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o vazio espera você no fim do corredor, ou do coração: conto de Luciano Portela

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imagem de http://www.delas.pt/

Bela Cintra, 196

/por Luciano Portela/

 
Eu queria sair do tédio. Ela custou 150 reais por meia hora. Dizia que seu nome era Kelly, mas eu não sabia se era seu nome verdadeiro. No quarto do motel restos de lanche Mc Donalds espalhados na mesinha abaixo da tv que tocava musica sertaneja na estação de rádio da Net. Kelly Atende as quintas e sábados. Mas as quintas rola a promoção. Cento e cinquenta reais com oral, anal, massagem e 69. Se você quiser pode gozar na boca, Kelly deixa sem nenhum problema. Eu só queria sair do tédio e esquecer um pouco da minha própria vida. Kelly recebeu o dinheiro e eu tirei a roupa, ela perguntou se eu demorei pra achar o local, apenas disse que não. Pelado e deitado na cama, é assim que todo guerreiro deveria morrer. Kelly começa a me chupar. E chupa mal, rala os dentes na minha glande, mas mesmo assim demonstra esmero. Eu finjo gostar, só queria relaxar um pouco ali, sendo chupado pra sair do tédio. Começo finalmente a olhar Kelly com maior atenção: ela tem uma beleza periférica, mau gosto musical, e se maquia muito mal. Mas era educada pelo que notava, devia ser uma moça de família que fazia tudo escondido para ganhar algo. Apenas 25 anos e aguentando trogloditas de todas as espécies possíveis, até os entediados como eu. Foi tirando sua lingerie que eu notei que ela praticava exercícios em alguma academia, tinha cintura e braços definidos, homens gostam do estilo panicat. Ela tinha meia hora pra me fazer gozar, chupava no ritmo de uma punheta, mas parou num dado momento alegando que não era garganta profunda e que se ela forçasse poderia vomitar. Fazia tudo o que eu quisesse e se demonstrava tão mecânica que eu não via graça alguma a não ser a de ser mal chupado. Pedi um meia nove que foi prontamente atendido, sua buceta tinha gosto de sabonete de motel, ela arrepiava em alguns  momentos a partir do contato da minha barba e minha língua nela. Às vezes eu pensava que era por dor, fiquei com pena. Brinquei com seu rabo como quem brinca com a própria existência, fazendo troça da mesma. Despejei saliva e frustrações naquela buceta com gosto de sabonete de motel barato. Eu disse que ia gozar, botei-a de joelhos. Estava há cinco dias sem bater uma. Não quer na boca? Ela perguntou. Disse que não. Só não acerta meu cabelo porque não vou lavar ele hoje. Kelly tinha cabelos descoloridos, californiana, acho. Gozei bastante, me senti no íntimo um touro reprodutor. Ao mesmo tempo em que percebi que Kelly tem nojo de porra, ficou desconfortável e saiu antes do término. Foi se lavar para o próximo cliente. Eu só queria sair do tédio.

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Luciano Portelaé historiador, mora em São Paulo. Publicou o livro de contos Carolina foi Para o Bar exibir seus lindos Pés (2014, Ed. Giostri) e o romance Tudo que Afeta o Movimento(2017, Ed. Penalux).

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