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FRESTA - JANDIRA ZANCHI

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Ilustração: Marion Elizabeth Adnams

o porto passou
nenhum horizonte mais fino
ou mais néscio
ou mais impuro
nesses 1.200 dias de lonjuras
e credos..

cremados meus vinténs sem esperança
(ainda que tivessem bonança)
eram risíveis os sons desfigurados do cortejo
sempre engatado em minha servilidade via destino

crepons azuis de intolerância

as virtudes já vazias vazantes

os métodos, os insetos
os inseticidas, enfim, ao algures glorificados das doces memórias
crus e cruzados na sombra do asfalto

eram fatos ainda que factóides
eram mansos ainda que armados e armazenados

cristianos e cristãos de envergaduras puídas
passadas ao relento de cada dia
eram uniformizados, depois de alguns anos,
para se estreitarem de passado (futuro desconsiderado)

eram vergados e vingativos
com falácias e facultativos
vermes expandidos até o arrozal viúvo de minhas sombras

insultantes na pouca misericórdia de cada dia,exigiam genuflexões
ainda que pudessem passar encolhidos nas madrepérolas do oratório

(sim eu vigiava o horário das rezas em busca da intensa comunhão dos furtivos da noite para alcançar aquele silêncio de vitrais e meditações)

já não supunha as formas e suas alcovas de singelos medalhões
visto que as pregas das considerações me bastavam

e mais ainda os claros nódulos do impedimento
pois sabê-los era virtude e virgindade nesse cair de tarde

(a carícia do nódulo da realidade se afirmava invicta e invejosa 
dos que, sem comiseração para os seus contínuos insultos,
se assoberbaram na fluída fresta da água)

manhã e mãe
ardilosa
espumenta
vigorosa
fugidia
imanente
permanente
insana e
insolente

em mim seus dias corriam como um brâmane sisudo e contente
alvéolos de indecentes, pormenores de confidências 
(no prazer melhor é o relento, o copo d’água fino 
e farto sobre a mesa, o não entendimento).


JANDIRA ZANCHI

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