012). Tradutora experiente, trabalha com francês, inglês, espanhol e italiano. Por Um amor de Swann, de Marcel Proust(L&PM, 2005), recebeu o Prêmio Açorianos deLiteratura. Coordena, desde 2007, oficinas de tradução literária (aulas na Estação das Letras, na Livraria da Travessa e em encontros individuais). Em2009 e 2011, colaborou na curadoria do Café Literário da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. No mesmo evento, participou como mediadora do CaféLiterário e do Encontro com o Autor em 2009, 2011 e 2013. Compareceu, comoautora convidada, à Fliporto – Feira do Livro de Pernambuco (2013), ao 15ºSalão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens (2013), ao Café Literário Off-Flip(2012 e 2011) e ao Fórum de Letras de Ouro Preto (2011). Em 2012 e 2013 prestouserviços de tradução, redação e revisão à Academia Brasileira de Letras

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